O preço do sonho
Ninguém fala sobre a solidão que é trocar momentos fugazes de alegria por promessas distantes. Ninguém avisa que, ao decidir erguer um futuro, será preciso deixar pedaços do presente para trás—amizades que se esvaem, laços que se afrouxam, vozes que antes chamavam pelo seu nome e agora não o reconhecem mais.
Você trocou festas por madrugadas insones, trocou risos por cálculos silenciosos, trocou a leveza do agora pelo peso do depois. Enquanto os outros vivem, você observa de longe, preso à ideia de que cada renúncia é um degrau na escada para algo maior. Mas essa escada não tem corrimão, e a cada passo, o vento da dúvida assombra: valeu a pena?
Ninguém fala sobre como os dias se tornam repetitivos, sobre como a ausência de pequenas gentilezas vai corroendo a alma. Não há mensagens inesperadas perguntando se você chegou bem, não há convites espontâneos para uma conversa sem propósito. A vida se torna um emaranhado de metas, prazos e obrigações, e quando o silêncio da noite se instala, a única companhia são os próprios pensamentos—frios, incansáveis, implacáveis.
E enquanto você se entrega a esse caminho solitário, o mundo segue indiferente. Seus antigos amigos celebram conquistas, compartilham segredos, constroem memórias das quais você não faz parte. A vida pulsa em algum lugar distante, fora do seu alcance.
Ninguém fala sobre o medo de não ser lembrado. O pavor de que, ao fim de tudo, sua ausência passe despercebida. Ninguém menciona os olhos cansados que vagam em busca de um propósito, a mente exausta que anseia por uma certeza, o coração que insiste em perguntar se haverá alguém esperando quando tudo finalmente fizer sentido.
Porque sonhar exige abdicar. E abdicar, muitas vezes, é como morrer um pouco a cada dia.