Brigadeiro a Flores - Cap. 24: Por favor, fique!

Erva acordou com dor de cabeça e, apesar da mãe adorar ver a filha saindo com amigos, ela brigou com a garota ao chegar com Bianca em um Uber.

Bernardo até disse que levaria Erva, mas Bianca insistiu em ele deixá-la com ela, dado todo o histórico que a amiga sabia entre os dois.

Ela até tentou disfarçar a bebedeira da amiga ao chegar na casa dessa, mas não foi possível, Erva não conseguia parar em pé e Dona Amélia percebeu. O efeito de todas as N bebidas que tomou a tinha tomado por inteira.

Na segunda, Erva foi para escola com o seguinte pensamento "se eu não lembro, eu não fiz", afinal, ela sabia que se encontrasse com os F4, eles podiam usar suas ações bêbadas da festa contra ela. Tenho que esperar tudo deles. Mas eu também não devo nada para eles. Sei lá. Não me lembro de ter feito algo vergonhoso. Huuum pensando na festa... será que o Benício virá hoje para faculdade? Vou ao terraço no almoço, quem sabe eu o vejo.

Huum, ele não está aqui. Será que faltou? Queria tanto vê-lo. Hoje eu trouxe os lenços dele limpinhos. Sei que pode parecer um pretexto para puxar conversa, mas eu preciso devolver mesmo esses lenços. Mas também quero muito saber como ele está. Será que com a Sophie longe, eu teria alguma chance? Erva balançou a cabeça. Não, não. Eu não posso me aproveitar disso. Ou posso?

"Pelo visto esses lenços são muito importantes mesmo!"

Erva voltou para a realidade e percebeu que caminhara até a praça de alimentação sem perceber. Bernardo estava ao seu lado, olhando para os lenços em sua mão. Erva enfiou os lenços no bolso do casaco. E deu às costas ao garoto.

"Heeey". Ele a chamou e foi atrás dela. "Você não tem algo para me dizer, não?" Perguntou parando em frente a ela.

Erva franziu a testa. "Você bateu com a cabeça?"

Bernardo suspirou. "Você não se lembra, não é mesmo?"

"Não sei, o que eu deveria lembrar que diz respeito a você?" O garoto levou a mão ao rosto. "Huuum será que eu esqueci de te xingar hoje e você está com saudades?" Erva sorriu e Bernardo a olhou sério. "Brincadeira, até parece que você vai sentir saudades de mim". Bernardo ficou sem jeito e desviou olhar.

"Você é idiota!"

"Oxi" Erva disse não se tocando pelo jeito dele. "Diga logo o que você quer."

"Você realmente não se lembra da festa?"

"Só de coisas importantes, ou seja, o anúncio da Sophie".

"Você me irrita, sabe?" Uma veia saltou no pescoço de Bernardo.

"Então por que está conversando comigo?" Erva o afrontou. 

"Minha roupa, Erva, MINHA ROUPA!!" Ele disse irritado. "Você vomitou nela na festa! Você não se lembra disso?"

Erva se lembrou e sorriu sem jeito. "Hehehe verdade! Eu esqueci por completo. Você vai fazer algo comigo?"

"Óbvio que não." Ele falou bufando. "Pelo visto você esqueceu o que conversamos também."

"Desculpe, esqueci. Era algo importante?"

"Tudo o que falo é importante, idiota!"

"Na verdade não." Erva estava se divertindo com aquela conversa, o Bernardo irritado sem ela precisar ter se esforçado muito, a divertia. "Bom, eu vou indo, preciso fazer umas coisas".

"Ele não veio hoje." Bernardo disse e Erva travou. Ele sabe. "Benício deve estar com Sophie desde ontem."

"Eu... eu não estava..."

"Nem começa. Eu sei que está o procurando, senão não estaria com os lenços."

"Mesmo assim, isso não é da sua conta". A diversão tinha passado, Erva agora estava nervosa por ele ter acertado.

