Mundo Sombrio - Episódio 14 - Lembranças de Nicolai

Sozinho em seu quarto, Nicolai estava deitado na cama. Seus olhos fechados, pois sua visão ainda não havia voltado. Sua mente fixava-se em trazer Sarah de volta a ele. Não queria nem pensar o que seria dele, caso não conseguisse. O que importava era ter sua amada ao seu lado.

Em meio a tantos pensamentos, acabou se aprofundando em sua memória junto a Sarah. Ele começou a recordar seus momentos desde que a viu pela primeira vez.

Episódio 14

Lembranças de Nicolai

14 anos atrás

Sarah observava as ondas do mar, sentada na areia. O som feito pelas ondas também a agradava. Trazia uma sensação de tranqüilidade.

Mas um outro som cortou sua relação de tranqüilidade com o ambiente. Vinha de alguém que parecia estar se esforçando. Ela olhou para o lado, e viu em frente ao panorama amarelado do céu, uma criança quase de sua idade treinando com uma espada de madeira.

_ Um menino! _ disse ela, enquanto olhava o garoto de cabelos loiros cortar o vento com sua espada. Junto com suas ofensivas, ele dava gritos de bravura. O suor saltava de sua pele, enquanto executava seus movimentos.

Sarah levantou-se e andou lentamente em direção aquele desconhecido garoto, que por sua vez ainda não havia percebido a presença dela naquele lugar. Foi só quando ela parou a poucos metros dele, que ele interrompeu os movimentos de seu braço para olhar a menina. Sarah nada falou no primeiro momento, tão pouco o garoto que ficou encantado com a beleza dela. Os dois olharam olho no olho, até que Sarah desviou seu olhar sobre os olhos dele.

_ Olá! _ cumprimentou Sarah.

_ Oi. _ disse o garoto timidamente, ainda apreciando a beleza que estava vendo. Sarah, percebendo que ele não falaria nada, iniciou a conversa.

_ Você...é novo aqui, não é?

_ Errr...sim. Eu cheguei aqui em Seylor faz duas semanas.

_ Eu não me referia ao reino. _ sorria ela _ Eu quis dizer aqui na praia.

_ Na praia?

_ Sim. Eu sou a única que visita este lugar a essa hora. Eu gosto de apreciar o fim do dia. No pôr-do-sol, encontramos as imagens mais lindas da vida. _ Sarah olhou para o sol se pondo. O garoto fez o mesmo.

_ Tem razão. É uma bela imagem! _ concordou ele. Sarah deu um sorriso ao ouvir as palavras do menino, mas sem tirar o olhar da vista.

_ Hoje, o cenário está um pouco amarelado. Mas não importa a cor, sempre será belo. É isso que venho ver todos os dias aqui na praia. _ Sarah voltou seu olhar para o menino _ E você?

O menino a olhou.

_ Eu, na verdade, nunca vim a este lugar antes. Só estava procurando um lugar para treinar. Um lugar que seja tranqüilo. E parece que achei.

_ Com certeza esse lugar é bem tranqüilo...Qual é o seu nome?

_ Ni...Nicolai.

_ Sarah! Prazer em conhecê-lo, Nicolai. _ disse estendendo a mão.

_ Eu também. _ disse apertando a mão da menina.

_ E então... por que você está treinando? _ perguntou continuando a conversa.

_ Bom, é que...

E assim foi durante todo o fim da tarde. Os dois conversaram até a noite cair. Eles marcaram de se encontrar novamente no final da tarde do dia seguinte. Mal sabiam que seria bem antes disso.

Quando Nicolai chegou em casa, encontrou seu pai sentado em uma poltrona o esperando.

_ Onde esteve? _ perguntou Hubert, levantando-se. _ Eu disse que deveria voltar antes do entardecer.

_ Desculpe, pai! Eu estava com uma garota.

_ Uma garota? Não acha que está muito novo para ter encontros com garotas?

_ Não é nada disso! Ela só estava no mesmo lugar que eu. Acabamos conversando e perdemos a noção do tempo. Só isso.

