Literatura infanto-juvenil

Literatura infanto-juvenil:

perfil dos personagens.

(Adalberto Lima.2007)

"Como gênero literário

a literatura infanto -

juvenil remonta uma

"tradição do século

XVIII"(Cfe.Khéde,1886)

Contar história é uma arte que nasceu antes da história e tem na oralidade seu passado mais distante. A literatura infanto-juvenil surge, pois, da arte de recriar as fantasias da memória popular.

Na Antigüidade clássica os contos tradicionais eram, na maioria dos casos, representados por adultos com função moralizante de educar, corrigir e zelar pela formação das crianças, e, por isso, modelos fechados de heróis, anti-heróis ou vilões que misturavam realidade e fantasia, de modo a atender aos interesses da sociedade de uma época. (KHÉDE, 1986, p.16; 20)

Cumprindo a função literária de simbolizar o real, a infanto-juvenil contemporânea pode apresentar personagens e fragmentações múltiplas, ambivalentes e relativizadas, por configurarem uma sociedade transformada ou em transformação, que busca sua identidade social e a desconstrução de valores estereotipados pela sociedade burguesa de outrora. (KHÉDE, 1986, p.57)

A busca de um perfil cultural nacionalmente brasileiro, “sem, contudo desconfigurar o homem em sua feição universal”, (KHÉDE 1986, p.61), teve no Brasil, grande destaque com a incorporação de ilustrações à narrativa. Com isso, as obras tipicamente folclóricas como Saci Pererê, ou heróis urbanos do tipo Turma da Mônica, ganharam nova articulação textual e maior qualidade crítica no contexto da produção mundial. Essa mesclagem criativa da literatura erudita, com a popular e de massa, possibilitou o desenvolvimento do gosto pela leitura na família e na escola. Um dos fatores que contribuíram para aumentar o número de leitores, foi, sem dúvida, o fato de se sentirem representados nos textos.

Em nossa literatura, um bom exemplo disso é, “O sofá estampado”, de Lígia Bojunga, em que Vítor, o tatu, comportando-se como ser humano,declara seu amor por Dalva. E Dalva, a gata angorá, como a maioria das donas de casa viciadas em novela, “não desgruda os olhos da televisão”, mantendo-se indiferente à presença de Vitor. Tal como no mundo dos humanos, “cada personagem representa um tipo de vivência da sociedade contemporânea”, em suas múltiplas faces.(KHÉDE,1986,p.56,57;63).

Ainda consolidando a criação de um perfil genuinamente brasileiro, surge o Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, para criticar a ditadura militar no Brasil dos anos 60 e 70, em cruzamento dialógico com Chapeuzinho Vermelho da versão de Grimm. Enquanto o Chapeuzinho Vermelho enfrenta o lobo e sua coragem é representada pela cor vermelha, Buarque apresenta o Chapeuzinho Amarelo brasileiro, significando: medo, palidez e apatia, decorrentes do poder opressor sobre o oprimido.(KHÉDE, p. 25-28)

Por outro lado, o perfil psicológico do malandro é pouco manifesto na literatura, por ter como primeiro destino uma elite privilegiada de vocação pedagógica erudita. Ainda assim, é possível conhecer o lado marginal na cultura brasileira em sambas, contos populares e recriação de cordel como João Grilo, (Ariano Suassuna) e até mesmo em Vadinho, personagem de Jorge Amado.(KHÉDE, 1986, p 67).

Os personagens infanto-juvenis eram, tradicionalmente, representados por adultos com objetivos pedagógicos de formar a personalidade da criança, contudo, diante dos conflitos do mundo moderno, os personagens também em conflito, já não apresentavam contornos definidos e “como a arte sempre supõe a representação da realidade, essa crise de representação levou a uma crise de identidade que se manifesta a partir do personagem” (KHÉDE, 1986,p.15).

Com efeito, a nova proposta do gênero infanto-juvenil contemporâneo brasileiro, atribui à criança o papel de ser personagem de si mesma e tem em Ana Maria Machado o caráter pioneiro nesse gênero, (KHÉDE, 1986, p. 67).

