Conto da Escola em Machado de Assis, transformado em peça de teatro para minha escola.

CENA 01

CONTO DA ESCOLA – MACHADO DE ASSIS

Enquanto o professor Pilar lia o livro da escola e jornal, eu via pela janela da escoa os garotos do morro da Gamboa a soltar pitas. Queria estar lá entre os vadios meninos. Mas, de repente, escutei uma voz baixinha a me chamar, erra o filho do professor Pilar. Raimundo, tinha dificuldade de interpretar os textos, e resolveu apresentar a mim uma brilhante moeda de prata:

RAIMUNDO (No fim de algum tempo - dez ou doze minutos - Raimundo meteu a mão no bolso das calças e olhou para mim.): - Sabe o que tenho aqui?

EU (Olhou curioso para o que Raimundo iria tirar do bolso da calça): - Não.

RAIMUNDO (Diz bem baixinho, orgulho e feliz): - Uma pratinha que mamãe me deu.

EU (Ainda com boca aberta): - Hoje?

RAIMUNDO (Explica como ganhou a moeda da mãe dele): - Não, no outro dia, quando fiz anos...

EU (Ainda impressionado com a moeda brilhando na mão de Raimundo): - Pratinha de verdade?

RAIMUNDO (Exibindo a moeda com cuidado para o professor não ver): - De verdade.

RAIMUNDO (“E a pratinha fuzilava-lhe entre os dedos, como se fora diamante... Em verdade, se o mestre não visse nada, que mal havia? E ele não podia ver nada, estava agarrado aos jornais, lendo com fogo, com indignação...” ): - Ande, tome, dizia-me baixinho o filho. Tome, tome...

EU (“Relanceei olhos pela sala, e dei com os do Curvelo olhando para nós dois; disse ao Raimundo que esperasse. Pareceu-me que o Curvelo nos observava, então dissimulei ou fingi nada perceber para receber a moeda de prata.”)

Eu (Disse para mim mesmo: Curvelo iria entregar os dois ao mesmo da cola do filho e da ajuda que deu ao filho do professor.): - Então, me dê a sua moeda de prata. Não se ilude à vontade!

PILAR ( O professor estava diante da minha mesa e olhando-me nos olhos bem raivoso) - Então o senhor recebe dinheiro para ensinar as lições aos outros? disse-me o Policarpo.

Eu (respondi) - Eu...

Pilar (com voz forte exigiu e Aqui pegou da palmatória.) - Dê cá a moeda que este seu colega lhe deu!

Pilar (- Perdão, seu mestre... solucei eu. - Não há perdão! Dê cá a mão! Dê cá! Vamos! Sem-vergonha! Dê cá a mão!

EU - Mas, seu mestre...

PILAR - Olhe que é pior!

EU (“Estendi-lhe a mão direita, depois a esquerda, e fui recebendo os bolos uns por cima dos outros, até completar doze, que me deixaram as palmas vermelhas e inchadas. Chegou a vez do filho, e foi a mesma coisa; não lhe poupou nada, dois, quatro, oito, doze bolos. Acabou, pregou-nos outro sermão. Chamou-nos sem-vergonhas, desaforados, e jurou que se repetíssemos o negócio apanharíamos tal castigo que nos havia de lembrar para todo o sempre. E exclamava: Porcalhões! tratantes! faltos de brio! Eu, por mim, tinha a cara no chão. Não ousava fitar ninguém, sentia todos os olhos em nós. Recolhi-me ao banco, soluçando, fustigado pelos impropérios do mestre. Na sala arquejava o terror; posso dizer que naquele dia ninguém faria igual negócio. Creio que o próprio Curvelo enfiara de medo. Não olhei logo para ele, cá dentro de mim jurava quebrar-lhe a cara, na rua, logo que saíssemos, tão certo como três e dois serem cinco.”

COMENTÁRIO DO PROF. J B PEREIRA

Obs.: O menino tratava o conhecimento como uma dependência: um mal necessário para a escola e a sociedade, um incômodo e uma forma de dominação dos outros. Saber poderia ser libertador, mas na escola era premiação ou punição. Era o tempo da palmatória. A vida da escola refletia uma sociedade desigual e que exclui o diferente. O conto trata o ,´polêmico tema da educação e das normas sociais, de forma cômica e irônica.

Fim do Ato ou peça teatral adaptada do texto CONTO DA ESCOLA, de Machado de Assis, – p. 128-132. In: Várias Histórias, 3ª. edição, 1904, em: https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/18/3/Texto%20-%20Conto%20de%20Escola%20-%20Machado%20de%20Assis.pdf

J B Pereira
Enviado por J B Pereira em 13/09/2023
Reeditado em 13/09/2023
Código do texto: T7884607
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