Brigadeiro a Flores - Cap. 26: Baleia

Bernardo estava muito empolgado com seu encontro com Erva. Ele nunca havia namorado, se quer gostado de alguém.

Dos F4, ele sempre fora o mais moleque, mimado, teimoso, arrogante e convencido. Essas características ou faziam as meninas que queriam ser paparicadas desistirem, já que elas percebiam que ele jamais se esforçaria para que gostassem dele, ou faziam com que elas se apaixonassem rapidamente, o que ele ficava sabendo pelos amigos ou quando elas se declaravam lhe dando um presente ou carta de amor, o que ele recusava no momento da declaração.

Seus amigos, principalmente Carlos e Fagundes, o ensinaram a pelo menos ouvir a declaração das meninas e agradecer, já que na infância, a primeira vez que alguém se declarou para ele, ele agiu grosseiramente.

Bernardo tinha 8 anos e estava com os F4 brincando no intervalo de merenda, quando uma menina de cabelos pretos compridos cobrindo uma parte do rosto, pálida, magrela e olhos azuis chegou perto dele e lhe mostrou um papel rosa. Ela estava tão nervosa que gritou "Bernardo, eu te fiz essa carta. Eu amo você!".

Todos que estavam perto deles dois arregalaram os olhos, e o garoto, que não gostava de ser surpreendido, agiu de forma agressiva: ele empurrou a garota no chão. "Que nojo, não quero que uma garota nojenta como você me ame. Você é feia! E eu não te dou permissão". E ele saiu correndo, deixando todo mundo lá rindo da garota.

Carlos e Fagundes foram treinando o pupilo deles, mas Bernardo nunca conseguiu sentir algo por um garota.

Na adolescência, por mais que ele achasse uma menina bonita, era apenas isso. Ele não tinha vontade de ter algo com ela.

Deu seu primeiro beijo com 14 anos, porque sentiu curiosidade do que os amigos falavam, mas não sentiu nada demais.

O fato de ele saber que nunca seria recusado, também era algo que contribuía para o desinteresse em relacionamentos.

Por as pessoas colocarem o fato de ser rico como uma qualidade dele, Bernardo sempre viu e entendeu que as pessoas se aproximavam por causa do dinheiro e status de sua família, o que ele odiava e não confiava nelas. Mais motivos por ele apenas andar com o F4 sua vida toda.

Mas ele não esperava encontrar uma garota que parecia não se importar com quem era os Assumpção e o tratar como um igual. Pelo menos para ele as atitudes de Erva demonstravam que ela o tratava como um igual.

"Você não vai nos dizer quem é a garota?" Carlos perguntou após pegar Bernardo procurando 'lugares românticos para primeiro encontro em São Paulo' e o cabelo enrolado confirmar que tinha um encontro.

"E por que vocês precisam saber?" Questionou.

"Porque nós somos a wiki viva para te dar conselhos". Disse Fagundes. "E isso depende de como é a garota. Se ela for romântica, tenho uma lista de restaurantes e hotéis para você a levá-la".

"Se ela for mais aventureira, tenho uma lista de lugares divertidos e hotéis para vocês irem". Disse Carlos.

"Se ela for mais natureza, tenho outra lista de parques e hotéis.".

"Por que sempre tem hotéis?"

"Para de ser tão inocente. Até parece que nunca levou uma mulher para cama". Fagundes falou e Bernardo cerrou os olhos, ficando sério e bravo. Realmente, apesar de ter beijado várias garotas na adolescência, ele nunca tinha transado, mas os amigos não precisavam saber disso.

"Vocês são estúpidos!"

"Aaah Be, para. Como ela é?"

"Vocês a conhecem."

"Conhecemos?"

"Então ela é da faculdade ou de alguma família do mercado financeiro. Huuum, deve ser uma garota de status. Já estou pensando em..."

"Não é nada disso!" Bernardo bufou. "Huuum... é a E..a". Ele disse envergonhado, não por ser ela, mas sim porque não gostava de falar de sentimentos. Se sentia bobo.

"Quem?"

"E..a".

"Para de ser besta, homem! Quem é ela?"

"A Erva! É a Erva Dana". Ele gritou e ficou vermelho feito um pimentão. Os meninos arregalaram os olhos e abriram a boca de surpresa. Depois sorriram por causa do jeito do amigo.