"Você está feliz, não está?"

A garota olhou séria para Bernardo.

"Todas as garotas estão! Afinal, a área está livre para chegar em Benício".

"Eu não..."

"Por favor, não minta. Eu não sou mais o mesmo de tempos atrás. Eu sei que gosta dele." Erva arregalou os olhos. "Se você se lembrasse do que conversamos, talvez me entenderia."

"O que quer dizer?"

"Nada" Bernardo disse passando a mão no pescoço. "Só pense melhor nas suas atitudes e no que está pensando a respeito desta situação. Benício não está feliz com isso tudo."

"Eu sei". As palavras pularam da boca de Erva. Ela se lembrou de como ele ficou na festa assim que Sophie fez o anúncio. O que eu estava pensando? Como sou egoísta! Caminho livre?! Idiota.

Quando Erva percebeu, estava sozinha, Bernardo havia se afastado.

Eu vou até a Sophie, preciso tentar algo. O Benício não merece sofrer.

Erva matou os últimos períodos e foi até a casa de Carlos, onde Sophie estava morando por causa de sua irmã.

"Que ótimo que você veio!" Disse a garota a recebendo em seu quarto cheio de caixas e malas.

"Precisava te ver".

"Ah, você sempre será bem-vinda." Sophie respondeu gentilmente.

"Obrigada, Sophie". Erva disse evitando olhá-la nos olhos. Eu preciso pedir a ela. "Huum, Bernardo disse que Benício..."

"Ele saiu agora a pouco para falar com minha mãe. As coisas estão..."

"Por quê?" Erva tomou coragem e questionou Sophie a olhando nos olhos. A garota por sua vez franziu a testa sem entender. "Digo, você tem tudo aqui e... você tem uma pessoa que te ama."

"Ah, Benício." Sophie falou calmamente, entendendo a situação.

"Você sabe dos sentimentos dele, você já me disse isso uma vez aqui neste quarto. Por que abandoná-lo?"

"Eu também te disse que só somos amigos." Sophie disse e Erva abaixou o olhar. Sophie suspirou. "Erva, eu entendo sua preocupação com o Benício."

"Eu nunca tinha o visto tão feliz e comunicativo como nesses dias. E é por sua causa".

"Eu sei. Mas o Ben é como um irmão pra mim. Eu não o vejo como homem."

Erva começou a pensar nos sentimentos de Benício e a chorar. "Por favor, fique! Não vá para Paris ou para África. Por favor!!" Ela não se aguentou em pé e se deixou cair de joelhos à frente de Sophie, chorando muito.

A mais velha sorriu em compaixão e se abaixou à frente de Erva. "Todas as garotas olhariam este momento como uma ótima oportunidade para dar em cima do Ben."

"Mas eu..."

"Não importa. Você estar aqui à minha frente preocupada com os sentimentos dele diz muito mais sobre o quão boa e empática você é. Acho que a pessoa com mais qualidades que já conheci."

"So..."

Sophie colocou uma mecha de cabelo de Erva atrás da orelha dela. "Está tudo bem. Ele vai ficar bem. Eu me preocupo com o Ben também, mas eu não posso deixar de viver meus sonhos por causa de uma pessoa, por mais que eu a ame." Erva começou a limpar o rosto, as palavras de Sophie eram carregadas de sentimentos. "Eu não quero que minha vida seja determinada pelo nome da minha família. Eu fingi muito até aqui ser alguém que não sou. Acho que você me entende sobre isso, não é?" Erva balançou a cabeça positivamente. Foi como ela se sentiu desde que entrou na John Safra. "Eu agradeço meus pais pelos privilégios que eles me concederam. Mas eu era privada de argumentar contra as coisas que via de errado, precisava ser uma dama e damas não podem brigar por causa de injustiças que vê. Não podia fazer voluntariado nas comunidades, pois era perigoso alguém me sequestrar. Não podia dizer algo que achava certo, pois podia soar para o mercado como algo negativo. Não podia me dedicar exclusivamente ao Direito, pois eu iria tocar os negócios da família, então precisava saber mais sobre administrar do que defender os direitos humanos por aí." Ela se levantou e ajudou Erva também a se levantar. "Não sei se você consegue me entender, mas eu quase não fiz faculdade, pois meu pai, todo tradicional, quis que eu casasse com um homem rico e influente para unir negócios."

