A História de Astride. Capítulo 3, A-F.

Capítulo 3.

A

No auge do reinado de Maximilianus, o Continente Verde floresceu em uma era de paz e prosperidade sem precedentes. Os homens-pássaro haviam sido exilados para o Oriente, onde suas ilhas e montanhas flutuantes os mantinham distantes das disputas no continente, e os homens-peixe, agora confortáveis nas profundezas dos oceanos, não mais emergiam para ameaçar as terras humanas. Essa nova tranquilidade permitiu que Astride, Valecor e Pedraluz crescessem e prosperassem como nunca antes.

Astride, o coração do continente, era o reino mais próspero e influente, abrigando o Cristal de Luz no Topo dos Ventos, uma montanha imponente que se erguia no centro do continente. A capital de Astride, chamada de Cidade Real, ficava bem no alto da Montanha Real, com suas muralhas de pedra branca brilhando sob o sol, como se refletissem a pureza do Cristal de Luz. As ruas da Cidade Real eram pavimentadas com mármore, e os telhados das casas reluziam dourados ao longe, uma visão grandiosa para qualquer viajante que se aproximasse.

Descendo pela Montanha Real, havia a Praia da Cidade Baixa, um refúgio de paz e lazer para os habitantes de Astride. A Cidade Baixa, apesar de ser habitada pelos pescadores, artesãos e comerciantes, era vibrante e próspera. Suas praças movimentadas eram cheias de barracas de mercadores que traziam tesouros das regiões mais distantes do continente, além de artistas que exibiam suas criações em madeira, pedra e tecido. A praia de areia dourada e águas cristalinas era um lugar onde o povo se reunia para celebrar festivais, especialmente durante o solstício, quando o Cristal de Luz refletia sua energia na água, criando um espetáculo mágico de cores e luz.

Subindo a Montanha Real, havia uma vasta e exuberante floresta, a Floresta de Cristan, que cobria as encostas com árvores ancestrais e plantas medicinais raras. Era uma região respeitada e protegida, pois se acreditava que ela carregava a bênção do Cristal de Luz. A floresta se estendia até os Portões da Cidade Real, os imponentes portais que marcavam a entrada da capital. A presença de templos e santuários ao longo das trilhas da floresta revelava o respeito dos habitantes pela natureza e pelos espíritos ancestrais.

A norte de Astride, Valecor era o reino militarmente mais poderoso do Continente Verde. Governado pelo imponente Rei Edrion, Valecor era conhecido por suas fortificações intransponíveis e seu exército disciplinado, um dos mais respeitados em todo o continente. A capital de Valecor, chamada Fortaleza de Arktos, estava situada no alto de uma vasta colina, cercada por muros maciços de pedra cinza. As torres de vigia se estendiam para o céu, sempre de olho nas terras ao redor.

Apesar de sua reputação como uma nação guerreira, Valecor não era apenas um reino de aço e espadas. Seus campos férteis e cidades florescentes eram conhecidos por sua produção de grãos, vinhos finos e metais preciosos. A Cidade de Crasna, uma das maiores do reino, era famosa por suas minas de ouro e prata, atraindo mercadores de todo o Continente Verde e além. Durante o reinado de Maximilianus, Valecor manteve uma relação de forte aliança com Astride, e o comércio entre os dois reinos floresceu, trazendo ainda mais riqueza e prosperidade.

Ao sul de Astride, Pedraluz era governado pelo sábio e generoso Rei Aldebrand, conhecido por sua paixão pela magia e pela beleza natural. Pedraluz era famoso por suas minas de pedras preciosas, que produziam as mais finas joias e cristais de todo o continente. A capital, chamada Cidade de Lapis, era um lugar mágico, onde as casas eram construídas com pedras luminescentes que brilhavam à noite, como se a própria terra estivesse imbuída de magia. Lapis era um centro de artes e estudos, atraindo sábios, magos e artesãos de todas as regiões.

A Torre de Cristal, localizada no coração da cidade, era o lugar onde os magos de Pedraluz estudavam e praticavam suas artes. Essa torre era cercada por um grande jardim botânico que cultivava plantas raras e mágicas, muitas delas encontradas nas terras ao redor da capital. Pedraluz, embora não tivesse o poder militar de Valecor, se destacava como o centro cultural e intelectual do Continente Verde, mantendo uma forte aliança com Astride e ajudando a desenvolver os conhecimentos sobre o Cristal de Luz e suas propriedades.

Sob o reinado de Maximilianus, Astride prosperava como o centro político e espiritual do Continente Verde. As riquezas de Valecor e a magia de Pedraluz complementavam o poder central de Astride, criando um equilíbrio de poder entre os três reinos. Comércio, cultura e cooperação definiam essa era dourada, com caravanas viajando de um reino ao outro, transportando mercadorias, ideias e novas descobertas.

No entanto, fora dessas cidades humanas, as terras ainda eram habitadas por gnomos, fadas e bruxas, que viviam em harmonia com os reinos humanos, mas também mantinham seus próprios territórios independentes. Os gnomos controlavam vastas cavernas cheias de tesouros ocultos nas montanhas ao oeste, as fadas protegiam as florestas encantadas do leste, e as bruxas, misteriosas e poderosas, viviam em áreas isoladas, mantendo uma vigilância atenta sobre os eventos no continente.

No Topo dos Ventos, da Montanha do Meio, o Cristal de Luz continuava a brilhar intensamente, símbolo de paz e prosperidade para o continente. A Cidade Real de Astride, com seus portões monumentais e templos brilhantes, permanecia como o ponto central dessa nova era de prosperidade. As florestas ao redor da montanha eram reverenciadas, e os habitantes viviam em harmonia com a natureza, sentindo-se abençoados pela presença do Cristal.

Maximilianus, agora no auge de seu poder, olhava para o futuro com otimismo. Ele sabia que, embora o continente estivesse em paz, sempre haveria desafios e ameaças. Mas, com a força de Astride, Valecor e Pedraluz, ele acreditava que o Continente Verde prosperaria por gerações, e o Cristal de Luz continuaria a ser o farol de esperança para todos os povos do continente.

...

Após a morte de Maximilianus, o rei que levou o Continente Verde a seu auge de prosperidade e paz, seu legado foi mantido por uma sucessão de monarcas que governaram Astride por mais de três séculos. Cada um dos três reis que se seguiram a Maximilianus — Gregorios, Aurelios e Christoforo — desempenhou um papel crucial na preservação e transformação do reino, com seus reinados moldando a história do continente e preparando o terreno para o futuro de Astride.

O primeiro a suceder Maximilianus foi Gregorios, um líder sábio e cauteloso. Gregorios assumiu o trono em uma época de estabilidade, mas ele sabia que manter a paz não seria uma tarefa fácil. Ele era profundamente respeitado por sua capacidade de negociação e de manter alianças. Durante seu reinado, ele reforçou os laços com os reinos vizinhos, especialmente com Valecor e Pedraluz. Ele sabia que a unidade entre os reinos humanos era fundamental para garantir a proteção contra quaisquer ameaças externas.

Embora Gregorios fosse mais conhecido por suas habilidades diplomáticas do que por sua força militar, ele também reforçou as defesas de Astride, garantindo que as fortificações da Montanha Real continuassem a ser intransponíveis. Sob sua liderança, os exércitos de Astride foram mantidos em alta prontidão, não para atacar, mas para dissuadir potenciais invasores. Gregorios também investiu em melhorar as condições de vida em todo o reino, desde as áreas costeiras até os interiores florestais, com foco em garantir o bem-estar de seu povo.

Durante seu longo reinado, Gregorios supervisionou a consolidação da Praia da Cidade Baixa como um grande centro de comércio marítimo. Com os homens-peixe afastados, as águas costeiras de Astride se tornaram rotas comerciais seguras, conectando o reino com as terras distantes. Os portos cresceram, atraindo comerciantes de outros continentes, e a economia de Astride prosperou. A Floresta de Cristan, na encosta da Montanha Real, tornou-se um lugar sagrado onde rituais e festivais eram realizados em homenagem ao Cristal de Luz.

Após a morte de Gregorios, Aurelios, seu filho, ascendeu ao trono. Enquanto Gregorios foi o guardião da paz e da estabilidade, Aurelios era um rei visionário que via a necessidade de reforma e inovação. Ele acreditava que Astride poderia se expandir ainda mais, não através da conquista, mas através do avanço da magia, das artes e do conhecimento.

Aurelios, fascinado pelos segredos do Cristal de Luz, passou grande parte de seu reinado incentivando os magos e estudiosos de Pedraluz e outros lugares a virem para Astride e mostrarem o que estudaram sobre o Cristal. Ele estabeleceu a Ordem dos Guardiões de Luz, uma irmandade de sábios e magos dedicados à proteção e ao entendimento profundo do Cristal. A Torre dos Guardiões foi construída em Cidade Real, um imponente edifício próximo ao palácio, onde se realizavam estudos sobre a magia dos elementos e a influência do Cristal de Luz sobre o equilíbrio do continente.

Durante o reinado de Aurelios, a magia floresceu como nunca antes. Os magos de Astride começaram a dominar novas formas de conjurações, integrando o poder do Cristal nas suas práticas, o que resultou em um grande desenvolvimento tecnológico e mágico. Aurelios também incentivou a construção de grandes monumentos e templos, muitos dos quais foram erguidos nas colinas ao redor da Montanha Real, dedicados aos antigos deuses e ao Cristal.

Aurelios, no entanto, era mais idealista do que seu pai e às vezes ignorava os aspectos práticos do reinado. Embora sua visão de um reino iluminado fosse inspiradora, sua falta de atenção para as tensões internas criou alguns descontentamentos. As classes nobres, que controlavam terras e exércitos, começaram a questionar a ênfase excessiva de Aurelios na magia e nas artes em detrimento das defesas militares. Apesar dessas críticas, Aurelios foi um monarca amado por grande parte do povo, especialmente pelos magos, estudiosos e artistas, que viram seu reinado como uma era dourada de descobertas e avanços.

Quando Aurelios faleceu, semeando dúvidas quanto ao futuro da segurança do reino, Christoforo, seu filho, assumiu o trono. Christoforo era um líder pragmático, muito diferente de seu pai. Ele reconhecia a importância das inovações mágicas e culturais trazidas por Aurelios, mas sabia que o reino precisava de estabilidade política e de uma liderança forte para manter o controle das regiões afastadas de Astride.

Christoforo passou os primeiros anos de seu reinado restabelecendo a ordem no reino e restaurando a confiança dos nobres. Ele trabalhou para reforçar as defesas de Astride e Valecor, fortalecendo as alianças militares e restabelecendo a Guarda Real, que havia sido negligenciada durante o governo de seu pai. As fortificações de Astride foram expandidas, e Cavaleiros da Luz foram treinados para proteger o Cristal a todo custo. Ao mesmo tempo, ele manteve o apoio à Ordem dos Guardiões de Luz, compreendendo a importância do estudo do Cristal para o equilíbrio do continente.

Durante o reinado de Christoforo, o equilíbrio entre as esferas mágicas e militares foi alcançado. Ele permitiu que as inovações culturais de Aurelios continuassem, mas também garantiu que o exército de Astride permanecesse forte e vigilante. Ele soube administrar os conflitos internos entre os nobres e os magos, agindo como um mediador habilidoso. Sua visão era clara: Astride precisava de força e sabedoria para manter o equilíbrio do poder no Continente Verde.

Christoforo também consolidou ainda mais os laços com os reinos vizinhos, especialmente com Valecor, governado agora pelo bisneto de Edrion, um rei que partilhava a visão de força militar. Com Pedraluz, os laços culturais e mágicos continuaram a florescer, e o comércio entre os três reinos manteve o continente próspero.

Christoforo também foi responsável por grandes reformas na infraestrutura de Astride. Ele revitalizou as estradas que conectavam a Cidade Real à Praia da Cidade Baixa e aos portos comerciais, garantindo que o comércio terrestre e marítimo continuasse a prosperar. A Floresta de Cristan foi protegida por novos decretos, garantindo que suas riquezas naturais fossem preservadas e que o local continuasse a ser um santuário sagrado.

Christoforo reinou com sabedoria e força por muitos anos, mas, como todos os reis, seu tempo chegou ao fim. Com sua morte, seu filho Ambrósio assumiu o trono de Astride. O reinado de Ambrósio marcaria uma nova era para o continente, onde as decisões tomadas moldariam o futuro do Cristal de Luz e de todo o Continente Verde.

...

A história de Ambrósio começa de maneira imponente, revelando sua origem como filho do venerado rei Christoforo e da rainha Maria. Criado no coração do reino, ele cresceu no majestoso castelo que se erguia no centro da Grande Cidade de Astride, cercado pela sabedoria de seu pai e pela elegância e diplomacia de sua mãe. Sua vida parecia destinada à paz e prosperidade, herdando um reino forte e próspero, até que um incidente imprevisto mudou o curso de sua trajetória.

Foi na Praia da Cidade Baixa, um dos principais pontos de comércio e interação com o mundo além das fronteiras de Astride, que ocorreu o inesperado: um homem-peixe chamado Noereu surgiu das profundezas do oceano. Seu aparecimento trouxe agitação entre os moradores e guardas da cidade, pois os homens-peixe há muito tempo haviam se retirado para as profundezas dos mares, afastados de qualquer interação com o continente.

Noereu, lutando bravamente, conseguiu invadir o castelo. Ele trazia uma mensagem urgente para o rei Christoforo. Os Povos dos Fundos dos Mares, preocupados com a recente atividade dos homens-pássaro, pediam uma nova aliança com Astride para enfrentar essa ameaça crescente. Ele descreveu como os homens-pássaro, banidos para o Oriente séculos antes, estavam mobilizando forças novamente, ameaçando tanto os territórios terrestres quanto as águas costeiras.

Essa revelação caiu como uma tempestade sobre o conselho de Astride. O surgimento de Noereu marcava não apenas o recomeço de uma guerra antiga, mas também a retomada das relações diplomáticas entre os homens da terra e os homens do mar. Era um momento decisivo para Ambrósio, que, embora ainda jovem, começou a vislumbrar a complexidade das responsabilidades que um dia herdaria. Ele assistia a tudo atentamente ao lado de seu pai, observando como o rei equilibrava sabedoria, estratégia militar e diplomacia em tempos de crise.

Christoforo, após ouvir as palavras de Noereu, convocou um conselho extraordinário com seus principais generais e conselheiros, assim como os representantes de Valecor e Pedraluz, para discutir a resposta ao pedido de aliança. Astride estava novamente em uma posição crítica: defender sua terra e proteger o Cristal de Luz contra a fúria renovada dos homens-pássaro.

Assim, Ambrósio, que até aquele momento crescera em tempos de paz, viu-se à beira de uma guerra iminente que colocaria à prova o legado de seu pai e moldaria o destino de seu futuro reinado. O incidente com Noereu foi apenas o primeiro sinal do conflito que se aproximava, e ele se tornaria uma figura central nessa nova era de confrontos e alianças.

...

A história deste livro começa com a chegada inesperada de Noereu, um homem-peixe dos Povos dos Fundos dos Mares, na Praia da Cidade Baixa de Astride. Ele trouxe consigo não apenas uma mensagem urgente, mas também um evento que mudaria o curso da história de todo o Continente Verde.

Após sua exaustiva jornada do fundo do oceano, Noereu invadiu o castelo no centro da Grande Cidade de Astride, onde o rei Christoforo e a rainha Maria governavam com sabedoria e justiça. Com o ar ainda úmido e suas escamas cintilando sob a luz da manhã, Noereu entregou uma carta lacrada ao rei. Esta carta, escrita pelos líderes dos Povos dos Fundos dos Mares, continha um pedido formal para uma audiência diplomática com o rei de Astride.

A carta deixava claro que os embaixadores submarinos, figuras de grande prestígio e autoridade entre o povo do mar, desejavam vir ao reino para discutir uma aliança militar e diplomática. A ameaça dos homens-pássaro, exilados para o Oriente, havia se tornado novamente uma realidade. Estes antigos inimigos estavam mobilizando forças, e os povos submarinos temiam que suas terras costeiras e profundas estivessem em risco. Eles sabiam que, sozinhos, não poderiam enfrentar a investida. A aliança com Astride era vista como uma solução necessária e urgente, pois esta seria a principal afetada no Continente Verde, em vista de sua relação com o Cristal de Luz.

