INSENSATEZ
Sem muitos rodeios, deixei mamãe saber que eu queria fazer permanente. Ela ficou muito contrariada e me disse que não deixaria, que era uma tolice, que eu sendo tão jovem iria estragar meu bonito cabelo com uma estupidez daquelas. Mas eu tinha a ideia fixa de encrespar e da intenção não abri mão.
Passei, então, a atormentar vovó, que morava praticamente nos fundos de nossa casa, para que fizesse a cabeça de mamãe. Tanto importunei as duas que minha mãe cedeu e vovó Mariquinha prometeu acompanhar-me e pagar pelo serviço.
E lá fomos nós ao melhor salão de Curitibanos. Eu devia ter 15 ou 16 anos e achava os cabelos crespos o máximo. Os meus eram lisos, castanhos claros, bonitos, sedosos, pela altura dos ombros. Antes mesmo da cabeleireira dar por terminado seu trabalho, que foi longo e cansativo, eu já percebia minha infeliz ideia e que dela iria me arrepender. Fiquei nauseada pelo cheiro de amônia que levou uma eternidade para desaparecer.
Ao voltar para casa, fui motivo de riso e comentários maldosos de meus irmãos. Disseram-me que eu parecia outra pessoa. E até eu, frente ao espelho, vi uma estranha. Mamãe e vovó evitaram criticar-me, não tinha mais como remediar, o jeito era esperar o tempo passar, lavar, pentear e deixar crescer novamente...e ir cortando periodicamente, para que voltasse ao natural.
Fiquei infeliz, chorei, mas não havia nada que, a curto prazo, me restituísse a antiga cabeleira. Entretanto, o tempo pareceu não ser tão longo assim. Em alguns meses recuperei o cabelo e a autoestima. Foi uma lição que aprendi a duras penas. Prudência e bom senso são adquiridos com as experiências da vida. Foi algo para não ser repetido.
Hoje, tenho cabelo branco e não me importo. Sinto-me bem assim. É natural e apropriado para minha idade.
Prezo o cabedal de conhecimento que conquistei ao longo dos anos, a espontaneidade e a segurança que adquiri acertando e errando. Mas como fazermos bobagens na infância e juventude! É um duro aprendizado!