"Eu sinto muito." Erva só soube dizer isso.

"Está tudo bem. Eu cansei de ser só vista como um rosto bonito. Antes de retornar ao Brasil, eu já havia dito que largaria a carreira de modelo para os meus agentes. Claro que conseguiram manter sigilo até a festa. Mas eu sei o que isso pode causar na minha família. A filhinha  do papai criou asas."

"Você já falou com eles sobre, né?"

"Sim, meu pai ficou irado. Está sem falar comigo desde então."

"Entendi".

"Minha mãe disse que já sabia. Mas enfim, eu quero poder tomar minhas decisões sem prejudicar alguém ou conseguir algo sem ter o peso do nome da minha família. Quero poder ajudar as pessoas, trabalhar com o Direito, só porque eu quero."

"Me desculpe, Sophie, eu fui um boba agora a pouco. Não pensei em..."

"Está tudo bem." Sophie sorriu. "E eu te admiro ainda mais após isso. Como disse, isso mostra mais você ainda para mim."

As duas sorriram e conversaram mais um pouco. Sophie deu os sapatos que Erva usou na festa de boas-vindas para ela. "Ótimos sapatos te levarão a ótimos lugares". Disse.

Erva não sabia, mas Benício foi ao seu encontro no quarto de Sophie assim que soube que ela chegou à casa, mas ele não se pronunciou no momento, pois a viu implorando para Sophie não largar o Brasil por causa dele. Ele não viu a conversa como um todo, saiu da presença delas assim que Erva se ajoelhou. Ele a esperou no portão da casa. 

"Você acha que estava me fazendo um bem?" Disse com a voz irritada assim que Erva passou pelo portão para a rua. Ela se virou assustada. "Por que você veio até aqui suplicar para Sophie não ir embora?"

"Ah, Benício. Eu...".

"Você tem que parar de ser intrometida, eu não pedi nada a você, para de se meter nos assuntos que não te dizerm respeito! Você é irritante!"

Erva não conseguiu conter as lágrimas que brotaram em seus olhos. Ela estava chocada com as falas de Benício, nunca o tinha visto com tanta raiva. "Eu não quis te humilhar eu só queria que ela soubesse o quanto você a ama."

"Eu já disse que não pedi nada."

"Mas você precisava fazer algo. Você precisava dizer o que sente."

"Isso diz respeito a mim e não a você."

"Então você simplesmente vai deixá-la ir?" Erva falou em um tom mais alto, mas com lágrimas em seu rosto. Benício continuava sério, mas agora em silêncio, ele não respondeu. "Você diz que sou irritante, mas e você? Você me irrita também em ser tão pacífico, em deixar as coisas rolarem sem agir em nome da sua felicidade. Você nunca deve ter falado que a ama, eu tenho certeza disso." Erva não pensava enquanto falava. Benício continuava em silêncio só a olhando sério. "Se você a ama, faça algo. Não perca a oportunidade de viver momentos lindos por medo de ser recusado. Eu... Eu só pensei que poderia ajudar a você ser feliz de alguma forma. Porque eu só quero isso, Benício. Só quero te ver sorrindo e alegre. Se a Sophie te traz isso, por que não tentar ficar com ela? Se abrir, arriscar, viver ao lado dela de alguma forma? Dizer a ela como se sente." Erva já falava mais calma. Seu peito doía. "Não quero que se arrependa do que não fez". Ela já olhava para baixo. O silêncio perdurou entre eles por algum momento, até que Erva, sem dizer nada, se virou e foi até o ponto de ônibus.