Abismo Da Escuridão - página 04
Não gostava dessa sensação. Meus primeiros passos em direção aquele portão. Meus primeiros passos rumo a um mundo desconhecido. Sempre me sinto inseguro quando vou para um lugar novo. Como estou sempre sozinho na maioria das vezes que isso acontece, não tenho ninguém com quem dividir essa sensação.
Tirei minha carteirinha da escola do bolso e mostrei para o porteiro que estava posicionado na porta de uma cabine à direita. Quanto ao portão, justamente a parte direita estava aberta. O lado esquerdo estava fechado.
Pelo o que eu soube da escola, há quatro entradas. Uma para o primário, uma para o fundamental, uma para o ginásio que é onde eu me encontro, e a última para a faculdade. Pelo tamanho da escola, já devia imaginar que seriam várias entradas. Com certeza a quantidade de alunos nela é proporcional ao seu tamanho.
Após andar meus primeiros passos naquele ambiente desconhecido, observei logo de cara uma estátua situada do lado de fora ainda, bem no meio da distância entre o portão e a entrada para o interior da escola. Uma estátua em homenagem a pessoa com o nome da escola. Eu não gosto muito deste tipo de arte, então não prestei muita atenção aos seus detalhes. A única coisa que deduzi foi que esse homem atualmente era bem velho. Meio careca com cabelo nas laterais e ainda usava óculos. Obviamente olhando só para a estátua que também não está lá muito preservada, ninguém perceberá que é um senhor de idade. Mas se olharem para o ano que a estátua foi feita, a pessoa pode usar um pouco de matemática e calcular quantos anos ele deve ter atualmente.
“11/02/1978”
Trinta anos atrás. Imagino como ele seria hoje. Se fossem criar uma outra estátua dele para por no lugar desta teriam que adicionar algumas rugas. E pelo que eu sei, ele ainda está bem vivo e é um escritor. Escritor. Repeti novamente a palavra na minha mente com um certo desejo. Se eu tinha algum sonho na vida, era ser escritor. Mas com certeza não é fácil chegar onde eu quero.
Percebendo que fiquei bastante tempo parado em frente a uma estátua, achei melhor entrar logo de uma vez. Pelo menos me desviei um pouco do nervosismo.
Cinco degraus era o que me separava de um novo mundo o qual eu teria de viver. Havia alguns garotos conversando na entrada. Por usarem o uniforme escolar logo presumi que eram veteranos. Como se não bastasse o nervosismo de primeiro dia de aula, ainda tenho que me preocupar com algo muito pior e que morro de pavor: trote. Provavelmente haverá aqueles veteranos que querem se divertir com a insegurança dos outros. Sinceramente, odeio estes tipos de alunos. Como podem se divertir jogando as pessoas a humilhação de uma forma tão ridícula? Há tantas pessoas melhores do que eles que mereciam estar aqui. Tenho repulsão a esses alunos.
Foi quando eu vi que um dos garotos que estavam conversando tinha um pote de tinta guache nas mãos. Quando olhei melhor, os outros três também tinham. E eles conversavam e riam de alguma coisa boba provavelmente. Melhor assim.
Continuem conversando para que eu passe desapercebido do lado de vocês. Pensando desse jeito, sendo minha única saída para me livrar de uma situação indesejável, subi cautelosamente os últimos degraus. Ainda assim, me sentia nervoso e inseguro. Passei ao lado deles. Andei mais dois passos, e me senti aliviado. Não queria nem imaginar como seria minha cara pintada. Mas o que eu não queria aconteceu. Do nada, um desses garotos apareceu do meu lado apoiando seu braço em meu ombro. Senti um frio na barriga. E fiquei tão nervoso, que nem o escutei dizendo a primeira frase, mas escutei claramente sua segunda.
_ Que tal mudar um pouco o tom de seu rosto antes de entrar na sala?
Na próxima página: Quanta conversa pra me dar um trote. Eu não quero que isso aconteça. Mas não ouse a pedir o que não tenho de uma forma tão pacata.
________________________________________
No episódio 17 de Mundo Sombrio: Nicolai encontra-se com Pietro na procura de um jeito para eliminar Melvin. Mas acaba recebendo sua reposta de um jeito diferente do que esperava, e por esse motivo é obrigado a retirar sua espada da bainha.