Sonho realizado
O Zé Prequeté não teve moleza na vida não. Depois de anos de inglória porfia na roça, entrou pra fábrica de onde saiu só aposentado, sempre cortando um dobrado. Com os cobrinhos da pensão garantidos, partiu para a realização do sonho que nutria desde criança: o comércio.
Desembolsou cinquenta pratas no armazém do Chico Piaba e se tornou dono de um maço de dez caixas de fósforo. Era a primeira compra que fazia por atacado. E já sentia no ar que as coisas agora iriam mudar, com seu sonho a se realizar. Antes de chegar em casa, sentou-se num banco da pracinha, sob uma frondosa árvore e mostrou a que vinha: abriu o maço de fósforos e começou a anunciar a mercadoria aos passantes. Chegou até a atrasar a volta para a janta, mas chegou em casa realizado, contando a proeza pra mulher Mariquita, que já se achava preocupada com a sua inusitada demora. Mas antes de pegar no terço, ouviu pacientemente o relato do marido:
- Aí então eu fui anunciano e vendeno as caxinha...teve um freguês até que levô duas...
- E a quanto cê vendeu cada caixinha, ô Zé?
- Vindi por cinco prata cada uma, dinhero vivo, limpim, tá aqui no borso...
- Uai, Zé, tem uma coisa estranha nisso aí: ocê gastô cinquenta, e com a trabaiêra toda da venda, só apurô cinquenta...?
Que diacho de negócio é esse? Cê num lucrô nada?
- Aí é que ocê num intende, Mariquita. O meu sonho, indesde minino era só niguciá...