Christoforo, conhecido por sua prudência e habilidade diplomática, imediatamente entendeu a gravidade da situação. Ele reuniu seus conselheiros e generais para uma reunião de emergência, e com o apoio da rainha Maria, começou a organizar os preparativos para receber os embaixadores submarinos. A audiência prometia ser um marco na história de Astride, pois pela primeira vez em décadas, as nações do mar e da terra se uniriam novamente em face de um inimigo comum.

Essa carta, carregada por Noereu, marcava o início de uma nova era de alianças e conflitos. E foi nesse momento crucial que Ambrósio, filho de Christoforo e Maria, observou de perto o manejo de seu pai diante de uma crise iminente, sabendo que um dia seria sua responsabilidade manter o equilíbrio entre a paz e a guerra no vasto e complexo Continente Verde.

B

Trevius, o mago negro, liderava o exército ninja que havia surpreendido Astride com um ataque furtivo e letal. No meio das sombras, ele já havia traçado seus planos há tempos, e agora, enquanto a noite envolvia o porto de Astride, seu navio misterioso estava pronto para zarpar. Ao comando de sua voz grave e sombria, as velas se ergueram, e o destino do grupo que embarcara era selado.

A bordo do navio, um grupo heterogêneo de viajantes, todos com papéis cruciais em uma jornada perigosa, se preparava para uma missão que poderia alterar o destino do Cristal de Luz e do mundo como o conheciam. Cada um deles, por diferentes razões, fora atraído para o caminho sombrio traçado por Trevius, e agora rumavam para as terras esquecidas da Antiga Elydora.

Noereu, o primeiro homem-peixe a aparecer nesta história, parecia carregado de um peso silencioso. Seu papel de intermediário entre os Povos dos Fundos dos Mares e os humanos o havia levado a uma posição complexa. Agora, envolvido em uma missão cujas consequências ele ainda não compreendia totalmente, Noereu observava as águas enquanto sentia as correntes do destino o puxarem para algo ainda maior.

Kaelan, oriundo de Valecor, e Drakar, de Pedraluz, dois guerreiros lendários, estavam ali com uma lealdade quase cega à causa. Embora tivessem suas diferenças, ambos sabiam que o equilíbrio de poder no Continente Verde dependia do resultado dessa missão. Eles traziam a força de dois dos reinos mais poderosos para este grupo heterogêneo.

Magiori, o sábio que havia alertado o rei Ambrósio sobre a presença de Kaelos, o Espírito das Sombras, sentia que as forças antigas estavam começando a se mover. Sua mente estava ocupada com os segredos que envolviam o Cristal de Luz, e ele sabia que esta jornada talvez os levasse a encarar a verdadeira escuridão que Kaelos representava.

Rami, o conselheiro de Ambrósio, sentia a responsabilidade de representar o rei e proteger o reino de Astride em seu coração. Leal e astuto, ele sabia que a política e a guerra estavam entrelaçadas, e que, sem sua perspicácia, este grupo poderia facilmente se perder nas teias do poder.

Entre eles, Thalassa, uma amazona de renome, não podia deixar de exibir seu espírito destemido. Seu passado era de luta, e seu futuro parecia igualmente sombrio, mas ela confiava na sua força e na habilidade de seus companheiros. Ela sabia que, no campo de batalha, precisaria mais do que força física para vencer as ameaças que enfrentariam.

Bromnar, o anão, era pequeno, mas sua coragem e habilidade com o martelo não tinham igual. Ele já havia lutado em inúmeras guerras e sabia que o terreno desconhecido poderia trazer tanto a morte quanto a glória. Seu humor mordaz e sua determinação feroz eram os únicos confortos que levava consigo nesta viagem.

Enquanto o navio se distanciava das luzes do porto, eles seguiam rumo a um porto perdido da Antiga Elydora, uma terra cujas ruínas ainda respiravam o poder de tempos antigos. De lá, seu destino final seria a Montanha das Paixões das Trevas, um lugar envolto em lendas e terrores, onde residia a mítica Mulher-Cavaleiro, a criatura amaldiçoada por Kaelos, destinada a proteger o Cristal de Luz e esperar o retorno de Pyrron.

O ar estava pesado com antecipação, pois todos sabiam que a jornada à frente não seria fácil. O destino do Cristal de Luz e o equilíbrio entre os elementos e as forças que governavam o mundo dependiam de cada passo que dariam daqui em diante.

...

Antes de ser o portador de mensagens vitais entre os Povos dos Fundos dos Mares e os humanos, Noereu era um guerreiro silencioso das profundezas. Sua vida era pacífica nas águas cristalinas, cercada pelas antigas cidades submersas que o fascinaram desde a juventude. Ele era um explorador nas suas primeiras décadas, navegando pelos abismos mais profundos e descobrindo os mistérios que o oceano escondia. Noereu nunca imaginou que se envolveria nos conflitos da superfície, acreditando que a vida subaquática estava isolada dos problemas dos reinos acima das ondas.

No entanto, quando os homens-pássaro começaram a perturbar as águas costeiras, Noereu foi convocado pelos anciões de sua cidade para uma missão sem precedentes. Ele se tornou o emissário de uma antiga aliança e o primeiro homem-peixe a pisar na terra firme em gerações. Embora sua mente estivesse focada em proteger seu povo, Noereu nutria uma curiosidade secreta pelo mundo da superfície. Suas expectativas para a missão eram simples: garantir a proteção dos oceanos e retornar ao mar, mas, no fundo, ele se perguntava o que mais o aguardava fora de suas profundezas.

Kaelan, antes de embarcar nessa jornada com Trevius e o grupo, era o orgulho do exército de Valecor, um dos maiores reinos do Continente Verde. Ele vinha de uma longa linhagem de guerreiros, treinado desde a infância para servir e proteger seu rei e seu reino. Sua vida era pautada por honra, dever e disciplina. Kaelan era conhecido pela sua habilidade com a espada e sua bravura no campo de batalha, mas também por seu coração obstinado. Ele acreditava no poder das alianças, mas apenas quando estas favoreciam seu reino.

Ele cresceu admirando as façanhas de seus ancestrais e sonhava em se tornar uma lenda por direito próprio. Quando o chamado para a missão chegou, Kaelan viu uma oportunidade de provar que seu nome ficaria gravado nos anais da história. Sua expectativa era vencer os homens-pássaro, restaurar a glória de Valecor e retornar triunfante, mas Kaelan também carregava uma inquietação: ele sabia que o caminho à frente era imprevisível e que a própria honra poderia ser posta à prova.

Enquanto Kaelan buscava glória, Drakar, de Pedraluz, buscava compreensão. Ele era um estrategista nato, mas, ao contrário dos guerreiros impulsivos, sua mente estava sempre mergulhada na filosofia e no significado mais profundo da guerra. Nascido no reino das montanhas, Drakar foi criado entre as bibliotecas e salões de pedra de Pedraluz. Ele estudava as estrelas, o movimento dos ventos e o comportamento das forças mágicas que governavam o mundo. Sua curiosidade o levou a tornar-se um estudioso da história antiga e dos poderes que envolviam o Cristal de Luz.

Antes de se juntar ao grupo de Trevius, Drakar estava obcecado com a ideia de que o Cristal representava mais do que um simples artefato de poder. Ele acreditava que o equilíbrio entre os elementos estava sendo ameaçado, e que a solução para a paz estava escondida nas histórias antigas, nas quais ele havia se imerso por anos. Agora, ele via a missão como um caminho para provar suas teorias e talvez revelar segredos maiores do que qualquer rei pudesse imaginar.

Magiori sempre foi uma figura enigmática. Nascido em terras onde a magia corria livre, ele desenvolveu desde cedo a habilidade de ver além do mundo físico. Como um oráculo e conselheiro, ele havia alertado o rei Ambrósio sobre a ameaça de Kaelos, o Espírito das Sombras, uma entidade que poucos acreditavam ser real. Magiori, no entanto, sempre soube que Kaelos estava esperando um momento de fraqueza para emergir.

Antes de se envolver na política do reino, Magiori passou anos em solidão, viajando entre os reinos e mergulhando nas artes mágicas proibidas. Ele buscava compreender o equilíbrio entre a luz e as sombras, e acreditava que sua visão era crucial para manter o mundo seguro. Ao embarcar nessa jornada, Magiori via a missão como uma chance de provar que suas previsões estavam corretas e de enfrentar a entidade que sempre o assombrara em visões.

Desde jovem, Rami era um homem que servia com lealdade e sabedoria. Como conselheiro de Ambrósio, ele desempenhou um papel central em manter o reino de Astride seguro e próspero. Seu talento para a política era evidente, mas Rami nunca sonhou em obter poder para si. Ao contrário, seu maior sonho era garantir que o reinado de Ambrósio fosse lembrado pela paz e justiça.

Antes de sua vida na corte, Rami tinha sido um humilde estudioso. Ele viajou entre os reinos aprendendo sobre a natureza dos governos e como eles poderiam se tornar máquinas de destruição ou de prosperidade. Agora, ao embarcar na missão, ele sabia que a diplomacia e a estratégia seriam tão importantes quanto a força bruta. Ele esperava, acima de tudo, preservar a paz e evitar que o Cristal caísse nas mãos erradas.

Thalassa era uma guerreira feroz, vinda de uma tribo de amazonas. Sua vida até aquele momento havia sido uma série de batalhas, tanto internas quanto externas. Ela nasceu para lutar, mas lutava não apenas com armas, mas com um desejo ardente de entender seu propósito no mundo. Desde jovem, ela liderava incursões em defesa de sua tribo, mas sentia que havia algo maior além dos horizontes de sua floresta natal.

Quando a oportunidade de se juntar à missão apareceu, Thalassa viu um caminho para finalmente testar seus limites. Mais do que uma guerreira, ela desejava ser uma guardiã do equilíbrio, proteger os que não podiam se proteger e descobrir o verdadeiro propósito da sua força. Sua esperança era que, ao final dessa jornada, ela encontrasse um significado maior para sua existência.

Antes de entrar nessa missão, Bromnar já era uma lenda entre os anões de sua montanha. Ele havia lutado em batalhas infindáveis, derrubado criaturas imensas e visto reinos surgirem e caírem. Bromnar tinha o espírito de um guerreiro que não conhecia medo, mas, no fundo, o que ele mais desejava era paz. Ele lutava por seus amigos, por sua honra e, em algum lugar em seu coração, por um futuro em que não precisasse mais erguer seu martelo em guerra.

Sua lealdade ao grupo era inabalável, mas sua esperança era que essa jornada fosse a última grande batalha de sua vida. Ele sonhava em voltar para sua montanha e viver em tranquilidade, forjando armas e cantando as canções dos velhos tempos, sem mais a necessidade de lutar.

Selvéria, a bruxa, sempre caminhou entre o mistério e o medo. Sua vida foi marcada por visões perturbadoras desde a infância. Ela era uma profetisa, mas seu dom era mais uma maldição do que uma bênção. Suas previsões eram sempre de tragédias e desastres, e o seu maior fardo era carregar o conhecimento de que o Cristal de Luz não era apenas um símbolo de esperança, mas também a chave para um poder antigo e perigoso.

Antes de se envolver com o grupo, Selvéria vagava pelos reinos, temida e respeitada por onde passava. Sua visão sobre o Antigo Rei do Mundo Alado e o destino do Cristal a levaram a crer que ela estava destinada a impedir uma catástrofe. Embora suas profecias fossem sombrias, ela carregava a esperança de que, se sua visão fosse corretamente interpretada, ela poderia salvar o mundo de um destino pior do que a morte.

...

A viagem começou ao entardecer, quando o navio negro de Trevius zarpou do porto da Praia da Cidade Baixa, deslizando sobre as águas calmas. A cidade de Astride, com sua majestosa Montanha Real ao fundo, parecia despedir-se deles enquanto as luzes das tochas da Cidade Baixa se acendiam como estrelas terrestres. O silêncio inicial entre os tripulantes era profundo; todos sabiam que estavam adentrando um território desconhecido e repleto de perigos, uma travessia que selaria o destino de todos.

O primeiro dia foi tranquilo, mas tenso. Noereu passava a maior parte do tempo próximo à amurada do navio, observando as águas e sentindo o cheiro salgado familiar que o ligava às profundezas de onde viera. Ele estava em solo de superfície, mas o mar ainda lhe parecia um refúgio, como se as ondas tentassem lhe assegurar que ele não estava completamente sozinho. Kaelan e Drakar discutiam planos de batalha para a jornada, traçando táticas com entusiasmo, embora os dois carregassem posturas opostas sobre as melhores estratégias.

Na primeira noite, Selvéria ofereceu um presságio silencioso, observando as estrelas. Ela murmurou para si mesma, visões dispersas sobre o Cristal de Luz e o poder que ele encerrava. “É como se as próprias estrelas tivessem segredos que preferiam não revelar”, murmurava ela, enquanto Magiori, o vidente, a observava com olhos desconfiados e cautelosos.

Nos dias seguintes, o mar deixou de ser tranquilo. O céu, antes límpido, deu lugar a uma tempestade brutal que parecia determinada a varrer o navio da superfície. O vento chicoteava as velas e as ondas ameaçavam varrer a tripulação ao mar. Bromnar se provou inabalável diante das águas furiosas, segurando firme as cordas e rindo diante dos gritos da tempestade, como se estivesse zombando da força do próprio oceano. Sua coragem inspirava alguns, embora Rami, o conselheiro, permanecesse ansioso; ele entendia a importância da missão e temia perder qualquer membro essencial do grupo.

Após dias de luta contra as intempéries, a tempestade cessou, revelando o céu novamente estrelado. As velas encharcadas foram erguidas, e o navio seguiu em frente, agora numa calmaria quase sobrenatural. Cada um dos tripulantes usava esse período de tranquilidade para refletir. Thalassa, a amazona, observava o horizonte, treinando com sua lança, enquanto pensava na missão e no propósito maior de seu povo. Para ela, a batalha era tão natural quanto o respirar, mas sentia que havia algo de incomum nessa jornada, algo que ia além das guerras que conhecera.

Após dias a fio de mar aberto, as montanhas da Antiga Elydora despontaram no horizonte, envoltas em névoa e mistério. Elydora era um continente antigo, uma terra de mistérios que poucos ousavam explorar. No coração de todos, especialmente de Trevius, o mago sombrio, havia uma mistura de expectativa e receio. O porto que os aguardava era ancestral e, ao mesmo tempo, abandonado por civilizações passadas. Trevius, que conhecia algumas das histórias esquecidas de Elydora, estava inquieto. Sabia que estavam entrando em uma terra onde antigos segredos e forças perdidas aguardavam aqueles corajosos – ou tolos – o suficiente para ousar descobri-los.

Assim, quando o navio finalmente atracou no porto da Antiga Elydora, todos sentiram o peso da história e da missão que se avizinhava.

...

A cidade que encontraram ao desembarcar chamava-se Vallis Umbria, um antigo porto erguido na península de Elydora, e o porto era conhecido como Portus Fata – o “Porto do Destino”. Quando chegaram, as docas estavam cheias de vida, mas com um ar estranho e sombrio. Alguns homens e mulheres varriam as ruas de pedra com cuidado excessivo, outros arranjavam frutas nas bancas de uma feira improvisada, mas a cada passo do grupo, olhares desconfiados e murmúrios sussurrados os seguiam como sombras.

Noereu, acostumado à liberdade dos mares, sentiu-se instantaneamente sufocado pela atmosfera de Vallis Umbria. Ao lado dele, Kaelan e Drakar mantinham suas armas ao alcance, os olhos atentos às esquinas e portas entreabertas, onde mais olhares furtivos os observavam. Selvéria parecia intrigada e intensamente concentrada, como se uma antiga energia de magia negra a atraísse naquele lugar. Rami e Bromnar caminhavam à retaguarda, atentos a qualquer sinal de perigo, enquanto Thalassa, sempre a guerreira vigilante, estudava a rua estreita e tortuosa por onde avançavam.

