POR UMA CULTURA FEMININA CRESCENTE CONTRA O MASCULINISMO VIGENTE. PROJETO ESCOLAR DE MARÇO: DEDICADO ÀS MULHERES AFRODESCENDENTES J B Pereira - 08/03/2023.

Há muita literatura sobre tal questão e rica fonte de pesquisa. Podemos apontar releituras que nos ensejam propostas escolares revitalizantes para visualizar a utopia e práticas libertadoras de mulheres que não se deixam minimizar pelos sistemas masculinizantes ou patriarcais. Os reducionismos congelam mulheres em redutos históricos e antropológicos nada condicentes às aspirações da mulher e seus projetos de vida pessoal, de realização e trabalho e vida coletiva. Tais temas e diferentes aspectos são elaborados em Quarto de despejo. Diário de uma favelada (1960), Docência, memória e gênero: Estudo sobre formação (1997), “Ser negro no Brasil: alcances e limites” (2016) e Corpos colonizados, leituras feministas na UFSC.

A crítica das culturas nos estudos culturais implica o estranhamento diante das formas literárias dominantes burguesas, preferindo as populares. A maneira como se vê o mundo e a sociedade, o trabalho, a sexualidade ... requer desconstruir de ideologias hegemônicas, eurocêntricas ou etnocêntricas.

Para isso, dar vez e voz, deixar que o clamor e o gritos do povo nos venham à mente e ao corpo, descolonizando-o das cores ideológicas e opressão vinculadas ao poder e ao acúmulo de capital.

Nesse contexto, insere-se a linguagem e a visão diferenciada de Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, mineira de Sacramento, deslocada às comunidades de São Paulo, onde foi doméstica e catadora de material reciclado.

Ler seu diário e desvendar o labirinto de poder e riquezas contrastantes ao universo da vida ou modo de vida dos marginalizados e suas práticas libertárias ou libertadoras, a solidariedade contra a egolatria sistêmica.

Objetivos

1. Ler e contextualizar Quarto de despejo, percebendo as desigualdades de gênero, renda, discriminações, racismos para não só criticar, mas desvencilhar e libertar desse sistema perverso.

2. Partir de experiências concretas libertadoras para adotar e deixar-se empatizar por práticas que nos convencer da dignidade humana e social, acesso aos bens e à educação.

3. Comparar os anos de 1960 e o nosso tempo atual, para fazer inferências e perspectivas para uma visão libertadora da mulher afrodescendente no contexto brasileiro e latino-americano como opões radicais aos pobres, mulheres e jovens.

4. Desmistificar a visão feminina da mulher como objeto sexual e estético do sistema para focar em sua dignidade e potencial libertador e transformador da sociedade.

Metodologia escolar

Por ser diário publicado em 1960, pode-se imprimir cópias de páginas do diário para serem lidas e contextualizadas, analisadas e tirar propostas de críticas sociais a construção do perfil de mulheres transformadoras da realidade.

Propor gravar entrevistas de vídeos com 5 minutos sobre a vida e profissão de mulheres atuando na transformação da sociedade contra a opressão das mulheres no sistema.

Realizar cartazes e desenhos de biografias seletivas de mulheres e negros afro-piracicabanos com o motivo de mostrar sua relevância política ou comunitária.

Conhecer e divulgar ou apoiar-se para estudos em sala de aula: Quarto de Despejo – Resumo. Literatura - Manual do Enem, por Alanis Zambrinij em 28/7/2022 Conhecer. https://querobolsa.com.br/enem/literatura/quarto-de-despejo

Considerações provisórias.

Constatamos e denunciamos o mau uso de recursos das políticas raciais que tentam amenizar conflitos, sem ir ao profundo das questões. Há séculos que perduram a discriminação e violências contra afrodescendentes, mormente contra as mulheres pobres e marginalizadas.

Os processos ainda estão onde há tanta tecnologia, pois a desigualdade estrutural do racismo e marginalização das mulheres ficam suas agruras no cotidiano de dor e morte, lágrimas e tendências de vitimizar e ridicularizar classes de operárias e trabalhadoras no Brasil.

Muita proposta surge, contudo não resolveu, pois precisa de tamanho investimento quando se arrastam a espoliação e a miséria contrastam com a riqueza e opulência nas sociedades contemporânea.

