Mundo Sombrio - Capítulo 3 - Lembranças na praia

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Sinopse

Melvin vai até a praia procurar por Sarah. Lá os dois conversam sobre as lembranças dela, e de como isso a atormenta atualmente.

Personagens

Melvin, Sarah, Steve, Billy, Baltazar, Nicolai

_ Arrrr... está aprovada. _ disse Baltazar bebendo seu último gole de cerveja. _ A bebida aqui é muito boa.

_ Mas é claro _ confirmou Billy _ Viemos aqui todo o final de semana. Esse bar já tem alguns meses. Onde você toma suas bebidas?

_ Pra quem pode andar pelo castelo, não precisa sair para tomar cerveja. Lá dentro eu tenho qualquer tipo de bebida a meu dispor. E não precisa gastar nada.

_ Ooooo, você toma bebida de graça? _ perguntou Billy, com os olhos brilhando.

_Shhhh, fale mais baixo. Isso é segredo meu. Ninguém pode saber.

_ Ei, Baltazar. Será que você não pode arrumar uma pra mim? _ disse falando baixo.

_ Acho que sim. O cara que me arruma é parceiro.

_ Mas eu quero uma das boas, está bem.

_ Pode deixar comigo.

Steve que estava ao lado de Billy, sentia-se excluído da conversa. Ele já tinha tomado dois copos e já não estava com muita vontade de ficar ali.

STEVE: Era só o que me faltava.

_ Eu acho que já vou indo. _ disse ele se levantando.

_ Mas já? _ retrucou Billy _ Fique mais um pouco.

_ Quantas rodadas nós já pedimos? Desse jeito ficaremos bêbados igual aquele cara que o Ralf levou..

_ Mas ninguém aqui está bêbado! _ disse Baltazar abrindo os braços. Steve pode ver a cara embriagada dele. E teve vontade de rir naquela hora.

STEVE: Se você diz que não está bêbado, imagine se estivesse.

Steve saiu da mesa e andou em direção a saída.

_ Eu vejo vocês outro dia. _ disse se despedindo.

_ Bah, deixe ele pra lá. _ disse Baltazar _ Mais uma rodada! _ gritou estendo o copo.

BILLY: Ainda bem que não fico bêbado facilmente.

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Steve andava pela rua. A noite já havia caído. Não havia mais nada para se fazer, a não ser ir para casa. Foi quando ele avistou alguém atravessando o cruzamento de ruas à frente.

_ Melvin! _ gritou correndo até ele.

Melvin ouviu alguém o chamar. Foi quando viu Steve se aproximando.

_ Olá, Steve!

_ Olá! É raro encontrar você por aqui. Vem aqui só uma vez por ano.

_ Eu sei. Está tudo bem com você?

_ Sim. E você?

_ O de sempre.

_ Deve ser cansativo viajar pelo mundo.

_ Com o tempo acostuma-se.

_ Sarah vai ficar feliz em vê-lo! Ela anda um pouco abatida ultimamente.

_ Abatida?

_ Você sabe....as lembranças.

_ Sim. Entendo. Eu estou procurando por ela. Você a viu por aí?

_ Sim. Quando me encontrei com ela, disse que ia ficar um pouco na praia.

_ Na praia. Aquele lugar de sempre. Está certo, obrigado Steve.

Após se despedirem, Melvin tomou o caminho em direção a praia. Ele sabia muito bem o lugar onde Sarah estaria. O lugar no qual ela sempre vai quando sente saudades da mãe.

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O céu estava estrelado aquela noite. As ondas da praia podiam ser ouvidas facilmente. Todo o ambiente trazia uma sensação agradável, com exceção de uma pequena lembrança de Sarah.

_ Já faz seis anos! _ disse olhando para o horizonte. Ela deixou se levar pelo barulho das ondas e fechou aos olhos.

SARAH: Essas ondas. Elas significavam tanto.

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Lembrança de Sarah

O céu estava tão limpo como as águas do mar. Sarah olhava para o horizonte no mar. Devia ter uns sete anos naquela época. Ela entrou na água e sentiu aquela sensação de refrescância na perna.

_ Sarah! Não vá muito ao fundo _ disse uma voz feminina atrás dela.

_ Eu sei mãe.

Desde criança, Sarah criou uma forte ligação com o mar. Para ela, o mar era uma das coisas mais belas do mundo. Ali era um lugar em que ela e a mãe adoravam e conversavam sobre muitas coisas.

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Entretanto, aquele lugar passou a ter um significado diferente depois daquele dia.

Sua mente começava a acessar suas lembranças mais terríveis.

UMA VOZ: Sarah! Fuja!

SARAH: Mãe!

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_ Sarah!

Uma voz a chamou tirando de seu estado. Sarah olhou para trás e viu um de seus

amigos se aproximar.

_ Melvin! _Os dois ficaram se olhando por algum tempo. Fazia quase um ano que os dois não se viam. Um vento soprou fazendo balançar o cabelo de ambos. _ Não sabia que estava em Seylor.

