Visão da Praia - Parte I
Os meninos brincavam no quintal, uns três ou quatro. Era sábado, não havia aula e a turma ia para a casa do Alfredo. Era um belo lugar, afastado um pouco da cidade, uns quatro quilômetros, logo após o riacho branco, entre dezenas de árvores frutíferas.
Naquela tarde, logo após o almoço, se afastaram para colher mangas. Pedro subia nas árvores, era o menor, já que frutas vermelhas e suculentas estavam nos galhos mais altos.
— Jorge, pega essa – falava, enquanto colhia as mangas e as lançava para baixo.
De repente, Pedro parou e seu olhar dirigiu-se ao riacho. Viu uma figura arrastando um saco...
— Ei! Tem um homem na praia, cavando a areia e enterrando alguma coisa.
Os outros garotos também sacudidos pelo desejo se lançaram nas árvores e viram a cena na praia.
Minutos depois, comiam as deliciosas frutas sobre as sombras da jaqueira.
— Vamos lá ver o que aquele cara enterrava? – Alfredo falou corajosamente.
O silêncio tomou conta do lugar, os meninos se entreolhavam sem nada dizer. Havia um misto de medo, diversão, e curiosidade.
— Vocês não estão com medo? Estão? Seus maricas! Vocês são homens ou um bando de meninos mimados? Eu vou, se alguém quiser me acompanhe.
E lançando o caroço entre as árvores, limpou as mãos no calção e ajuntando um galho seco, saiu sem olhar para trás em direção a praia.