Capítulo I -Um pouco de vida-
Alex desperta de seu sono, seus olhos teimam em ficarem abertos, mas ele se empenha nesse desafio difícil de acordar cedo, pelo menos para ele é difícil, o ruivo ergue a parte superior de seu corpo que, agora, está despida pois seu lençol foi movido para o lado, seu cabelo longo e avermelhado não chega na metade de suas costas, mas passa de seus ombros, ele levanta seu joelho direito e apoia seu cotovelo nele e tenta se manter acordado, afinal, a noite passada não foi das suas melhores, ele se pega pensando em sua pequena e gentil ente querida e não consegue deixar a preocupação de lado.
(Alex em pensamento): Berry...
Ele se levanta da cama e vai para o banheiro que fica no segundo andar onde seu quarto está, a porta do banheiro está do lado esquerdo da porta do quarto de Alex em um pequeno corredor, logo na frente de sua porta, depois do curto corredor, está o quarto de seu primo mais novo, Oliver que é certo que ainda não acordou, Alex entra no banheiro, escova os dentes ainda quase dormindo em pé, toma seu banho revigorante agora estando mais acordado e meio chateado por isso pois a sensação de sono, ainda que conveniente, é bem vinda nessa parte da manhã, ele escova seu cabelo e ao sair do banheiro, sente a brisa fresca de uma cidade litorânea, já que as paredes são abertas e o teto é sustentado somente por pilares cilíndricos nas extremidades e no meio deixando a sala do segundo andar livre, dá pra ver o mar de onde ele está assim como uma boa parte do bairro, ele desce as escadas e quando percebe devido a sua visão aguçada em seus olhos escuros, três fatias de pão com manteiga voam na direção dele, o ruivo cria uma chama na ponta de seu dedo indicador e faz um arco com ele, torrando assim, as fatias que caem em sua mão, elas foram jogadas por seu primo do meio, Bash, que acena pra ele e o mais velho retribui, quando Alex se senta na mesa, Bash se levanta já terminando seu café da manhã e já vestido para ir pra escola, Alex esquenta seu copo de achocolatado.
(Alex): Do jeito que eu gosto, quente.
(Bash): No me digas…
O ruivo sabia que a fala espanhola era, na opinião de seu primo moreno, linda demais e por isso Bash falava a maior parte do tempo em espanhol, além de ser uma língua musical, o forte dele, também era sua característica de querer ser único, já que ele deseja se tornar músico um dia, Bash sobe as escadas e entra no quarto do primo mais novo, Oliver, que ainda está dormindo como se isso fosse uma surpresa pra alguém, o moreno o chama, o chama de novo sem resultado, ele então pega a mão do loiro dorminhoco e a coloca perto da tomada, Oliver leva um choque e fica em pé na cama com seus olhos azuis claros arregalados.
(Oliver): Agora eu acordei! ... mas... pô Bash, não precisava ter radicalizado.
(Bash): Bien, ahora levántate que tenemos que ir a la escuela.
Bash vai para seu quarto, no primeiro andar, ao lado da sala de estar, ele põe seu uniforme e abre sua mochila, seus livros na estante voam até irem parar dentro da bolsa de estudante com o seu poder de controlar o vento, em meio aos livros, ele vê o presente que sua irmã mais nova lhe deu anos atrás, uma já desgastada, flauta, ele a segura com firmeza, tanta firmeza quanto faz para não derramar uma lágrima de seus olhos verdes escuros.
(Bash em pensamento): Berry…
Ele sai de seu quarto quando Alex desce as escadas arrumado para o dia de aula, Oliver está esperando os dois na saída da casa já uniformizado, os três vão andando até a escola juntos como de costume, eles são primos, mas, por terem em alguns aspectos físicos parecidos e viverem juntos, muitos acreditam que sejam irmãos, esses garotos formam o grupo dos demolition boys, um grupo já bem conhecido na escola.
Eles usam algumas peças de roupas diferentes já que a escola permite essas peças e ela mesma manda confeccioná-las, os garotos têm que usar uma gravata curta azul escura, calça da mesma cor, tênis preto, camisa de abotoar com gola e pontas das mangas também azul escuras, Bash usa uma boina da mesma cor com o escudo da escola, esse escudo está no peito esquerdo de todas as camisas, Oliver prefere usar essa camisa encurtando as mangas e Alex não se dá ao trabalho de dar um nó decente na sua gravata.
