Brigadeiro a Flores - Cap. 17: A encomenda

Blin blin blin.

A campainha da porta tocou, informando que alguém havia entrado na loja. Erva desceu às escadas do estoque e encontrou dois garotos conhecidos no balcão.

Ela respirou fundo. "Vou chamar a atendente".

"Mas você não trabalha aqui?" Fagundes perguntou.

"Sim, mas não gosto de atender pessoas como vocês."

"Errado isso aí, hein, Dana?" Carlos falou rindo.

Erva foi até a cozinha e chamou Bianca, que desligou o fogo e foi até o balcão com a amiga. "Oi!" Bianca disse.

"Bem melhor!" Fagundes disse sorrindo galante para Bianca, que ficou sem jeito. Erva percebeu na hora.

"Pensando bem, é estupidez deixar minha amiga aqui. Deixa comigo, Bi." E olhou feio para Fagundes.

"Podemos ser atendidos pelas duas". Carlos sugeriu.

"Aaai, não importa, o que vocês fazem aqui?" Erva falou.

"Calma, Dona Erva Dana!" Carlos riu e Fagundes o acompanhou. Erva deu um sorriso sem mostrar os dentes. "Foi uma piadinha! Dona... Dana. Maravilhoso esse trocadilho".

"Eu entendi, CARLINHOS!" Disse debochando. "Só não achei engraçado".

"Ok, ok." Ele disse entendendo. "Bom, é o seguinte. Minha madrasta vai dar uma festa e eu preciso de brigadeiros." Ele sorriu.

Erva franziu a testa desconfiada. "E você escolheu essa Brigadeiria porque..."

"Amiga, não está exagerando?" Bianca disse entendendo onda a amiga queria chegar.

"Deles eu desconfio de tudo" A bolsista disse sem tirar os olhos dos meninos, que se entreolharam e sorriram.

"Tudo bem, garota dos olhos verdes." Fagundes começou.

"Bianca" a amiga de Erva falou.

"Bianca. Lindo nome"

"Fagundes!" Erva repreendeu.

"Ok. Desculpa, é mais forte do que eu quando estou perto de mulheres gatas" Erva revirou os olhos.

"Minha madrasta faz massagem aqui perto e, há uns dias, trouxe uma de minhas irmãs e, ao caminhar por aqui com ela, a pequena viu esse lugar e entrou."

"A madrasta dele é meio avoada, a menina entrou aqui..."

"Sozinha!" Bianca completou lembrando-se da menina loirinha que entrou com um vestido rosa, parecendo uma boneca. "Eu lembro dela!"

"Boa memória!" Fagundes elogiou.

"Ela pediu um brigadeiro de erva doce."

"A irmã do Carlos é a garotinha do pedido inusitado."

"De família! Gostamos de coisas diferentes, exclusivas". Carlos deu um sorrisinho e Erva olhou com nojo para ele, entendendo que teve um duplo sentido. Ele ignorou. "Enfim, minha madrasta gostou do atendimento e da prontidão da chef..."

"Chef?" Bianca disse em um misto de surpresa e felicidade. Erva compreendeu a amiga e sorriu.

"Ah sim, ela chamou de chef."

"Ah, obrigada."

"Foi você quem fez?" Fagundes perguntou.

"Sim, ela estava perguntou do que que tinha, e pelo nosso slogan, eu disse que de tudo o quer lá quisesse, daí ela falou que queria de erva doce." Bianca sorriu se lembrando.

"Nós precisamos mudar esse slogan." As duas sorriram.

"Eu disse que seria um pouco difícil e apresentei outros, foi quando uma moça entrou e disse que tinha tirado os olhos um minutinhos da filha e a menina sumiu. Conversamos e a menina só disse que ia embora com brigadeiro de erva doce. Eu dei um jeitinho na cozinha e consegui compor o doce."

"Você fez com o chá ou com os grãos?" Fagundes perguntou curioso.

"Hey, não vai roubar a receita dela!" Erva alertou.

"Não! Longe de mim, garota! Por que eu faria isso?" Fagundes disse sério, quase revoltado.

"Sua família é do ramo da culinária.

"E chegamos a isso com receitas originais. Nunca roubamos."

"Oook, sorry!"

"Sua amiga é babaca às vezes".

