Para Além do "Negro Drama"
Se liga, favela,
presta atenção no que vai rolar:
não é grife, não é ouro, nem publicidade na tela,
é caráter, é vivência, é o poder da nossa gente.
Na vida, aprendi que dignidade vale mais do que qualquer coisa que o dinheiro compra. Ter um carro, usar Lacoste ou um relógio cravejado nunca vai superar o valor de ser de verdade. Desde cedo, entendi que o trampo honesto tem força, que viver limpo é ser gigante num sistema que insiste em nos diminuir.
Ser preto, ser favela, é carregar um mundo nas costas — mas também é saber que a gente é a revolução que eles temem.
Porque ser preto é fardo e glória,
é dor e vitória,
é viver num campo minado,
mas não sair da trajetória.
Hoje, vê-se a juventude seduzida pelo brilho das telas. O sistema mostra o sucesso como ostentação:
Nike no pé, cordão no peito, iPhone na mão,
BMW no rolê, whisky na contramão.
Mas ninguém fala do trampo, do estudo, da correria que é viver com pouco tentando ser alguém.
Eles querem que tu deseje o que não pode ter,
pra trabalhar a vida inteira só pra consumir e obedecer.
Querem que teu sonho seja um Jordan,
não uma faculdade.
Querem que tua meta seja o hype,
não a liberdade.
O problema não está na ostentação em si — o problema é ser escravo disso. A favela precisa de mais cabeça erguida e menos cabeça iludida. Precisamos de consciência, de mente afiada, que não se vende por curtidas ou status.
E no meio do caos, fica ligado, irmão:
não é o drip que te define, é tua missão.
Não é o corre sujo que te faz vencedor,
é o corre honesto que te dá valor.
O crime? Não é caminho. Arma na mão de criminoso é tragédia. A quebrada sangra e o sistema agradece. Não glorifica facção, não dá palco pro erro. A favela precisa de futuro, não de luto.
Estuda, reage, questiona, transforma.
Trabalha, sonha, resiste, reforma.
Se une com os teus, fortalece o coletivo,
porque sozinho é difícil, mas junto é explosivo.
Queremos um Estado presente com livro, arte, cultura, saneamento, assistência social, reparação. Queremos escola de qualidade, oficinas, teatro, esporte. Não só sirene e giroflex.
A favela é raiz, é tronco forte,
é poesia no asfalto, é vida no corte.
É preto que sonha, mesmo no sufoco,
é fé que não quebra, é guerreiro no foco.
E mesmo quando o dinheiro tira o homem da miséria, não pode arrancar de dentro dele a favela — a memória, o som da viela, o cheiro da terra, o grito que rompe o silêncio.
Como dizem os Racionais:
"Porque assim é que é, renascendo das cinzas, firme e forte, guerreiro de fé..."
Vagabundo nato? Não.
Sou favela viva, sou disposição,
Não abaixo a cabeça, não perco o chão.
Sou resistência que pulsa, sou batida no refrão,
Sou preto, sou essência, sou revolução.