Brigadeiro a Flores - Cap. 14: Proposta

Erva acordou em uma maca que lhe pareceu de hospital. Estava de avental, nua por baixo. "Ai minha nossa, o que aquele cara fez comigo?" Exclamou assustada. Então, alguém abriu uma porta a sua frente.

"Ah, você acordou, ainda bem!" Disse uma moça loira de avental branco, calça cor caqui e salto preto.

"Quem é você e o que eu estou fazendo aqui?" Erva questionou bravamente, pulando da maca e pegando um caneta que estava em uma mesa perto de si, a apontou para a mulher.

"Ai, que exagero." A loira falou despreocupada indo em direção ao que parecia ser um guarda-roupa. "Você é muito agitada mesmo, deu para perceber." Erva ficava observando a mulher sem entender. "Foi bem difícil, mas como você estava dormindo..." Ela se virou para Erva. "Até roncou."

"O quê?"

"Não se preocupe. Mas pelo visto o senhor Assumpção estava certo sobre ser melhor com você dormindo."

"Bernardo?" Erva disse assustada.

"Quem mais seria?"

Erva arregalou os olhos e puxou o avental mais para o corpo, tentando se cobrir mais. "Ele me viu assim?"

"Aaah não!" A loira soltou um sorrisinho. "Ele te largou aqui e nós fizemos a resto."

"Nós?" A conversa ficava cada vez mais assustadora para Erva. "Pera! O que vocês... NÃO!" Ela levou a mão para o abdômen. "Vocês tiraram meu rim, não foi?"

"Você é muito exagerada mesmo!" A mulher disse vindo até Erva com um vestido azul claro em uma mão e sapatos prateados em outra. "Você gosta?"

"Eu..."

"Não importa. Pelo que vimos de você, acredito que nunca passou por um salão de beleza, quem dirá entenderia de Saab e Louboutin."

"Quem?"

"Viu?" Ela sorriu. "Vire-se, deixe-me te vestir."

"Não! Eu preciso saber por que estou aqui e o que..." Erva passou a mão pelo cabelo e sentiu que ele estava mais macio e encaracolado. Seu cabelo era indefinido até hoje de manhã. A loira a ignorou e apertou um botão. Alguns instantes e duas pessoas vestidas de branco entraram e, obrigada, Erva se deixou vestir por eles.

30 min depois, Erva estava em um cômodo enoooorme com piano, lustre, e o teto que com certeza precisaria de três dela para trocar uma lâmpada. Em um misto de encanto, susto e surpresa de que existia um sofá tão comprido, ela reparou em um espelho no meio do local e, desde que desmaiara, se viu pela primeira vez.

Erva estava admirada consigo mesma. O vestido azul, as joias no pescoço e na orelha. O sapato. Seu cabelo arrumado e brilhoso. A maquiagem realçando seus olhos castanho-escuro.

Mas logo ela parou de se olhar, pois uma fotografia na lareira chamou sua atenção. A jovem chegou perto e viu 4 menininhos abraçados e sorrindo. Huuum, o cabelo enrolado desse aqui não me é estranho. E o olhar desse outro... "Benício?"

"São os F4 no jardim de infância". Bernardo falou e Erva levou um susto, o olhando com os olhos arregalados. Droga, esqueci dele por um instante. "Você gosta do Ben?" Erva corou.

"Eu? O quê?" Ela disse desconsertada.

"Ele está indisponível e vocês não combinam em nada. Você não é o tipo dele". Afirmou o cabelo enrolado e se sentou no sofá infinito.

Indisponível?

"Vi você se olhando no espelho. Gostou do que viu?"

"O quê?" Erva voltou para a realidade.

"A roupa!" Bernardo falou apontando.

"Ah!"

"Sapatos, maquiagem, joias!"

"Olha garoto, isso é lindo, mas não combina comigo." Erva disse séria para Bernardo.

"Não?" Ele sorriu. "Não foi o que me pareceu enquanto você se olhava! Afinal, são 300 mil" Erva cambaleou com o valor. Bernardo levantou-se e foi em direção de uma mesa com bebidas. "Produtos que com certeza uma mulher pobre como você jamais usaria, dado sua natureza caipira. Mas não se preocupe, eu posso te dar isso e muito mais." Pobre? Caipira? Me dar tudo isso? "Você também poderá conversar comigo quando não tiver ninguém vendo e... posso pensar em você sair com o F4 uma vez no mês para lugares incríveis, mas sem registros para redes sociais. Tudo isso você terá se apenas fizer uma postagem me pedindo desculpas e dizendo o quanto sou incrí..." Ploft. Bernardo levou a mão na cabeça e viu no chão o sapato que Erva usava. Ele a olhou bravo, mas ela nem notou, estava tirando as joias e já estava descalça.

"Cadê minhas roupas? Meus pertences?"

"O que você está fazendo?"

"O que você acha, seu louco? Acha que vou ficar andando por aí com essas roupas caríssimas? E... desculpas? EU NÃO ESTOU À VENDA!!" Ela falou bem alto e começou a andar em direção à porta que entrou.

