LEO - CARTAS - CAP. 8

CAPÍTULO VIII – CARTAS

Quanto mais lia, menos podia crer no conteúdo daquelas cartas. Eram cartas de Gilda para Leo, mas com datas de mil novecentos e sessenta e quatro, sessenta e cinco e sessenta e seis, numa época em que Gilda teria dezesseis, dezessete e dezoito anos.

Cristina não conseguia entender como Leo poderia ter recebido aquelas cartas de sua mãe. Ele não parecia ter mais que vinte e cinco anos agora. A menos... que as cartas fossem do pai dele e que, na verdade, ele não fosse um filho de Samuel Torres, mas um neto. Gilda tinha que ser interrogada a respeito e ela desceu. Chegou à porta da cozinha e chamou:

- Mamãe!

- Filha! Você saiu da cama! O que foi? Piorou?

Cristina não respondeu. Estendeu as cartas para a mãe e Gilda as pegou, sem entender.

- O que é isso, filha?

- Cartas, mãe. Cartas suas a Leo Torres.

Gilda olhou primeiro para as cartas e depois para filha, perplexa.

- Como você conseguiu isso?

- Vou explicar quando você me disser quem é Leo Torres.

- Isso se chama chantagem, Cristina. Eu sou sua mãe e...

- Eu sou sua filha e tenho o direito de saber, mãe! Esse cara foi ou é importante pra você, é o que dizem essas cartas. Mas ele não tem mais de vinte e cinco anos, mãe! Eu o vi hoje no casarão novamente!

Gilda respirou fundo e desabafou, nervosa:

- Leo Torres morreu há dezesseis anos, Cristina!

Cristina embranqueceu. A respiração lhe fugiu e ela teve que sentar-se numa cadeira, sem conseguir dizer uma palavra. Gilda olhou para as cartas e sentou-se também.

- Ele foi... meu primeiro namorado, Gilda continuou, mais calma. – Eu o amei muito... mas meu pai não queria que eu namorasse com ele... por ele ser muito rebelde... um... mal exemplo pra cidade. Um rapaz que pai nenhum queria como genro naquela época. Mas eu gostava muito dele e ele de mim... Samuel Torres me adorava e também não queria o namoro, por amizade a meu pai e por concordar que o filho não era flor que se cheirasse... Mas comigo, ele era o melhor homem do mundo. Ele tinha um talento muito grande pra música. Tocava e compunha coisas lindas ao piano e isso me fascinava. Mas, pra família, ele era a verdadeira ovelha negra. Tivemos que desmanchar o namoro na marra... e, tempos depois, eu me casei com seu pai...

Gilda enxugou uma lágrima e continuou:

- Ele morreu, seis anos depois do meu casamento, dentro do quarto dele, ninguém nunca ficou sabendo como. Alguns dizem que foi suicídio, outros insinuam que o velho Samuel o matou, durante uma briga, já que os dois não se entendiam. Mas ninguém sabe na verdade o motivo. Leo Torres está morto, filha. Eu estive no funeral dele... Você não pode tê-lo visto no casarão.

Cristina ficou em silêncio por um segundo e perguntou:

- Ele teve filhos?

Gilda não respondeu.

- Teve, mãe? – insistiu Cristina.

- Não... Ele me esperou, mesmo depois de eu ter me casado com seu pai.

- Meu Deus, se ele não se casou, deve ter tido um filho com alguma outra garota. Esse filho deve estar querendo vingança pela morte do pai, deve estar querendo me confundir porque sabe que eu sou sua filha, mãe! Eu o vi no casarão! Era idêntico ao moço do quadro junto ao piano!

- Leo não me trairia, Cris. Ele me amava. Provou isso várias vezes, mesmo depois de me ver casada.

- Vocês se encontravam?

- Não! Claro que não! Eu respeitava seu pai, mas eu sei que Leo nunca mais se interessou por moça nenhuma. Tenho certeza disso.

- E você? Ainda o ama?

- Ele está morto há dezesseis anos, filha.

- Mas ficou alguma coisa?

Gilda pensou por um momento e confessou:

- Claro... Eu nunca me esqueci dele. Você é tão romântica. Devia entender.

Cristina sorriu de leve, mas seu rosto ficou sério novamente.

- Então, quem era o moço que falou comigo no casarão?

- Não sei, Cris. Mas acho melhor eu ir lá com você e tirar tudo isso a limpo de uma vez por todas.

- Também acho.

Continua...

LEO – CAPÍTULO 8

“CARTAS”

Velucy
Enviado por Velucy em 08/04/2022
Reeditado em 09/04/2022
Código do texto: T7490511
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