Brigadeiro a flores - Cap. 10: Primeiro Round

"A tarja vermelha saiu para a Erva Dana do quarto ano de Direito".

Um veterano gritava, o celular de todos vibravam com mensagens no grupo da escola sobre a tarja para Erva, os alunos já se planejavam para agir.

Erva, após milésimos de segundos de impacto, jogou suas coisas para dentro do armário e o fechou em uma batida. Saiu correndo para se esconder. Eu preciso ganhar tempo, pensou.

Entrou por alguns corredores e chegou na porta da sala de limpeza. Vou me esconder aqui, pelo menos por essa manhã.

A sala de limpeza era onde as funcionárias guardavam os produtos e utensílios que usavam para limpar a faculdade. Ela sabia que a sala ficava aberta até a hora do almoço e, o melhor, nenhum riquinho da faculdade se metia ali.

Erva desligou o celular, pois sabia que eles podiam rastreá-la pelo GPS, como fizeram com a vítima da penúltima tarja no fim do ano passado. Para garantir ainda mais segurança no esconderijo, se jogou para trás de uma estante com esfregões na frente, assim, se por acaso alguém abrisse a porta, não a veria ali.

O que eu faço? Na hora do almoço eu preciso sair. Eu posso ir embora... mas daí só daria o que eles querem, e não posso ir embora todos os dias. Eu tenho que me defender. Eu não vou desistir! Eu não posso desistir!! Aqueles Fedelhos 4! Eu os odeio!!

11:50h, Erva respirou fundo, pegou uma vassoura para se defender e saiu cuidadosamente da sala. Os corredores ainda estavam silenciosos. Será que eu ligo o celular para dar uma olhada? Foi então que ela viu Gabriela do outro lado do corredor, Erva sorriu e acenou, mas Gabriela ficou séria, abaixou a cabeça e fingiu que não a tivesse visto. Erva abaixou a mão e se decepcionou. Como eu sou tola! Até parece que ela ficaria do meu lado agora que sou alvo dess... Plaft! Lixo caiu em cima da cabeça de Erva, a lambuzando totalmente. Sem contar o cheiro horrível que a impregnou em segundos. Ao olhar para cima, Erva conseguiu desviar rapidamente de um balde de lixo que as 3 meninas de sua sala jogaram na sua cabeça.

"Vai embora, seu lixo! Aqui não é lugar para você!" Stephany, a loira do trio, gritou.

Erva passou o horário do almoço no vestiário, tomando banho com muito sabonete para tirar o lixo e o cheiro nojento. Elas devem ter pego da compostagem isso. Só desperdiçando!!

Ao sair do banho, suas roupas tinham sido levadas e deixaram um saco preto, não usado, de lixo no local e chinelos. Erva usou a criatividade e amarrou a toalha em seu corpo como um shorts/saia e o saco de lixo como uma blusa tomara que caia. Quando saiu do banheiro, correu para a sala da próxima aula. Eu não vou deixar que me vençam!

Na sala de aula, o professor fingiu que não viu como Erva estava vestida, já os alunos, a zoaram, chamaram de lixo, e até abusaram dos xingamentos: "de toalha assim, acha que vai se safar mostrando o corpo?" Um garoto disse e Erva jogou uma caneta nele, acertando sua cabeça. "Hey". Erva o olhou feio e ele fez sinal de "você me paga depois". Erva não abaixou o olhar, mas ele abaixou um pouco o ego.

Quando a aula terminou, os alunos voltaram-se para zoar Erva. Ao trocar de sala, alguns a empurraram e frases "logo tem o segundo round", "isso não acabou", "já devia ter desistido" eram ditas para ela. Suas fotos vestidas de saco e toalha estavam circulando no grupo privado da escola. A humilhação estava atingindo seu grau máximo.

Antes da última aula, Erva correu até o banheiro onde ia sempre por ser o mais vazio, ela atravessou o praça de alimentação correndo e chegou ao seu destino. Lá ela suava frio de raiva, e tentava se acalmar.

"Erva?"

Erva virou rapidamente pronta para lutar, mas viu que era Gabriela.

"Eu te trouxe isso." Gabriela estendeu uma sacola de papel para Erva, que pegou e olhou dentro.

"Meu uni..."

"Na verdade é meu." Gabriela disse sem jeito. "O seu está aqui". E mostrou um uniforme rasgado e cheio de terra. "Vi alguns meninos enterrando perto da horta após rasgá-los por inteiro."

Erva pegou os restos de pano e olhou com tristeza. Depois estendeu a sacola para Gabriela. "Eu não posso..."

"Pode sim!" Disse Gabriela fortemente. "Por favor!" Emendou em um tom mais baixo, doce. Depois se aproximou um pouco. "Me desculpa por ter me afastado hoje. Mas eu.."