Ao pararem em uma pequena taverna, um dos atendentes os observou com um misto de medo e desdém, mas ainda assim lhes ofereceu informações sobre o nome da cidade. Quando perguntaram a direção para o Caminho da Montanha das Paixões das Trevas, o homem hesitou, desviando o olhar e gesticulando de forma pouco clara. Ele lhes disse para seguir por uma viela estreita e descida ao sul da cidade, "perto dos penhascos onde os antigos guardiões repousam". No entanto, seu comportamento ansioso parecia cada vez mais suspeito.

À medida que avançavam, Trevius percebeu a ausência de crianças brincando nas ruas e o silêncio peculiar das tabernas e oficinas. Os sussurros aumentavam conforme o grupo se distanciava da área central. As portas das casas se fechavam com força, e cortinas eram puxadas às pressas assim que eles passavam. Selvéria parou e, olhando para Trevius, sussurrou:

— Há uma energia negra aqui, Trevius, algo denso e inquieto. É quase como se... como se todos aqui soubessem algo terrível.

De repente, ao entrarem em uma praça vazia, os sons cessaram completamente, e um silêncio mortal tomou conta do ambiente. Kaelan e Drakar puxaram suas espadas, e Thalassa, montando guarda, ergueu seu arco. Nesse instante, figuras encapuzadas começaram a emergir das sombras das vielas, bloqueando as saídas e encurralando o grupo. Eles seguravam armas toscas e correntes, e o ar estava carregado de uma tensão mortal.

— Bem-vindos, estrangeiros — disse um dos encapuzados, com um sorriso sinistro e os olhos brilhando com malícia. — Sabíamos que viriam. E agora, têm o que procuravam...

Os encapuzados se revelaram como guerreiros das cidades descendentes de Elydora, remanescentes de uma linhagem que mantinha tanto a força quanto o mistério de suas antigas origens. Cada guerreiro portava armaduras com detalhes em azul e prata, símbolos que lembravam o brasão de Elydora, e alguns usavam mantos bordados com runas antigas que brilham levemente, sugerindo que ainda conservavam conhecimentos arcanos do passado.

— Sabemos da vossa missão e do que carregais — disse o líder dos guerreiros, sua voz ecoando como um trovão contido. Ele retirou o capuz, revelando um rosto marcado por cicatrizes e olhos de um azul gélido e penetrante. — Vocês trazem o Cristal de Luz, não é? A chave do poder antigo que nossas cidades juraram proteger.

Os olhos de Trevius se estreitaram, e ele colocou a mão sobre a espada, pronto para lutar, mas mantendo a postura cautelosa. O grupo percebia que esses guerreiros não eram meros adversários comuns; eram conhecedores das terras antigas e das lendas de Elydora. Noereu, com um olhar determinado, deu um passo à frente e respondeu:

— Sim, carregamos o Cristal, mas viemos em paz, com uma missão de proteção e equilíbrio. Não buscamos poder, apenas a preservação daquilo que um dia mantiveram seguro.

Os guerreiros não se moveram, mas o líder franziu o cenho, como se estivesse ponderando. Em resposta, ele ergueu uma lança adornada e apontou-a para o grupo, seus olhos faiscando.

— Vocês podem prometer isso, estrangeiros, mas o poder do Cristal é algo que não se deve tomar como garantia — ele respondeu friamente. — Nossa linhagem, desde os tempos de Elydora, o guardou, e juramos proteger o segredo das montanhas. Se desejam continuar até o Caminho das Paixões das Trevas, deverão primeiro mostrar que seus corações são dignos.

A tensão aumentava, e os guerreiros avançavam, circulando o grupo com passos lentos e seguros, posicionando-se para o combate. Selvéria, que até então mantinha-se em silêncio, estendeu a mão com um símbolo brilhante, um talismã que exalava um brilho etéreo.

— Guardiões de Elydora, reconheçam que estamos aqui não para tomar o Cristal, mas para impedir que o mesmo poder que vocês juraram proteger caia em mãos erradas — disse ela, sua voz forte e mística.

Os guerreiros hesitaram, e um murmúrio percorreu suas fileiras. O líder baixou sua lança, observando Selvéria com um olhar atento. Após um momento tenso, ele assentiu lentamente.

— Muito bem. Mas lembrem-se: estaremos observando. E se tentarem trair a missão… nossa fúria será inevitável.

Com um gesto, ele sinalizou para os guerreiros dispersarem, e o caminho se abriu novamente, deixando o grupo seguir adiante, rumo ao coração de Elydora e ao Caminho das Paixões das Trevas.

Enquanto seguiam pelo caminho serpenteado entre penhascos e árvores retorcidas, os guerreiros descendentes de Elydora começaram a se apresentar, buscando ganhar a confiança dos viajantes. O líder, que caminhava à frente, revelou-se como Altheon, o comandante das forças de Umbrossia, uma cidade isolada das montanhas de Elydora. Ao seu lado estava Lyara, uma guerreira de armadura escura, cuja habilidade com a lança era lendária entre os seus.

— Por eras, nossos povos protegeram o segredo de Elydora, distantes das guerras e ambições do mundo exterior — explicou Altheon, sua voz sombria e cheia de propósito. — Mas ouvimos rumores da ascensão de forças antigas, poderes que foram selados junto ao Cristal de Luz. Vocês vieram até nós com promessas, mas o poder corrompe facilmente.

Os membros do grupo trocavam olhares cautelosos, sentindo que havia algo mais nas palavras de Altheon do que apenas prudência. Trevius, com seu habitual ceticismo, perguntou:

— E por que, então, decidiram se revelar agora, após tanto tempo? O Cristal ainda está sob nossa guarda, e não viemos ameaçá-los.

Lyara respondeu, seus olhos estreitos:

— O Cristal de Luz está em perigo, estrangeiro. Não sabemos ao certo qual poder pretendem despertar, mas é nosso dever proteger este segredo de todo mal.

Enquanto seguiam mais adiante, Kaelan e Noereu notaram um sinal discreto trocado entre Lyara e outro guerreiro. Algo naquela troca fez com que eles mantivessem as mãos sobre suas armas, prontos para qualquer eventualidade. Bromnar murmurou algo a Selvéria:

— Esse caminho leva ao norte, longe das trilhas conhecidas… algo me cheira a armadilha.

E então, antes que pudessem reagir, o grupo chegou a uma abertura ampla cercada por falésias, onde uma tropa ainda maior de guerreiros aguardava, suas armas brilhando à luz sombria do crepúsculo. Altheon virou-se para eles, a expressão implacável.

— Vocês vieram até nós, e agora devem ser julgados pelo conselho de Umbrossia, sob o olhar de nosso rei. Resistam, e enfrentem as consequências.

Trevius rangeu os dentes, percebendo que haviam sido levados a uma emboscada cuidadosamente planejada. Selvéria deu um passo à frente, sua voz se erguendo firme:

— Não viemos aqui para sermos prisioneiros, Altheon! Nossa missão é sagrada. Sabemos o que está em jogo e a verdadeira natureza do Cristal. Se realmente são defensores de Elydora, deixem-nos prosseguir!

Altheon hesitou por um momento, mas logo recobrou a compostura e ergueu uma mão. Com um gesto brusco, os guerreiros avançaram, prontos para prender o grupo. Trevius, Kaelan e Drakar sacaram suas armas, formando uma linha de defesa, enquanto Selvéria, Thalassa e Bromnar se posicionaram, prontos para lutar, determinados a proteger o Cristal a qualquer custo.

A batalha começou com uma explosão de energia e determinação. Trevius conjurou uma onda de sombras para cegar os adversários, enquanto Thalassa e Kaelan avançavam com espadas em punho, abrindo caminho pelas fileiras inimigas. Selvéria invocou um feitiço de proteção, e Bromnar, o anão, rugiu e lançou-se à frente com seu machado, derrubando três guerreiros com um único golpe.

Por alguns instantes, parecia que o grupo poderia escapar, mas então mais guerreiros de Umbrossia surgiram, cercando-os de todos os lados. Seus números eram esmagadores, e mesmo com toda a habilidade e determinação dos viajantes, a situação logo se mostrou insustentável. Drakar foi o primeiro a ser contido, suas armas arrancadas de suas mãos e os braços imobilizados. Kaelan e Trevius tentaram resistir, mas foram forçados ao chão por guerreiros habilidosos. Selvéria e Noereu, cercados por lanças, compreenderam que o combate estava perdido e abaixaram suas armas.

Subjugados e desarmados, o grupo foi levado sob forte escolta até a cidade murada de Umbrossia, cujas torres sombrias se erguiam contra o céu encoberto. Passaram por corredores frios e silenciosos até que, finalmente, foram conduzidos ao salão do trono. O local era iluminado apenas por tochas cujas chamas cintilavam com um brilho verde enigmático. Ao fundo, em um trono entalhado com figuras de antigos guardiões alados, estava o rei Thandor, um homem de olhar profundo e expressão austera, cuja presença exalava autoridade.

Thandor ergueu a mão, ordenando que seus soldados libertassem os prisioneiros das amarras. Observou o grupo por um longo momento antes de falar, sua voz ressoando nas paredes de pedra.

— Vejo que trouxeram o Cristal de Luz — disse ele, com um misto de admiração e cautela. — Este poder é algo que nem todos os corações podem suportar. E, ainda assim, ousam atravessar nossas terras para despertar uma força que deveria permanecer esquecida.

Trevius ergueu o olhar, firme e sem medo.

— Não viemos para perturbar a paz de Elydora, Thandor. Nossa missão é proteger o Cristal de forças ainda maiores, não tomar para nós o poder dele.

O rei observou cada um dos viajantes, um brilho enigmático no olhar. Então, com uma voz carregada de mistério e autoridade, ele disse:

— Se assim é, então provarão o seu valor. O Cristal não deve cair em mãos indignas, e somente aqueles que compreendem o equilíbrio de Elydora poderão avançar. Há provas que precisarão enfrentar, em nossa terra e além. E se falharem… terão selado seu próprio destino.

As palavras do rei soaram como um juramento e uma sentença. Os viajantes estavam agora diante de uma nova prova, um caminho de desafios traçado pela desconfiança e pelos segredos dos descendentes de Elydora.

No meio do julgamento, uma vibração profunda fez as paredes de pedra do salão tremularem, e uma luz alaranjada brilhou através das janelas altas da sala do trono. Todos se voltaram, alarmados, enquanto um calor intenso parecia crescer no ar, como se uma antiga força estivesse se libertando de seu sono eterno. A explosão ecoou ao longe, vinda do antigo vulcão onde Ignar havia sido transformado na essência de Pyrron, e, em instantes, uma gigantesca sombra cruzou o céu.

A figura de um dragão, cujas escamas eram como um manto de magma cintilante, surgiu sobre o salão, mergulhando em um voo poderoso. Ele aterrissou com um impacto estrondoso diante do trono de Thandor, suas asas se fechando como uma cortina de brasas, e sua presença imensa dominava o espaço. Os olhos da criatura, de um vermelho intenso e profundo, revelavam uma sabedoria inumana, uma conexão direta com as profundezas da terra onde as forças primordiais habitavam. Ele era o último de uma linhagem ancestral de dragões que haviam guardado os segredos de Elydora desde os tempos antigos.

O dragão inclinou a cabeça e, com uma voz grave e retumbante que ressoava como o rugido de mil vulcões, falou:

— Ouçam, mortais e descendentes de Elydora! Eu sou Thyraxor, o último guardião das chamas subterrâneas. Fui despertado pelo tumulto das forças antigas, libertas e alimentadas por conspirações que se urdiram nas sombras deste mundo enquanto vocês se distraíam com o destino do Cristal de Luz. Um exército se ergue nas entranhas do mundo, alimentado pelo rancor e pelas ambições daqueles que almejam o poder absoluto. Seu objetivo é impedir a restauração do Cristal e destruir o equilíbrio que sustenta este mundo.

Todos no salão ficaram em silêncio, absorvendo a magnitude da revelação. Até mesmo o rei Thandor, que momentos antes julgava os viajantes com desconfiança, parecia profundamente abalado.

— E o que devemos fazer? — questionou Selvéria, rompendo o silêncio com um tom de urgência. — O Cristal precisa ser restaurado, mas agora sabemos que há forças muito mais poderosas do que imaginávamos.

Thyraxor virou-se para ela, seu olhar penetrante.

— Vocês devem agir rápido. O tempo não está a favor do Cristal nem de Elydora. Eu vim para guiar e alertá-los, pois minha linhagem jurou proteger o equilíbrio das eras. A restauração do Cristal será uma tarefa perigosa, mas é o único meio de enfrentar as trevas que emergem.

O dragão abriu as asas e, com um bater poderoso, ergueu-se no ar, suas últimas palavras ecoando pelo salão:

— A jornada será longa e árdua. Preparem-se para as provas das sombras e do fogo. Pois se falharem, Elydora será engolida pelo abismo de Pyrron, e o mundo dos mortais cairá sob um reinado de chamas eternas.

Com isso, Thyraxor desapareceu nos céus sombrios, deixando todos no salão em um silêncio sombrio, os corações palpitando pela iminência do perigo. E assim, o julgamento interrompido transformou-se em um chamado urgente para um novo destino — e uma nova aliança.

...

O rei Thandor, após a partida do dragão, convocou de imediato um grande conselho, chamando líderes de todos os povos descendentes dos antigos reinos de Elydora para discutir a ameaça iminente ao Cristal de Luz. Os mensageiros foram enviados rapidamente para alcançar todos os reinos, e em poucos dias, príncipes, reis e generais chegaram à grande sala do trono de Umbrossia. Este lugar, uma fortaleza esculpida nas rochas antigas de Elydora, era uma estrutura vasta e imponente, com colunas de pedras ancestrais gravadas com runas das três nações elementares: Aetheria, Thalassia, e Gaïron.

No grande salão de pedra de Umbrossia, o rei Thandor ergueu-se lentamente, com um olhar firme. Sua voz ecoou entre as colunas esculpidas:

—Sejam bem-vindos, nobres de Elydora e estrangeiros! Convidei-os aqui para discutirmos uma ameaça que não podemos ignorar. Que cada um se apresente, para que fiquemos todos cientes das forças presentes neste conselho.

O Príncipe Aeron de Aetherion deu um passo à frente, com postura confiante. Vestia a armadura leve dos Guardas do Vento, adornada com penas prateadas.

—Eu sou Aeron de Aetherion, comandante das legiões dos Guardas do Vento. Trouxe comigo o General Sythorn. -Ele fez um gesto para o general ao seu lado, um guerreiro alto que segurava um cajado que parecia ter o peso dos ventos.

O General Sythorn fez uma breve reverência.

—Sythorn, à disposição de Elydora. Estou aqui para que possamos defender este reino dos ventos impetuosos que se aproximam.

O príncipe e o general recuaram para dar espaço ao próximo.

O Rei Nereus II de Thalassia, com um manto ondulante de um azul profundo, que parecia refletir a luz como o próprio oceano, avançou. Ele assentiu com firmeza.

—Sou Nereus, regente dos mares de Thalassia. Acompanham-me o Conselheiro Argon e o General Kaelis, guerreiros do fundo dos oceanos.

O Conselheiro Argon, um homem de cabelos prateados e um olhar sereno, fez uma leve saudação.

—Eu sou Argon, e os mares falam através de mim. Estou aqui para oferecer nossa sabedoria a este conselho.

O General Kaelis, imponente e com uma lâmina curva de brilho azul-escuro, fez uma breve reverência ao lado de Nereus.

—General Kaelis, das Marés Furiosas. A lâmina do oceano está à sua disposição.

A Rainha Morwen de Gaïron caminhou com passos firmes, como se carregasse a força das próprias montanhas. Ela se apresentou, sua voz clara e grave.

—Sou Morwen, rainha das montanhas de Gaïron. Trouxe comigo o Conselheiro Eldric, o Sábio, e o General Tharron.

Eldric, um homem de expressão severa e olhos que pareciam conter eras de conhecimento, inclinou a cabeça respeitosamente.

