Brigadeiro a flores - Cap. 11: Segundo Round

Erva ficou paralisada ao ver um F4 ali no terraço.

Benício, por sua vez, se espreguiçava, acordando de uma soneca pós-estudo musical - seu violino estava encostado do sofá. "Eu devia suspeitar que você vinha sempre aqui. Péssimo lugar para treinar e cochilar". Ele disse calmamente.

"Eu... eu..." Erva tentou formular uma frase, mas seu coração e respiração estavam acelerados, ela só pensava que sua vida universitária tinha acabo ali.

Benício soltou um sorriso leve. "Não precisa ficar nervosa, não irei dizer ao restante do grupo que você nos odeia!" Erva não parava de olhá-lo, e mesmo ele dizendo isso, ela não ficou aliviada. "Se eu já não disse antes, por que iria dizer agora? Pode relaxar e respirar!"

Erva nem tinha percebido que prendeu a respiração por um tempo. Então, com a fala de Benício, ela reparou e voltou a respirar, mas também ficou pensativa. Disse antes?

Benício começou a arrumar suas coisas para ir embora.

"Espera! Você já tinha me visto aqui antes?" Erva conseguiu formular a frase.

"Gritando as mesmas frases", ele respondeu no mesmo tom calmo. "Ah, e também fazendo algumas poses interessantes", soltou um sorriso. Erva corou. "Como disse, não se preocupe. Você precisa desse espaço mais do que eu! Já estou de saída e não avisarei que está aqui."

"Huum! Obrigada!" Disse a garota agora um pouco mais aliviada. "Apesar de que..." Começou, mas logo parou. O que eu estou fazendo? Mas já era tarde, Benício se virou interessado.

"Apesar de que...?" Perguntou, já que Erva olhava para o chão e não reparou em seu rosto com a testa franzida.

"Nada".

Benício soltou um sorriso e se sentou no sofá. "Aposto que você nunca reparou que tinha um sofá aqui, não é mesmo?"

Erva o olhou e ele dizia olhando para o céu. Ela então olhou em volta e reparou no sofá. Em duas mesas e cadeiras empilhadas em um canto. Algumas poltronas. Gesso. E materiais de construção. "Não. Eu geralmente só venho me aliviar e sento no chão." Ela disse se lembrando das vezes que veio ali desde o primeiro ano.

"Se aliviar!" Benício riu.

"Qual é a graça?" Erva perguntou séria sem entender.

"Você não repara mesmo nas coisas que fala, não é?"

"Você não defende as pessoas que são injustiçadas pela tarja vermelha, né?!" Erva perguntou já afirmando sobre a atitude do violinista. Ele só ficou sério, a olhando. Erva suspirou. "Qual é a graça disso? Vocês machucam uma pessoa por alegria? Já imaginou o quanto de pessoas pode ter se dado mal por causa dessa estúpida e sem motivos ação?"

"Eu não vou discutir esse assunto com você!"

"Nem precisa. Você é um F4. Você não entende sobre esforços."

"E não me importo!" Benício falou pegando sua mochila e violino, de costas ele disse: "Olha garota, eu sou neutro nessa ação da tarja vermelha. Todos têm os seus problemas e eu só me importo com os meus. Você deveria parar de se importar com os dos outros!" Ele fez uma pausa. "Não estaria nesta situação agora!" Erva, sentada no chão, olhava para Benício indignada, mas também não discordou dele, afinal, até sua mãe já lhe disse para parar de se meter nos problemas dos outros, parar de querer defender tudo e todos. "E mais uma coisa" disse Benício perto da escada. Ele se virou e jogou para ela um lenço de pano branco, com as iniciais de sua nome - BM. Erva, surpresa, o pegou e sentiu a textura de seda legítima. "Sua testa está sangrando. Lave-a com água e sabão. Depois faça um curativo para não infeccionar." Ainda mais surpresa, aquele gesto fez Erva balançar a cabeça positivamente enquanto sentia um leve conforto dentro de si. Antes que pudesse dizer obrigada, Benício já havia desaparecido descendo a escada.

Erva usou o lenço de Benício para limpar a testa, o caco do espelho a cortou mas não de forma profunda para se preocupar. Ela ficou analisando a cena que aconteceu com o F4. Ao mesmo tempo que ele parece diferente dos outros, ele também parece não ser uma boa pessoa.

Ela passou o resto do dia ali, saindo só de noite, quando não tinha praticamente ninguém no campus.

Dona Esmeralda e Bianca tocaram a Brigadeiria sozinhas, mas sempre mandavam mensagem para saber como Erva estava. Elas eram as únicas que sabiam de tudo, Erva não ousou contar para sua mãe. Para ela, disse que caiu no jogo de vôlei em cima de uma menina que estava com um espelho na mão, assistindo o jogo e se maquiando.

No dia seguinte, ela foi mais preparada. Alguns meninos tentaram jogar ovo nela, e ela conseguiu rebater com uma vassoura. Outros, no segundo andar, tentaram derrubar tinta nela, mas ela abriu um guarda-chuva. Nas aulas, ela não se importou com a zoação quando respondia algo que o professor perguntava. Nesse segundo dia, Erva foi uma lutadora.

Mas... ao perceber que a garota seguia firme, duelando, sendo persistente, Bernardo conversou com alguns meninos, que no terceiro dia, tomaram atitudes mais violentas.

Na hora do almoço, Erva quase foi atingida por uma melancia. Um pouco antes de uma atividade valendo nota, a trancaram no banheiro e ela chegou atrasada, e o professor não a deixou fazer, prejudicando-a em excelência disciplinar. Antes da última aula, alguns meninos a ameaçaram em deixá-la na sala de anatomia da Medicina. Com medo, Erva se escondeu.