"Caraca, Ber!"

"Eu brincava e suspeitava, mas eu não tinha tanta fé que você gostava dela mesmo." Comentou Carlos. "Olha aí, está um pimentão de vergonha".

"Cala a boca".

"Eu estou mais incrédulo da Erva ter aceitado." Fagundes falou em meio às risadas. "Você sequestrou a família dela, foi?"

"Ou chantageou dela de outra forma?"

"Calem a boca!" Bernardo jogou uma almofada nos amigos. "Parece até que não me conhecem."

"O conhecemos muito bem, por isso estamos surpresos".

"Aff". Bernardo bufou balando a cabeça. "Não devia ter contado para vocês."

"Desculpa zoar, Be." Carlos sentou ao lado do amigo e passou o braço ao redor do ombro dele. "Mas agora fala sério, ela aceitou mesmo, não é?"

Bernardo irritado afastou o amigo que rua. "Claro que sim, Carlos! Pô, eu jamais a forçaria a algo. Ela disse 'ok'. E eu repeti para ela."

"Entendo. Bom, então vou te dar dicas."

"Muito fofo nosso menino crescendo". Fagundes zombou uma última vez.

Na universidade, Erva passou os dias da semana mais dentro das salas e biblioteca. Ela não foi mais ao terraço, pois a única vez que tentou pisar lá, na segunda-feira após Benício ter partido, seu coração apertou e ela chorou muito. Resolveu então enfiar ainda mais a cabeça nos livros para não pensar nele.

Ela tentou encontrar-se com Gabriela na hora do almoço, mas a garota disse que precisava estudar para uns projetos e mal conversou com Erva.

Os dias estavam solitários. Apesar de ter sido sozinha desde que entrara na John Safra, ela havia se acostumado nos últimos tempos com a nova amiga e Benício. Estar sem os dois, é vazio. Pensou enquanto esperava a próxima aula.

Aquela garota estúpida! Fiquei esperando todos esses dias para a ver pelos campus, mas não a encontrei. Só ela mesma para fazer eu me deslocar até a sala dela! Bernardo pensava. Onde ela está? Ah, ali. Ele entrou na sala estilo teatro grego onde Erva estava. Logo todos o olharam e começou o murmurinho.

Plaft.

Bernardo bateu a mão na mesa de Erva, que arregalou os olhos assustada e interrompeu seus pensamentos.

"O que...?"

"Sábado! Na Baleia da Faria Lima. Às 13h." O garoto falou nervoso e rápido. Virou as costas e se dirigiu para sair da sala.

"O... o... hã". Erva franziu a testa. O susto ainda estava ali, mas agora acompanhado do desentendimento. Ao seu redor as pessoas que ouvira estavam sem acreditar.

"Ele a convidou para um encontro?" Giulia dos clones disse em alto e bom tom. Erva virou para olhá-la. O que ela está dizendo?

"Minha nossa, o que foi que você fez?" Disse Magda.

"O quê?"

"Eu não acredito que o Bernardo está a fim de você?" Disse Úrsula.

"Do que você está falando?"

"Se aquilo não foi um pedido de encontro, foi o quê?" Giulia disse.

"Espero que ele queira pregar uma peça nela!"

"Por favor, senão eu não vou suportar isso."

"Nós ouvimos errado, ele deve estar fazendo um bullying".

"Verdade. Bernardo jamais convidaria ela para um encontro."

Erva passou a ignorar elas e só pensou no que estava acontecendo. O que esse idiota quis dizer com isso? Eu não irei para um lugar para ele me machucar. O que você está pensando Erva? Eu não iria paga nenhum lugar que ele me chamasse. Melhor esquecer.

"Mas você tem certeza que é para te fazer mal?" Bianca perguntou para a amiga que lhe contara tudo, assim que se viram.

"Eu não sei. Ele é esquisito."

"Eu entendo, é que..." Bianca lembrou de Bernardo na última festa. "É que ele estava bem preocupado contigo na última festa. Ele estava vomitado, mas mesmo assim eu vi o olhar de preocupação dele contigo."

"Você devia estar bêbada, amiga. Por que ele se preocuparia comigo?".

"Sei lá. Arrependido?"

"Aff não."

"Mas porque você estava com ele também?"

"Como assim?"

