"Anos Irresponsaveis" cap. 8
Capitulo 8
“NO CAMINHO”
As seis e meia em ponto fomos para o ponto de ônibus; o Mauricio já estava lá e vestia uma calça preta por dentro do coturno, uma camisa vermelha e um sobretudo vermelho por cima de tudo. Estava bonito até.
- Nossa, vocês estão demais! - elogiou ele quando chegamos.
- Valeu, você também!- respondeu Aline .
- Ate parece um vampi.-falei.
Passado um minuto, ou pouco mais, não sei eu não tinha um relógio, o ônibus passou.
Quando entramos todos espicharam o pescoço e nos olharam de cima abaixo boquiabertos.
“caraio, será que ninguém aqui nunca viu um grupo de roqueiros?!” -pensei quando uma garotinha deixou a bala cair, olhando para nós.
Nos sentamos nos bancos do fundo, que eram os únicos que restavam e não houve aquele que não virou o pescoço para nos olhar.
- detesto isso! –resmunguei quando nos sentamos.
- ué, não é você quem adora chamar atenção?-perguntou Aline sarcástica.
- sim.-respondi.-mas não gosto quando olham assim: como se fossemos monstros. Gosto que olhem com surpresa, como se nunca tivessem visto pessoas como nós; e não como se fossemos demônios.
- nem em fale em demônios,-falou Mauricio.-minha mãe e meu pai continuam me enchendo porque eu ouço rock. Ontem quase me mataram, acreditam?
- que foi que fizeram com você ,criatura?- perguntei interessada, eu adoro ouvir a desgraça alheia, quando é interessante, é claro.
- ah, ontem eu estava no meu quarto ouvindo Marilyn Manson, na boa; ai minha mãe entrou para deixar a roupa passada, ai ela começou.- ele imitou a voz da mãe em uma versão rabugenta.- “ah, olha você ouvindo essa droga de novo. Não sei o que você vê nessa gritaria!
- não é gritaria, - respondi.- alguns podem ate ser mas essa não é.
- é, mas é tudo coisa do demônio,e você vai parar de ouvir isso, eu não crio filho pra virar essas merdas!
- você quer dizer que não quer que seu filho seja roqueiro,né? E isso não é ser uma merda, e mesmo se for, eu vou ser um merda a vida inteira. Eu me sinto bem assim e não a nada que você diga ou faça que vai me fazer mudar!
- Vamos ver então.-falou ela e saiu do quarto”.
Ele tomou fogo e continuou.
- sabe, eu odeio isso. Eu não faço nada dê errado: não me drogo, não faço sexo (mas isso é por falta de garotas), não destruo nada e nem ando com prostitutas.- nessa hora por algum motivo ele olhou de esguelha para Aline e eu.- eu acho.
“Mas a coisa é: eu sou um bom filho: obedeço ela e tudo mais, até lavo a louça, acreditam? Então eu não vejo motivo para ela me proibir de ouvir rock. Aposto que se fosse forró ela não falaria nada”.
- é eu sei o que é isso, - comentou Aline.- sabe, ao menos você estava ouvindo marilyn, e eu que estava ouvindo legião urbana, que é um milhão de vezes mais suave e levei mó bronca da minha mãe, (quer dizer, ela esta sempre me dando bronca) foi parecida com a sua, mas sabe né, minha mãe é evangélica então é muito pior: e imitou a voz da mãe.
- “É, você fica ai ouvindo essas merdas do diabo ao invés de rezar ou ler a bíblia, eu não te reconheço Aline; o que aconteceu com você? Não é mais minha filha, você não é mais a menina que eu conheço, você mudou de um dia pro outro. O que aconteceu com você? Ham? Eu te crie tão bem, eu tenho o direito de saber. por que você faz isso comigo? Por que você me odeia? Heim? O que eu te fiz? Me responda por favor!- ai ela parou e respirou e continuo depois.- São essas companhias que fizeram isso com você; se eu fosse parava logo de andar com esse povinho do mundo antes que você se perda de vez!”
- mãe, em primeiro lugar eu não vou deixar de andar com meus amigos porque eles não fizeram nada comigo, eu sou a mesma; quer dizer, talvez eu tenha mudado um pouco, mas isso acontece com todo mundo, nós crescemos sabe; ou você acha que eu ia ser aquela menininha boba e idiota pra sempre? E sinceramente, eu estava cansada de viver do jeito que você me criou, minha vida era uma droga, eu nunca podia fazer nada, nunca acontecia uma coisa legal pra mim. Eu mudei porque decidi que ia ser melhor pra mim, e veja só, estou muito mais feliz agora. E não a nada de merda nisso, é legião urbana, e é suave, se você não acha então tape e os ouvidos”.
- Ai ferrou tudo e ela desatou a falar como uma vitrola.-concluiu Aline respirando.
