"Meninas de Sallenn" cap. 4

“NO MERCADO”

Mary acordou com um delicioso cheiro de chocolate quente e pãezinhos frescos invadindo seu quarto e penetrando suas narinas; sentou-se na cama e esfregou os olhos, já era de manhã, estava de pijama, mas não se lembrava de ter trocado de roupa na noite anterior, só lembrava que se deitou e apagou. Vestiu o robe roxo e desceu para a cozinha.

Rita e Matilda tomavam café em canecas velhas e raladas, havia bolo e pães na mesa, torradas, geléias, chá e chocolate quente, o estomago de Mary soltou uma exclamação de fome e felicidade.

-bom dia bela adormecida!- disse Rita servindo-se de uma torrada.- dormiu como uma pedra heim.

-Bom dia mamãe, vovó. Eu estava morrendo de cansaço, cai na cama e apaguei, mas devo ter acordado depois para trocar de roupa, mas não me lembro de telo feito.

-Ora não esquente sua cabeça com isso Mary,- disse Rita.- tome um bom café da manha porque depois vamos sair, temos que comprar umas coisas, e também podemos aproveitar para ver a cidade.

-Não deve ter nada de interessante aqui,- disse Mary mordendo um pedaço delicioso do bolo de frutas.- ontem vi umas mulheres olhando para cá e fofocando, não gostei da expressão delas, me pareciam intrigueiras.

-Não de atenção a elas Mary querida,-disse matilda.- realmente, aqui em salem existem muitas fofoqueiras; sabe-se de tudo e de todos por via delas, mas não de atenção a elas, vai ver estavam comentando a mudança, não deixam passar nada, nada mesmo.

Depois do café da manhã Mary se arrumou para sair, e para evitar comentários resolveu colocar a roupa mais discreta que tinha: vestiu sua velha calça jeans rasgada que estava quase branca, colocou um sinto de bala para segurar a calça na cintura fina, calçou seu coturno, vestiu um colete de jeans que também estava desbotado e colocou um top por baixo, arrepiou os cabelos, passou uma maquiagem para não ficar com a cara abatida, umas pulseiras com spake pra enfeitar e saiu.

Como ontem quando chegaram, todos paravam para olhar o carro, alguns mais mal educados apontavam, Mary não entendia porque tanto. Ok, mudança, gente nova na ária, mas ela achava que não era necessário tudo isso.

A mãe parou o carro enfrente ao maior mercado que havia no local, que não dava nem a metade do grande mercado de Boston, pensou Mary.

-precisamos comprar comida e produtos de limpeza.-disse a mãe saindo do carro.

-Realmente, a casa da vovó esta um caco.-concordou Mary.

Na frente do mercado havia um jovem de avental que varria o chão tediosamente, quando Mary e a mãe passaram, ele levantou o rosto e as olhou de cima abaixo, mas não foi como os outros: não olhou boquiaberto, pasmo ou surpreso, como se elas fossem alienígenas; as olhou normalmente, na verdade parecia pouco ligar, tinha uma expressão muito tediosa, seu olhar era sem graça, monótono, e seus olhos não brilhavam, mas Mary reparou que apesar do tédio ele era ate que bonito: olhos verdes como esmeraldas, cabelos ruivos e encaracolados, o rosto branco com poucas sardas, braços fortes, parecia alguém inteligente, com uma boa cabeça, vai ver não é daqui também, pensou Mary e entrou.

mercado até que estava cheio, e como Mary imaginou, por um minuto todos pararam para olha-las, ela não ligou para eles, apanhou uma cesta e seguiu a mãe pelos corredores.

-muito bem Mary apanhe algumas latas de ervilhas,- ordenou Rita colocando na cesta macarrão, molho de tomate, sopas enlatadas e tudo mais que fosse pratico. Rita nunca foi de cozinhar muito, sempre fazia o que era mais pratico e levava menos tempo, era o pai de Mary quem mais cozinhava em casa, Nelson era um grande cozinheiro, apesar de ter investido em administração de empresas, mas se não fosse ele Mary e a mãe já teriam morrido de desnutrição.

-Mamãe que tal se comprássemos frango e alguma carne para vovó fazer?- sugeriu Mary aceitando o fato de que vovó matilda sabia cozinhar.- não estou a fim de passar uma grande temporada à base de macarrão e sopa enlatada.

Rita olhou para Mary por um estante, com um olhar meio triste, provavelmente pensando que se o marido estivesse vivo não teriam que comer sopa enlatada, ou se soubesse cozinhar, mas por fim riu e concordou.

-ok. Vá até o açougue, se é que a um aqui, e compre o que achar melhor.

-Ainda bem que papai me ensinou algo sobre carnes.- murmurou a garota rindo a caminho do pequeno açougue no fundo do mercado.

