A Casa Monstro
Cresci ouvindo histórias sobre o homem do saco, e que se eu saísse sozinho de noite, ele poderia me sequestrar. Mas nunca o vi, por mais que saísse de casa tarde da noite por curiosidade. Nem uivos de lobisomem, nunca tive medo de nenhuma dessas lendas... Até aquele dia. Na verdade, não era sobre nenhuma criatura, mas sim uma casa. Eu morava em um bairro que ficava no interior de São Paulo. De noite, minha rua ficava vazia, todos ficavam dentro de suas casas e não colocavam nem a cabeça para fora da janela.
Em uma dessas noites, decidi que iria sair escondido. Eu gostava do vazio que a noite trazia, e queria ter a chance de correr sem nenhum adulto me impedir. Pois então, esperei até que meus pais fossem dormir e escapei pela janela do meu quarto. Foi bom sentir a brisa gelada da noite bater em meu rosto enquanto corria pela rua. Quando me dei conta, já estava longe de casa. Nenhum carro passava na rua, ninguém sequer andava nela, nem o guarda noturno com o assobio que sua moto fazia. Era uma noite estranha. Foi quando acabei indo até uma rua sem fim. Nunca tinha percebido ela antes, meu coração disparou de alegria. Eu tinha feito uma nova descoberta!
No meio dessa rua havia uma casa muito antiga. Eu fiquei arrepiado de olhar a casa escondida em uma sombra noturna. Ela era bem velha, eu acho que ninguém morava nela, afinal, algumas das janelas estavam quebradas e pasmem, a porta estava aberta. Tive a impressão de que havia alguém ali no escuro que eu não conseguia enxergar me chamando. Quando descobri o que estava acontecendo, pasmem de novo, era muito pior do que ter alguém dentro daquela casa, era a própria casa me chamando. Senti uma corrente de ar sair daquelas portas, e foi como se uma voz vinda dela dissesse: “Venha, entre”. Naquele momento, senti meu corpo arrepiar por completo.
Percebi o que aquela estranha arquitetura formava, as janelas faziam perfeito olhos enquanto a porta, no centro, formava uma gigantesca boca. Naquele momento eu saí correndo de volta para minha casa, nunca corri tanto como naquele dia. Contudo, naquela noite eu demorei mais tempo para chegar na minha casa. É como aqueles sonhos em que precisamos correr o mais rápido possível, mas temos a impressão de não sair do lugar.
Finalmente consegui entrar no meu quarto de novo sem que meus pais percebessem. Na manhã seguinte, fui a padaria para comprar pão. Decidi passar por aquela rua de novo, eu estava com mais coragem que na noite anterior. Pasmem de novo com minha descoberta! A casa não estava mais lá, era apenas um terreno vazio cercado por mato e entulho. Não pude deixar de pensar: Será que tudo que eu passei foi real? Ou era apenas um sonho? Será que algum dia irei encontrá-la de novo?