Brigadeiro a Flores - Cap. 12: Round final

"O que vocês fizeram?" Bernardo perguntou com raiva para o trio que atacou Erva.

Eles foram imediatamente para casa do cabelo enrolado contar o ocorrido, e ao contrário de tapinha nas costas que eles achavam que receberiam, eles já tinham levado socos e tapas e chutes. "Eu pedi para vocês fazerem algo com ela, dar um susto, mas não atacá-la de forma violenta. Vocês têm noção da merda que poderiam ter se metido? Ter NOS metido?"

"Desculpa, Bernardo. Nós não pensamos". Disse o japonês.

"Uma coisa é jogar ovo, fruta ou sei lá o quê? Outra coisa é machucar com cicatriz e fabricar provas para acabar com a nossa vida".

"Mas o Benício apareceu..."

"Não estou feliz com isso também. Ainda bem que ele apareceu mas..." Bernardo disse pensativo. Por que o Benício estava lá? Dormindo? Ele sempre é desligado, nunca se envolve na tarja. "Vão embora. E amanhã ninguém mexe nela de manhã. Avisem todos. Eu vou pensar sozinho no que fazer com essa Erva." Preciso eliminá-la. Odeio quando resistem muito. Ela é que mais resistiu até hoje. Vou amendontrá-la. Não adianta ser outra pessoa, tem que ser EU. Eu sou o melhor de todos. Todos têm medo de mim. Somente eu posso fazer ela desistir!

Erva passou a noite em claro. Ficou repassando tudo o que viveu naquele dia. Ele mandou aqueles caras me atacarem. Me machucarem. Ela passou a mão na testa. Dois ferimentos já. O que ele quer? Eu não posso largar a faculdade.

Ela pegou a celular. Várias mensagens de Bianca preocupada.

'Me desculpa ter ignorado Bi. Sei que já é tarde, mas só queria dizer que estou bem.'

Vibra.

'Ainda bem, Erva! Eu fiquei mto preocupada. Desculpa parecer carente. A cada 5 min um oi meu aí.'

'Nada carente, para! Você estava preocupada. É que eu não conseguia mesmo responder antes, precisava colocar as coisas no lugar.'

'Eu sei! Bom, agora que sei que está bem, vou dormir, tá? Não preguei o olho até agora.'

'Claro, por favor! Vai lá! Nos falamos amanhã.'

'Bjo'.

Tadinha. Carente! Claro que não! Erva olhou o celular e realmente tinha a cada 5 min um 'Oi' de Bianca, até que ela parou de mandar após uns 100 'Ois'. Deve ter cansado de ser igno... Pera. Quer dizer?! Não, isso não tem nada a ver, mas será que? Erva pensava na situação das mensagens e no F4. Não sei se vai funcionar, mas tentarei amanhã ignorar todos eles. Podem falar o que quiser, dizerem qualquer coisa. Vou ignorar. Vou respirar fundo, me defender, óbvio, mas vou tentar não perder a cabeça. Eles querem atenção, se eu der atenção e continuar brigando, eles continuarão. Vou me esforçar e ignorar. Tudo e todos!

No fim da madrugada, um pouco antes do celular despertar para o seu horário de ir se arrumar para a faculdade, ela ouviu um barulho na cozinha. Olhou para baixo e, forçando os olhos em meio ao quarto escuro, viu que a cama de seu irmão estava desarrumada. Na cama de solteiro ao lado, onde sua mãe dormia, também não havia ninguém. Ela então desceu com cuidado da beliche e deu uma espiada na porta, que estava entre-aberta.

A luz da cozinha estava acesa e Erva viu seu irmão na mesa, sua mãe vinha atrás com uma panela.

"A senhora podia fazer para mim também, antes do jogo, né mãe?"

"Como se eu não fizesse nada para você!" Dona Amélia disse reprovando o filho. "Aliás, no fim de semana tem jogo, não é? Tenho que ver se consigo mudar o dia com alguém no trabalho, senão não consigo ir te ver." Ela disse despejando carne da panela em montinhos na massa em cima da mesa.

"Tudo bem, a Erva disse que vai, ela te representa". Abner sorriu e sua mãe correspondeu.

"Só não te faço um carinho, pois estou com a mão suja e quero terminar isso antes de sua irmã acordar." Disse Dona Amélia.

"Ela vai ficar felizona com o pastel". Disse Abner ajudando a mãe a fechar a massa que já estava recheada com carne.

"Eu espero, filho. Ela estava meio tristinha esses dias, parecia preocupada. Aposto que são as provas..."

"Atividades."

"Ai, sim, tudo!" Dona Amélia suspirou. "Eu peguei um dinheirinho que tinha guardado e comprei carne moída para fazer pastel, porque sei que ela ama. Espero que isso a deixe um pouco alegre. Ela estuda muito..."

"E ainda trabalha na loja de doces"

"Sim, ela merece um agrado" Disse Dona Amélia sorrindo.

"Aaah, e meio quilo de carne moída não vai fazer mal para a gente, não é?" Disse Abner finalizando os pastéis e Dona Amélia assentiu com a cabeça, comendo a última colherada de carne que sobrou. "Deu 15 pastéis, vamos encher o bucho" Os dois sorriram.

Erva voltou para sua cama com o coração quentinho, ela não queria estragar a surpresa da mãe e do irmão.

