LEO - RECORDAÇÕES - CAPÍTULO 9
CAPÍTULO IX – RECORDAÇÕES
Disposta a acabar com aquele mal-entendido, Gilda foi com Cris até o casarão de Samuel Torres. Dentro dele, ela sentiu voltarem à sua mente muitas recordações, mas ficou triste com o estado geral da casa.
- Como alguém pode ainda morar aqui, filha?
- O Samuel morava, não morava?
- Era um velho, já meio esclerosado e sozinho. Mesmo que fosse possível, Leo não ia ficar aqui um dia sequer.
- Não quero discutir isso com você. Não é pra isso que estamos juntas aqui. Vamos subir?
Gilda concordou. Subiram e Cristina levou a mãe até o quarto de Leo Torres. Depois de uma pausa diante da porta, ela pediu à mãe:
- Abre você, mãe.
- Por quê? Você tem medo dele? – Gilda perguntou, sorrindo.
Cristina não respondeu. Gilda abriu a porta e entrou.
Lá dentro, só viu o quarto que já conhecera há muito tempo. Entrou devagar e ficou olhando para tudo com saudade. Cada móvel contava alguma coisa sobre Leo. A estante, a escrivaninha, o piano e a cama do rapaz.
Cris entrou atrás da mãe e não viu nada além do que vira quando veio com Bruno e com Leila.
- Ah, meu Deus, de novo não!
- Não tem ninguém aqui, Cris, como na casa inteira.
- Mamãe, eu não estou louca. Eu vim até aqui duas vezes e esse quarto estava limpo como se tivesse sido usado naquele momento. Não tinha poeira nenhuma como agora. Parecia um outro mundo! O piano até brilhava!
Gilda aproximou-se do piano coberto de pó e passou a mão sobre ele, deixando o rastro de sua mão. Olhou para o quadro de Leo e ficou muito tempo olhando para o rosto do rapaz. As lembranças ficaram ainda mais vivas que antes.
- Você gostava mais dele do que do papai, não é? – Cristina perguntou, um tanto magoada.
- Não sei, filha. O Leo foi pra mim alguma coisa que começou e não teve final. Fizeram pela gente o que a gente não queria fazer. Decidiram por nós terminar o namoro e... ficou tudo sem sentido... Seu pai era um homem maravilhoso... por ter se casado com um garota que... ainda amava outro rapaz... Mas se eu não o amasse, não teria tido você...
- E o Bruno...
- É... e o Bruno.
Gilda voltou-se para perto dela.
- Vamos embora daqui?
- Mãe, você tem que acreditar em mim! Foi esse rapaz que eu vi aqui por duas vezes! Era ele! – disse ela, apontando nervosa para a foto na parede.
- Mas onde ele está, meu amor?
- Eu não sei! – Cristina diz, aflita. – Eu não sei...
- Vamos embora. Em casa a gente pensa melhor e eu tenho que trabalhar. Vem, meu bem.
- Me deixa ficar mais um pouquinho aqui, mãe?
- Cristina...
- Por favor, mãe. Não há perigo nenhum aqui. A casa é segura, você viu. Não tem ninguém aqui.
Gilda olhou para ela com jeito de quem duvidada e Cristina sorriu.
- Por favor, mãezinha...
Ela aceitou. Cristina levou a mãe até a porta da casa e Gilda foi embora, mas não sem antes recomendar que ela voltasse logo para a casa. Cris ficou ainda olhando o Fusquinha se afastar e subiu novamente para o quarto de Leo. Quando chegou diante da porta, teve a estranha sensação de que Leo estava lá dentro e... ele estava.
Cristina entrou e reviu o quarto novamente modificado e ele sentado na cama, esperando por ela. A moça respirou fundo e quis gritar, mas um gesto dele a fez calar-se.
- Não! Não grite!
Ela sentiu a respiração ficar difícil e as pernas bambearem; tudo escureceu e ela desmaiou.
Continua...
LEO – CAPÍTULO 9
“RECORDAÇÕES”