Brigadeiro a Flores - Cap. 3: O ingresso na John Safra
A mãe de Erva incentivou muito os dois filhos a estudarem. Mãe solteira e sem completar o ensino médio, ela trabalhava como costureira em uma fábrica de tecidos no interior, batalhando desde cedo para pelo menos ter o que comer em casa. Para ela, os estudos iriam levar os filhos para um outro mundo, um mundo que ela via nas novelas.
Com esse incentivo, Erva decidiu, com 16 anos, que poderia ajudar sua família sendo a melhor advogada do país, após ver uma palestra de um ex-aluno de seu colégio sobre universidades.
"Oi! Professor, eu gostaria de agradecer o senhor a incentivar a gente a entrar na universidade. Eu não tinha muito conhecimento sobre isso. E obrigada, Júlio, pela palestra, foi muito legal conhecer esse mundo de oportunidades" - Erva agradeceu o professor e o ex-aluno após a palestra.
"Que isso, Erva!! Fico feliz de incentivá-los a não desistir de um futuro brilhante. Principalmente você. Minha melhor aluna!!" Respondeu o professor.
"Que legal!!! Fico feliz que tenha gostado. E o que precisar, pode contar comigo". Respondeu Júlio, ex-aluno.
"Ah, que legal! Eu já tenho uma dúvida. Como escolher um curso que vai definir sua vida?".
"Ah, é difícil. Mas acho que meu conselho seria olhar para si e ver o que gosta, ver suas aptidões, isso vai fazer você escolher uma profissão que se veja atuando. E então, você acha um curso!" Júlio sorriu. "Claro que você pode mudar também durante a vida".
"Aaah sim, claro. Mas, humm, eu tenho que pensar ainda, mas se eu fosse responder agora, eu gosto de defender as pessoas, lutar por justiça, ajudar o próximo, sabe?" Disse Erva pensativa.
"Interessante. Talvez a área de Direito seja uma boa. Dê uma pesquisada sobre."
"Perfeito! Muito obrigada, Júlio".
A partir de sua decisão, Erva pesquisou as universidades que não precisaria pagar, pois sua mãe não tinha de onde tirar dinheiro. Ela até sugeriu pegar um empréstimo, mas Erva negou, jamais aceitaria a mãe se endividar por causa de seu curso.
Após muita pesquisa, encontrou um vídeo de uma universitária de direito que a tocou.
"Tudo é possível neste mundo, todos somos livres para escolhermos o que queremos ser, fazer, dizer. Mas nem todos temos as mesmas oportunidades para colocar nossas escolhas em prática. Já outros, têm escolhas que prejudicam um indivíduo e saem tranquilos por aí. Advogar é você ajudar a criar oportunidades e fazer justiça para quem precisa. E a John Safra University me deu uma bagagem enorme e me ensinou tudo o que sei para tornar o mundo um lugar melhor".
Erva viu que a faculdade era paga, mas ofereciam três bolsas de estudo para alunos carentes. Pronto! A John Safra University virou o seu objetivo. A melhor universidade do país precisava ser seu futuro.
Foram quase dois anos de muito estudo, a biblioteca sendo sua segunda casa, e o cursinho gratuito da cidade sua primeira. Sua família só a via no horário de almoço de domingo. Seus amigos só a viam no colégio e conversavam apenas quando Erva se dava 10 min de descanso.
Todo o sacrifício valeu a pena, após as provas escritas, uma carta de recomendação do diretor do colégio, suas medalhas das competições que participou, uma entrevista rica em sorrisos e brilhos nos olhos ao falar porque queria entrar na John Safra e cursar direito, seu nome veio na lista de aprovados.
Ao saber que foi aprovada, Erva pulou e chorou muito, sua mãe a acompanhou. A escola celebrou com uma faixa. O cursinho quis que ela fizesse fotos para os banners que iriam colocar espalhados na cidade. Mas, após a agitação, veio a questão de como ela iria sobreviver em São Paulo. Afinal, a única coisa gratuita era a matrícula e mensalidade, livros, uniforme (opcional), moradia, alimentação etc., tudo isso teria que sair do seu bolso, e apesar de trabalhar nas férias no armazém da esquina, ela não tinha guardado o suficiente para os próximos 5 anos.
Dona Amélia não queria deixar a filha desistir da difícil conquista e estava disposta a tudo, inclusive mudar de cidade. Mesmo Erva recusando várias vezes, a mãe conseguiu convencer a filha. O irmão, Abner, 5 anos mais novo, não se importava com a mudança, pelo contrário, ele via a ida como grandes oportunidades para toda a família, inclusive para ele poder jogar futebol.
A família alugou a casa que morava no interior, já que era deles mesmo, conseguiu um imóvel de apenas um cômodo em um bairro um pouco longe da universidade, mas próximo de um ponto de ônibus. Dona Amélia passou a trabalhar como costureira em casa, Abner passou a estudar em um colégio público e jogar futebol na associação do bairro, e Erva usou suas economias guardadas para comprar os livros e outros materiais, menos o uniforme que era opcional.
"Tem certeza? Eu posso pegar um dinheiro e a gente compra, filha."
"Não mãe, é opcional. Temos quase 18 anos, quem vai para a universidade com uniforme?"
Para surpresa de Erva, todos.