ROSE
Era uma das minhas grades amigas, poucas, da época de adolescência. Morava na mesma rua que eu, cerca de cem metros da casa de meus pais, em Curitibanos - SC. Estudávamos no mesmo colégio, porém não na mesma classe e, frequentemente, íamos ou voltávamos juntas da escola.
Quando havia alguma atividade de lazer na pequena cidade, como um baile, festa religiosa, circo, parque de diversões itinerante, íamos juntas. Quase todo fim de semana, frequentávamos o cinema, sessão das 20:00 h., acompanhadas de sua avó, Dona Olga, com quem ela morava. Como eu ainda era menor, papai não me deixava ir só com amigas. Dona Olga não era severa e até estimulava alguns de nossos namoricos e gostávamos dessa meia liberdade.
Frequentávamos muito a casa, uma da outra, seja para ouvir radionovelas, brincar, jogar ou estudar. Uma tarde Rose viria para fazermos juntas as lições. Meu irmão, Odilon, que era seis anos mais novo que eu, soube disso e resolveu aprontar uma para a vizinha. Arranjou um barbante bem fino, porém forte, e amarrou-o ao trinco do portão da rua, não travando a fechadura. Escondeu-se atrás de uma floreira que existia em nossa varanda e ficou à espreita. Assim que Rose se aproximou do portão e já ia levar a mão ao trinco, ele puxou a linha bem devagarinho. A amiga viu que o portão se abria sem mesmo ser tocado. Ficou perplexa e desandou a falar alto para mim, que vinha em sua direção e sabia da brincadeira armada pelo mano.
- Tita, eu juro que quando eu ia tocar no portão, ele se abriu espontaneamente. Eu juro! Eu juro que uma mão sobrenatural abriu o portão!
Odilon, que estava escondido até então, não conteve o riso e apareceu para contar-lhe a verdade. Rose ainda estava branca de susto, ela que não entrava sozinha no porão escuro da casa da avó por medo de assombração.
A muito custo acreditou e riu conosco, sem graça.
Mudei de cidade no final da adolescência e quando lá voltei não encontrei mais a amiga que havia perdido a avó e mudado para a casa dos pais no interior do Paraná.