"Está tudo bem, eu entendo". Erva disse com um sorriso. "Obrigada pelo uniforme, eu prometo devolver."

"Não, por favor! Pode ficar! Eu tinha um extra aqui na faculdade. Não se preocupe comigo."

"Me preocupo sim." As duas sorriram sem mostrar os dentes. "Agora é melhor você ir, não deixe eles te verem comigo."

"Obrigada por tudo, Erva! Você é incrível". Gabriela disse, sorriu e deu meia volta para sair do banheiro rapidamente.

Erva ficou mais um pouco ali, colocou o uniforme junto com as roupas íntimas que Gabriela lhe trouxera, e foi lavar o rosto. Minha mãe vai reconhecer que esse não é o uniforme que ela fez. Preciso arrumar uma desculpa para ela não se preocup...

"Ora, ora, ora!!!" Mariana disse entrando no banheiro com outra menina. Erva a viu pelo espelho e logo se virou séria. "Se não é a mais detestada desta universidade". Erva continuava em silêncio apenas olhando para Mariana. "Até que você está durando mais do que eu imaginava, achei que iria desistir no primeiro mês".

"O que você quer, Mariana?" Erva finalmente falou num tom ríspido.

"Ajudar a te expulsarem daqui."

"Me expulsar?" Erva disse indignada. "Por quê? Eu nunca te fiz nada!"

"Esse mundo não é para você, não gosto de gente do seu tipo invadindo meu espaço".

"Você é doente". Erva disse e se virou novamente para a pia para terminar de se arrumar.

Mariana, com raiva pela fala e indiferença de Erva, se aproveitou da situação da tarja vermelha e foi para cima da bolsista, empurrando sua cabeça no espelho, que quebrou e cortou a testa de Erva. Assustada, a veterana se afastou, mas Erva não deixou por isso, pegou um pedaço de espelho que caiu na pia e voltou-se para Mariana, apontando o caco para ela e a olhando ferozmente, com a testa escorando sangue.

"Você é louca, garota?" Erva gritou apontando o caco para veterana.

"O que você fez, Mari?" A outra menina perguntou retoricamente assustada.

Mariana estava assustada mas logo se recompôs para tirar a culpa de si. "Você mereceu!"

"Mereci? Você é doente!" Erva gritou. "Fica longe de mim!"

"Você devia ter ido embora logo de início!" Mariana falava nervosa. "Ou melhor, nem devia ter entra..."

"Cala boca! Cala boca! CALA A BOCA!!!"

Erva disse irritadíssima e Mariana arregalou os olhos. "Chega de falar merda, garota! O mundo não gira ao seu redor. Você fica aí querendo humilhar as pessoas, se fazendo de melhor, mas olha para você!! Uma estúpida, ridícula que repetiu de ano na faculdade para poder ficar mais um ano babando por caras que nem se quer te conhecem".

"Retire o que disse!"

"Estou farta de pessoas da sua laia que acham que podem fazer o que bem entender com pessoas que não são da mesma merda de classe social que você!"

"Eu vou falar para o meu pai que você está me ameaçando com um caco de espelho!"

"Fala a merda que você quiser, garota! Fod*-se você, seu pai ridículo que apoia uma filha burra e todo seu grupo de pessoas sem cérebro!" Erva falou tudo que pensava. "Que pais ridículos que gostam de jogar dinheiro fora ao pagar mais um ano para uma estúpida filha fazer mais um ano de faculdade para ficar se insinuando para caras ricos! Garota sem cérebro! Você é uma vergonha para as mulheres! Me chama de lixo, mas você é pior do que lixo, não tem cérebro, só quer caçar homem para te sustentar porque não sabe fazer nada sozinha! Depende do pai para sobreviver e vai depender de um marido para continuar sobrevivendo. Nunca andando com as próprias pernas. Sempre atrás de homens que fazem o que bem entender com você! Quem é a ridícula aqui?? Sua... sua... sua oferecida!!" Erva respirava rápido, com muita raiva, falou sem parar!

Mariana estava assustava com toda a cena e após Erva dizer tudo, estava com os olhos brilhando, com vontade de chorar. Ela olhou feio para a bolsista e não tinha resposta, apenas a atacou. "Você vai embora, e eu vou rir disso!" Virou-se e saiu correndo!

Após a saída das meninas, Erva se escorregou para o chão e começou a respirar fundo, recuperando o ar. Então se levantou e correu para o terraço de artes.

No terraço, Erva chorava muito, tremia, e respirava profundamente várias vezes. "Eu não consigo! Eu não posso! É muita coisa para mim! EU ODEIO VOCÊS!! EU ODEIO ESSA ESCOLA!"

"Aiai!!"

Erva arregalou os olhos e seu coração parece que parou de bater. Ela olhou para o lado e a alguns metros de si, Benício se espreguiçava em um sofá antigo.