Em oposição a isso, os contos de fadas recriados pela literatura do século XIX, visavam atender aos anseios da classe burguesa dominante. Daí a se perceber a diferença entre Chapeuzinho Vermelho narrado por Perrault (séc. XVII) e o mesmo personagem descrito por Grimm e Andersen(séc. XIX). No primeiro caso, Perraul empresta a Chapeuzinho Vermelho uma personalidade revestida de beleza, uma menina atraente e intrépida. No segundo caso, os irmãos Grimms dão a ela atributos moralizantes: boa, carinhosa, obediente, entre outras qualidades moralizadoras atreladas aos interesses sociais.

No que concerne à construção de textos acadêmico, a introdução do livro “Personagens da literatura infanto-juvenil”, é o próprio modelo de como organizar um trabalho científico:

a) Sônia Salomão apresenta o assunto a ser pesquisado “A literatura infanto-juvenil é um gênero literário cuja tradição vem do século XVIII”

b) A definição objetiva do tema pesquisado se dá em: .”A literatura infanto-juvenil contemporânea realiza-se segundo as premissas básicas que norteiam seu aparecimento, porém já apresentando características novas diretamente ligadas à existência de um mercado de bens culturais...”

c) A justificartiva sobre a escolha do tema e métodos empregados aparece na frase: “Como vamos tratar de personagens de ficção, vale lembrar que eles representam valores através dos quais a sociedade se constitui”[...] Essas observações devem nos situar diante da íntima relação entre a literatura infanto-juvenil e as preocupações pedagógicas moralizantes oriundas da classe burguesa...

d) Delimitando as fronteiras da pesquisa, Khéde diz: “Por isso, a produção para crianças e jovens ligou-se a instituições como a escola e a família...”.

e) E esclarece o ponto de vista sobre o assunto que será tratado: “O primeiro desafio de um trabalho sobre o personagem nos dias de hoje se prende à crise teórica que atravessamos e à crise do próprio personagem consagrado pela tradição...”

f) A indicação do relacionamento com outros trabalhos da mesma área se dá em: “ Os formalistas russos, seguidos de perto pelos estruturalistas e semiólogos, realizaram importantes estudos no sentido de perceber o personagem como um ser de linguagem e, por isso, como parte da estruturação do universo ficcioal.”

g) Os objetivos e finalidades da pesquisa, com especificação dos aspectos que serão ou não abordados podem ser percebidos em: “A questão é polêmica e já avançou bastante no sentido de que a linguagem literária é um duplo que não permite dissociar forma e conteúdo a partir de enfoques unilateralemnete exteriores ou inferiores[...] não seria possível um rigor historiográfico. Por isso, selecionei textos estrangeiros que julgamos representativos [...] devo dizer que segui um percurso histórico que se preocupou com as próprias premissas históricas do gênero infanto-juvenil: seu nascimento, seus objetivos, a relação literatura – escola...

Referências

CITELLI, Adilson. Linguagem e persuasão. 16 ed. São Paulo: Ática: 2006, 103 p

KHÉDE, Sonia Salomão. Introdução. In: Personagens da literatura infanto-juvenil. São Paulo: Ática: 1986, p. 5-10

KHÉDE, Sonia Salomão. Personagens dos contos tradicionais. In: Perso-

nagens da literatura infanto-juvenil. São Paulo: Ática: 1986, p. 11-32

KHÉDE, Sonia Salomão. Personagens da literatura infanto-juvenil contem-

porânea no Brasil. In: Personagens da literatura infanto-junenil.São Paulo: Áti-

ca: 1986, p.57-79.

KHÉDE, Sonia Salomão. Personagens que fizeram história .In: Personagens da literatura infanto-juvenil.São Paulo: Ática: 1986, p.84-90.

LEALIS, C.Guimarães. Literatura Infanto-Juvenil. In: Curso de Letras – Habilitação: Licenciatura em Língua Portuguesa e Respectivas Literaturas.

LEALIS, C.Guimarães. Literatura Infanto-Juvenil. Turma 1, módulo 2.2ºsemes-

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SOARES, Angélica. Gêneros literários, 6 ed. São Paulo: Ática: 2006