"Eu não entendo! Você é burra?!" Bernardo falou bravo e Erva parou com a mão na maçaneta. "Qualquer garota faria de tudo para ouvir essa proposta que estou te fazendo. Você sabe qual o peso do F4 na sociedade? Andar com a gente é a melhor coisa que vai acontecer na sua vida! Quem você pensa que é para recusar essa oferta?"

Erva respirou fundo e só virou a cabeça para Bernardo. Séria ela disse: "Eu não sou esse tipo de garota. Reveja seus conceitos! Eu sou Erva Dana, eu não estou à venda, muito menos me interesso por esse tipo de coisa fútil que você diz ser uma proposta." Ela abriu a porta e saiu pelo corredor.

Bernardo brilhou os olhos pelo o que Erva disse. Eu não sou esse tipo de garota! "Essa mulher!! ESSA MULHER ME PAGAAA!" E gargalhou.

No dia seguinte, apesar de Erva não sofrer mais violência há dias, ela ainda tinha alguns perrengues, como as meninas de sua sala que não aceitavam o fato de ter passado já um tempo e a garota ainda estar no colégio. Uma delas, irmã de Mariana, era a líder do trio clones de tormento - era assim que Erva as denominava por serem idênticas e a atormentarem.

"Olha, eu só quero dizer que não tive nada a ver com isso!" Disse Magda, irmã idêntica a ex(nunca) monitora de Erva, só que com traços mais jovens. A Dana estranhou o comentário da garota ao se aproximar do pátio de entrada.

"Está aí desde que chegamos, você se atrasou hoje, praticamente todo mundo já viu." Disse Úrsula, mais uma integrante clone do trio.

"Até postaram no grupo da uni". Completou Giulia.

ERVA DANA É RESISTENTE SÓ NA NOSSA FRENTE, POIS NÃO CONSEGUE SEGURAR UM BEBÊ! JÁ TEVE TRÊS ABORTOS!

ERVA DANA ERA MAIS CONHECIDA COMO A ESCREVA SEXUAL NO ENSINO MÉDIO, ELA FAZIA TUDO O QUE OS CARAS QUERIAM NA CAMA.

SE VOCÊ ESTÁ NO ATRASO, CHAME ERVA DANA PARA TE SATISFAZER!! DE GRAÇA!!

Erva arregalou os olhos para as frases no mural de avisos do pátio. Ela olhou seu celular que tocou, número desconhecido.

"Alô?"

"Escrava sexual?"

Desligou na hora e saiu a procura dos F4 nos lugares que frequentavam geralmente. Após auditório menor, biblioteca, sala de cinema, encontrou eles na quadra poliesportiva da economia (a maior da universidade) jogando basquete.

"SEUS BABACAS!" Gritou e chamou a atenção deles. Carlos segurou a bola e os quatro a olharam intrigados. "Vocês já leram sobre aborto? Sobre o que é ser escrava sexual? Vocês são nojentos! Eu sou virgem ainda! Parem de espalhar merdas de mentiras por aí!" Ela então pegou uma bola que estava perto e jogou neles, que a pegaram com facilidade. Erva saiu correndo com raiva e com vergonha.

"O que deu nela?" Questionou Fagundes.

"Acho que ela gosta de mim" Soltou Bernardo e os outros o olharam intrigados.

"O quê?" Carlos questionou com uma perspectiva de que iria ouvir merda.

"Ela veio aqui me dizer que é virgem. Ela veio oferecer a virgindade dela para mim!" Bernardo disse sorrindo e levou uma bolada de Carlos.

"Você ouviu o que ela falou?"

"Sério! Às vezes eu não sei o que passa na sua cabeça." Fagundes e Carlos riram.

Benício deixou os três e foi ver o celular. "Pelo visto o pessoal não parou de aprontar com ela." Ele voltou para mostrar o grupo da universidade para os amigos. As fotos do mural com as frases circulavam e os comentários eram cada vez mais maldosos.

"Foi você?" Carlos perguntou a Bernardo.

"Claro que não!" O cabelo enrolado se virou e foi pegar o celular. "Eu disse o que fiz com ela ontem. E a reposta dela."

"Que balançou contigo". Fagundes comentou entre risinhos, mas Bernardo nem se importou. "E ela poderia ter te denunciado por sequestro". Raciocinou alto. Carlos o ouviu e concordou.

Bernardo, por sua vez, enfurecido e com celular na mão, digitou no grupo da universidade.

"Parem já! Essa ordem não foi dada! Quando eu descobrir quem fez isso, vai pagar!"

Os amigos leram a mensagem e se entreolharam.

"Você tirou o cartão vermelho?" Carlos perguntou confuso.

"Não! Mas somente NÓS podemos atormentá-la" Disse o garoto se virando em direção ao vestiário.

"Nós você quer dizer Você, não é?" Fagundes questionou, mas Bernardo não respondeu.

"Acho que sim, porque eu já cansei dessa! Ela parece ser legal!" Carlos falou e os outros dois assentiram.