—Saudações, sou Eldric. A história de Elydora e os segredos da terra são meus companheiros. Sinto-me honrado em dividir este espaço com tamanha bravura.

Ao lado dele, o General Tharron permaneceu com uma expressão fechada, mas respeitosa, segurando sua espada como se fosse uma extensão de sua própria alma.

—Eu sou Tharron, das montanhas de Gaïron. Vim para lutar pelo que restar de Elydora.

Por fim, Noereu, o emissário dos Povos do Fundo dos Mares, aproximou-se, sua pele refletindo tons azulados.

—Eu sou Noereu, emissário dos Povos do Fundo dos Mares. Esta é Thalassa, minha amiga pessoal e amazona dos mares."

Thalassa, uma figura forte e ágil, inclinou-se levemente, sua presença inegavelmente imponente.

O rei Thandor olhou para todos, sua expressão grave.

—Que esta reunião marque o início de uma aliança. Com as forças de Elydora, unidas ao poder do mar e dos ventos, enfrentaremos qualquer ameaça que ousar se erguer contra nós. Agora, comecemos o conselho.

À medida que o conselho progredia, cada líder expressou sua preocupação com a crescente ameaça das forças sombrias. As discussões eram intensas e detalhadas, pois cada um temia não só pela segurança do Cristal, mas também pela sobrevivência de Elydora. O conselho durou dias, com argumentos sobre a melhor forma de proteger o Cristal e a possibilidade de usar ou destruir o poder de Pyrron para acabar de vez com a ameaça.

O Rei Thandor afirmou com firmeza:

— Nossa aliança com o Povo do Fundo dos Mares é essencial, mas agora enfrentamos um inimigo diferente, que pode ultrapassar as defesas que tanto construímos. Precisamos de força e unidade para guiar esses viajantes até o destino seguro do Cristal. No entanto, precisamos nos preparar.

A Rainha Morwen insistiu:

— Conhecemos as antigas forças que dormem sob o solo de Elydora. Temos de reforçar nosso exército, não apenas com números, mas com conhecimento e estratégia.

Após muita deliberação, todos concordaram em formar um séquito de cem dos mais habilidosos guerreiros de Elydora, oriundos das três nações. Seriam intensamente treinados durante três meses para formar a linha de defesa da expedição. General Sythorn e General Tharron tomariam a responsabilidade de liderar esses soldados junto com General Kaelis e Thalassa. Os reis e conselheiros passaram a última noite do conselho planejando o treino dos soldados, enquanto Noereu preparava alianças com o Povo do Fundo dos Mares para apoiar a missão com informações e possíveis provisões submarinas.

A reunião terminou com um juramento: guiar os viajantes com toda a força e sabedoria de Elydora até que o destino do Cristal estivesse seguro. Os guerreiros, liderados por esse grupo poderoso, partiriam com os viajantes após o treinamento, determinados a enfrentar o que quer que surgisse no caminho para a Montanha das Paixões das Trevas, onde o último guardião aguardava.

O Rei Thandor era Governante de Umbrossia e anfitrião do conselho. Cauteloso e hábil estrategista, acredita que o poder do Cristal devia ser protegido, mas temia as consequências do seu uso. O Príncipe Aeron de Aetherion era um jovem descendente dos guerreiros alados de Aetheria; comandava as legiões dos “Guardas do Vento” e possuía uma habilidade natural para liderar em combate. Ele chegou ao conselho acompanhado do General Sythorn, um experiente combatente que usava um cajado ancestral de Aetheria e era famoso por sua destreza com os ventos e tempestades. O Rei Nereus II de Thalassia era o regente dos mares e líder das alianças submarinas. Nereus II é descendente do antigo rei Nereus e possui uma profunda ligação com as criaturas dos oceanos. O conselheiro Argon, seu aliado mais próximo, é um sábio conhecido por sua visão sobre os movimentos das marés e o fluxo das forças aquáticas. Ele é acompanhado pelo General Kaelis, um guerreiro marinho que comanda o exército das “Marés Furiosas” e carrega uma lâmina forjada nas profundezas do oceano. A Rainha Morwen de Gaïron era uma soberana respeitada que governava as terras montanhosas e as fortalezas de Gaïron. Determinada e impassível, ela trazia consigo o peso da responsabilidade sobre o solo sagrado de Elydora. Seu principal conselheiro é Eldric, o Sábio, conhecido por seu vasto conhecimento sobre a história de Elydora e pela habilidade de se comunicar com os elementos da terra. O General Tharron, um combatente poderoso e defensor das montanhas, também a acompanha. E, finalmente, Noereu, Emissário dos Povos do Fundo dos Mares: Representante do povo subaquático, ele também serve como voz dos antigos aliados de Elydora. Sua chegada ao continente é um marco para reestabelecer laços diplomáticos. Ao lado de Noereu estava Thalassa, sua amiga pessoal e amazona dos mares.

À medida que o sol começava a se pôr, lançando tons dourados e púrpuras sobre o reino de Umbrossia, o conselho foi encerrado. Os aliados e heróis de Elydora dispersaram-se pelo vasto palácio de Thandor, que oferecera acomodações nos altos torreões da fortaleza.

Aeron e Sythorn, os guerreiros alados de Aetherion, se estabeleceram nos aposentos mais próximos das torres abertas ao céu. Do alto, eles podiam observar os ventos balançando as copas das árvores ao redor, e Sythorn mantinha-se pensativo, sentindo a mudança nos ventos como presságio. Aeron contemplava o céu que aos poucos escurecia, já se preparando mentalmente para o treinamento intenso que os aguardava.

Nereus II, o rei dos mares, aceitou uma suíte no andar mais baixo da fortaleza, onde as paredes de pedra emanavam uma umidade que lembrava as profundezas de Thalassia. Ele e o conselheiro Argon caminharam até o jardim aquático do palácio, onde espelhos d’água refletiam a luz das estrelas que começavam a aparecer. Eles se perderam em um debate profundo sobre as estratégias e as promessas feitas naquele conselho, enquanto Kaelis, o general, permanecia nas sombras, em guarda, como se já pressentisse as ameaças que viriam.

Rainha Morwen subiu para uma das suítes das montanhas, localizada num andar elevado e sólido, lembrando-lhe as cavernas de Gaïron. Tharron, seu general, ocupou o quarto ao lado, e Eldric, o sábio, passou o final da tarde em uma das bibliotecas do palácio, vasculhando livros e pergaminhos antigos sobre Elydora. Morwen, sozinha, sentou-se diante de uma pequena janela, observando as colinas que se estendiam ao horizonte e o céu que lentamente se cobria de estrelas, refletindo sobre o peso das decisões que os aguardavam.

Noereu e Thalassa, os enviados do fundo dos mares, receberam aposentos próximos ao jardim aquático. Ele sentiu-se imensamente grato pelo espaço, quase como um lar temporário, mas não deixou de notar o cansaço de Thalassa, que se mantinha vigilante perto da entrada do quarto, silenciosa, mas alertando-o de que ambos precisavam descansar para o que viria. Noereu retirou o medalhão que carregava no pescoço, um símbolo dos mares, e passou alguns minutos contemplando-o, como se pudesse ouvir as vozes do fundo do oceano ecoando através dele.

Lá fora, Trevius, o mago negro, observava em silêncio o movimento do palácio a partir da borda do grande salão. Ele refletia sobre as alianças e sobre os segredos de Elydora que poderiam, finalmente, ser desvendados. Quando o último brilho do crepúsculo deu lugar à escuridão plena da noite, ele desapareceu entre as sombras, já planejando os próximos passos para o treinamento.

A noite desceu sobre Umbrossia, e o reino adormeceu sob o céu estrelado. No dia seguinte, as forças reunidas dariam início a uma jornada de preparação e unidade, enquanto o presságio de perigo, como o vento noturno, rondava os ares da antiga Elydora.

Com o cair da noite sobre Umbrossia, os heróis de Valecor, Pedraluz e Astride encontraram um espaço de repouso para absorver os acontecimentos do dia e se preparar para os desafios que os aguardavam.

Kaelan, de Valecor, ficou em um dos aposentos com vista para os bosques sombrios que cercavam o palácio. Mesmo exausto, Kaelan sentiu o espírito inquieto enquanto observava a lua subindo sobre a densa floresta. Ele estava acostumado ao verde dos campos de Valecor e à sensação de liberdade das amplas planícies. O pensamento de deixar sua terra por tanto tempo o fez refletir sobre o que estava em jogo — a sobrevivência de Elydora e a necessidade de proteger tudo o que amava. O guerreiro se permitiu um breve descanso, já se preparando mentalmente para o intenso treinamento que começaria.

Drakar, de Pedraluz, optou por um quarto próximo às forjas de Umbrossia, onde o calor das fornalhas e o som do metal o faziam lembrar de sua casa. O guerreiro passara a maior parte da vida nas fortalezas de pedra de Pedraluz, e ali, rodeado de ferro e brasas, sentia-se em paz. Enquanto o fogo da forja lançava sombras nas paredes, ele ajustou a armadura e inspecionou suas armas, certificando-se de que tudo estava em ordem para o que viria. Drakar sentia a responsabilidade que recaía sobre ele, sendo o representante de Pedraluz, e sabia que, qualquer que fosse o resultado dessa aliança, sua força precisaria estar no auge.

Magiori, o mago que havia avisado Ambrósio sobre Kaelos, permaneceu em seus aposentos no andar mais alto do palácio, onde o ar rarefeito e as amplas janelas o permitiam meditar sob as estrelas. Ele traçou símbolos arcanos no chão e pronunciou encantamentos silenciosos para proteger os heróis e os planos traçados no conselho. Magiori sentia a inquietude da antiga Elydora e sabia que forças além da compreensão humana começavam a se mover. As palavras do dragão ecoavam em sua mente, como um presságio do que ainda estava por despertar. Concentrado, ele dedicou o final da noite à preparação de amuletos de proteção, prevendo tempos sombrios pela frente.

Rami, o conselheiro de Ambrósio, ocupou um quarto decorado com tapeçarias antigas e desenhos das eras passadas de Elydora. Um dos aposentos mais confortáveis do palácio, ele proporcionava um espaço acolhedor, mas Rami mal descansou. Em sua mente, organizava as alianças e os próximos passos para manter Ambrósio informado e atento às complexidades daquela nova união. Ele passou horas revisando os registros que havia trazido consigo, relendo conselhos e visões passadas, que poderiam ser úteis aos jovens reis e ao próprio Ambrósio.

Thalassa, a amazona dos mares, acomodou-se no andar térreo, próximo aos jardins aquáticos. Sentada perto da janela, ela escutava o som suave da água correndo, um conforto familiar para uma guerreira que passara a vida nas ondas. Thalassa sabia que o treinamento seria intenso e perigoso, mas, determinada, passou a noite ajustando sua armadura e afiando suas lâminas, comprometida com a missão de proteger Noereu e seus aliados. Sua lealdade aos Povos do Fundo dos Mares era absoluta, e ela se preparava para a batalha com a firmeza de quem conhece seu propósito.

Bromnar, o anão, ocupou um quarto próximo a Drakar, em um andar baixo onde as paredes de pedra sólida davam a sensação de estarem nas montanhas. Bromnar sentia-se à vontade com a proximidade do chão e as pedras robustas que lembravam sua própria terra. Depois de uma longa caminhada pelas redondezas do palácio, ele se acomodou, ajeitando cuidadosamente seu martelo e suas ferramentas ao lado da cama. Ele sentia a energia poderosa do local e a antiga magia que vibrava nas paredes. Em silêncio, fez uma prece aos espíritos das pedras, buscando a força e a resistência que o aguardavam.

Enquanto a noite avançava, Umbrossia mergulhava em um silêncio quase sobrenatural, como se a cidade inteira estivesse à espera do que os próximos meses trariam. Nas profundezas dos corredores e aposentos, cada herói encontrava sua própria forma de se preparar, conscientes de que aquele era apenas o começo de uma jornada que mudaria o destino de todos.

Selvéria, a enigmática bruxa que profetizara o papel do Cristal de Luz, alojou-se numa torre isolada, que era raramente usada, no alto de Umbrossia. A bruxa havia solicitado um espaço longe dos outros e o rei Thandor atendeu ao seu pedido, sabendo que Selvéria precisava da solidão para manter seus poderes em equilíbrio.

Naquele aposento sombrio, onde o vento noturno sibilava através das frestas de pedra, Selvéria acendeu pequenas velas dispostas em círculos de runas, a luz fraca lançando sombras dançantes que pareciam ter vontade própria. A antiga torre estava impregnada de uma magia residual que Selvéria logo percebeu, como se o lugar guardasse memórias ancestrais de feitiços esquecidos.

Ela sentou-se ao centro do círculo, com a pele arrepiada e os olhos fechados, conectando-se à energia dos elementos. Sua mente vagava entre os ecos do passado e os presságios do futuro, revisitando fragmentos de suas visões e tentando decifrar o enigma do Antigo Rei do Mundo Alado, cuja lenda parecia entrelaçada ao Cristal. Era uma figura envolta em mistério e perigo, e Selvéria sentia-se atraída e alerta, pois seu pressentimento lhe dizia que ele logo emergiria.

Com a chegada da madrugada, Selvéria sussurrou encantamentos em uma língua antiga, invocando proteção e clareza para a missão dos viajantes. Quando o último lampejo de vela extinguiu-se e o aposento mergulhou novamente na escuridão, ela abriu os olhos, agora repletos de determinação e um brilho quase profético. Selvéria sabia que o destino de todos estava profundamente atado ao despertar do poder no Cristal — um poder que, se mal controlado, poderia significar a destruição de tudo.

No silêncio da torre, Selvéria passou as horas que restavam se preparando, em um estado de alerta quase sobrenatural, como se soubesse que algo sombrio a observava na escuridão.

C

O primeiro mês de treinamento foi intenso, repleto de esforços para transformar o grupo heterogêneo dos heróis e dos cem guerreiros de Elydora em uma unidade coesa e pronta para enfrentar os perigos que os aguardavam.

Os treinamentos aconteciam ao redor de Umbrossia, em um campo amplo cercado por florestas densas e montanhas que pareciam vigiar o progresso dos guerreiros. Durante as manhãs, os mestres treinavam seus grupos com práticas rigorosas de combate corpo a corpo, estratégias em terreno hostil, e uso das habilidades específicas de cada nação. As tardes eram dedicadas ao trabalho em grupo, simulando emboscadas e confrontos em cenários inspirados nos relatos dos espiões que voltavam de missões.

Cada mestre, experiente em sua especialidade, transmitia não apenas habilidades de batalha, mas também histórias de guerras antigas, inspirando e disciplinando seus pupilos. O treinamento era tão físico quanto mental — a preparação para os desafios de atravessar a traiçoeira Montanha das Paixões das Trevas exigia mais que força.

As noites eram reservadas para debates estratégicos. No pavilhão improvisado no centro do campo, Selvéria, Thalassa, Rami, Kaelan, Drakar e os demais heróis reuniam-se com os líderes de Elydora e seus conselheiros para discutir o caminho até a Montanha das Paixões das Trevas. Um mapa detalhado da região era analisado diariamente.

Thalassa, inclinando-se sobre o mapa, apontou o trajeto mais direto:

— Se tomarmos esta rota pela antiga Ignyra, ganharemos dois dias de viagem. Mas, como os espiões informaram, a área está cercada por forças hostis.

Rami, o conselheiro de Ambrósio, respondeu com cautela:

— Dois dias de vantagem são insignificantes se perdermos homens no caminho. Eu digo que contornemos por Valenor, onde a segurança é maior. Mesmo que demore mais, teremos uma chance maior de sucesso.

Selvéria, com seu tom misterioso, interveio:

— Ignyra não é apenas um ponto no mapa. As forças que rondam aquela área são mais que físicas. Elas despertam memórias antigas e medos profundos. Qualquer caminho por lá exigirá mais do que coragem. Exigirá uma força de vontade inquebrantável.

Kaelan, comandante e herói de Valecor, ponderou:

— Precisamos pesar o custo do tempo contra o risco. Treinamos para enfrentar desafios, não para evitá-los. Meu voto é por enfrentar Ignyra e o que quer que esteja esperando lá.

