Brigadeiro a Flores - Cap. 16: Novo alvo

Erva chegou na faculdade mais feliz do que nunca. Bom, vou ficar esperta, mas com aquela frase daquele babaca no grupo, acredito que a partir de agora é só paz. Vou poder estudar tranquilamente e sem me preocupar com esses riquinhos idiotas. Nem vou olhar para os F4 mais.

Mas por que será que ela agiu daquela forma? Será que ele criou juízo? Ou só viu que não adianta o que faça, eu nunca irei desistir?

Ou será que o Benício falou algo de mim? Erva suspirou. Ontem ele disse que foi bom ter me visto. Será que... Nãããão! Não vou pensar nessas coisas. Até parece! O Benício? Erva riu sozinha. Mas preciso confessar que eu senti uma felicidade quando conversamos ontem. E eu fico feliz quando o vejo. Ele é bonito, inteligente... tudo bem que ele peca por andar com aqueles babacas e deixa acontecer a tarja vermelha, mas... Mas eu acho que ele não pode lutar sozinho! Ele podia lutar comigo! Eu o ajudaria a banir esses F4 se ele me pedisse. "Por favor, Erva, me ajude a enfrentá-los" Erva disse tentando imitar Benício. "Claro, juntos somos mais fortes!" Ela falou bravamente e riu. Aiai, pareço uma adolescente idiota. Riu.

Mas o mundo colorido que imaginava se desmoronou ao ouvir a sirene. Ela já estava na sala e vários do seus colegas de turma também, todos inclusive a olharam, estranhando, quando a sirene tocou.

"Nunca uma sirene tocou enquanto o aluno anterior não foi expulso". Um menino comentou.

"Eu não me lembro de ter visto alguém fazendo algo."

"Talvez fizeram e não vimos."

"A tarja vermelhaaaa! A tarja vermelha foi dada".

Todos estavam apreensivos.

"Gabriela Mendes. Economia, quarto ano!"

Erva arregalou os olhos e saiu correndo com os outros alunos da sala para o pátio. A garota tentou chegar o mais rápido possível, mas Gabriela já estava no meio do pátio de baixo, jogada no chão, com um arranhão na testa, a roupa suja de lama, chorando e gritando para pararem.

"Por favor! Eu não fiz nada! Por favor!"

"Parem!" Erva conseguiu chegar até a amiga e se colocou na frente dela, tentando protegê-la.

"Sai daí, bolsista! Sua vez já acabou!" Uma garota gritou.

"Ela levou tanto que parece ter gostado". Um garoto disse.

"Cala a boca, imbecil! Ela é minha amiga!" Erva gritou.

"Amiga? Achei que você todos eram proibidos de falar com você!" Bernardo falou alto em meio a gritaria, aproximando-se das meninas e da roda que se formara em torno delas.

"Vocês! Por que fizeram isso com ela?" Erva perguntou brava.

Bernardo a fitava. Todavia, Carlos e Fagundes discutiam em baixo tom atrás do líder.

"Já avisou o Benício?" Perguntou Carlos.

"Mandei mensagem assim que ouvi a sirene, ele disse que chegaria tarde hoje, mas eu falei da tarja e ele falou que ia correr."

"O que o Bernardo pretende?".

"Não sei, eu também não sabia dessa".

"Eu disse que quem te ajudasse acabaria como você!" Bernardo falou.

"Você nunca falou isso!" Erva questionou.

"Mas está implícito! Todos que ajudam quem é tarjado, acabam igual". Bernardo falava com superioridade.

"Você é um imbecil, porque a Gabi nunca me ajudou!"

"Gabi?"

"É só um jeito de chamar!" Erva disse se atentando para não meter a menina em mais encrenca.

"Eu vi vocês ontem." Bernardo não aguentou e soltou.

"Você o quê?" Erva disse sem entender.

"Você e ela! Rindo! Super amigas na Faria Lima".

Erva se lembrou da amiga. Estava se lembrando tanto do Benício que esqueceu que também esteve com a Gabi. "E o que é que tem? Isso não quer..."

"Não me faça de idiota! Quem te ajuda também sofre."

"Você é um idiota!!!" Erva gritou. "A Gabi é minha amiga sim, e não vou deixar você machucá-la. Nem você, nem esses imbecis que te seguem!" Ela apontou para a escola toda e as pessoas começaram a jogar ovo e outras coisas nela e na amiga. Erva correu para junto de Gabi e tentou protegê-la.

"Onde você estava que viu as duas, Bernardo?"

"E o que tem a ver ela ter amigos?"

Carlos e Fagundes questionaram o amigo. Mas não obtiveram resposta. Bernardo olhava Erva bravamente protegendo a amiga da chuva de ovos e besteiras que levava. Ele estava indignado que ela não se importava em se machucar para defender alguém. Aquilo o apertou de um forma, ele não gostava de vê-la se ferindo.

"PAREM!" Gritou e todos cessaram. Ele estava bravo, revoltado. Carlos e Fagundes perceberam e ficaram sem entender. "Por que você faz isso?" Ele se aproximou de Erva e viu o ódio em seus olhos ao olhar para ele.

"Porque ela é minha amiga! E eu não vou deixar alguém que eu gosto se machucar por caprichos seus!" A garota disse ferozmente.

"Alguém que você gosta?"