_ Ah, deixa isso pra lá. É melhor irmos logo.

_ Irmos? Pra onde?

_ Vamos jantar no castelo. Loeb está dando um jantar para os líderes e pessoas importantes do reino.

_ Jantar...no castelo.

Mais tarde...

Nicolai nunca havia entrado no castelo antes. Apenas o via de longe, enquanto andava pelo reino. Enquanto passava pelo portão principal, observava todos que também entravam no castelo. A maioria eram pessoas nobres. Nicolai ficou acompanhado do seu pai em todo o lugar para onde iam.

Ainda em seu quarto, Sarah era arrumada por sua mãe. Docemente, Mary escovava o cabelo da filha. As duas tinham muito em comum. O cabelo liso e castanho era a maior semelhança física entre elas. Sem contar que a beleza das duas era algo notável. E como se não bastasse, a personalidade de Sarah era idêntica a de sua mãe.

_ Porque meu pai tem que dar este jantar? _ perguntou Sarah.

_ A partir de hoje, os líderes do exército e suas famílias vão passar a morar aqui no castelo. Ele dará esse pronunciamento durante o jantar.

_ Mas porque ele quer que outras pessoas morem aqui conosco?

_ Seu pai acha que unindo mais as pessoas do reino, podemos ficar mais fortes. Pessoas unidas normalmente se tornam mais fortes.

_ Mas, nós nem os conhecemos direito.

_ Nesse ponto você tem razão. Mas se seu pai faz isso é porque ele tem confiança nas pessoas que estão ao seu lado.

Enquanto Sarah terminava de se arrumar, Hubert conversava com outras pessoas no grande salão do castelo usado para encontros, jantares e outros eventos. Seu filho parado ao lado dele, sentia o clima chato de conversa adulta. Seu pai parecia estar mais interessado em dar atenção aos amigos do que para o filho. Tudo foi monótono, até o momento que a viu descer pela escada. Ela estava mais bonita do que quando a viu na praia. Vestindo um brilhante vestido rosa, Nicolai se encantou com aquela imagem.

_ Sarah! _ disse ele, enquanto via Mary e sua filha descerem. Nicolai puxou a roupa do pai e apontou para a garota.

_ Olha, pai! Foi com aquela garota que conversei na praia.

_ O que?

Nesse instante, Loeb também desceu as escadas para o salão. Todos as pessoas desviaram seu olhar para o rei, a rainha e a princesa. E enquanto eles desciam as escadas, as pessoas se ajoelhavam.

_ É a família real. _ cochichou Hubert. _ Aquela garota é a filha do rei. Princesa Sarah.

_ Princesa...Sarah. _ Nicolai ficou um bom tempo olhando para ela. Agora, mais vislumbrado do que nunca por saber que aquela menina era uma princesa.

Nove anos depois

Sarah acordava para mais um dia. A primeira coisa que observou foi a luz entrar pela janela do quarto. E a primeira coisa que ouviria seria o canto dos pássaros, se não fosse por um outro som. Algo que ela já havia escutado muitas vezes. Ao levantar aproximou-se da janela, e viu alguém treinando no térreo.

Sarah: Nicolai.

Sarah já estava acostumada a ver Nicolai treinando. Desde o dia em que eles se encontraram na praia, Sarah sabia dessa mania de treino dele. Sarah desceu e foi ao encontro dele.

_ Ora, ora! Já de manhã? _ perguntou ela se aproximando. Nicolai parou o treino com a espada, agora uma de verdade, e a olhou.

_ Estou tentando me acostumar com outro turno.

_ Quer dizer que vai trocar a tarde pela manhã?

_ Não. Também devo treinar no entardecer.

_ Mas por que? Já não basta ter treinado pela manhã? E aliás, não devia treinar tanto assim. Vai acabar ficando cansado.

_ Eu sei. Mas eu preciso.

_ Por que?

_ Quando eu completar 18 anos, eu me tornarei um cavaleiro de Seylor.

