ELASTIC HEART - Capítulo 2
Capítulo 2 – Minha estranha loucura
No início da tarde, Taires precisou ir até a direção da colégio apresentar alguns documentos, mas no meio do caminho, encontrou Alexandre. Era uma tarde de bastante calmaria, então os corredores encontravam-se vazios e os professores aproveitaram o tempo quente para darem a suas aulas ao ar livre. Alexandre girou uma chave entre os dedos e olhou o rapaz de soslaio.
- E aí, Taires.
- Opa! – Cumprimentou, parando na porta da diretoria. – Beleza?
- Beleza, meu jovem! Acho que precisamos conversar, não acha? – Taires franziu o cenho, sem entender. – Não sabe do que estou falando?
- Sinceramente, não. Só vim entregar uns documentos aqui na direção, já estou de saída.
- Não tão rápido, meu amigo. – Ale tirou os documentos da mão de Taires, entrou na sala da secretaria e deixou em cima da mesa de uma das secretarias. – Precisamos falar sobre a Alessa. - Antes que pudesse fugir, Alexandre segurou Taires pelo pescoço e o levou até o banheiro masculino. – De início, achei até engraçado, sabe? Uma criança que nem você apaixonado pela minha garota, mas isso deixou de ser engraçado e se tornou um incômodo. Principalmente quando chegam aos meus ouvidos que você está saindo da biblioteca depois dela.
- A biblioteca pertence à vocês dois? – A resposta de Alexandre foi empurrar a cabeça de Taires contra a parede.
- Garoto, você não tem noção de quem eu sou e do que posso fazer contigo. Eu começo com um aviso, mas depois disso, o aviso vai ser arrancando dente por dente.
- Não tenho medo de você. – Alexandre achou admirável a coragem dele. – Você não merece a Alessa.
- E você se acha merecedor dela?
- Ela vai casar comigo. - A gargalhada alta de Alexandre por um momento fez Taires se sentir ridículo. – Pode rir o quanto quiser.
Alexandre se afastou dando risada, não conseguiu sequer reforçar suas ameaças. Já tinha visto todo tipo de maluco naquele colégio, mas Taires era além de tudo que já conhecera.
Mais tarde, no último horário quando acontecia a aula de Educação Física de Alessa, Taires colheu uma rosa vermelha do jardim e resolveu surpreender a futura mãe de sua filha. O que ele não sabia era que Alessa odiava qualquer demonstração pública de afeto.
Sem o menor receio, parou no meio do grupo de amigas de Alessa e estendeu a rosa para ela. O silêncio na quadra do colégio foi unanime.
- O que está fazendo? – Perguntou, sem esconder o tom de horror na voz.
- Eu trouxe para você! – E sorriu, serenamente. Naquele momento, Alessa teve certeza que Taires tinha algum parafuso faltando. Ela olhou para trás e viu os olhos de sua amiga Penélope arregalados de horror.
Ela puxou a rosa da mão dele, agressivamente e arrancou pétala por pétala, depois fez um de bolinha e jogou na cara dele.
- ME DEIXA EM PAZ!
Por semanas a cena da quadra de educação física foi assunto no colégio inteiro. E com isso, as discussões entre Alexandre e Alessa tornaram-se frequentes e cada vez mais difíceis.
Taires precisava colocar algumas matérias em dia, então, decidiu sair mais cedo e ir para o colégio de ônibus. Quando chegou, passou pelo corredor que dava acesso a Biblioteca, um grito vindo do banheiro feminino chamou sua atenção.
- ALE, VOCÊ ESTÁ ME MACHUCANDO! – Taires deu um empurrão na porta e encontrou Alessa sendo enforcada por seu namorado.
- SOLTA ELA! – Gritou, empurrando Alexandre. Alessa deslizou no chão, forçando-se a respirar. – SEU DESGRAÇADO!
- Ah, é claro que o Robin Hood apaixonado apareceria!
Alexandre contra-atacou Taires com um soco que acertou em cheio seu nariz. O sangue jorrou pela camiseta azul.
- NÃO FAZ ISSO! – Alessa tentou apartar, mas não tinha forças para se manter em pé.
- CALA A BOCA, VAGABUNDA! – Esbravejou, apontando o dedo contra o rosto dela. – VOCÊ NÃO TEM NOÇAO DAS PIADAS QUE TENHO QUE OUVIR POR SUA CAUSA E DESSE MOLEQUE IMBECIL!
Aproveitando-se da distração do mais velho, Taires deu um mata-leão que faria Alexandre ficar fora de combate por alguns minutos.
- VEM! – E puxou Alessa do chão, ela passou a mão pela cintura dele e os dois saíram corredor a fora. Só pararam quando estavam no parque municipal, bem longe do Colégio.
- Você está bem? – Perguntou Taires, tentando evitar a náusea que o cheiro do sangue começava a causar.
- Estou! – Respondeu, sentando-se ao lado dele no banco de concreto. – Seu nariz...
- Estou bem.
- Mas você está sangrando muito, Taires. Vamos ao hospital?
- Não é necessário. Vou ligar para minha irmã me ajudar. – Tranquilizou, tirando o celular do bolso e digitando uma rápida mensagem para Dana.
- Você não pode fazer isso, seu idiota! Enfrentá-lo dessa forma é loucura!
- Mas eu não tenho medo dele!
- Toda vez que você o enfrenta ele se enfurece e me agride.
- Termine com ele.
- Não é assim tão fácil.
- Como que você consegue amá-lo, Alessa?
- Você não entende.
- Me ajude a entender. – Alessa tirou uma toalha de sua mochila, jogou um pouco de água que estava na sua garrafa e passou suavemente no nariz do jovem.
- É melhor não. Se você realmente sente algo por mim, Taires, preciso que fique longe.
- Você não pode me pedir isso. – Ele tocou a mão dela e entrelaçou os dedos deles, tornando o toque íntimo e particular, quase como uma carícia. – Por favor, Alessa.
Os dois se olharam de forma profunda e até mesmo inocente. Alessa viu no par de olhos claros um sentimento genuíno e até mesmo poderoso. Nunca tinha visto aquilo nos olhos de Alexandre.
- Eu estou te pedindo, Taires. Se você realmente sente algo por mim, fique longe. É a única forma de você me manter viva. Com ele, eu sei lidar. Mas não posso lidar com o ciúme obsessivo que ele tem de algo que não existe.
Taires viu uma lágrima deslizar pelo rosto dela e a limpou com o dedo indicador. A mão tomou caminho até a nuca e Alessa não se opôs ao toque e nem ao que poderia acontecer.
- Você vai ser minha, Alessa. Eu espero o tempo que for por você. – E deixou um beijo na testa dela. – Não esqueça disso.
Ele ouviu a inconfundível buzina do carro de Dana do outro lado do parque e se levantou, lentamente. Alessa mordeu o lábio, trêmula. Era absurdo acreditar nas palavras dele, mas de repente, ela se viu sentindo algo que há muito tempo não sentia.
Esperança.