Os dois ficaram se olhando por um tempo. Bernardo não suportava ela lhe olhando com ódio. Menina estúpida! Ela não cede! Ele desviou o olhar, respirou fundo. "Eu não vou tirar a tarja vermelha dela".

"Você..." Erva começou.

"A não ser..." Bernardo a cortou e se virou para ela com um sorriso malicioso. "A não ser que..." ele olhou para o chão e viu uma maçã podre perto de si, que provavelmente estava no lixo que jogaram nas garotas. "A não ser que você coma essa maçã podre para todo mundo ver".

"O quê?"

"Você ouviu!" Agora eu quero ver o que ela vai fazer. "Come essa maçã e eu retiro tudo e você e sua amiga podem seguir por aí. Ou... aguentem o peso da tarja!" Ele sorriu.

"Bernardo!" Carlos disse repreendendo o amigo, mas ele ignorou.

"Isso não está mais em nossas mãos". Fagundes falou mais baixo para o amigo, abandonando o bullying.

"Você pode aguentar, mas e sua A MI GA?" Bernardo continuou, ignorando também Fagundes.

Erva olhou com muito ódio para Bernardo, depois olhou para a maçã e então para Gabi, que mantinha o olhar no chão. Gabi... me desculpa! Ela fechou os olhos. Respirou fundo. Me desculpa corpo, prometo tomar muitos remédios para não ficarmos doente, mas eu preciso acabar com isso. Eu só quero paz. Ela se aproximou de Bernardo, agachou e pegou a maçã.

Todos estavam chocados e cochichavam.

"Ela vai mesmo fazer isso?"

"Minha nossa".

"Ela é muito corajosa".

Bernardo por sua vez mantinha o olhar de superioridade, mas por dentro, sentia um arrependimento. Eu não acredito que ela vai fazer isso. Ela é burra! É só ela dizer não! Por favor... eu vou fazer ela parar. Eu vou dizer não e acabar com isso!

"12 horas!"

A maçã estava próxima de seu rosto, quando Erva parou o movimento ao ouvir a voz que conhecia bem.

"Você estava certa! 12h horas!" Benício se aproximou de Erva e ela o olhou sem entender. O ódio pareceu se dissipar ao ver o rosto angelical do garoto. "O voo de Paris até o Brasil."

"Aaah." Ela disse se lembrando de ontem.

"Tudo bem que eu disse França apenas, mas você acertou mesmo sem ter certeza". Ele sorriu. E ela assentiu. Aquele momento todo estava muito tenso, e mesmo vendo o sorriso dele, ela não conseguiu corresponder vividamente.

Bernardo, ao ver que o olhar de ódio da garota sumiu ao ver Benício, apertou a mão em um punho e bateu na maçã na mão de Erva, a derrubando. Então deu as costas para os dois e saiu do pátio.

Carlos e Fagundes cumprimentaram o amigo que chegou e disseram para todos circularem, que tudo tinha acabado. "Sem tarja, sem bullying, sem show! Sigam suas vidas em paz!".

"Obrigada!" Erva disse para Bernardo que assentiu com a cabeça. Ela então se voltou para Gabriela e a levou para se limparem no banheiro.

"Cara, o que deu em você?" Fagundes perguntou a Bernardo ao encontrá-lo na sala de cinema da universidade. Sozinho.

"Nada!"

"Meu, você foi atrás da Erva ontem?" Carlos perguntou tentando entender o que aconteceu e as falas de Bernardo. "Você sabe a merda que isso pode dar? Erva é muito boazinha ou boba. Ela já devia ter te denunciado".

"E você acha que a mãe dele não iria encobrir isso?" Fagundes apontou.

"Eu só quis conversar com ela."

"O quê?" Os dois questionaram ao mesmo tempo.

Bernardo respirou fundo e esfregou uma mão na outra, meio sem jeito. "Eu... eu queria falar para ela sobre as coisas no mural. Dizer que não tinha mandado fazerem aquilo e que iria cancelar a tarja".

Carlos e Fagundes se entreolharam e depois olharam para Bernardo.

Ainda sem jeito o cabelo enrolado continuou. "Eu pedi para pesquisar sobre ela no começo disso tudo e vi que ela trabalha em uma loja de doces na Faria Lima. Eu pensei em chegar lá e conversar com ela. Só isso. Mas eu não me atentei ao horário e estava fechado."

Os amigos já entendendo ficaram mais calmos. "Continue".

"Eu não gravei onde ela morava, mas a vi com essa garota na praça e depois com o Benício.".

"Com o Benício?" Carlos questionou.

"Sim, ela estava SORRINDO com ele" Bernardo disse apertando a mão em um punho. "Eu não entendo. Eu dei tudo para ela. Eu ofereci tudo o que alguém pode gostar, o que alguém deseja. E ela só me olha com raiva, com ódio. Mas para essa garota e o para o Benício, ela sorri. E fica sorrindo sem parar." Ele olhava para o nada, meio perdido. "Ela fica feliz com os outros, mas não comigo".

Os meninos sorriram. "Nós sabemos que de nós 4, você é o pior em relacionamentos." Carlos começou e Bernardo o olhou atento. "Mas não sabíamos que você seria tão mimado, stalker e ruim dessa forma!" Ele sorriu e Bernardo levantou bufou e o ignorou.

"Sabia que vocês iam zoar. Por isso não falo nada" Disse bravo e saiu da sala, ignorando os amigos que davam risada.