A discussão seguiu acalorada, refletindo a tensão crescente entre o grupo. Apesar das divergências, a decisão foi adiada, com o grupo concordando em continuar treinando enquanto aguardavam mais relatórios dos espiões.

Os espiões enviados para observar a antiga Ignyra começaram a retornar com relatos perturbadores.

— As terras ao redor de Ignyra estão vivas — disse um deles, um homem magro e silencioso chamado Calorn. — As árvores parecem sussurrar, e há sinais de criaturas que não são nem vivas nem mortas. Vimos um grupo de figuras encapuzadas, talvez cultistas. Eles estavam cantando em uma língua que nenhum de nós reconheceu.

Outro espião, Yelara, acrescentou:

— Há mais. O calor na área é anormal. Não vimos lava, mas o solo está quente, e a terra treme à noite. Algo está acontecendo lá. Algo grande.

Esses relatos reforçaram os temores de Selvéria e aumentaram as dúvidas no grupo. Cada notícia de Ignyra fazia o ar parecer mais pesado, como se o próprio destino do mundo estivesse se fechando sobre eles.

Apesar de Selvéria continuar participando ativamente das discussões, passava grande parte de seu tempo em isolamento, meditando sobre as visões perturbadoras que tinha todas as noites. Sabia que algo estava se aproximando, algo maior que qualquer um deles podia compreender.

Como amazona, Thalassa liderava muitos dos treinos táticos. Era uma figura inspiradora, mas seus pensamentos frequentemente voltavam para seu povo na ilha no meio do mar. Acreditava que o sucesso da missão poderia selar um novo futuro de paz entre as nações.

Como conselheiro, Rami ajudava a manter a organização do grupo, mas sua preocupação com os perigos oscilava entre cautela e otimismo. Ele tinha uma visão prática e, muitas vezes, mediava as disputas nos debates estratégicos.

Os dois guerreiros Kaelan e Drakar, vindos de nações diferentes, formaram um vínculo forte. Kaelan admirava a determinação de Drakar, enquanto Drakar apreciava o pragmatismo de Kaelan. Ambos se destacaram como líderes natos durante os treinos.

O anão Bromnar era uma força bruta no campo de treino, impressionando até mesmo os mestres de Elydora com sua resistência. Apesar de seu jeito rude, sua lealdade ao grupo era inabalável, e ele frequentemente fazia piadas para aliviar a tensão.

Como mago, Magiori passou grande parte do tempo estudando os textos antigos sobre Ignyra e a Montanha das Paixões das Trevas. Ele frequentemente trocava ideias com Selvéria, tentando desvendar os enigmas em torno do Cristal de Luz e de Kaelos.

Na última noite do primeiro mês de treinamento, o grupo reuniu-se ao redor de uma fogueira, compartilhando histórias e expectativas para os meses restantes. Apesar da ansiedade crescente, havia também um senso de propósito compartilhado. Cada um sabia que o destino do mundo dependia de suas ações, e isso lhes dava força para continuar.

Sob o céu estrelado de Umbrossia, todos se prepararam para os desafios que viriam, determinados a superar as diferenças e se tornarem o exército que o mundo precisava.

*

O segundo mês de treinamento trouxe desafios ainda mais intensos para o grupo. A rotina diária tornou-se mais árdua, refletindo a urgência da missão e o peso das informações que continuavam chegando dos espiões. O ambiente em Umbrossia, antes vibrante de esperança, começou a ser marcado por uma tensão crescente.

Os espiões Calorn e Yelara retornaram ao conselho com informações sombrias, ainda mais alarmantes do que as anteriores.

Calorn, com seu semblante sério, foi o primeiro a falar:

— Há uma força crescendo perto de Ignyra. Cultistas se organizam em torno do antigo vulcão. Estão realizando rituais... grandes rituais. Vi sinais de antigos símbolos do fogo, aqueles usados antes da queda de Pyrron. Eles estão chamando algo — ele fez uma pausa, o rosto marcado pelo medo. — Algo que não deve ser chamado.

Yelara, com sua postura confiante, complementou:

— Não são apenas cultistas. Mercenários das terras próximas estão sendo recrutados, e há rumores de uma aliança com criaturas que vivem nas profundezas da terra. Eles estão montando um exército. Vi armas sendo forjadas, centenas delas. Essa conspiração não é apenas local. É um movimento calculado para impedir que o Cristal de Luz seja restaurado.

Os relatos trouxeram inquietação ao conselho e aos guerreiros. Se antes a jornada até a Montanha das Paixões das Trevas parecia perigosa, agora parecia quase impossível. No entanto, o grupo sabia que recuar não era uma opção.

O segundo mês de treinamento trouxe desafios ainda mais intensos para o grupo. A rotina diária tornou-se mais árdua, refletindo a urgência da missão e o peso das informações que continuavam chegando dos espiões. O ambiente em Umbrossia, antes vibrante de esperança, começou a ser marcado por uma tensão crescente.

Os espiões Calorn e Yelara retornaram ao conselho com informações sombrias, ainda mais alarmantes do que as anteriores.

Calorn, com seu semblante sério, foi o primeiro a falar:

— Há uma força crescendo perto de Ignyra. Cultistas se organizam em torno do antigo vulcão. Estão realizando rituais... grandes rituais. Vi sinais de antigos símbolos do fogo, aqueles usados antes da queda de Pyrron. Eles estão chamando algo — ele fez uma pausa, o rosto marcado pelo medo. — Algo que não deve ser chamado.

Yelara, com sua postura confiante, complementou:

— Não são apenas cultistas. Mercenários das terras próximas estão sendo recrutados, e há rumores de uma aliança com criaturas que vivem nas profundezas da terra. Eles estão montando um exército. Vi armas sendo forjadas, centenas delas. Essa conspiração não é apenas local. É um movimento calculado para impedir que o Cristal de Luz seja restaurado.

Os relatos trouxeram inquietação ao conselho e aos guerreiros. Se antes a jornada até a Montanha das Paixões das Trevas parecia perigosa, agora parecia quase impossível. No entanto, o grupo sabia que recuar não era uma opção.

Durante uma tarde de treinamento, um evento inesperado mudou o rumo dos acontecimentos. Um rugido profundo ecoou pelos céus de Umbrossia, seguido pelo som de asas gigantescas batendo contra o vento. Do horizonte, surgiu uma figura colossal: Thyraxor, o último dragão conhecido da linhagem antiga que habitava as profundezas da terra.

Mas Thyraxor não chegou em glória; ele estava ferido, com flechas cravadas em suas escamas e marcas de queimaduras ao longo de seu corpo. Logo atrás dele, uma multidão enfurecida de homens das redondezas, armados com lanças e tochas, aproximava-se, clamando por sua morte.

O dragão pousou pesadamente no pátio de Umbrossia, quase colapsando devido aos ferimentos. Ele ergueu sua cabeça poderosa e, com uma voz profunda e ressonante, falou:

— Rei Thandor! Peço asilo. Fugi para salvar minha existência, mas também trago um aviso. As forças antigas de Pyrron estão despertando. As terras ao redor de Ignyra não são seguras. Cultistas estão me caçando para sacrificar minha essência e despertar algo terrível.

Os guerreiros de Umbrossia rapidamente afastaram a multidão que perseguia o dragão. O rei Thandor, com sua autoridade inabalável, silenciou os habitantes enfurecidos:

— Este dragão é uma relíquia viva da nossa história. Ele será protegido enquanto estiver sob o meu teto. Suas palavras devem ser ouvidas, e sua sabedoria, respeitada.

Naquela noite, um conselho emergencial foi convocado. Thyraxor foi levado até o salão principal, onde se reuniu com o rei Thandor, os líderes de Elydora, os espiões e os heróis.

Thyraxor, apesar de seu estado debilitado, relatou o que sabia:

— Os cultistas de Ignyra estão seguindo a vontade do que chamam de "A Voz do Fogo". Eles querem restaurar Pyrron, mas o que não compreendem é que ele não será o salvador que esperam. Ele será destruição pura, consumindo o mundo em chamas.

Kaelan, após ouvir o relato, perguntou, com sua típica determinação:

— Se eles querem sua essência, por que você veio até aqui? Não teme que nos coloque em perigo?

Thyraxor, com um olhar sério, respondeu:

— Porque aqui estão aqueles que podem impedir isso. Vocês têm o Cristal de Luz, e têm a determinação para enfrentá-los. Eu posso ajudar. Meu poder não é o mesmo de antigamente, mas minha sabedoria e minha força ainda têm valor.

O conselho discutiu por horas, ponderando os riscos de abrigar o dragão e as informações que ele trazia. Por fim, decidiram não apenas oferecer-lhe asilo, mas também aceitar sua ajuda como aliado na jornada até a Montanha das Paixões das Trevas.

A presença de Thyraxor mudou a dinâmica do treinamento. Ele passou a orientar os guerreiros em estratégias que envolviam combate contra forças sobrenaturais e ensinou-lhes antigas táticas dracônicas. Seu vasto conhecimento sobre as terras ao redor de Ignyra foi essencial para refinar os planos da missão.

Os heróis também começaram a lidar com suas próprias dúvidas e medos: Selvéria, a bruxa, passou mais tempo estudando os rituais mencionados por Thyraxor, tentando desvendar os mistérios que cercavam os cultistas. Ela começou a perceber que seu próprio destino estava intrinsecamente ligado ao Cristal de Luz. Thalassa, a amazona, sentiu-se ainda mais motivada pela presença do dragão, vendo nele uma figura de resistência e perseverança. Rami, o conselheiro, permaneceu pragmático, mas a gravidade da situação começou a pesar em suas decisões, fazendo-o refletir sobre sua lealdade a Ambrósio e ao futuro da missão. Kaelan e Drakar intensificaram seus treinamentos com os guerreiros, mostrando uma liderança admirável. Ambos sabiam que, no campo de batalha, seriam os pilares que manteriam o grupo unido. Bromnar, o anão, viu em Thyraxor uma lenda viva e passou muitas noites ao lado do dragão, ouvindo histórias antigas sobre as guerras de Elydora.

Ao término do segundo mês, o grupo estava mais unido, mas a tensão era palpável. As noites eram preenchidas por debates e planejamentos, e os dias, por treinos árduos. Com Thyraxor entre eles, sentiam-se mais preparados, mas também mais conscientes da magnitude do desafio que enfrentariam.

O vulcão de Ignyra não era apenas um marco geográfico; era o epicentro de uma força antiga e terrível que começava a despertar. E enquanto o tempo avançava, todos sabiam que o destino de Elydora, do Continente Verde e talvez do mundo inteiro dependia deles.

*

Os primeiros dias do terceiro mês trouxeram um prenúncio de guerra. Durante uma manhã tempestuosa, Calorn chegou ao castelo de Umbrossia, carregando Yelara, ferida e exausta, sobre seu cavalo. Ela tinha cortes profundos e marcas de queimaduras, evidência clara de um confronto intenso.

Calorn, ofegante, entrou no salão principal, onde o rei Thandor e os líderes de Elydora estavam reunidos.

— Meu rei! Yelara e eu estávamos observando as movimentações em Ignyra, mas fomos descobertos. — Ele olhou para os rostos tensos à sua frente e continuou:

— Um exército está marchando para cá. São homens das redondezas, cultistas e... homens-pássaro. Eles vêm exigir que entreguemos Thyraxor, acusando-o de ser uma ameaça à paz da região. O líder deles, um sacerdote de Pyrron, exige sua rendição.

O Rei Thandor se levantou, seus olhos brilhando com determinação.

— Eles não terão o dragão. Ele veio sob minha proteção, e Umbrossia não trai aqueles que busca abrigo aqui. Preparem-se. Se eles querem guerra, terão guerra.

Yelara, mesmo enfraquecida, sussurrou:

— Eles não lutarão só por Thyraxor. Isso é uma distração. Eles querem impedir qualquer avanço em direção à Montanha das Paixões das Trevas. O Cristal de Luz é o verdadeiro alvo.

Essas palavras ecoaram no salão, gelando o coração dos presentes.

Ao cair da noite, os preparativos estavam completos. Thyraxor, ainda debilitado, fez o que pôde para ajudar, oferecendo conhecimento tático sobre os homens-pássaro e suas manobras aéreas. Ele se manteve na segurança da fortaleza, pois sua presença no campo de batalha poderia colocar todos em risco.

Os cem guerreiros treinados durante os últimos dois meses foram reunidos em formação. Cada um estava armado e pronto para defender Umbrossia. Kaelan, Drakar, Rami, Thalassa, Magiori, Bromnar, e Selvéria se uniram ao exército, assumindo posições estratégicas para enfrentar o inimigo.

Nos primeiros raios do sol, o exército inimigo apareceu no horizonte. Era uma visão impressionante: homens-pássaro voando em formação, cultistas entoando cânticos que reverberavam no ar, e soldados terrestres avançando com armas brilhando à luz da manhã.

O Rei Thandor, montado em um cavalo negro, posicionou-se à frente de suas tropas, acompanhado de seus conselheiros e generais. Ele ergueu sua espada e bradou:

— Umbrossia nunca se renderá a tiranos! Lutem por nossa terra, nossa liberdade e pelo futuro de Elydora!

O grito de guerra ecoou pelas fileiras de guerreiros. Então, o choque aconteceu.

A batalha foi caótica e brutal. Kaelan e Drakar lideraram pequenos destacamentos contra os homens terrestres, usando sua experiência para flanquear o inimigo e criar brechas nas formações. Thalassa, montada em seu cavalo ágil, cortava os cultistas com precisão letal, evitando os feitiços lançados contra ela.

Magiori, o mago, ergueu um escudo de energia ao redor de Thyraxor e de parte das tropas, protegendo-os contra ataques mágicos.

— Cuidado com os cânticos! — ele gritou. — Eles estão invocando algo das profundezas!

Rami, apesar de não ser um guerreiro, mostrava sua liderança, guiando os soldados com clareza e determinação. Bromnar, o anão, lutava com ferocidade, sua força impressionante derrubando inimigos maiores com um único golpe de seu machado.

Os homens-pássaro realizaram um mergulho coordenado, atacando as tropas de Umbrossia com lanças e flechas. Era uma manobra devastadora, e muitos guerreiros começaram a recuar. Foi nesse momento que Selvéria se adiantou, erguendo seu cajado e entoando um feitiço que dissipou parte do ataque aéreo com uma explosão de luz.

Thalassa, observando a confusão, gritou:

— Kaelan, temos que derrubá-los antes que ataquem novamente!

Kaelan, com seu grupo de arqueiros, começou a alvejar os homens-pássaro, forçando-os a recuar. Drakar avançou com suas tropas, retomando a linha de frente.

Quando o exército de Umbrossia parecia prestes a ceder, Thyraxor, mesmo ferido, emergiu de sua proteção. Com um rugido que sacudiu o campo de batalha, ele ergueu-se nos céus e lançou uma torrente de fogo sobre os homens-pássaro. Seu ataque virou a maré da batalha, incinerando os inimigos e espalhando pânico entre os cultistas.

O Rei Thandor, vendo a oportunidade, liderou um ataque final com seus guerreiros, rompendo as fileiras do exército inimigo.

Quando o sol atingiu o zênite, a batalha estava decidida. O exército inimigo foi derrotado, mas a um custo alto. Muitos guerreiros de Umbrossia pereceram, e o campo de batalha estava repleto de corpos.

No entanto, a vitória foi clara. O rei Thandor se aproximou de Thyraxor, que havia pousado novamente, exausto e ferido.

— Você nos salvou, velho amigo. Elydora tem uma dívida com você.

Thyraxor, com um olhar cansado, respondeu:

— Esta batalha foi apenas o começo. As forças que enfrentamos hoje são sombras do que está por vir. Preparem-se, pois a verdadeira guerra ainda está para começar.

Naquela noite, os heróis se reuniram no salão principal. As feridas foram tratadas, mas a gravidade da situação pairava sobre todos. Eles sabiam que, após esta batalha, não havia mais espaço para hesitação. O caminho para a Montanha das Paixões das Trevas precisava continuar.