Enquanto isso, na casa das blitz street girls, Kamui está de pernas cruzadas com um livro de filosofia aberto em seu colo, aproveitando a luz do sol que entra pela janela, a luz do sol enaltece seus cabelos longos cor-de-rosa claros e seus olhos bicolores, seu olho esquerdo é mais claro que o direito, os dois tem a cor de seu cabelo, mas sendo menos opacos, sentada na sala de estar com seu sorriso sendo sincero, mas ele logo se desfaz, quando ela vê sua irmã do meio deitada no gramado do jardim, o café da manhã de Kaoru é sentir o aroma matutino da grama, algo peculiar devido ao seu nome que significa, aroma, ela também se alimenta de uma fruta gelada tirada da geladeira logo de manhã, o gosto gelado que a cada mordida vai ficando mais e mais quente é algo que ela adora, ela morde a goiaba e volta a sentir o cheiro da grama e o vento batendo nela, Kamui abre a porta da casa com agressividade, as duas se olham por um segundo e isso é o suficiente para que elas entendam o que a outra quer dizer, Kaoru levanta, morde a fruta pela última vez a comendo por completo e vai pra dentro de casa.
(Kaoru): Ok, ok, relaxa, tô indo.
Kimi, a irmã mais nova, estava sentada à mesa com Kamui, ela está usando seus poderes de controlar a água para tirar os esmaltes dos frascos e fazê-los girar no ar formando redemoinhos coloridos que se movimentam uniformemente pelos comandos dados pelo seu dedo indicador.
(Kimi): Qual desses aqui é melhor hein?
(Kamui): Aquele que vai fazer você não se atrasar hoje.
(Kimi): Rapidinho eu me arrumo, calma.
Kamui vai para seu quarto, Kimi fica sozinha na sala com seu uniforme para ir pra escola já em seu corpo, ela e Kaoru sabem o quanto Kamui pode ser autoritária e sem noção dos sentimentos dos demais, afinal, pra ela, o que precisa ser feito, deve ser feito independentemente de qualquer coisa, o que acabava por gerar vários desentendimentos por parte de suas próprias irmãs, familiares, colegas de classe e até mesmo alguns dos superiores como professores e outras autoridades, talvez isso não fosse de toda a culpa dela, mas de sua criação extremamente rígida, afinal, na família Field, apenas os melhores dos melhores recebem reconhecimento de grandes atos, logo mais, Kamui é a primeira a terminar de se arrumar, ela fica esperando as demais na porta da casa, elas saem juntas com a irmã de longos cabelos rosados estando na frente das outras duas.
O uniforme feminino é parecido com o dos garotos, mas elas têm opções como poderem usar saias mais longas ao invés de calças como é o caso de Kamui e Kimi, elas também não têm gravatas, apenas um laço singelo para estar amarrado de baixo da gola, Kimi está usando um chapéu clochê confeccionado pela escola.
(Kamui): Aliás…
(Kaoru): Lá vem ponteiro, cuidado.
Kaoru fala isso ironizando para Kimi que coloca os dedos nos lábios tentando não rir.
(Kamui): Fiquei sabendo que você, Kaoru, está frequentando uma sorveteria onde um certo moleque metido a músico trabalha.
Kimi faz uma expressão de “Mentira! Que babado!” ficando bem animada ao saber dessa fofoca com seus olhos amarelados brilhando.
(Kamui): Eu não gostei de saber disso, fique sabendo.
(Kaoru): Não preciso da sua aprovação pra nada, saiba disso e fique no seu canto.
A irmã mais velha se coloca na frente da irmã do meio bruscamente tentando parecer uma figura cheia de autoridade, as duas se encaram de forma séria, os olhos escuros de Kaoru são pressionados para ela ficar com uma expressão mais séria e Kimi é obrigada a se colocar no meio delas para que não saia uma briga dali.
(Kimi): Meninas, a escola, vamos logo por favor…
(Kamui): Nos falamos depois...
(Kaoru): Só se eu tiver afim de falar contigo.
Kamui, por ser muito orgulhosa de sua família, um nome que carrega vários feitos, ela se sente superior até demais em alguns casos, ela odiava ser contrariada seja no caso que for, na rua ao lado, os demolition boys estão indo pra escola.
(Bash): ¿Aún tienes sueño Oliver?
(Oliver): Pois é né…
(Alex): Eu avisei pra não ficar a noite toda vendo filmes, mudando de assunto, vocês acham que dá pra gente fazer hora extra na sorveteria?
(Bash): Talvez, é possível que sim.
