Abismo da escuridão - pag02
PAG 02
Fiquei olhando para aquela pessoa. O impacto dessa vez foi maior, pois ela estava no mesmo mundo que eu, e não dentro de uma tela agindo em terceira pessoa. Dessa vez, nós dois estávamos no mesmo plano. De frente, encarando um ao outro.
_ Quem é você? _ perguntei.
_ Ora, mais que pergunta. Por acaso nunca se olhou no espelho? Eu sou você.
_ Eu acho que...tem algumas diferenças. Você é mais...
_ Frio? _ disse ele completando minha frase. Ia continuar perguntando sobre mais coisas, já que não entendia a situação atual, mas acabou que ele falou primeiro. _ Posso notar sua cara de confuso. Posso ver quantas dúvidas você tem. Afinal, sou o que mais conhece você, ou pelo menos o único.
_ O que quer dizer? _ perguntei não entendo a última frase que ele disse.
_ Qual é a sua última lembrança? _perguntou ele mudando de assunto. Deixei minha dúvida de lado e me concentrei na resposta. Minha mente vagou em busca da última lembrança. Mas por mais que eu pensasse nela, não conseguia responder.
_ Eu...eu...
_ Não consegue se lembrar, não é? _ Tudo o que eu lembrava era de imagens da minha vida. Eu não havia perdido a memória, pois lembrava de muita coisa. Mas eu não conseguia localizar meus últimos momentos. Tudo parecia meio fora de ordem._ Parece que sua memória chegou à estaca zero por causa de sua loucura.
_ Como é? _ perguntei não entendo mais uma das frases daquele eu que não reconhecia. Se ele sabe tanto assim, com certeza sabe a resposta pra tudo. _ Me responda! O que está acontecendo? Quem é você? Que lugar é esse?..._ ia perguntar mais se ele não tomasse a palavra antes de continuar.
_ Opa, opa! Uma pergunta de cada vez. Sobre esse lugar, você já o avistou muitas vezes, embora nunca tenha entrado. É algo para se parabenizar. Poucas pessoas no mundo conseguem a proeza de chegar até aqui.
_ Como assim? Que tipo de lugar é este? _ perguntei a ele, tentando obter respostas que fossem respostas, e não pistas. Ele abriu os braços e pôs a palma de sua mão para cima.
_ Bem-vindo...ao “Abismo da Escuridão”. O fim da mente humana. O lugar de refugio para as mentes que perderam sua vida na realidade.
_ Abismo...da escuridão? _ pronunciei mexendo nervosamente os lábios, por ter me assustado com sua definição. _ Eu não entendo. Suas palavras. Eu não entendo. Eu estou morto?
_ Bem próximo disso, porém ainda vivo. Mas estando neste lugar, vai perceber que seria melhor estar morto. _ Olhei para o meu eu “frio”. Ele pronunciou suas palavras de uma forma tão segura, tão simples e acima de tudo tão fria. E além disso, sorria. Não era um sorriso feliz, mas um maléfico.
_ Quem é você? _ perguntei querendo saber a identidade daquele que se dizia ser eu.
_ Eu...bem, eu sou...Eu não vou lhe contar. Irei lhe mostrar. _ ele andou na minha direção. Eu olhei seus passos, e o chão produzia ondulações do mesmo jeito quando eu andei. Mas quando a primeira ondulação causada por ele chegou aos meus pés, senti tristeza. Uma dor que apertava o meu peito. E ela aumentava a cada ondulação que me alcançava. A dor era tanta que meus joelhos foram ao chão. Eu pus minha mão direita em meio peito e o apertei. Doia tanto...por dentro.
_ Não se preocupe. _ disse o meu eu que já estava a minha frente. Eu olhei para ele _ Você sentirá novamente todas essas dores quando se lembrar. _ Ele pôs a mão em minha testa e senti como se algo estivesse entrando na minha cabeça. Minha mente estava sendo preenchida, mas a cada milésimo de segundo que passava aquela dor aumentava. Aquela mesma dor.
E então, enquanto olhava o meu “eu” frio, tudo escurecia. Aquela pessoa sumia à medida que a escuridão o consumia. Era como se meus olhos estivessem se fechando, porém ainda estivessem abertos.
Logo mais, no meio da escuridão que se formou, um ponto de luz apareceu. E ele foi crescendo, como se a escuridão estivesse sendo rasgada por trás. Podia ver seus raios iluminando a escuridão que aos poucos desaparecia sendo rasgada pela luz que aumentava a cada momento. E então, no fim, tudo virou luz.
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Próxima página: Meu primeiro dia de aula em uma nova escola. Sinto-me nervoso. Fico imaginando como ele será.