Selvéria, observando a chama bruxuleante na lareira, murmurou:

— O Cristal de Luz pode ser nossa salvação, mas também nossa ruína. Que os deuses nos guiem.

*

Após a batalha, ficou claro para todos que não havia tempo a perder. Com o inimigo cada vez mais próximo e os perigos aumentando, o treinamento dos guerreiros de Elydora continuou, mas de forma mais intensa e apressada.

Nos últimos dias do terceiro mês, os mestres adaptaram as lições, priorizando estratégias práticas e combates reais. Exercícios noturnos foram introduzidos para treinar os soldados na escuridão, simulando emboscadas e ataques-surpresa. Kaelan e Drakar assumiram o comando de pequenos destacamentos, liderando missões simuladas para aumentar a coesão e a prontidão do grupo.

Thalassa, incansável, instruiu os soldados na arte de cavalgar em terrenos difíceis, aproveitando sua experiência como amazona. Magiori, por sua vez, ensinou feitiços básicos de proteção para os combatentes, para que pudessem se defender contra magia.

— Em uma guerra contra cultistas e homens-pássaro, ignorar a magia é tolice. Até mesmo um feitiço simples pode salvar uma vida no momento certo.

Bromnar, com sua experiência prática e sua força bruta, orientou os soldados mais jovens em combate corpo a corpo, mostrando como usar o terreno e sua força ao máximo.

— Nem sempre será sobre força, mas sobre resiliência. Um bom golpe não importa se você não aguentar até o fim.

Nos intervalos do treinamento, o grupo principal se reunia para discutir a jornada até a Montanha das Paixões das Trevas. Calorn, apesar de ainda se recuperando, trouxe mapas antigos encontrados nos arquivos de Umbrossia.

Rami, analisando os mapas, apontou:

— Se formos por Ignyra, teremos de enfrentar as forças restantes dos cultistas e homens-pássaro. É um risco maior. Mas evitar esse caminho nos faria perder semanas, e o tempo não está do nosso lado.

Selvéria, estudando as runas nos mapas, sugeriu:

— Há um desfiladeiro oculto ao sul da antiga Ignyra. Pouco usado, mas protegido por encantamentos. Não sei o que encontraremos lá, mas seria um atalho direto para a montanha.

Kaelan, ponderando, completou:

— Seja qual for o caminho, precisamos manter o grupo unido. Qualquer separação agora pode ser fatal.

A decisão final ficou para o último dia do terceiro mês, quando os espiões retornariam com mais informações sobre a movimentação do inimigo.

Thyraxor, mesmo ainda debilitado, observava o treinamento, oferecendo sua sabedoria sobre as táticas dos homens-pássaro e dos cultistas.

— Eles atacam como uma tempestade: rápida, mas desorganizada. Se vocês forem como rochas no mar, firmes e inabaláveis, eles se despedaçarão contra vocês.

Na última noite de treinamento, o dragão fez algo inesperado. Ele usou o último de sua força mágica para criar uma barreira temporária ao redor do acampamento, protegendo os soldados enquanto descansavam.

— Vocês precisarão de toda a energia possível para o que está por vir. Que este descanso seja pleno.

Quando o sol nasceu no último dia do terceiro mês, os guerreiros estavam prontos. Equipados com tudo o que haviam aprendido e reforçados por uma determinação renovada, eles se reuniram no centro de Umbrossia, onde o rei Thandor os aguardava.

O Rei Thandor, em um tom solene, declarou:

— Vocês não são mais apenas soldados. Vocês são a última linha de defesa de Elydora e a primeira de sua salvação. Que a luz do Cristal guie cada um de vocês.

Assim, os cem guerreiros e os heróis começaram seus preparativos finais para a partida. A próxima etapa da jornada os levaria diretamente ao coração do perigo: a Montanha das Paixões das Trevas, onde o destino de Elydora seria decidido.

D

Ao amanhecer do dia seguinte, o grupo partiu de Umbrossia, liderado pelos heróis e seus cem guerreiros treinados. Escolheram o caminho pelo desfiladeiro ao sul da antiga Ignyra, conforme sugerido por Selvéria, que acreditava ser o atalho mais rápido para a Montanha das Paixões das Trevas. A estrada, estreita e cercada por rochedos íngremes, exalava um silêncio opressor, interrompido apenas pelo som de botas sobre o chão de pedra e o farfalhar do vento.

Thyraxor, ainda recuperando forças, voava baixo sobre o grupo, atento a qualquer ameaça. Ele frequentemente se comunicava com Selvéria e Magiori, que lançavam feitiços de detecção para proteger os viajantes de emboscadas.

— Essas terras respiram o antigo poder de Pyrron, murmurou Selvéria, passando os dedos por uma pedra marcada com runas desgastadas. Algo adormecido começa a despertar.

Rami, caminhando ao lado dela, assentiu:

— Precisamos ser rápidos. Cada momento que perdemos aqui pode ser uma vantagem para o inimigo.

No terceiro dia de viagem pelo desfiladeiro, a paz foi rompida. Do chão, rachaduras começaram a se abrir, liberando vapores quentes que preenchiam o ar.

— Formem um círculo defensivo! gritou Kaelan, sacando sua lâmina.

Do meio da névoa e das rochas caídas, figuras sombrias emergiram. Eram homens antigos, suas peles cobertas por marcas ardentes, olhos incandescentes como brasas, e armas forjadas com o próprio fogo das profundezas. Estes eram os Servos de Pyrron, guerreiros lendários que haviam perecido ao lado do antigo deus do fogo e agora despertavam para defender sua terra.

Drakar, com sua maça reluzindo, avançou para o combate:

— Eles podem queimar, mas sangram como qualquer outro!

O confronto foi brutal. Magiori conjurava feitiços para conter as chamas que os inimigos lançavam, enquanto Thalassa e os guerreiros montados flanqueavam as criaturas, tentando reduzir suas fileiras. Bromnar, ao lado de Thyraxor, atacava com precisão devastadora, usando sua força para quebrar as formações inimigas.

Apesar dos esforços, os servos pareciam infinitos, surgindo do próprio desfiladeiro. Selvéria, percebendo o perigo crescente, gritou:

— Para as cavernas! É nossa única chance!

Empurrados pelas forças inimigas, o grupo correu para uma entrada de caverna que se abria em meio às rochas. Era um portal natural, mas que emanava uma energia estranha, quase pulsante. Quando o último dos guerreiros entrou, Thyraxor soprou uma rajada de fogo, colapsando a entrada para impedir a perseguição.

Dentro da caverna, tudo era escuridão. O som abafado do combate do lado de fora deu lugar a um silêncio inquietante, interrompido apenas pelo gotejar de água e o eco dos passos do grupo. Magiori conjurou uma luz mágica que iluminava o espaço à frente, revelando paredes cobertas por cristais luminescentes e antigos símbolos de Pyrron.

Rami, ainda ofegante, comentou:

— Este lugar... Não me parece seguro. Parece uma armadilha.

Selvéria, examinando as inscrições nas paredes, murmurou:

— Não é apenas uma caverna. É um caminho antigo, talvez usado por aqueles que veneravam Pyrron. Devemos ter cuidado.

Kaelan, assumindo a liderança, olhou para os soldados.

— Recuperem o fôlego, mas fiquem atentos. Não sabemos o que nos espera aqui dentro.

Enquanto os guerreiros montavam uma defesa provisória dentro da caverna, os heróis refletiam sobre a situação.

Thalassa, limpando o sangue da lâmina, comentou para Drakar:

— Estamos cada vez mais longe da luz. Cada passo parece nos levar mais fundo nas trevas.

Drakar, tentando animá-la, respondeu:

— Mas é nas trevas que a luz brilha mais forte. Sobreviveremos, como sempre fizemos.

Bromnar, sentado em uma rocha, resmungou:

— Espero que o dragão saiba o que está fazendo. Guiar um grupo inteiro para um buraco desses parece insano.

Thyraxor, ouvindo o comentário, respondeu com sua voz grave:

— A insanidade é continuar enfrentando os servos de Pyrron de frente. Este caminho, por mais perigoso que pareça, nos dá uma chance de chegar à montanha.

Após um breve descanso, o grupo começou a explorar o interior da caverna. Selvéria e Magiori lideravam, decifrando as inscrições e guiando os guerreiros através de passagens estreitas e pontes naturais. O caminho estava repleto de armadilhas antigas e enigmas que precisavam ser resolvidos para avançar.

— Essas runas falam de um guardião adormecido, alertou Selvéria. Se estivermos no caminho certo, não estamos sozinhos.

Com o perigo atrás deles e o desconhecido à frente, os heróis e seus cem guerreiros seguiram adiante, sabendo que cada passo os aproximava não apenas da montanha, mas também de um destino que mudaria para sempre os rumos de Elydora.

...

A atmosfera dentro da caverna era opressiva. O cheiro pútrido, uma mistura de enxofre e matéria em decomposição, fazia até os guerreiros mais endurecidos torcerem o rosto. Alguns soldados começaram a vomitar, enfraquecidos pelo odor que parecia penetrar os pulmões.

Thyraxor, mesmo com sua imponência, se encolheu ao sentir o cheiro.

— Essas profundezas são antigas e podres... Algo aqui nunca deveria ter sido descoberto, rosnou.

O grupo avançava com dificuldade, as luzes mágicas de Magiori projetando sombras grotescas nas paredes irregulares. Então, o som de murmúrios e passos pequenos começou a ecoar. Quando a caverna se abriu em uma vasta câmara, eles pararam bruscamente.

À frente, um vilarejo grotesco se revelava. Pequenas casas de pedra e madeira podre estavam espalhadas pelo chão coberto de sujeira. Serpenteando pelas estruturas, trolls de aparência grotesca trabalhavam, comiam, e se moviam em seu dia a dia. Os trolls eram altos e desajeitados, com braços desproporcionais, barrigas protuberantes e cabeças largas, de traços brutais. O pelo longo e emaranhado cobria seus corpos. As fêmeas, embora mais baixas e menos peludas, tinham olhos brilhantes e uma postura mais ágil.

Quando os trolls perceberam o grupo, pararam o que estavam fazendo e começaram a encarar os intrusos com olhos amarelos e penetrantes. Um silêncio inquietante tomou conta da caverna.

Kaelan sussurrou, sua mão no cabo da espada:

— Mantenham-se calmos. Não queremos provocar uma batalha desnecessária.

Rami, porém, observava atentamente, percebendo as intenções hostis crescendo nos olhos das criaturas.

— Calma ou não, algo me diz que eles não estão dispostos a nos deixar passar pacificamente.

De repente, um troll soltou um grito ensurdecedor, erguendo um porrete improvisado. Em um instante, a vila inteira explodiu em urros e gritos. Trolls machos e fêmeas começaram a avançar, armados com pedaços de madeira, pedras afiadas e garras naturais. Atrás deles, enxames de duendes e gnomos emergiram, rindo e gritando com excitação, como se estivessem prontos para um festim macabro.

Thyraxor cuspiu uma rajada de fogo, tentando conter a primeira onda de ataque, mas o espaço confinado tornava sua presença menos efetiva.

— Corraaaam! rugiu ele.

O grupo, em pânico, começou a recuar, tentando manter alguma formação, mas a quantidade de inimigos era avassaladora. Thalassa, com sua lança girando em movimentos precisos, abria caminho para os guerreiros, enquanto Bromnar lutava lado a lado com Drakar, ambos esmagando os inimigos que se aproximavam demais.

Selvéria, vendo a situação piorar, conjurou um feitiço que fez o chão tremer, derrubando vários trolls.

— Não temos tempo para isso! Temos que sair daqui agora!

Em meio ao caos, um dos soldados gritou:

— O chão está cedendo!

O grupo, sem alternativa, começou a escorregar por um barranco íngreme, sendo arrastados pela força da gravidade e do pânico. Os trolls e duendes continuaram a perseguição por um tempo, mas o terreno traiçoeiro os deteve, e os gritos de frustração ecoaram pelo desfiladeiro.

O barranco parecia interminável, uma descida tortuosa onde os guerreiros se arranhavam em pedras afiadas e raízes que brotavam do solo. Finalmente, chegaram ao fundo, exaustos, feridos e cobertos de lama.

Rami, ofegante, olhou para os outros:

— Estamos vivos? Alguém está morto?

Thalassa, com um pequeno corte no rosto, ajudou Kaelan a se levantar.

— Estamos vivos, mas mal. Precisamos sair daqui antes que algo pior nos encontre.

Avançando por uma abertura na rocha à frente, o grupo encontrou a saída da caverna. O cheiro pútrido desapareceu, substituído por uma brisa fresca. Estavam do outro lado da montanha, em uma clareira que parecia intocada pelos horrores das profundezas.

Selvéria, olhando para trás, comentou:

— Essa caverna era mais do que um caminho. Era uma provação. Pyrron ainda tem seus defensores, mesmo no coração das trevas.

Magiori acrescentou, observando o céu estrelado acima deles:

— Se isso foi apenas o começo, temo pelo que encontraremos adiante.

O grupo, desgastado, mas aliviado, começou a se organizar para descansar e tratar os feridos. O desafio seguinte os aguardava, mas, por ora, tinham escapado com suas vidas—e isso era o suficiente.

...

O grupo continuou sua jornada, com a montanha imponente a um lado e uma densa floresta do outro. As árvores altas e retorcidas da floresta pareciam sussurrar ao vento, como se guardassem segredos ancestrais de Elydora. A estrada estava cheia de perigos, e o ambiente carregava uma energia estranha, talvez devido às forças das trevas que habitavam aqueles lugares. Eles sabiam que cada passo os aproximava mais da Montanha do Coração das Trevas, mas o caminho era incerto e cheio de armadilhas.

Kaelan, sempre vigilante, analisava o terreno à frente, enquanto Magiori tentava sentir as energias místicas que emitiam de todas as direções. O ar parecia denso com uma magia antiga, como se o próprio solo da floresta estivesse permeado de poder que ninguém ousava compreender completamente.

Foi então que, de repente, uma sombra se moveu entre as árvores.

Antes que alguém pudesse reagir, um grupo de figuras encapuzadas surgiu entre as árvores, armados com lanças e arcos, com olhos brilhando sob os capuzes. O grupo se preparou para lutar, mas, ao perceberem a postura dos estranhos — firmes, mas não hostis —, a tensão no ar diminuiu.

Rami deu um passo à frente, tentando se aproximar com cautela.

— Quem são vocês?

Uma figura encapuzada se adiantou. Sua voz era profunda e grave, com um tom de autoridade que parecia carregar a experiência de muitas batalhas.

— Somos os Caçadores. Guardiões das antigas trilhas de Elydora. Nós caçamos os cultistas de Pyrron, que ainda vagam neste mundo.

Thalassa, com seu olhar arguto, observou atentamente as armaduras e as armas dos caçadores.

— Vós, então, sois guerreiros dos tempos antigos... não foram todos exterminados?

O caçador ergueu o capuz, revelando um rosto marcado pelas cicatrizes de batalhas passadas. Seus olhos eram de um azul profundo, quase etéreo, como se o tempo não tivesse tocado sua alma.

— Nem todos. Alguns de nós permanecem, vigiando o que restou dos caminhos sagrados e defendendo Elydora das forças das trevas.

Noereu, com sua experiência como emissário e diplomata, foi o próximo a falar.

— Viemos em uma missão de grande importância. Buscamos o caminho para a Montanha do Coração das Trevas. Precisamos de um guia.

Os caçadores trocaram olhares entre si, e o líder dos Caçadores fez um gesto para que se aproximassem.

— A Montanha do Coração das Trevas... Um local proibido, onde os antigos poderes ainda se despertam. Contudo, se o destino de Elydora de fato depende do Cristal de Luz, então devemos ajudá-los. Os cultistas ainda vigiam esse caminho, mas temos habilidades que vocês não imaginam. Vamos guiá-los, mas saibam que o que aguarda em suas profundezas pode ser mais do que qualquer um de vocês possa enfrentar.