- É, mas você viu o que você disse Aline?- perguntou Mauricio meio incrédulo.- eu nunca falei assim com minha mãe, também se falar eu apanho ate cansar.
- Ela não é doida de me bater. –falou Aline presunçosa.
- Ela é sua mãe,-insistiu o Mauricio.-tem todo o direito de te bater se você merecer.
- Ela não é minha mãe, - falou Aline alto começando a atrair olhares.- vocês não repararam que eu não gosto dela? Nunca gostei. Ela é muito chata, sempre me prendeu como se eu fosse um bandido, não me deixa nem ouvir um cd. Eu a detesto.
- Ah, Aline você só fala isso agora.- disse Mauricio.-se ela morrer vamos ver se você a detesta ou não.
- Eu já pensei nisso, - disse Aline displicente.- e cheguei a conclusão de que não seria ruim,vejam: eu poderia fazer o que eu quisesse, poderia ficar com aquele apartamento e fazer nele o que eu quiser.
- Um putero?- perguntou Mauricio sarcástico.
- Não né palhaço.-retrucou ela irritando-se.- mas eu tenho certeza que eu seria muito mais feliz.
- Ah, cale a boca Aline!
O assunto morreu ai.
Depois de rodar por algum tempo descemos na estação de trem e pegamos o mesmo que nos levaria direto ao nosso destino.
- Anne, você tem certeza que sabe o caminho?- perguntou Mauricio preocupado quando já estávamos no trem.
- é claro!- respondi displicente.- eu baixei um mapa na net, e o caminho é fácil, vejam bem:- falei mostrando o mapa a eles.- quando sairmos da estação cairemos nessa avenida, atravessaremos e iremos pela rua em frente ai sairemos em outra avenida e caminharemos pelo lado esquerdo e nos depararemos com TARÃM: TRIBE HOUSE!
- é , é simples, mas desconfio do mesmo jeito, você conseguiu tirar um cinco na prova de matemática porque não soube fazer dois mais dois.- falou o Mauricio em um tom de voz que me fazia pensar que ele queria que o trem inteiro ouvisse.
- Sabe , - falei censurado-o com o olhar. - você não precisava mencionar isso! E eu não acertei porque eu desconfiei da conta, onde já se viu a Matakari dar algo como 2+2? Eu achei que era uma pegadinha e que se resolvia de outro modo: o mais difícil, e assim o fiz. Pena que dessa vez era fácil mesmo; velha trambiqueira!
- Hum...sei.
A viagem seguiu-se sem muitas agitações, até que dois caras realmente bonitos embarcaram: um era alto, forte e careca, mas não era feio, na verdade no começo pensei que ele fosse um skin haed, mas ai eu reparei que ele era irmão, pois na camiseta dele estava escrito: “Judas priest”
- ele é bonitão!- cochichei para a Aline que também olhava para eles, que por sua vez olhavam para nós.
- eu prefiro o outro.- falou ela.
O outro era alto também, magro, tinha uma longa cabeleira loira que ia até a cintura, tinha olhos verdes e usava uma calça de couro preta por dentro da bota e uma camisa preta com um lenço de oncinha solto no pescoço.
- ele parece gay.- disse Mauricio os observando carrancudo.
- ah, Mauricio não fica com dor de cotovelo, você também esta bonitinho.- disse Aline apertando as bochechas dele.
- ah não enche!- retrucou o Mauricio olhando de cara feia para os bonitões.
Falamos pouco no resto da viagem, e já estávamos começamos a nos chatear quando o maquinista anunciou:
“Metro Clinicas.”.
- ah que bom!- exclamei feliz da vida.
- vamos nessa!- falou o Mauricio.
Desembarcamos e estávamos descendo a escada rolante quando a Aline olhou para trás e me deu um cutucão:
- olhe para trás.
Eu olhei para trás e quase rolei escada abaixo:os dois bonitões estavam logo atrás de nos, e quando eu olhei o metalleiro sorriu e acenou para mim.
- será que eles estão indo para a tribe?- perguntou Aline esperançosa enquanto saímos da estação.
- tomara que não.- disse o Mauricio mal humorado.
- qual e Mauricio?- disse eu. - não fica com ciúmes lá vai ter muitas gatas pra você.
- hum...
Saímos na tal avenida que era muito movimentada, atravessamos e prosseguimos pela rua em frente; estávamos quase chegando do outro lado quando os bonitões passaram por nos.
- eu tenho certeza que eles estão indo para a tribe.-falou Aline entusiasmada.
De repente saímos em outra avenida ainda mais movimentada.
Fomos pelo lado esquerdo por cinco minutos, ate que nos deparamos com uma fila de pessoas extremamente alienadas: tinha gente de moicano verde, azul e amarelo; gente de saia rosa e meia verde; gente de corpse paint e sobretudo vermelho e todos outros tipos de esquisitices.
Todos estavam entrando rapidamente em um lugar em que tinha um grande painel que dizia...: