Brigadeiro a Flores - Cap. 41: Novo emprego

Erva pesquisou lugares pela internet para conseguir advogar, mas não era formada ainda e os estágios não davam para conciliar ainda com a faculdade. Eu sabia! Mas não custava tentar. Ela disse andando pelo centro, enquanto matava os períodos para poder procurar emprego. Eu poderia trancar algumas disciplinas, adiar a faculdade. Talvez seja um meio viável de conseguir ajudar em casa.

"Moça!" Um rapaz passou e lhe entregou um folheto. Erva pegou e olhou sem interesse, mas arregalou os olhos para as palavras garrafais: EMPRESTAMOS DINHEIRO! Não precisa de garantia*, nem carteira assinada. Pode ser negativado. Venha conferir!

Essa pode ser a solução, eu posso dividir em várias vezes para pagar e ajudo minha família. "Moço!" Erva gritou e foi atrás do rapaz. "Você pode me levar lá?"

"Huum claro! Você faz o quê?"

"Faculdade, sou estudante!" Erva respondeu prontamente.

Ele olhou para os lados. "Huuum certo! Vamos!"

Erva foi seguindo o rapaz e ele entrou em um prédio um pouco escuro e com aspecto sujo. Ela não se importou, estava ansiosa para conseguir o dinheiro. "Entre!" Ele abriu uma porta e era uma sala com uma mesa e notebook. Atrás da mesa, sentado, estava um homem de barba. "Ela veio pelo anúncio!"

"Aaah sim! Sente-se!" Ele apontou a cadeira na frente. Erva se sentou. "Bom, o que faz?"

"Sou estudante!"

"Certo! E de quanto precisa?"

"Esse valor!" Erva passou um papel para o homem.

"Huuum não é tanto assim."

"É para ajudar em casa, com aluguel e outras dívidas".

"Entendo. Bom, de qualquer forma, precisamos de uma garantia!"

"Mas no panfleto diz sem garantias!"

"Tem um asterisco, não viu?"

Erva olhou o panfleto novamente e percebeu o pequeno asterisco. Ela leu a frase que ele indicava: caso não tenha garantia solicitamos trabalhos manuais. "Trabalhos manuais?"

"Sim, você precisa entregar um pacote para a gente e então te emprestamos o dinheiro. É preciso pagar em 3 meses tudo."

"Isso não faz sentido."

"Se não quer, é porque não está desesperada! Existem muitas pessoas aí fora dispostas a dinheiro fácil, se você não quer, é só sair!"

"Eu..."

"Parado! Parado!" Erva ouviu umas pessoas gritando no corredor. O homem a sua frente arregalou os olhos, e não deu tempo de tomar nenhuma ação, alguns homens de preto entraram apontando armas e Erva ficou assustada. "No chão, garota! No chão!" Erva obedeceu desesperada. Outros foram para cima do homem de barba e já o jogaram no chão e prenderam as mãos dele nas costas por algemas. "Levem ele daqui!" Erva ouviu dizerem, ela só olhava para o chão, com medo. "O que você está fazendo aqui garota?"

"Ela não é nada! Só veio pedir empréstimo!"

"Sim, isso mesmo! Eu não sei de nada!" Ela confirmou o que disseram.

"Levante-se!".

Com o coração acelerado e tremendo, Erva levantou e olhou para o homem alto, forte e de uniforme e colete preto a sua frente. Ela não reconheceu que tipo de profissionais eram. "E-eu não sabia que era ilegal aqui!" Ela disse.

"Ela veio por causa do panfleto!" O rapaz que a trouxe ali disse para o homem de colete.

"Sim! Você! Você me trouxe aqui!" Erva disse indignada.

"Desculpe, fazia parte da ação!"

"Me meter nesta merda?" Ela já havia se revoltado e esquecido o medo.

"Precisávamos de uma declaração!"

"Mas que diacho de declaração, o quê!? Você me envolveu em algo perigoso! Onde já se viu envolver um civil em uma operação?"

"Eu avisei". O rapaz disse calmo olhando para o homem que pedira para Erva levantar. Ela então olhou para ele novamente, agora brava.

"A senhorita não precisa se preocupar. Não se meteu em encrenca e nem vai. Aqui!" Ele entregou um cheque para Erva com a quantia que ela tinha dito que precisava para o homem que fora preso. "É só aceitar e ficar calada sobre essa operação. Ninguém sabe de nada, ninguém se machuca".

Erva franziu a testa. "Vocês não são policiais?"

"É só aceitar e ficar quieta!"

Erva olhou para o rapaz e ele apontou o cheque com a cabeça, e depois deu de ombros. Erva olhou desconfiada e pegou o cheque. "Aquele homem me viu e se..."

"Não se preocupe, ele não vai fazer nada! Agora vá embora!"

"Certo!" Erva respirou fundo, pegou sua mochila e saiu rápido do local. Após correr para sair do prédio, ela se sentou em uma praça. O que foi isso? Ela pegou o cheque e viu que havia a quantia que precisava. Será que isso é de verdade? Por hora serve mas... Ela respirou fundo e apoiou a cabeça nas mãos, olhando para o chão. O que foi isso?

"Desculpe ter te assustado."

Erva virou rapidamente para o lado se assustando, e levantando a mão na posição de soco, mas não fez nada. O rapaz que a levou para o local de empréstimo estava em pé com dois copos de cafés da Starbucks. Ele estendeu um para ela. Erva abaixou o braço e relaxou.

"Não quero!" Disse brava.

"É um pedido de desculpas".

"E você acha que um café resolve toda a situação que me fez passar?"

"Eu sei que não, mas pelo menos você toma algo quente, pois está um pouco frio!" Ele disse se sentando perto dela.

"Eu não estou com frio graças ao pico de adrenalina que você me fez chegar." Ela rebateu.

"Ok, já entendi. Vou deixar aqui do lado de qualquer forma." Ele colocou o copo entre eles e tomou um gole do seu. "O cheque tem fundo, então pode depositar quando quiser."

"Quem trabalha com cheque hoje em dia?"

"Você queria que a gente pedisse o seu pix?" Ele disse irônico e Erva o olhou brava.

"Eu queria que não tivesse me metido nesta."

"Teoricamente você quem se meteu".

"O quê?" Ela gritou indignada.

"Você foi atrás de mim. Se não estivesse desesperada por dinheiro, não teria se metido nisso!"

"Você é estúpido? Quem no mundo não é desesperado por dinheiro? Você sabe como é a nossa população? Você é ridículo!"

"Ok, você tem razão, mas se fosse mais esperta, desconfiaria de panfletos como aquele. Quem empresta dinheiro tão facilmente assim? Você realmente faz faculdade?"

"Ai cara, eu não sou obrigada a ficar ouvindo essas merdas de você! Eu estou desesperada, preciso ajudar minha família! Você sabe o que é isso? Idiota!"

"Você é muito agressiva, sabia?"

Erva revirou os olhos.

"Olha, se quiser eu posso te arrumar um emprego."

"Não quero nada que venha de você!"

"É um emprego digno, juro! Tem uma hamburgueria que conheço o dono. Fica em Moema. Eles podem te empregar. Só acho que não será fixo, geralmente eles precisam de pessoas à noite no fim de semana. Será um bico, se te ajudar." Ele falou calmo, tomando um gole de café.

"Não acredito em você! Por que iria me ajudar agora?"

"Você quer dinheiro para ajudar sua família. Me pareceu mesmo preocupada com eles. E..." ele se levantou e jogou o copo no lixo próximo. "E eu fui contra esta operação desde o início. Envolver pessoas que não tem nada a ver não é a tática mais apropriada. Só quero me desculpar mesmo por termos usado da sua boa fé." Erva ainda o olhou desconfiada, mas estava mais calma. "Pegue! Este é meu cartão!" Ele lhe estendeu o cartão azul escuro. Erva pegou. "Me manda um whats, vamos nos ver amanhã a noite lá, te apresento e vocês conversam sobre. Se quiser ter certeza que não estou mentindo, procure no Google por Mordida Certa Moema. Só não te levo agora, pois tenho que fazer umas coisas. Mas espero te ver! Fique bem!" Ele sorriu e se afastou.

Erva olhou o cartão e decidiu procurar sobre o local antes de tomar uma atitude.

"Você veio!" O rapaz, que no cartão dizia Gustavo, se aproximou ao ver Erva chegar.

"Eu preciso de emprego. Vi que esse lugar existia se verdade. Por isso vim."

"Que ótimo! Vamos entrar!" Ele disse abrindo a porta para ela.

O local estava vazio. No balcão havia um homem de blusa de frio e óculos, que sorriu ao ver Gustavo entrar. "Guga!! Veio ver como as coisas andam?"

"Não! Este daqui é o Mauro, um dos sócios da Hamburgueria. Esta é Erva, a menina que te falei!" Gustavo apresentou os dois.

"Olá!" Erva disse estendendo a mão.

"Aaah sim! Prazer! O Guga me falou de você. Está a procura de emprego, né?"

"Sim sim! Seria de muita ajuda se conseguisse algo!"

"Claro, claro! Mas bom, foi o que disse para ele,  precisamos de pessoas mas apenas no fim de semana. Se não tiver problema para você, seria na sexta e no sábado à noite. Pago as duas diárias no sábado, dou vale transporte e caso queira, pode levar para casa hambúrguer e fritas."

"Nossa, já é de grande ajuda! Eu ficarei muito feliz e agradecida se puder começar o mais breve possível!"

"Então está ótimo! Pode começar nesta sexta?"

"Com certeza!"

"Se quiser, pode vir na quinta observar e conhecer! O que acha?" Gustavo falou com um sorriso.

Erva olhou para ele e para o Mauro que balançou a cabeça positivamente. Ela sorriu. "Sim!"

"Bom, está combinado! Bem-vinda à família!"

Erva apertou a mão de Mauro e ficou muito feliz. Gustavo a acompanhou à saída. "Huuum muito obrigada mesmo! Foi bem rápido até!"

"Quem tem contatos, tem tudo".

"Sim! Eu nem sei como te agradecer."

"Não precisa! Dê o seu melhor e ajude sua família."

"Sim!" Erva estava tão feliz que queria pular. "Bom, eu já vou indo!"

"Quer que te leve? Meu carro está ali!"

"Não precisa! Eu vou pegar ônibus."

"Jura?"

"Sim, não é tão longe."

"Certo! Vou te acompanhar até o ponto então, tudo bem?"

"Aaah tudo. Obrigada!"

"Você parece se importar muito com sua família!"

"Eles são tudo para mim".

"Eu entendo! Minha família também é importante para mim, apesar de eles serem estranhos."

"Estranhos?"

"Sim, é difícil explicar, mas eles não são normais!"

Erva deu risada "Mas quem é normal neste mundo? Conheço tantas pessoas fora da realidade que talvez nem me espantaria com seu não normal." Ela disse se lembrando dos alunos da John e dos F4.

"Eu queria que não se importasse mesmo."

"O que eles têm de não normal?"

"Eles estão fora do padrão da sociedade!"

"Aaah os meus conhecidos são o padrão e são horríveis!"

"Sério?"

"Siiiiim! Enfim, não importa se não é padrão, se eles te deixam felizes e estão sempre com você, é o que importa! Eu também não sou padrão, nem minha família, e somos felizes e nos ajudamos sempre!" Erva sorriu.

"Você é incrível!" Ele disse lhe admirando, Erva ficou sem graça.

"Meu ônibus está vindo!"

"Nos vemos quinta aqui no Mordida, tudo bem?"

"Aaah, você vai vir também?"

"Sim, vou te ajudar até ficar certo tudo!"

"Muito obrigada, Gustavo, você está me ajudando muito!"

Erva entrou no ônibus e ele ficou esperando ele partir.

Na quinta à noite, Erva saiu do trabalho da Brigadeiria e foi direto para o Mordida.

"Oi!"

"Oi!"

"Huuum você está bem arrumado!" Ela disse olhando para Gustavo que estava de polo, jaqueta e calça jeans preta. Enquanto ela estava de legging, blusa básica comprida, cabelo no rabo-de-cavalo, blusa moletom e tênis.

Ele sorriu. "Não é nada. Eu só peguei o que vi. Mas você, está vindo do seu outro trabalho ou da faculdade?"

"Do meu outro trabalho!"

"Entendi. Vamos entrar?"

"Claro".

Diferente do outro dia, o local estava cheio. Erva viu que tinha fila de espera, mas Gustavo não teve que esperar e já foi levado com Erva para uma mesa.

"Ah, eu achei que ia observar." Erva perguntou.

"Claro! Pensei apenas da gente comer também."

"Huuuum"

"Não precisa ficar desconfiada. Juro que é apenas comer, conversar. Você observa o público, o atendimento, depois te levo para a cozinha para ver e pronto! Juro que não estou tentando nada!"

"Certo!" Erva disse meio incerta sobre o que ele falou.

Eles pediram entrada, hambúrguer e bebida. Erva se concentrava no atendimento, conversou com a garçonete que a atendeu, depois eles foram para a cozinha, encontram com Mauro que mostrou tudo para ela. Finalmente, ela foi embora, Gustavo a acompanhou.

"Hoje eu vou te levar, tudo bem?"

"Certo!"

"Meu carro está ali!" Gustavo apontou para um volvo preto. "Coloque aqui o endereço para eu te levar, por favor?" Erva digitou o endereço no app do celular de Gustavo.

"Huuum você conhece o dono tão intimamente assim?" Erva perguntou no caminho tentando entender como tudo foi tão fácil.

"Na verdade, eu sou sócio também". Gustavo disse e Erva ergueu as sobrancelhas, entendendo a situação. "Eu só não te disse antes, pois fiquei com receio de você não aceitar".

"Por quê?" Erva não entendeu o raciocínio de Gustavo.

"Sei lá! Como você disse que se meteu em encrenca por minha causa, talvez achasse que eu a meteria em encrenca aqui também."

"Entendi, faz sentido".

"A verdade é que você me encantou com seu jeitinho de ser". Erva o olhou surpresa. "Não que eu esteja com segundas intenções, não me julgue." Gustavo já se justificou ao ver a expressão de Erva. "É só que você me pareceu uma pessoa muito esforçada para ajudar sua família, não tendo medo de brigar com pessoas para se proteger, sei lá, você me parece ser alguém que é bom ter por perto! Só senti isso!" Ele sorriu e Erva ficou em silêncio. "Não quero que fique uma situação estranha entre a gente. Mas podemos ser amigos, não podemos?"

"Achei que era isso que estávamos tendo." Erva soltou.

"Sim, claro! É o que temos! Desculpa. Não me entenda mal".

"Não irei! É só que somos amigos mesmo, tá? Não mais que isso".

"Claro, claro! Irei te ajudar como um amigo!" Gustavo sorriu e Erva correspondeu.

Erva saiu do carro e ficou pensando em tudo aquilo. Amigos! É isso. Gustavo é uma pessoa boa, apesar de nosso primeiro encontro ter sido estranho. Aliás, ainda não perguntei o que ele fazia aquele dia. Vou perguntar da próxima vez. Amanhã começo na hamburgueria. Novas experiências e mais dindin.

Erva foi dormir feliz, só não contava com o próximo dia.

"Erva! Você chegou, ainda bem!" Gabriela a esperava no hall da faculdade.

"Minha nossa, o que houve?" Erva disse preocupada.

"Diz que você pode fazer algo! Bernardo..." ela começou a chorar.

"O que houve?" Erva se preocupou mais ainda, seu coração pulou. "Diz logo!"

"Ele vai embora da faculdade, pediu transferência para Nova Iorque!"

"O quê?"