Os caçadores, com sua experiência única e conhecimento das trilhas antigas, começaram a guiar o grupo pela floresta. Cada passo parecia mais seguro, pois o caminho que antes parecia perdido se tornou mais claro. À medida que o grupo avançava, Selvéria se manteve em silêncio, suas mãos tremendo levemente enquanto seus olhos observavam os caçadores com desconfiança. Ela sentia que havia mais naquelas pessoas do que se mostravam, algo sombrio e enigmático, mas não ousou questioná-los.

Enquanto o grupo seguia pelas trilhas sinuosas, um dos caçadores, Jorak, se aproximou de Bromnar, o anão, e lhe falou com uma voz grave.

— Os anões... Vocês sabem como trabalhar o fogo e as profundezas. Mas não se iludam, o que está à frente não pode ser derrotado com simples força. A magia e os sacrifícios dos antigos são necessários para enfrentar o que está guardado.

Bromnar franziu a testa, tocando seu martelo com um gesto reflexivo.

— Não subestime a força dos anões. Se o fogo for necessário, o que tivermos que fazer, faremos.

Enquanto isso, Aeron, o príncipe de Aetherion, conversava com Yelara sobre as possibilidades do que poderiam encontrar.

— Nunca imaginei que precisássemos de tanto auxílio para nossa missão. Esses caçadores... Estão mais conectados com a terra do que imaginamos. Eles sabem mais do que deixam transparecer.

Yelara, a meio-elfa, acenou, seus olhos claros se voltando para o horizonte onde a montanha ainda se escondia entre as árvores.

— Este é um caminho mais tortuoso do que eu pensava. Cada passo é uma aposta, e a cada momento algo maior nos observa. Não podemos voltar atrás agora.

O grupo seguiu por mais algumas horas, até que finalmente o líder dos Caçadores fez sinal para que parassem. A floresta à sua frente parecia se abrir, revelando uma clareira estreita. À distância, a forma imponente da Montanha do Coração das Trevas começava a se revelar. Uma neblina espessa pairava sobre a base da montanha, e sombras pareciam dançar entre as pedras como se o próprio lugar estivesse vivo.

— Estamos chegando. 'O líder dos Caçadores disse com um tom grave.' A Montanha do Coração das Trevas nunca foi um lugar de fácil acesso. Mas, agora, não há volta.

O grupo olhou para a montanha à frente, sabendo que os maiores desafios estavam prestes a começar. A jornada estava longe de terminar, e o verdadeiro confronto com as forças antigas de Elydora estava prestes a ser travado.

...

A noite caiu sobre o acampamento, mas o sono não trouxe o descanso esperado. As estrelas brilhavam no céu limpo, oferecendo uma breve sensação de serenidade. O vento sussurrava através das árvores, mas os sons que vinham das profundezas da montanha e da floresta eram inconfundivelmente inquietantes. Rangidos, murmúrios distantes e estalos no mato faziam com que os vigias, mesmo experientes, se mantivessem em alerta.

Kaelan estava sentado próximo à fogueira, afiando sua espada. Seus olhos não se fixavam em nada, perdidos em pensamentos. Ao seu lado, Magiori segurava um pergaminho, murmurando encantamentos de proteção enquanto uma esfera de luz flutuava em sua frente, iluminando o espaço ao redor.

Mais afastado, Bromnar ressonava em um sono leve, com o martelo repousado em seus braços como se fosse uma extensão de si. Rami escrevia em um pequeno caderno, registrando os eventos recentes e possíveis estratégias para a próxima etapa da viagem.

Os caçadores de cultistas mantinham a vigília, seus olhos atentos ao redor, mas até mesmo eles não estavam preparados para o que viria.

No meio da noite, um som profundo, como um rugido abafado, ecoou pela caverna de onde o grupo havia saído mais cedo. Antes que alguém pudesse reagir, figuras grotescas começaram a emergir da escuridão. Trolls duêndicos, com seus corpos enormes e peludos, urravam enquanto seguravam porretes e pedras. Logo atrás deles, duendes e gnomos, mais ágeis e armados com lâminas e bestas rudimentares, avançavam.

O caos tomou conta do acampamento em segundos.

Selvéria foi a primeira a gritar, sentindo uma onda de magia hostil se aproximar. Sua voz ecoou pelo acampamento.

— Acordem! Estamos sendo atacados!

Os gritos dela despertaram o grupo num sobressalto. Thalassa foi a primeira a se armar, brandindo sua lança e se posicionando para proteger os outros. Bromnar, ainda grogue, agarrou seu martelo e se levantou com um rugido.

— Por que esses malditos não nos deixam em paz?!

Noereu tentou acalmar os aliados enquanto lutava.

— Mantenham a formação! Não deixem que nos cerquem!

Mas os trolls avançavam com brutalidade, quebrando barracas e arremessando pedras enormes. Kaelan golpeava um após o outro, mas parecia que mais surgiam da escuridão. Magiori, usando sua magia, criou uma barreira de luz que conteve parte dos inimigos, mas ele sabia que não duraria muito.

Rami, apesar de não ser um lutador habilidoso, empunhava uma adaga, protegendo Selvéria enquanto ela conjurava feitiços de fogo para repelir os atacantes.

— Rami, recuem! Precisamos sair daqui! gritou ela.

Percebendo que os números dos inimigos eram esmagadores, Aeron, que liderava parte da defesa, tomou uma decisão rápida.

— Não podemos vencer aqui! Todos, recuem! Rápido, para a montanha!

Os heróis, junto com os caçadores, começaram a recuar, lutando enquanto fugiam pela floresta. As árvores altas e densas dificultavam a visão, e os trolls, apesar de enormes, moviam-se com surpreendente velocidade. Os duendes e gnomos disparavam flechas e jogavam pedras, aumentando o pânico.

Thyraxor, o dragão que havia se unido a eles, tentou ajudar, lançando uma baforada de chamas na direção dos atacantes. Porém, sua presença também atraiu mais atenção. Um grupo de duendes armados com lanças envenenadas tentou derrubá-lo, forçando-o a recuar para o céu.

A fuga se tornou ainda mais desesperada quando o terreno começou a inclinar. O grupo corria cegamente, guiados apenas pelo instinto e pela urgência de escapar. Finalmente, chegaram a uma clareira que dava vista para a Montanha do Coração das Trevas, agora iluminada pela luz da lua.

Selvéria, exausta, caiu de joelhos.

— Eles não vão desistir... Eles querem nos exterminar antes de chegarmos à montanha!

Kaelan se virou, ofegante, limpando o sangue do rosto.

— Então teremos que lutar lá dentro. Mas pelo menos temos uma chance de reagrupamento.

Com o inimigo ainda distante, mas certamente em perseguição, o grupo sabia que não tinha muito tempo. Eles se dirigiram rapidamente à base da montanha, onde o terreno começava a se tornar rochoso e íngreme. O cheiro de enxofre no ar era inconfundível — o local estava impregnado com a essência do antigo poder de Pyrron.

Magiori olhou para cima, seus olhos fixos no cume.

— A montanha nos chama..., mas também nos ameaça. Precisamos estar preparados. Cada passo daqui em diante será uma batalha.

Rami assentiu, com o rosto grave.

— E o inimigo não nos dará descanso. Eles nos seguem como sombras... Precisamos encontrar um refúgio antes que anoiteça novamente.

Enquanto o grupo avançava, o som de tambores distantes começou a ecoar pela floresta. Os trolls e seus aliados estavam reunindo suas forças. Não haveria escapatória fácil, e o caminho para a Montanha do Coração das Trevas estava apenas começando.

E

À medida que o grupo avançava pela base da montanha, o terreno começou a mudar. O cheiro de enxofre ainda permeava o ar, mas as pedras vulcânicas deram lugar a um caminho pavimentado de pedra antiga. Era como se o tempo houvesse esquecido aquele lugar, mas sinais de civilização surgiam gradualmente: torres de vigia em ruínas, brasões desgastados esculpidos em rochas, e, finalmente, um enorme portão de ferro fundido que guardava a entrada de um reino escondido.

Uma corneta soou das torres acima. O som reverberou pelas montanhas, alertando os habitantes do reino. Antes que o grupo pudesse reagir, arqueiros surgiram nas muralhas, com flechas apontadas para eles. Uma voz poderosa ecoou:

— Identifiquem-se, viajantes, e expliquem sua presença na base do Monte do Coração das Trevas!

Kaelan, erguendo as mãos para mostrar que não representavam ameaça, respondeu:

— Somos viajantes em busca de refúgio! Viemos de Elydora, perseguidos por trolls, duendes e gnomos. Trazemos conosco aliados que lutaram contra Pyrron e buscam impedir seu renascimento!

Houve um momento de silêncio antes que uma figura alta, vestida com uma armadura brilhante, surgisse no portão. Era um homem de cabelos prateados e olhar penetrante, acompanhado de dois guardas armados. Ele desceu com passos firmes e encarou o grupo.

— Sou Lorde Eryndor, defensor de Dyrnwald, o reino que protege as terras livres. Se vocês falam a verdade, serão bem-vindos aqui, mas saibam que qualquer traição será punida severamente. Entrem.

O portão se abriu com um rangido profundo, revelando a cidade fortificada de Dyrnwald. Construída em terraços ao redor da base da montanha, a cidade parecia um bastião de resistência. Suas casas eram de pedra maciça, com telhados de ardósia, e bandeiras coloridas tremulavam ao vento, mostrando símbolos de antigos reinos aliados. Os cidadãos observavam o grupo com curiosidade e desconfiança, mas não havia hostilidade.

Uma vez dentro, o grupo foi levado ao salão principal, onde Lorde Eryndor convocou seu conselho. Enquanto isso, médicos trataram dos ferimentos de Yelara e dos outros membros exaustos. Thyraxor, o dragão, foi escoltado para uma área isolada na encosta da montanha, onde poderia descansar longe da vista dos moradores, que ainda desconfiavam de sua presença.

Rami olhou ao redor do salão, admirado com os detalhes históricos.

— Este lugar... é um pedaço vivo da antiga resistência contra Pyrron. Não sabia que tal bastião ainda existia.

Eryndor ouviu o comentário e assentiu.

— Poucos sabem. Mantivemos nosso anonimato para proteger nosso povo, mas sabemos das ameaças que se escondem nas trevas. Nossa missão é garantir que Pyrron e qualquer outro poder maligno nunca mais domine estas terras.

Selvéria, com um sorriso sutil, inclinou-se para frente.

— Então, talvez nossas missões estejam alinhadas. Precisamos de ajuda para alcançar a Montanha do Coração das Trevas. Vocês conhecem o caminho melhor do que qualquer outro.

Eryndor franziu o cenho, ponderando.

— A montanha é perigosa. Mesmo nós evitamos suas profundezas. Mas se é lá que sua jornada os leva, ajudaremos como pudermos. Por agora, descansem. Amanhã discutiremos os próximos passos.

O grupo foi separado em pequenas acomodações ao longo da cidade. Os quartos eram simples, mas confortáveis, com lareiras acesas para afastar o frio da montanha.

Kaelan sentou-se em silêncio, observando as chamas da lareira, enquanto Bromnar polia seu martelo ao lado.

— Estamos mais perto do que nunca, mas cada passo parece mais perigoso. Acha que conseguiremos, Kaelan? perguntou o anão, sua voz grave ecoando pelo quarto.

Kaelan respondeu com um suspiro.

— Não temos escolha, Bromnar. Conseguiremos porque precisamos. Não há outra opção.

Enquanto isso, Magiori estava sentado ao lado de uma janela, olhando para as estrelas e consultando seus pergaminhos.

— Algo grande está por vir. A presença de Pyrron ainda pulsa por estas terras... mas sinto outra força também. Talvez essa cidade tenha mais a oferecer do que aparenta.

Thalassa, em outro cômodo, afiava sua lança com expressão determinada.

— Se o destino exige que enfrentemos essas forças, então enfrentaremos. Com ou sem ajuda.

Na torre mais alta, Selvéria estudava um antigo mapa da montanha, que Eryndor havia fornecido.

— O tempo está se esgotando. Precisamos chegar à Montanha antes que nossos perseguidores nos alcancem... ou que algo pior desperte.

Lá fora, a cidade se preparava para qualquer eventualidade. Os soldados de Dyrnwald reforçavam as defesas e monitoravam a entrada da caverna por onde os trolls e duendes poderiam surgir novamente. A lua cheia iluminava a paisagem, enquanto, ao longe, o eco de tambores de guerra podia ser ouvido, sinal de que seus inimigos ainda estavam em movimento.

A jornada para a Montanha do Coração das Trevas continuava, mas, por uma noite, o grupo encontrou refúgio — mesmo que temporário.

...

O tremor da montanha foi o prenúncio de um caos incontrolável. O chão rugia, e rios de lava escorriam pelas encostas do vulcão, iluminando a noite com tons alaranjados e vermelhos. As legiões de antigos cavaleiros de Pyrron emergiam da caverna próxima à boca do vulcão, suas armaduras negras refletindo o brilho do magma. Eles avançavam em formação impecável, cada passo ecoando como um trovão pela planície.

No topo das muralhas de Dyrnwald, os arqueiros se apressavam em preparar seus arcos enquanto os soldados reforçavam barricadas e afiavam lâminas. Lorde Eryndor caminhava com firmeza ao longo das defesas, gritando ordens:

— Arqueiros, foquem os flancos! Defensores, segurem as barricadas! Não permitam que eles ultrapassem o primeiro terraço!

Kaelan, com sua espada desembainhada, trocou um olhar tenso com Bromnar.

— Você já viu algo assim? perguntou o anão, enquanto amarrava seu elmo.

— Não, mas espero que nunca mais veja. Este é um horror que nem mesmo as lendas fizeram justiça.

Thyraxor, o dragão, rugia ao longe, abatendo cavaleiros com rajadas de fogo, mas sua atenção foi desviada quando os trolls duêndicos e seus aliados surgiram do outro lado da fortaleza, atacando com fúria. O grupo percebeu que estava cercado: inimigos avançavam tanto das planícies quanto das cavernas.

Os tambores dos cavaleiros de Pyrron ecoavam como um anúncio da desgraça iminente. As primeiras flechas foram disparadas, seguidas de um rugido ensurdecedor dos trolls. A batalha começou com uma intensidade brutal.

Thalassa, com sua lança reluzente, liderava um grupo de guerreiros em uma defesa desesperada.

— Não recuem! Defendam cada polegada dessas muralhas! gritou, enquanto derrubava um troll com um golpe preciso.

Selvéria estava no alto de uma torre, lançando feitiços para reforçar as defesas e criar barreiras mágicas.

— Essas forças não param! É como lutar contra o próprio inferno!

Rami, ao lado de Eryndor, olhou para os soldados feridos sendo levados para trás.

— Se essa linha cair, o que faremos? Não temos reforços suficientes para conter ambos os lados.

Eryndor apenas respondeu:

— Então não permitiremos que ela caia. Não hoje.

Apesar da resistência feroz, a pólvora usada pelos trolls abriu uma brecha na muralha do primeiro terraço. Com um estrondo ensurdecedor, pedras voaram em todas as direções, e os inimigos invadiram em massa.

— Recuem! Para o segundo terraço! gritou Eryndor, enquanto tentava manter a ordem entre as tropas.

O grupo principal de heróis lutava incansavelmente, abrindo caminho enquanto recuavam. Drakar e Bromnar seguraram a linha o máximo que puderam, mas foram forçados a recuar quando os números inimigos se tornaram esmagadores.

— Não podemos continuar assim! Eles vão nos destruir! gritou Thalassa, sua lança já ensanguentada e os olhos fixos nos aliados caindo ao redor.

Foi quando o inesperado aconteceu. O Cristal de Luz, que Selvéria mantinha guardado, começou a brilhar intensamente. Uma luz dourada iluminou o campo de batalha, e, como se atendendo a um chamado, um pégaso majestoso emergiu do céu estrelado, com asas brilhantes e olhos de pura luz.

Magiori imediatamente percebeu o que precisava ser feito.

— Selvéria, cuide deles! Eu trarei reforços! 'Ele montou no pégaso com agilidade, segurando seu cajado e olhando para os aliados abaixo.'

— Resistam! Não deixem que eles tomem a fortaleza!