O que eu fiz? Eu levava uma vida tranquila. Quer dizer... Tranquila é uma palavra forte demais, eu vivia com raiva e ódio ao ver aqueles Fedelhos 4, mas, ainda assim, era melhor do que o inferno que estou vivendo atualmente. Pensava Erva enquanto se escondia no terraço abandonado do prédio de artes.

- EU ODEIO VOCÊS, F - TODAS AS COISAS RUINS - 4!!!! - gritou lá de cima, aliviando-se de sua raiva. Logo se lembrou de Benício, e virou-se rapidamente vendo se o encontrava ali, mas ele não estava. Deve ter encontrado outro lugar para ele treinar, menos mal.

Já era de noite quando resolveu descer para ir embora. Pelo menos não vai ter alguém nesse horário como ontem. Mas diferente do dia anterior, três meninos a esperavam escondidos. Eles a pegaram de surpresa, tamparam sua boca e a levaram para a sala de anatomia.

"Já chega, sua piranh*!!! Agora vamos ver se você vai continuar tão corajosa!" Um loiro falou.

Erva conseguiu soltar uma mão, que um japonês a segurava, e deu um soco na cara do loiro, empurrou um de olhos azuis que segurava sua outra mão e tentou correr, mas eram 3 contra 1, e eles a pegaram novamente antes de ela chegar à porta.

"Hoje você não escapa!!" O japonês falou.

"Vamos ver se você é tão insistente assim com..." o loiro disse abrigado um canivete. "...uma palavra na sua testa!" Ele riu aterrorizantemente e os outros dois o acompanharam.

"Não, por favor, não faz nada!" Erva suplicou. Mas de um lado estava o japonês e do outro o de olhos azuis, eles a levantaram e a colocaram em uma mesa de ferro, usada para análise de cadáveres na aula de anatomia.

"Quem sabe até te colocamos no frigorífico?!" Disse o de olhos azuis, fazendo os meninos rirem mais ainda.

"O que escrevo? Vadia? Perdedora?" O loiro brincava com o canivete na mão, perto do rosto de Erva que, desesperada, debatia-se na mesa tentando se soltar. Ela começou a chorar. Não conseguindo nem mais suplicar, ela só pensava que sua vida tinha acabo ali.

"Escreve SAI DAQUI" o japonês sugeriu, e os outros dois concordaram. "Com a testa grande assim, cabe uma frase inteira". Os três deram risada.

O loiro se preparou, segurou o canivete como um lápis e se aproximou da testa de Erva, que gritava, chorava. "Ninguém vai te ouv..."

"Você parece estar em todo lugar que tento usar para ter paz e dormir" A voz familiar para todos ecoou e o menino loiro parou na hora, dando apenas um cortezinho na testa de Erva. Benício estava parado perto da porta, olhando para eles.

"Bení... nício". Gaguejou o loiro.

"O que vocês estão fazendo?" Perguntou o último.

"É que o Bernardo..." O japonês começou a explicar.

"Larga isso e saiam daqui. Não é hora para ficarem na universidade, principalmente em uma sala que não é do curso de vocês". Benício falou sério.

"Mas o Bernardo..." O garoto de olhos azuis disse, mas já afrouxando as mãos que apertavam o braço e perna de Erva.

"Ou vocês a deixam, vão embora da universidade e esquecem esta ação sem noção que estavam tendo aqui, ou..." Ele respirou e passou a mão no cabelo, olhando friamente para os meninos. "... ou a próxima desistência eu tenho certeza que não será a dela".

Os meninos arregalaram os olhos, engoliram em seco e soltaram Erva na hora.

"Desculpa, Benício, por favor, é que o Bernardo..." O loiro ainda tentou se justificar.

"VÃO!" O F4 gritou e os meninos saíram correndo. Ele se aproximou de Erva, que continuava deitada, chorando, em choque, na mesa. Ele olhou para ela gentilmente e estendeu a mão. "Posso te ajudar a se sentar?" Erva o olhou ainda assustada, tremendo, mas assentiu e deu sua mão a ele, se apoiando para se sentar na mesa.

"Obri..." Ela tentou dizer enquanto se sentava, mas não conseguiu, chorava intensamente.

Ele então lhe deu as costas e foi até uma mesinha perto, mexeu em umas gavetas e voltou com algumas coisas na mão. "Posso dar uma olhada na sua testa?" Erva balançou a cabeça positivamente e Benício começou a limpar o novo leve corte em sua testa. Ele fez um curativo e voltou à mesinha para guardar os produtos. Aquele momento a fez ir se acalmando aos poucos. "Você acha que pode ir embora sozinha?" Benício questionou e Erva confirmou com a cabeça. "Tudo bem."

"Eu.. obrig..." Erva tentou mais uma vez agradecê-lo.

"Não me entenda mal, ok? Eu ainda continuo não me importando, mas... Existem coisas que não aceito que aconteça."

"Você..."

"Eu estava dormindo aqui e ouvi um barulho, só isso aconteceu." Benício explicou e Erva, o olhando com os olhos brilhando e o rosto vermelho, por causa do choro, acenou. "Eu já vou indo. Se eles estiverem lá fora ainda, já irei mandá-los embora. Mas não se demore muito aqui, já está tarde. Vá para casa e descanse".

Erva assentiu e o viu deixar a sala. Ele não estava com cara de sono, nem tem outro lugar aqui para dormir, a não ser dentro das gavetas onde estão os corpos gelados. Mas, independente de ele estar aqui ou ter me ouvido e entrado, ele me salvou de uma tragédia e eu, eu estou muito agradecida. Ele talvez não seja como os outros. Só talvez.