A fila estava cheia, muitas velhas gordas, magrelas, com vestidos de manga floridos, conversavam em altas vozes enquanto esperavam a atendente lerda entregar seus pedidos. Mary parou no fim da fila e todas as cabeças se voltaram para olha-la de cima a baixo, então uma onda de murmúrios surgiu no ar fazendo Mary cerrar os dentes de raiva. De repente a uma mulher gorda, com um vestido azul escuro de mangas, de cabelos castanhos e cara de fofoqueira virou-se para Mary e perguntou:

-ola, você é a garota nova não é?

-Sim, sou eu. –respondeu Mary seca, não tinha vontade de falar com a velha.

-Hum...qual seu nome querida? E de onde você veio? - continuou a velha cada vez mais interessada em Mary.

-Mary, senhora, de Boston.- respondeu a garota.

-Oh, de Boston!? E o que a trouxe para esta pequena cidade?- perguntou a velha sem se conter.

-Com certeza não foi sua paisagem nem seu povo.- respondeu Mary querendo por um fim na conversa.

-Hum...e onde vai estudar querida? Não vai ser na st. Corneone não né? – perguntou a velha sem esconder que não queria que Mary estudasse na tal escola.

-É a única do lugar? – perguntou Mary também torcendo para que não.

-Sim. A única.

-Então receio que infelizmente será nela mesma que irei estudar.- respondeu Mary desanimada.

-Então devo avisa-la,- disse a velha mudando de repente para um tom de advertência severa.- que nossas crianças e adolescentes não estão acostumados com certo tipo de vulgaridades, então tome cuidado com o que vai usar e fazer....mocinha.

Mary perdeu a paciência.

-escute aqui sua...

-Mary!- Rita apareceu saindo do corredor dos chocolates,- o que esta acontecendo Mary?

-Não é nada senhora,-disse a velha como se Rita tivesse falado com ela.- só estamos dizendo a sua filha como funciona a escola que ela freqüentara.

-Agradeço a sua preocupação senhora, mas devo dizer que minha filha sabe muito bem se comportar em todos os ambientes, sejam eles novos ou não.- disse Rita pondo fim no assunto e dando as costas à velha.

-Devia ter me deixado falar.- murmurou Mary irritada.

-Não quero brigas Mary, não se esqueça que somos novas aqui.- disse Rita avaliando um pedaço de porco pendurado no açougue.

-Hum...

Depois de mais uns dez tediosos e incômodos minutos na fila do açougue chegou a vez de Mary.

-voce tem picanha?- perguntou Mary para a balconista que estava de costas para ela apanhando sacolas.

-Rsrs, -de repente a balconista começou a rir.- rs picanha fora de época de festa?- ela se virou para Mary. Era jovem devia ter mais ou menos a idade de Mary, era morena, cabelos cacheados e olhos negros e brilhantes. – oh! É você?!

-Que?! O que tem eu?- perguntou Mary ficando confusa com a balconista.- o que esta acontecendo?

-Não é nada,- respondeu a balconista.- é que pensei que fosse mais uma daquelas garotas dementes que não sabem nem fazer um pedido no açougue,

Mary franziu as sobrancelhas, achava que não sabia fazer um pedido no açougue, mas não se achava demente.

-Ta me chamando de demente?- perguntou ela irritada pra balconista.

-Rs não.- respondeu a garota rindo.- você é nova aqui, não sabe que não temos picanha, mas vem cada idiota que mora aqui há anos, a gerações vamos dizer melhor, e me pedem cada coisa. Já chegaram a me pedi pernil no meio do ano.

-E qual o problema?- perguntou Mary sem entender mas começando a gostar da balconista.

-Ora, salem é uma cidade pequena, essas coisas mais nobres só têm em época de festas, natal, ação de graças, coisas do tipo.

-A ta, então não tem picanha?- perguntou Mary desapontada e indignada.

-Infelizmente...não.

-Ah droga, então eu compro o que? Papai sempre comprava picanha, eu adorava.- disse Mary, só que mais para si mesma do que para a garota do balcão.

-Então chame seu pai, ele vai saber o que comprar. –sugeriu a garota.

De repente o rosto de Mary murchou e seus olhos lacrimejaram.

-meu pai morreu, por isso eu e mamãe viemos morar neste fim de mundo.- respondeu Mary contendo o choro.

-Oh, lamento!- disse a garota sentindo-se envergonhada por ter feito tal comentário.- me desculpe eu não sabia.

-Tudo bem,- disse Mary sacudindo a cabeça e recuperando o animo.- então me de o que você tiver de melhor ai, porque não pretendo comer macarrão hoje.

-Srsr ok madame.- disse a balconista se virando.

-Não me chame de madame, meu nome é Mary, Mary sanderson.- disse Mary gentil.

-Eu sou Sheila, Sheila down.- respondeu a balconista pesando alguns bifes.

-Muito prazer Sheila. – disse Mary feliz por ter conseguido uma amizade.- diga-me, qual o tipo de balada que tem nessa cidade, não pretendo passar a vida dentro de casa.

-Ih! Balada em salem? Acho que deveria ter ficado em Boston Mary, a única coisa que temos aqui são umas lanchonetes e um cinema velho.