"Nós não comentamos daquele dia. Por que você estava com o Bernardo? O que conversaram?"

"Sei lá. Eu não lembro. Eu sei que tava andando, o encontrei, lembro dele pendi do desculpas e falando umas coisas, sei lá. Tudo borrão, sabe? E daí eu estava em casa contigo."

"Entendi. Mas ele te pediu desculpas então."

"Acho que sim. Deve ter sido por causa do que ele fez no terraço."

"Entendo." Bianca disse. "Mas... amiga, você não está curiosa sobre o que poderia ser?"

"Ah, na verdade não. Eu já pensei muito a respeito e independente do que for, eu não acho que será bom. E eu não vou desperdiçar minha folga com momentos ruins."

"Não entendi na verdade, por que seria ruim de qualquer forma?"

"Bom, mesmo que não seja bullying, que seja mesmo um encontro, eu não gosto dele. Não quero dar esperanças."

"Entendo."

"Como eu poderia gostar de alguém que só me fez mal. É impossível nós dois".

"Huum você está certa. Mas sei lá, poderia pelo menos dizer isso a ele."

"Aaah claro, eu vou chegar nele e dizer 'Bernardo, eu sei que você gosta de mim, mas eu não gosto de você, tudo bem? Siga sua vida'. Daí ele vira e me diz 'quem disse que gosto de você'", Erva falou a última frase fazendo uma voz grosa e Bianca riu, "vou ficar com cara de quê?"

"Certo".

"E eu nem sei se isso é um encontro. Talvez seja bullying. Só isso".

"Bom, você só vai descobrir se for. E de um jeito ou de outro, eu sei que você dá conta. Já deu tantas vezes." Bianca sorriu.

"Valeu, Bi. Mas no sábado eu também irei fazer compras com minha mãe. Ela precisa comprar tecidos no Brás e na José Paulino para uma encomenda. Enfim, eu não irei."

Sábado chegou e Erva saiu com sua mãe como combinado. O sol estava ardendo.

"Isso é tempo de chuva".

"Mãe, tá um puta sol."

"Mesmo assim, vem sol assim forte para vir chuva depois. Vamos comprar duas sombrinhas ali".

"Ok!"

As duas bateram perna desde às 10h da manhã. Dona Amélia foi ver tecido, mas também comprou umas roupinhas para ela, para o filho e para filha. Erva, que não gostava de gastar com coisas que achava que não precisava, experimentava as roupas rapidamente para dizer que não gostou, mas acabou levando duas blusinhas.

"Tira foto desse casaco aqui para mandar para o seu irmão."

"Tá!" Erva pegou o celular e ele estava desligado. "Droga, eu deixei carregando a noite toda."

"O que foi?"

"Meu celular acabou a bateria."

"Tá parecendo telefone fixo, só funciona na tomada."

"Eu vou trocar quando der, mãe."

"Não disse nada".

"Mas pensou!"

"Ai, garota." Dona Amélia resmungou. "Toma, tira foto com o meu e envia para o seu irmão. Tá um preço bom, quero saber se ele vai usar."

Erva pegou o celular e viu que marcava 14:30h. Nossa, já é esse horário? Huuum... seus pensamentos foram rapidamente em Bernardo. Para com isso, Erva. Ele já deve ter ido embora. Deve ter ficado bem bravo porque não cedi ao bullying. Ela pensou mais. Mas será que era bullying mesmo?

"Hey, Erva, já tirou?"

Sua mãe chamou sua atenção e ela dispersou seus pensamentos, se concentrando no momento atual.

O tempo fechou e como sua mãe dissera, choveu muito forte.

"Eu disse que ia chover. Vamos nos abrigar nessa loja, esperar diminuir um pouco para irmos embora." Erva aceitou e entrou em uma loja de meias com a mãe. Seus olhos encontraram o relógio na parede atrás da vendedora. 15:15h. "Finge que estamos vendo preço. Nessa chuva forte...".

"Mãe. Eu preciso ir."

"O quê?"

"Tenho que fazer algo rápido, te vejo em casa."

Erva saiu correndo da loja e foi para o metrô. Ela levou cerca de 1:10h mas chegou na Baleia.

É impossível que ele esteja aqui. Eu sou uma idiot... Erva interrompeu seu pensamentos ao ver Bernardo parado perto da baleia debaixo da chuva. "Por quê?".