A falta de continuidade de políticas de emprego e combate à pobreza ao lado da secular corrupção pioram os quadros de desestruturação da economia e inclusão de afrodescendentes no mercado. Quando não constatamos que são alijados de direitos, restam-lhes condições ínfimas de educação, saúde, moradia, trabalho, transporte etc.

O que fazer? Muita empreitada e ação imediata de superação desse caos para que a cidadania seja vivida por classes populares e os afrodescendentes alavanquem seus projetos de vida.

A nossa escola se propõe aprofundar recortes do mês de março, dedicado às mulheres, especialmente as afrodescendentes. Assim, visualizar perfis, analisar novas proposituras, investigar biografias, avançar atividades pedagógicas à luz de mulheres que constrói o cotidiano de modo ético, por uma sociedade menos violente, mais equitativa, contra o subordinacionismo advindo do masculinismo e de patriarcalismo como ideologias ainda presentes dentre nós.

A respeito disso, os autores latino-americanos e brasileiros têm revistado o eurocentrismo e arquivos coloniais e imperialistas para proceder a antropofagia dos modelos importados e crivo de estudos de revisão e intervenção cultural pontual.

Assim, podemos inferir novas maneiras de repensar o lugar da mulher latino-americana e afrodescendentes à luz de Susana Bornéo Funck em Corpos colonizados, leituras feministas, UFSC:

Tanto a crítica feminista quanto a pós-colonial têm se ocupado com a produção de novas subjetividades e de um maior empoderamento para aqueles que tradicionalmente ocupam posições subalternas nas sociedades ocidentais. Nesse sentido, a segunda metade do século XX foi testemunha de um crescente interesse pela função da narrativa no estabelecimento de um espaço que permita revisão, reconstrução e “intervenção criativa” (Bhabha, 1994, p. 3) nos textos canônicos da literatura e da história. http://www.pgletras.uerj.br/vozolharoutro/volume003/artigo8.pdf

Ou seja, novas intervenções culturalmente instigantes contra o neoliberalismo, a globalização da economia, esfacelamento das comunidades. Para salvaguardar a vivência e experiência das mulheres entre nós como rede de solidária e criativa de fazer uma sociedade alternativa dentro do sistema perverso e inconsequente. Citar Bhabla,1994, sobre A localização da cultura, é contextualizar narrativas vindas das comunidades e do subsolo do capitalismo e das áreas periféricas das cidades, em que populações subscrevem ”...suas histórias, mesmo sem terem consciência...” histórica disso tudo!, parafraseando Karl Marx. Pois e W. Benjamin, ‘Vidas negras importam!”

Biografia

FUNCK, Susana Bornéo. Corpos colonizados, leituras feministas. UFSC. http://www.pgletras.uerj.br/vozolharoutro/volume003/artigo8.pdf Acesso em 09/032023.

JARDILHO, José Rubens Lima, DINIZ, Margareth. Formação de mulheres professoras afrodescendentes. Universidade Federal de Ouro Preto: Grupo de pesquisa HISULA, Disponível em: file:///C:/Users/joao%20bosco/Downloads/Dialnet-FormacaoDeMulheresProfessorasAfrodescendentesCondi-5789209%20(1).pdf Acesso em 09/03/2023.

JARDILHO, José Rubens Lima. “Educadora, Feminista, Indigenista: Leolinda Figueiredo. Revista História de la Educación Latinoamericana, Vol. 18, No. 26, enero-junio, (2016): 7-11 Lopes, José Rogério. Os caminhos da identidade nas Ciências Sociais e suas metamorfoses na psicologia social. (...) Louro, Guacira Lopes. “Gênero e magistério: identidade, história e representação”. In: Docência, memória e gênero. Estudo sobre formação. (Org.) Catani, Denise et al. São Paulo: Ed. Escrituras, 1997.

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo. Diário de uma favelada. Ática, 2014, 199 p.

MELLO, Dilma Maria de. (...) espaço para a formação do professor na aula de língua inglesa no curso de Letras. 225f. Tese de Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos de Linguagem.

OLIVEIRA, Fátima. “Ser negro no Brasil: alcances e limites”. Estudos em debate. Vol. 18, 2016.

PEREIRA. J B. Por que Carolina Maria de Jesus é ícone da mulher negra escritora? Carolina Maria de Jesus, por Mestre Fernando Marinho. Recanto das letras. Março de 2023. https://www.recantodasletras.com.br/juvenil/7735032. Acesso em 09/03/2023.

J B Pereira
Enviado por J B Pereira em 09/03/2023
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