"Hey!" Erva chamou a atenção dele e todos riram.

"Enfim, você pega a receita depois, Fagundes." Carlos voltou ao assunto. "Minha irmã chegou com a sacola daqui e eu vi, ao me relatar o ocorrido, eu disse que talvez poderia ser a loja que uma garota da universidade trabalha." Carlos passou a mão em seus cabelos loiros. "Bom, por coincidência ela vai dar a festa de boas-vindas para a irmã dela e gostou tanto do brigadeiro daqui que quer que todos os convidados experimentem".

"Ela também é um pouco exagerada nas coisas."

"A gente não reclama." Erva disse sorrindo. "Ficamos felizes que ela tenha gostado." Ela olhou para Bianca que também sorria.

"Aliás, não sei se você conhece, mas é uma festa de boas-vindas para Sophie Abraão".

"Ah... sério?"

"Erva ama essa mulher". Bianca comentou e Erva a olhou repreendendo. "Que foi?"

"Você a ama?" Fagundes questionou.

"Como assim? Quando esse amor começou?" Carlos continuou.

"Calma, não é bem assim!"

"Para de ser boba!" Bianca disse, agora ela repreendendo a amiga. "Desculpa me intrometer, amiga, mas não custa contar para eles que essa Sophie e a mulher que te inspirou a entrar na John Safra."

"Sério?"

"Sim". Erva disse em um suspiro, cedendo as perguntas. "Nas minhas pesquisas há quatro anos, eu vi um vídeo dela falando do curso de direito, e aqui me tocou de uma forma que me fez decidir pela faculdade."

"Que legal!" Carlos disse animado. "Ela é incrível mesmo."

"Mas... ela é IRMÃ da sua madrasta?" Erva questionou intrigada.

Fagundes e Carlos se olharam e sorriram. Depois voltaram para as meninas. "Eu explico." Carlos começou. "Minha madrasta é apenas cinco anos mais velha que a gente."

"Tem uns 27 anos mais ou menos."

"Super jovem." Bianca comentou.

"Sim". Carlos concordou. "Nós todos, os F4, conhecemos a Sophie com 5 anos." Erva e Bianca arregalaram os olhos e Carlos entendeu o que elas estavam pensando. "Caaaaalma, meu pai não fico com a irmã dela quando ela tinha 10 anos."

"Aaaah" As duas fizeram um coro.

"Apesar de termos conhecido a Sophie com 5 anos, ela tinha 7 na época, nossas família não eram próximas."

"Nem nossas famílias, dos F4, são próximas."

"Não?"

"Não." Fagundes falou naturalmente, como se aquilo fosse natural.

"Achava que vocês eram amigos de família. Sei lá, faziam churrasco juntos". Erva comentou e Bianca concordou.

"De onde você tirou isso?" Carlos perguntou e Erva deu de ombros. "Nossas família são influentes e prestigiadas, mas nossos pais nunca comeram juntos. Talvez os pais do Be e Ben, no máximo por questões de negócios, mas não fazemos churrasco, como você colocou. Ou todos são convidados para os nossos aniversários".

"Entendi. Acho isso é questão de pessoas do nosso nicho".

"Nossa, sim, minha mãe adorava conhecer as família dos meus amigos do colégio."

"As minhas também".

As duas riram e os meninos se entreolharam. "Entendemos. As nossas não." Carlos disse e Erva sentiu uma tristeza por eles, pois para elas essa proximidade era legal, com as famílias nos aniversários, rindo, fazendo churrasco, dançando, falando alto. Realmente esse não era um mundo dos meninos.

"Prosseguindo. Nem mesmo nos conhecíamos direito a Sasha, irmã da Sophie. Só a tínhamos visto umas três vezes. Quando eu tinha 15 anos, eu perdi minha mãe." Carlos falou naturalmente, mas Erva e Bianca sentiram uma pena do garoto. Perder os pais jovem deve ser algo doloroso para qualquer um, independente da classe social. Erva não se imaginava sem a mãe. "Meu pai manteve a pose de homem da família, até porque ele amava muito minha mãe, mas não podia se mostrar fraco por causa dos negócios." Erva fez uma cara sem entender, como se aquilo fosse ridículo. Carlos percebeu. "No meu mundo não podemos demonstrar fraqueza perante os negócios. Mas isso é assunto para outra hora." Ele suspirou. "Continuando. Quando eu tinha 17 anos, meu pai fez um cruzeiro e por coincidência encontrou com a irmã de Sophie. Eles se apaixonaram e no mesmo ano ela ficou grávida das minha irmã".