_ Cheguei hoje ao entardecer. Me disseram que você estava por aqui. Eu não queria deixar pra ver você amanhã.

_ Entendo. Faz tanto tempo que não nos vemos que temos muita coisa pra conversar. _

Melvin olhou para a expressão na face de Sarah e percebeu o que Steve havia dito antes.

_ Me disseram também que você estava um pouco abatida. E por isso veio a este

lugar. _ Melvin visou os olhos de Sarah e continuou _ São as lembranças, não são?

Sarah passou seu olhar para baixo demonstrando uma postura delicada. Esse era o assunto que a mais deprimia.

_ Eu não consigo me livrar delas. Eu... não posso me livrar delas.

_ Não é uma questão de se livrar delas, é uma questão de conviver com elas.

_ Mas no meu caso não é tão simples assim. Toda vez que olho para o mar, eu sempre lembro. Eu me lembro da praia, das ondas, da areia, e principalmente da minha mãe. E sempre que lembro da minha mãe, eu sempre me lembro daquela cena. Aquilo foi tudo culpa minha.

_ Não fale isso! _ Melvin engrossou a voz _ Você só estava tentando ajudar. Você se importava com sua mãe. Aquela ação demonstrava o quanto você a amava. Não pode se culpar pelas coisas acabarem daquele jeito. _ Sarah ficou em silêncio_ Me desculpe! Eu não queria ter falado nesse tom com você. É que vê-la se culpando desse jeito me atormenta.

_ Desculpe se o deixo preocupado. Mas é que eu não consigo conviver com isso.

_ Você não é a única, Sarah. Steve, Billy, Nicolai, Ralf, Baltazar e todas as pessoas desse reino também tiveram o mesmo sofrimento. Cada um perdeu seus entes queridos de formas diferentes, mas todos sentem a mesma dor, a mesma saudade. E cada um deles convive com isso todos os dias. E cada um deles lida com isso ao seu jeito. Você também precisa descobrir o seu.

_ Mas... eu não sei como faço isso? Pra todo lugar que eu olho no reino, eu lembro de minha mãe. _ Saia de Seylor, então.

_ Sair do reino?

_ Fique um tempo fora. Uma semana, ou até um mês. Talvez isso a ajude um pouco.

Sarah parecia ter gostado da idéia. Foram poucas às vezes em que ela saiu de Seylor. Aliás, ela nem lembrava mais a última vez em que ficou longe da terra natal.

_ Talvez você tenha razão. Não seria má idéia. Mas eu não posso sair daqui no momento.

_ Por que não?

_ Meu pai está fora do reino. Eu não posso deixar este lugar, caso aconteça alguma coisa grave por aqui.

_ Sarah! Sabe muito bem que seu pai não precisa de você como uma segunda autoridade. Ele tem uma outra pessoa.

_ Eu sei! Mas eu não gosto de vê-lo no comando. Deus sabe lá o que aquele homem é capaz de fazer.

_ Eu também não gosto dele. Mas se acontecer alguma coisa, sabe que pode contar com Nicolai e os outros.

Sarah pensou um pouco e aproximou-se de Melvin.

_ Tem razão. Não há com o que me preocupar. Eu tenho amigos em que posso confiar. Amigos como você. E por sinal,...você é o meu melhor amigo.

Melvin ficou com as bochechas um pouco avermelhadas após a fala de Sarah. Ele pôs a mão na parte de trás da cabeça e deu um sorriso meio que envergonhado.

_ Não seja exagerada. Eu sou apenas um amigo conselheiro. Eu só quero ver minha amiga feliz como sempre foi.

Sarah também deu um sorriso. No fundo ela sentia um pouco de amor por aquela pessoa. Olhando o rosto de Melvin, ele também parecia esconder esse sentimento.

_ Fico feliz de ser sua amiga. _ Sarah aproximou sua boca até a face de Melvin e beijou-o no rosto. E depois se afastou _ Boa noite!

_ Boa noite! _ disse Melvin vendo Sarah se afastando em direção as ruas do reino. Ele colocou a mão no rosto e deu um leve sorriso, enquanto olhava aquela mulher indo embora.

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Sarah andava pelos corredores do castelo em direção ao seu quarto. Estava doida por uma noite de sono. Um homem vinha do lado oposto.

_ Sarah! _ disse Nicolai se aproximando. _ Parece que está com um rosto melhor.

_ Sim. Um amigo me alegrou um pouco hoje.

_ Amigo?

_ O Melvin me achou na praia e me deu uns conselhos. Eu realmente estava sendo dramática. Não há motivo pra aquela tristeza toda.

Nicolai fez uma cara séria que Sarah nem percebeu.

NICOLAI: Impossível! Como Melvin a achou? Eu não contei pra ele.

_ Boa noite, Nicolai! _ disse Sarah começando a andar. Nicolai mudou a fisionomia de sua cara para responder.

_ Boa noite Sarah! _ disse se despedindo com a mão. Ao virar para frente, seu olhar voltou a ficar frio. _ Tenho que ficar de olho naquele mago.

CONTINUA...