_ Você quer tanto se tornar um?

_ Um cavaleiro...protege tudo o que ama. Entretanto, um cavaleiro fraco não terá a força para proteger. Por isso, eu preciso me tornar forte. Meu pai não foi forte o suficiente para proteger minha mãe. Eu também não. Para proteger, precisa ter a força para proteger. E estou disposto a tudo para consegui-la. Treinar manhã e tarde é preciso, para que eu possa ser forte, e proteger o que amo.

_ E o que você ama? _ perguntou Sarah, ainda comovida pelas palavras de Nicolai. Para responder, Nicolai a olhou nos olhos.

_ Preciso proteger você. _ Sarah ficou ainda mais comovida com o que ouviu. Isso foi uma declaração indireta. Ela não sabia o que falar diante dele, que por sua vez ficou esperando alguma resposta.

Hubert chamou seu filho:

_ Nicolai! Vamos! _ gritou ele. Nicolai olhou para trás, e viu seu pai o chamando. Ele deu uma última olhada para Sarah, que nada falou. Então, ele correu, mirados pelos olhos de Sarah, que via alguém com o qual queria ficar perto. Em sua mente, algumas palavras, ficaram marcadas daquela conversa.

Nicolai: Quando eu completar 18 anos, eu me tornarei um cavaleiro de Seylor.

Nicolai: Preciso proteger você.

Dois anos depois

Sarah derramava suas lágrimas na grama. Estava ajoelhada diante de um túmulo escrito:

"Mary: Grande Rainha e mãe."

Nicolai, de pé, atrás dela, nada podia fazer para conter o choro de Sarah. Mesmo assim, ele tentou dizer algo.

_ Sarah...sua mãe...

_ Eu sei! _ disse ela enquanto engolia o choro, mas não se livrando de sua voz depressiva. _ Ela morreu para me proteger! Para proteger a todos nós. É isso o que todos dizem.

_ Eu...só queria lhe dizer o porque dela ter morrido. _ Sarah parou de chorar, para ouvir o que Nicolai diria. Entretanto, seu olhar manteve-se fixo no nome de sua mãe inscrito na pedra. _ ...E não apenas o dela, mas de todos aqueles que morreram nessa guerra. Eles morreram para proteger...o que amam. Talvez, seria bom lembrar não como ela morreu, mas porque ela morreu. Para lhe proteger...porque ela lhe amava. Sua mãe foi uma pessoa forte, porque ela conseguiu lhe proteger...não estou dizendo para não chorar, porque todos estamos chorando. Eu...também perdi o meu pai nessa guerra. _ Nicolai deu uma rápida olhada na direção da lápide de seu pai._ Mas não vou esquecer o que ele protegia. Isso eu não vou esquecer.

Depois dessas palavras, Sarah calmamente se levantou. Ela olhou para o céu do entardecer. O cemitério do reino ficava em suas montanhas a oeste. Então dali, ela podia ver o pôr-do-sol, sem elevar a cabeça.

_ Quando nos encontramos pela primeira vez na praia, ainda crianças, o céu estava amarelado...assim como está agora. _ disse ela. Nicolai aproximou-se, e colocou o seu braço sobre o ombro de Sarah, que por sua vez inclinou sua cabeça no peito dele. _ Pelo menos, eu ainda tenho você, meu pai, e meus amigos.

Nicolai não sabia, mas entre esses amigos, Sarah pensava em alguém de uma maneira especial.

Tempo atual

_ Naquela época...ela me amava. Nós nos amávamos. _ dizia Nicolai, ainda deitado na cama. Como não podia ver, não percebeu que mais alguém estava em seu quarto.

_ Pensando na Sarah? _ disse uma figura misteriosa. Nicolai levantou-se rapidamente olhando cegamente ao redor do quarto.

_ Essa voz...Pietro! _ logo depois, ele ouviu uma risada em algum canto próximo.

Continua...

Próximo episódio

As habilidades de Pietro