Os primos percebem a mudança na fala de Bash, somente quando ele está mentalmente ou emocionalmente afetado ele volta a falar em português, ele tem que parar para se concentrar na sua fala espanhola, e eles sabem o por que ele ficou abalado de repente, eles precisam arrumar dinheiro suficiente para ajudar a irmã mais nova de Bash, Berry, que está hospitalizada, os dois times chegam na entrada da escola mal percebendo a proximidade do outro, os demais alunos se afastam com medo de serem pegos no fogo cruzado, afinal, eles conhecem as peças, esses dois times não se bicam de jeito algum, Kimi e Oliver não estão com paciência pra isso hoje e passam correndo direto pra dentro da escola correndo pela entrada, alguns professores chegam bem à tempo de parar os outros quatro antes que eles começassem a brigar de verdade, parece que o dia vai começar calmo, as primeiras aulas vão bem e o horário do intervalo chega sendo bem recebido, Oliver não sai da sala, ele está dormindo sentado na cadeira usando seu braço direito como travesseiro, os olhos dele se mexem mesmo fechados, como se eles fossem forçados a permanecer fechados com as sobrancelhas dele ficando franzinas.
---Oliver está em um ambiente completamente preto, não importa para qual lado ele dirija sua atenção, tudo está preto, suas pernas estão geladas, uma névoa de cores mistas entre branco, cinza e prata ronda todo o chão daquele lugar, essa névoa gélida se estende até onde os olhos alcançam, seja para qual horizonte ele olhe, a névoa está lá alcançando sua visão, o corpo do garoto está cheio de feridas sérias, arranhões feitos por algum animal selvagem, furos provocados por alguma arma letal e machucados causados por algum impacto muito forte, com as feridas, a única coisa que mantém o corpo dele aquecido, não o deixando ser dominado pelo frio que está aquele lugar, é o seu próprio sangue que serve de aquecedor.
Oliver nota que bem na sua frente há um ser obscuro, uma criatura feita de sombras com olhos profundamente vermelhos o observa sorrindo, o braço direito dele está inutilizado pelas feridas que sofreu, ele concentra sua energia em seu punho esquerdo, a eletricidade que ele consegue acumular é tanta que seu punho cerrado desaparece em meio aos raios emanados dele. A criatura sombria avança na direção dele sorrindo sadicamente, o garoto desfere um soco para a frente disparando assim um relâmpago de seu punho, o ser misterioso desvia do ataque de Oliver facilmente o serpenteando com muita graça e agilidade, o ser, golpeia seu alvo na barriga transpassando assim seu corpo e deixando o garoto com um buraco em seu troco o fazendo cair morto no chão enevoado.---
Oliver acorda erguendo a parte superior de seu corpo bruscamente para trás como se tivesse acabado de levar um susto, o que de fato aconteceu, ele põe a mão no coração para tentar se acalmar, mas sua respiração está muito rápida, ele sente frio e aflição.
(Oliver): Mas… o que… aconteceu? Que sonho foi esse?
Bash está sentado na sombra de uma árvore, a copa das folhas faz um show de luzes naturais que ao olhar para cima enquanto ele toca sua flauta, proporciona um ambiente ideal, Bash está praticando sua música de maneira natural e despreocupada, Kaoru está atrás de uma parede ao lado de uma porta que, se estivesse aberta, eles podiam ver um ao outro, ela está de costas para a parede ouvindo a melodia de Bash, do nada, ele para de tocar a flauta.
(Kaoru em pensamento): Ele errou a nota?
Alex aparece lá pra ficar do lado dele, o ruivo está segurando um pastel em uma mão e um refrigerante em outra.
(Alex): Fala bicho.
(Bash): E aí.
(Kaoru em pensamento): Ele falou português? O que aconteceu?
Os dois parentes estão com uma feição de aflição em seus rostos, eles estão cabisbaixos, eles demoram para falarem sequer uma única palavra.
(Alex): É a Berry né?
(Kaoru em pensamento): Berry…? Mas ela… ela morreu.
(Bash): É, eu… nós estamos tentando salvar ela, mas…
(Kaoru): Como é que é!? Ela… ela tá viva…?
Kaoru dá alguns passos afastando-se da porta estando um pouco atordoada pelo que acabara de ouvir e sai dali correndo para dar a notícia às suas irmãs antes que o sinal do intervalo toque de novo.
(Alex): Mas o que? Me fala cara.
(Bash): Eu… não… consigo ver… ela lá na frente…
Bash chora de tristeza por sua irmã mais nova, ele se apoia nos ombros de seu primo, melhor amigo e irmão de criação, Alex, seu líder de confiança.
(Alex): Nós… todos nós… estamos tentando salvar ela… não se preocupa cara, é só saudade… isso… vai passar e nós vamos ficar todos juntos de novo.
Como lidar com a pressão de impotência diante de uma adversidade esmagadora? Isso, apenas quem sofre no exato momento pode responder.