Após alguns minutos, ela ouviu o barulho de óleo quente fritando algo, o que já sabia serem os pastéis.

Em pouco tempo, o celular tocou e ela pulou da cama, toda feliz pelo que ia comer, mas se fez de surpresa quando a mãe lhe mostrou o pastel frito. Erva comeu dois e levou mais 3 para a faculdade para comer na hora do almoço.

A manhã na faculdade foi tranquila, ninguém - como Bernardo havia instruído - fez nada contra ela, ela até estranhou, mas aproveitou a paz.

Ela procurou por Benício no terraço, assim que tocou o sinal do almoço, mas não encontrou ali. "Eu sabia que ele não estaria, mas tive um pouco de esperança. Quem sabe ele aceitaria um pastel como agradecimento. Se bem que ele  nem deve comer essas coisas" Falava sozinha enquanto descia o terraço e ia para a praça de alimentação. Vou comprar um suco para comer com os pastéis.

Na fila da cantina, Erva notou que algumas pessoas a olhavam, mas ela, como estratégia bolada na madrugada, ignorou e demonstrou indiferença. Sei que não é todo dia que compro algo, mas eu não sou um bicho exótico. Esses idiotas. Chegou a vez dela e ela pegou o suco e foi rapidamente para a mesa mais vazia da praça. Finalmente: Pastel de carne moída e suco de laranja, podia ser caldo de cana, maaas... o suqui...

"Uau, achei que esse lugar era mais melhor frequentado"

"Mais melhor?" Risos.

"Ah, cala boca".

Erva ouviu a voz, o erro e os risos dos F4 próxima de si e arrepiou-se de raiva. Ela respirou fundo e pensou na estratégia, não se virou, continuou a  olhar para seu pastel.

Bernardo, percebendo que ela não dera bola, aproximou- se de sua mesa, ficando de frente para ela. Impossível não vê-lo.

"O seu tempo já deu nesta escola." Bernardo disse olhando Erva seriamente. Ela, por sua vez, olhou para ele por um tempo, depois voltou sua atenção para o pastel. Demonstrando indiferença. Ignore, Erva. Só ignore. "Você teve um tempo de paz esta manhã, porque eu mandei. Mas, eu estou planejando algo muito ruim, então desfrute o pouco tempo que te resta." Continuou ao perceber que Erva o ignorou.

A garota sentiu um frio na barriga, mas manteve a pose e deu uma mordida suculenta no pastel, depois olhou para o celular, continuando a ignorar Bernardo por completo.

"Acho que ela já se acostumou com você, Be", disse Carlos sorrindo e zoando Bernardo. "Nem se mexeu". Fagundes o acompanhou na risada.

Os alunos da praça já olhavam para a cena, alguns cochichavam. E Bernardo ficou com raiva de ser ignorado e zoado pelos amigos. Quem ela pensa que é?

"Se acostumou, é?" Ele disse alterando o tom de voz. "Quem sabe se eu fizer algo agora?" Erva continuou ignorando. Isso aí!  Eu estava certa! Ele só quer atenção. Que babaca. Vou continuar ignorando.

Mas Erva não contava que, irritado, Bernardo pegou o pote dela com os pastéis. Ela então o olhou, não conseguindo mais ser indiferente. Meus pastéis.

"Aaaah agora você vai me ouvir?" Ele disse e Erva ficou com olhos arregalados olhando para o pote nas mãos dele. Ele percebeu a direção do seu olhar e olhou para os pastéis. "Que comida de pobre é essa que nem deveria entrar aqui na escola. Isso é lixo!" Bernardo jogou os pastéis no chão e pisou em cima deles. Agora você chora!

Os outros F4, ficaram surpresos. A escola toda ficou sem reação. Bernardo havia dado um piti, e aquilo não foi legal. Mas era ele, então, ele deu risada, e mesmo muitos descordando, não fizeram nada.

Erva, estupefata, ajoelhou-se no chão e pegou uns pedaços dos pastéis em suas mãos, ela lembrou de sua mãe e seu irmão de manhã.  Ela merece. Pensou na via de sua mãe dizendo e sorrindo.

"Vai comer assim agora?" Bernardo ria. "Agora sim você me escuta! Eu não vou pegar leve da próxima vez, essa manhã foi o último momento que você teve para pedir desistência de forma tranquila. Ago..."

"CALA A BOCA! CALA BOCA! CALA A BOCA!" Erva disse se levantando do chão, amassando o pastel em sua mão, ao fechá-la em um punho. "Cansei de você, seu riquinho esnobe. Você acha que todo mundo tem que abaixar a cabeça para você? Vai se ferr*r! Se enxerga, seu fedelho! Você não é nada se não fosse o dinheiro da sua família!! Você não sabe a dor e o esforço que é para conseguir algo! Você é um merda! Fazendo piti porque alguém não te ouve!? Quantos anos, você tem? 10? Você é ridículo! E eu já estou farta de ouvir sua voz e saber desse seu joguinho ridículo de tarja vermelha!" Erva falou em uma explosão tudo o que pensava, e antes que Bernardo pôde abrir a boca para revidar, ela chutou o meio de suas pernas, já que ele era mais alto que ela, o que fez ele se curvar, e então ela lhe deu um soco na cara com muita força e raiva, fazendo ele cambalear para o lado. "Eu não vou desistir da minha matrícula, seu fedelho! Você que se mude se está incomodado". Ela pegou seu pote e saiu correndo da praça.