Com um impulso das asas do pégaso, Magiori desapareceu no céu noturno, voando em direção a Elydora.

Com a partida de Magiori, o grupo e os defensores de Dyrnwald estavam sozinhos contra as forças inimigas. O segundo terraço tornou-se o novo campo de batalha, mas os inimigos eram implacáveis.

Kaelan lutava ao lado de Thyraxor, que permanecia nas muralhas, cuspindo fogo contra os trolls e cavaleiros.

— Eles estão nos pressionando demais! Precisamos de uma estratégia! gritou Kaelan para Eryndor.

Rami, ferido, mas ainda de pé, sugeriu:

— Talvez possamos usar a lava a nosso favor. Se conseguirmos redirecioná-la, podemos cortar parte do avanço deles.

Selvéria ouviu a sugestão e começou a trabalhar em um feitiço arriscado para manipular o terreno ao redor.

— Isso pode nos dar tempo, mas não será suficiente para deter todos eles. Precisamos de Magiori... e rápido.

Thalassa, agora com a armadura danificada, continuava liderando os soldados, enquanto Drakar rugia, enfrentando os trolls com toda a sua habilidade e experiência em combate.

— Venham, suas criaturas nojentas! Eu sou Drakar de Pedraluz, e nenhum de vocês sairá vivo daqui!

A noite parecia interminável, mas a resistência continuava, mesmo com perdas significativas. Quando os primeiros raios de sol começaram a surgir no horizonte, uma trombeta soou ao longe. Era um som familiar, mas ao mesmo tempo inesperado: os reforços de Elydora estavam chegando!

Magiori, liderando um exército de cavaleiros alados e guerreiros das legiões de Elydora, desceu do céu montado no pégaso. O brilho do Cristal de Luz agora parecia guiar as forças aliadas, inspirando esperança onde antes havia desespero.

— Segurem as linhas! gritou Magiori. A ajuda chegou!

Com a chegada dos reforços, os defensores de Dyrnwald e os heróis ganharam uma nova força. A batalha estava longe de terminar, mas agora, finalmente, havia uma chance de vitória.

...

O céu se encheu de figuras imponentes enquanto os cavaleiros alados de Aetheria desciam em formação, suas armaduras reluzindo sob a luz do amanhecer. O som de suas trombetas cortava o ar, anunciando o cumprimento de uma aliança ancestral contra Pyrron, selada em tempos de grande escuridão. Sob suas asas, as legiões de Elydora marchavam com disciplina impecável, brandindo lanças e espadas que pareciam cintilar com o mesmo brilho do Cristal de Luz.

Magiori, montado no pégaso, liderava as tropas, a capa esvoaçando ao vento e o cajado em punho. Ele apontou para o exército de trolls e aliados malignos à frente:

— Pela liberdade das terras de Elydora e pela memória de todos os que lutaram contra Pyrron! Avante, irmãos e irmãs! Derrotem essas criaturas!

Os cavaleiros alados mergulharam como raios, suas lanças perfurando os corpos dos trolls e dispersando suas fileiras. O caos tomou conta das criaturas enquanto eram varridas pelos ataques aéreos e pelas investidas das legiões de Elydora. As lanças e espadas cortavam com precisão, enquanto os escudos se erguiam para repelir os projéteis dos duendes e gnomos.

Thyraxor, voando ao lado dos cavaleiros alados, lançou labaredas de fogo contra as criaturas, queimando as hordas de trolls que ainda resistiam.

Kaelan, observando o ataque, sorriu pela primeira vez em horas.

— Eles não esperavam isso. Finalmente, uma vantagem a nosso favor.

Bromnar, no chão, avançava com um grupo de soldados, derrubando trolls com sua força bruta.

— Ah, sim! Venham, malditos! Vamos mostrar o que é coragem de verdade!

Os duendes e gnomos, sem coordenação, começaram a recuar diante da força avassaladora das tropas aliadas. Em pouco tempo, as criaturas foram esmagadas ou dispersadas, deixando um rastro de silêncio momentâneo no campo de batalha.

Depois de eliminar os trolls e seus aliados, as tropas se reorganizaram. General Sythorn, dos Guardas do Vento, aproximou-se de Magiori:

— Os trolls foram derrotados, mas o verdadeiro desafio está à frente. Os cavaleiros de Pyrron são guerreiros treinados e determinados. Precisamos de uma estratégia sólida para enfrentá-los.

Magiori assentiu, observando as legiões de Pyrron que se aproximavam, seus números ainda consideráveis.

— Ataque coordenado. Thyraxor e os cavaleiros alados desviarão suas formações. As legiões atacarão pelos flancos enquanto os defensores de Dyrnwald seguram o centro. Não podemos hesitar.

Selvéria, ouvindo a conversa, se aproximou.

— Posso criar uma barreira de proteção para as tropas avançadas. Isso nos dará tempo para infligir dano antes que eles reorganizem suas linhas.

Eryndor assentiu com um olhar grave.

— Então que seja. Esta é nossa chance de virar o jogo.

Os cavaleiros de Pyrron avançaram, suas armaduras negras refletindo o brilho incandescente da lava que fluía ao fundo. Eles eram imponentes, suas espadas e lanças carregadas de energia sombria.

As tropas aliadas atacaram com determinação renovada. Thyraxor liderou o ataque aéreo, lançando labaredas contra as fileiras inimigas, enquanto os cavaleiros alados mergulhavam para quebrar suas formações. Magiori, do alto, lançava feitiços que espalhavam as linhas dos cavaleiros de Pyrron, criando brechas para que as legiões de Elydora atacassem.

Kaelan e Drakar, liderando uma unidade terrestre, lutavam lado a lado, derrubando inimigos com força e habilidade. Bromnar, com seu machado gigantesco, abria caminho pelo campo de batalha, sua risada trovejando mesmo em meio ao caos.

— Hoje é um bom dia para lutar, não acham?!

No centro, Selvéria conjurava feitiços para proteger os aliados, enquanto Rami orientava as tropas mais jovens.

— Mantenham a formação! Eles não podem nos quebrar se lutarmos como um só!

Apesar da ferocidade dos cavaleiros de Pyrron, o ataque coordenado das tropas aliadas começou a virar o jogo. Os flancos inimigos se desfaziam sob a força combinada dos Guardas do Vento e das legiões de Elydora.

Finalmente, o exército de Pyrron começou a recuar. As forças de Elydora, embora cansadas, não cederam. Com um último golpe conjunto liderado por Thyraxor, o restante das forças inimigas foi derrotado ou dispersado, deixando o campo de batalha coberto de silêncio e corpos.

Quando a batalha terminou, os aliados se reuniram no pátio da fortaleza. Magiori desmontou do pégaso e se dirigiu aos heróis e tropas:

— Hoje, provamos que a união das terras livres ainda é mais forte que as sombras de Pyrron. Mas nossa jornada não termina aqui. A Montanha do Coração das Trevas ainda guarda segredos que precisamos enfrentar.

O grupo olhou para o vulcão ao longe, que continuava a rugir, como se protestasse contra a derrota de suas forças. Apesar da vitória, sabiam que o verdadeiro desafio ainda estava por vir. Elydora havia vencido uma batalha, mas a guerra contra as trevas estava longe de terminar.

F

O Lorde Eryndor decide ajudar os nossos heróis na jornada deles e oferece vinte cavaleiros e vinte arqueiros para a caminhada rumo à temida Montanha das Paixões das Trevas. Apesar das perdas recentes, os heróis encontram na generosidade de Eryndor um sopro de esperança para o que está por vir.

Três dias depois do último confronto, o grupo se organiza para partir ao alvorecer. Magiori, em seu majestoso Pégaso de crinas douradas, liderava a comitiva com confiança renovada. Mas a atmosfera serena da manhã é abruptamente rompida por um estrondo. O chão sob seus pés vibra com uma intensidade crescente, enquanto a própria montanha parece despertar de um sono ancestral.

Das cavernas encravadas em suas encostas, o antigo exército de Pyrron emerge em massa, suas armaduras negras refletindo a luz fria do amanhecer. Gritos de terror ecoam pelo vale quando os heróis percebem a magnitude da ameaça que se ergue diante deles. De repente, a boca do vulcão explode em uma fumaça densa e vermelha, e de seu centro, Pyrron surge montado em um Pégaso negro, seus olhos brilhando com uma malícia infernal.

Na garupa do Pégaso, uma figura familiar aparece. Era Morgalyra, a Mulher-Cavaleiro. Mas algo nela estava diferente. Seus olhos, antes cheios de resolução e coragem, agora emanavam uma frieza cortante. Com uma voz que parecia ecoar do próprio vulcão, ela declarou:

— Não sou mais Morgalyra! Sou a bruxa de Ingar!

O impacto de suas palavras lançou um silêncio mortal sobre o campo. A traição repentina de Morgalyra, uma aliada de confiança, deixou os heróis atônitos. Havia um mistério sombrio por trás de sua mudança, mas não havia tempo para respostas.

— Recuem para a fortaleza! — gritou Magiori, enquanto o exército de Pyrron começava a avançar com uma fúria incontrolável.

Os heróis e os soldados enviados por Eryndor se viram forçados a correr de volta à fortaleza. Esta estava lotada pelos cavaleiros alados e guerreiros das legiões de Elydora. Estes último fizeram barricadas, trincheiras e estacas de madeira com fogueiras para defender a fortaleza e seus arredores.

Em um último ato de esperança, Magiori designou cinco mensageiros para buscar ajuda nos reinos descendentes de Elydora. Cavalgando com todas as suas forças, os mensageiros partiram em direções diferentes, levando o chamado urgente por reforços. Enquanto isso, os que ficaram para trás se preparavam para o inevitável cerco, determinados a resistir até o fim.

*

Presos à fortaleza de Dyrnwald e seus arredores, os nossos heróis esperavam ajuda. Mas as forças de Pyrron e a Bruxa de Ignar já completavam o cerco, e a batalha era iminente.

— Preparem-se para o pior! — gritou o Lorde Eryndor.

Os soldados do exército de Pyrron eram maiores que os homens normais, e suas peles eram grossas, fazendo tremer qualquer um que os enfrentasse. Tinham dentes afiados e unhas longas como garras. Usavam machados, facões e lanças. Eram rudes e pareciam maus. Alguns montavam cavalos que pareciam amaldiçoados! Mas os postos superiores eram ainda mais aterrorizantes: alguns tinham asas de morcego, outros eram metade cavalo, e havia gigantes que montavam dragões malignos!

Os exércitos de Pyrron gritavam urros e soltavam risadas de arrepiar. Era o momento que precedia uma grande batalha. A tensão pairava no ar, e mesmo diante do perigo iminente, ainda havia uma réstia de esperança. Mas essa fagulha se apagou rapidamente quando, sem aviso, a batalha começou.

A grande guerra havia começado, e a esperança havia se perdido na névoa daquele final de tarde.

A batalha começou com um baque ensurdecedor de escudos e lanças e gritos de dor, terror e desespero!

-Lutem até o último homem! -Gritou Eryndor.

Magiori e os seus amigos lutavam essa terrível batalha, acompanhados pelos reforços pelos quais foram seguidos pelo caminho.

As forças opostas nesta batalha ainda estavam em equilíbrio! Caíam guerreiros de ambos os lados. A batalha acontecia como se a quantidade não determinasse a vitória! Ou o tamanho dos inimigos... Mas havia algo nos olhos de Thalassa!

-Comigo, Bromnar! Vamos dar uma chance aos guerreiros que defendem os fundos fora da fortaleza!

E, juntos, correram pela muralha e desceram as escadas até a parte detrás da fortaleza, onde estavam alguns guerreiros que ainda resistiam, mas seriam esmagados se continuassem!

Bromnar, com seu machado, derrubava um por um dos inimigos, e Thalassa, com sua lança, derrubava ainda mais. Lutavam lado a lado, enquanto cada um desses guerreiros conseguia alcançar o topo da muralha. Finalmente, Bromnar e Thalassa também subiram.

Os inimigos tentaram subir também, mas os guerreiros da fortaleza de Dyrnwald puseram fogo nas escadas.

-Guerreiros preparados para uma invasão nos fundos da fortaleza! -Gritou Eryndor.

Arqueiros lançavam saraivadas de flechas e homens empunhavam lanças para evitar que os inimigos subissem até o topo da muralha.

Nessa luta entre os dois exércitos, algo que não esperavam aconteceu. Um gigante de lava surgiu, cuspindo fogo. Deram espaço entre os de Pyrron e o gigante atingiu a muralha.

-Atirem no gigante! -Gritou Thalassa.

Flechas voaram, mas o gigante, tonto pelas flechadas, num último esforço, deu um soco na muralha antes de cair morto, causando uma grande explosão. As pedras voaram, muitos soldados da fortaleza também. Bromnar escapou por ter corrido para longe, mas Thalassa caiu ferida.

-Continuem! -Gritou Bromnar. -Atacar!

E os exércitos de Dyrnwald entraram num confronto contra os invasores que não tinham mais uma muralha para os impedir de entrar, estando diante deles apenas os defensores da fortaleza.

Thalassa conseguiu se levantar, sem ferimentos graves.

-Thyraxor! Ajude-nos! -Gritou.

O dragão veio e usou sua cauda para derrubar as fileiras inimigas. Soltou uma rajada de vento com seu hálito, congelando alguns guerreiros da antiga nação do fogo.

-Chame Magiori! Não podemos aguentar mais! -Gritou Thalassa para Thyraxor.

Enquanto isso, Bromnar gritou para os que ali lutavam: -Tragam as estacas de madeira! Vamos incendiá-las!

As forças que lutavam aquela batalha na parte da fortaleza voltada para o vulcão foram sendo abandonadas, mas, no lugar, foram construídas estacas flamejantes. Flechas voavam de ambos os lados. Lanças furavam os corpos dos invasores. Parecia que começava a chover lava.

Magiori vinha no Pégaso.

-Thalassa, vamos montar outra estratégia!

E os flecheiros posicionados soltaram dez saraivadas seguidas para que os guerreiros e seus dois líderes voltassem em segurança. Havia uma estrutura de estacas e valas que impediam a passagem, além de lanças e flechas. Mas, mesmo, caindo em valas com óleo incendiário e pegando fogo ao passar pelas estacas, continuavam a vir mais e mais invasores! Porém, um tempo de descanso foi dado ao anão e à amazona.

-Precisamos resistir! Estou contando com reforços! -Gritou Magiori, tentando reacender a esperança nos corações dos dois.

Com a derrubada da muralha aos fundos da fortaleza, mais soldados defensores de Dyrnwald se juntavam ali para impedir a invasão inimiga.

Distante, mas visível, um exército de cavaleiros montados em cavalos de todas as cores vinha cavalgando para salvar a fortaleza de Dyrnwald. Foi como uma chuva apagando um incêndio e lavando o sangue derramado na guerra. Era o exército da esperança que matava o inimigo. Os guerreiros de Pyrron, vendo-se esmagados, fugiram, rechaçados de volta para a Montanha.

Foi um momento de comemoração, mas não se sabia mais o que fazer, pois, sem a Reforgedora, não havia esperança para reforjar o Cristal de Luz.

...

Agora que Morgalyra — a antiga Mulher-Cavaleiro — havia traído a confiança daqueles que nela depositaram toda a esperança, será que não haveria mais como reforjar o Cristal de Luz?

— Haverá um jeito, se formos a Elydora. Lá poderemos encontrar informações úteis — disse Magiori.

Trevius concordou, e o grupo partiu, escoltado pelos defensores que os acompanharam desde Umbrossia, além daqueles que se prontificaram a protegê-los: alguns de Dyrnwald e outros dos reforços recém-chegados.

Os urros dos inimigos ainda ecoavam das profundezas do vulcão. O céu parecia em chamas, e o ar estava impregnado de fuligem. Mas, ao longe, ainda era possível ver o azul do céu, pontuado por algumas nuvens. O caminho até Elydora seria longo, e ninguém sabia o que os aguardava pela frente.

Estoriomance
Enviado por Estoriomance em 11/10/2024
Reeditado em 26/02/2025
Código do texto: T8171085
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