"Irmã? Você não as chama de meia-irmã?"

"Não. Ela pode ser filha de outra mulher, mas vive comigo todos os dias, as vezes eu mais a protejo do que a própria mãe. Não tem porque a chamá-la de meia." Carlos falou sério e Erva percebeu que sua pergunta foi estúpida, balançou a cabeça concordando com o garoto. Não imaginava que ela poderia pensar assim.

"Enfim, eles têm anos de diferença, mas se amam. Eu não iria ser contra a algo que faz meu pai feliz. E Sasha é meio desmiolada às vezes, mas é amorosa. Ela gosta de deixar tudo em perfeita ordem e da melhor qualidade".

"Ainda mais quando recebe visitas". Fagundes comentou e os dois riram.

"Por isso, queremos seus brigadeiros." Carlos finalizou.

"E nos faremos com prezei." Bianca disse sorrindo.

"Ótimo! Queremos 6 mil para o próximo sábado!"

As meninas quase caíram para trás com o pedido.

"Pera! Temos dois dias. Vamos negociar isso aí!" Erva disse.

"São apenas vocês duas?" Carlos questionou.

"E só a Bianca cozinha." Erva apontou para a amiga que, vermelha, acenou com a cabeça. Ela ainda se recuperava da notícia do pedido.

"Vish. Eu posso disponibilizar pessoas para ajudar, daí você apenas coordena, o que acha?" Fagundes sugeriu.

"Lógico que teremos que negociar valores." Carlos falou com um sorrisinho de lado.

"Você tem muito dinheiro e ainda quer negociar?"

"Eu vou te fornecer funcionários". Fagundes falou quase que indignado.

"Aaaai, ricos, quando mais rico mais mão de vaca!" Erva suspirou e os dois riram.

Após negociações, eles fecharam um acordo para sábado.

"E vocês vêm para a festa." Carlos afirmou.

"Aaah não, obrigada!" Erva disse fechando o pedido no computador, nem percebendo a cara de surpresa/felicidade/esperança da amiga dizer sim que Bianca fez.

"Como não? Ela não é sua ídola?" Fagundes questionou.

Erva olhou para ele e percebeu que ia três lhe olhavam sorrindo. Ela se sentiu pressionada. "Aaah gente, que dizer. Eu nem tenho roupa."

"Como assim?" Carlos perguntou sem entender.

"Vai ser uma festa de gente rica." Erva falou como se fosse o óbvio.

"Aaah, que isso. A menina que enfrentou os F4, não quer ir em uma festa por que é de 'gente rica'? Fala sério, né Dana? Relaxa". Carlos respondeu. "Para de dividir gente rica e gente pobre na sua cabeça."

"Meio impossível estudando naquela universidade".

"Já faz 4 anos que você está lá, se você não se acostumar com aquele povo, como você acha que irá trabalhar?" Fagundes falou.

"Como assim?" Erva perguntou em entender.

"Você não pensou no seu futuro?" Fagundes question e pela expressão de Erva, percebeu que a garota ainda não fez as conexões. "Dana, você estuda na John Safra. Onde você acha que vai trabalhar?" Ainda percebendo a expressão de Erva, Fagundes sorriu. "Escritórios grandes de direito." Ele disse em tom de óbvio para ela. "A não ser que você queira prestar um concurso ou voltar para o interior e se esconder lá. Você está sendo educada para trabalhar em grandes escritórios que atendem corporações, 'gente rica', às vezes famosa na sociedade". Erva arregalou os olhos, como se somente agora ela tivesse ouvido e pensado nisso. E Fagundes sorriu. "Pensa nisso com carinho, pois ao decidir entrar na John Safra, você decidiu entrar nesse mundo de 'gente rica', provavelmente, para sempre". Ele sorriu e Carlos o acompanhou. Os dois pegaram a sacola com alguns brigadeiros que pediram na hora e se dirigiram para saída.

"Te vemos na festa, sábado às 20h. Te mando o endereço pelo insta."

"Relaxa quanto a roupa! Se sinta confortável."