-Foi o que pensei.- disse Mary nem um pouco surpresa com a resposta. – mas e a galera costuma dar muitas festas?

-Haha, festa só de aniversario por aqui, isso quando o aniversario não é de velho, e mesmo os de jovens são uma droga,-respondeu Sheila dando a Mary uma sacola com bifes.- agente nunca sabe dizer se ta numa festa de cinco anos, ou de quinze ou de sessenta. É tudo um tédio.

-Ah, perfeito isso era o que eu precisava saber para entrar em depressão profunda.- lamentou Mary.- e você costuma fazer o que?

-Bem, meu pai é o dono desse mercado, quando não estou aqui ajudando ele e mamãe, estou na escola. –respondeu Sheila tirando as luvas e apoiando-se no balcão para ver Mary melhor.- não a nada para se fazer em salem. Que roupa maneira.

-Valeu, sou metalleira, amo heavy metal.

-Isso é uma musica não é?- perguntou Sheila tentando se lembrar do que era.

-Sim, heavy metal é um estilo de rock, vocês não ouvem rock aqui?

-Oh não, aqui rock e tudo que tem a ver com ele são considerados coisas do diabo.- disse Sheila monótona.

-Esta brincando?! Mas porque?!- perguntou Mary indignada.

-Ah, aqui quem manda é a igreja e o conselho do tribunal, que também são totalmente devotos à igreja, então imagine, se eles dizem que rock é coisa do diabo e todos vão acreditar e não vão ouvir.

-Detesto esse lugar!- exclamou Mary.- e quem era aquela velha que estava me perturbando aqui na fila?

-Ah, é castidade roos.- respondeu Sheila fazendo uma careta.- faz parte do conselho e da igreja, acho que ela é a mais poderosa no pedaço, e mais fofoqueira também; tudo que ela diz todos engolem e obedecem. Odeio ela.

-Eu também.- disse mary ja adquirindo odio suficiente da velha.

-Rsrs

-E o que ela quis dizer a respeito da escola? Que os alunos não estão acostumados com vulgaridades, pra eu tomar cuidado, e blá blá blá...?- perguntou Mary.

-Ah, não de atenção ao que ela e as outras velhas dizem.- respondeu Sheila com pouco caso.- vou lhe falar, a galera daqui são todos uns palermas: as meninas usam saias até o umbigo e a abaixo do joelho, os meninos nunca tiveram coragem de convidar uma garota pra sair; só fazem o que os pais dizem, estão enjaulados, não tem estilo nem coragem, são uns manes. O pessoal mais ou menos é o time de futebol da escola e as meninas da torcida; mas eles só se diferenciam dos outros porque já beijaram e já foram em uma festa que durou até dez da noite, e porque as meninas usam saias um palmo acima do joelho, não são grande coisa, mas se acham. Mas voltando a questão da castidade, bem, suas roupas são maneiras Mary: você esta mostrando a barriga, usa botas e pulseiras, e sua calça é apertada e rasgada, pra elas isso é uma indecência e elas não querem que os outros sigam o seu exemplo, por isso ela disse aquilo.

-Mas não ligue para ela, se quer saber, acho que você devia ir lá e fazer exatamente ao contrario, quem sabe esses manes realmente não sigam seu exemplo e ficam melhores.

-Puxa valeu!- agradeceu Mary super feliz pelas palavras de Sheila, até agora foram tinham sido as melhores.

-Se quiser hoje à tarde quando eu terminar meu horário agente pode dar uma volta pela cidade, ai eu te apresento a uns lugares, te conto mais sobre o pessoal daqui, e tudo mais.- disse sheila amigável.

-Ah claro, eu ia adorar!- exclamou Mary empolgada com a idéia.- eu preciso mesmo conhecer esse lugar, preciso saber em qual tabuleiro estou jogando.

-Ok então, agora deixa-me ir trabalhar se não papai me mata.- disse Sheila colocando as luvas para atender a fila de senhoras que já reclamavam atrás de Mary.

-Falow, até mais, passa lá em casa quando voce sair.- disse Mary .

-Beleza! Xau!

Mary saiu da fila e foi atrás de sua mãe, a encontrou avaliando seriamente um bolo de morangos com chocolate na padaria minúscula do mercado.

-ola mãe, então muito progresso nas compras?- disse Mary se apoiando em uma prateleira com pães.

-Sim, já estou terminando, apanhe um leite para mim e vamos embora.

-Ok.

Mary deu algumas voltas no mercado até achar os leites, estava avaliando um com uma vaca na embalagem, quando o rapaz que varria a calçada passou arrastando a vassoura, parecia mergulhado em um tédio profundo; olhou para Mary novamente de cima a baixo quando passou, a garota esboçou um pequeno sorriso para ele, depois de Sheila sentia-se mais confiante para fazer amizades. Mas ele não retribuiu o sorriso, continuou seu caminho, de ombros curvados e arrastando a vassoura.

******************continua************************

Caroline Mello
Enviado por Caroline Mello em 04/02/2008
Código do texto: T845644