LEO -MISTÉRIO -CAPÍTULO 4
CAPÍTULO IV – MISTÉRIO
Quando os irmãos entraram em casa, Cristina se sentou no sofá e escorou a cabeça nas mãos, apoiando-as nos joelhos. Ficou pensativa. Bruno olhou para ela e estranhou.
- Cris, você está sentindo alguma coisa?
- Tinha um cara, lá, Bu... Eu sei que tinha!
- Deve ter ido embora quando me viu chegar. Bem que a mamãe falou que não era pra ir até lá sem ela, não foi? Muita gente já sabe que o Torres morreu e a casa está praticamente abandonada. Deve ter muito engraçadinho entrando lá e esse que você viu podia até ser um aproveitador, já pensou?
- Não, não! Ele não era isso, não. Era educado, bonito, estava bem vestido. Era um filho do Samuel Torres! Era o carinha das fotografias que estavam em cima do piano, Bruno!
Bruno foi se sentar ao lado da irmã.
- Cris, os filhos do Samuel Torres têm idade para serem nossos pais ou mães. Como poderia ser um carinha?
- Então quem era, meu Deus!? Neto do velho?
- E eu é que vou saber, maninha? Toma um copo de leite com açúcar, se acalma e esquece isso, tá? Eu tenho que estudar e não me conta pra mamãe que você esteve no casarão, hein? Não quero levar bronca por sua causa. Até mais.
Ele foi para seu quarto. Cristina não fez outra coisa senão pensar no rapaz misterioso, pelo resto da tarde.
Gilda chegou às seis e meia. Colocou os livros sobre o sofá e foi até o quarto de Bruno.
- Oi, filhote! - ela falou, beijando-lhe o alto da cabeça.
- Oi, mãe. Ajuda aqui depois? - ele pediu.
- O que é?
- Tenho que resumir um texto em inglês, mas não consigo sair da primeira linha. Tenho prova amanhã, mãezona. Dá uma mãozinha?
Gilda riu.
- Duas, querido! Espera só eu fazer o jantar, corrigir dois maços de provas, lavar o cabelo e a louça e colocar sua irmã pra dormir, tá?
Foi a vez dele rir.
- Essa ajuda vai sair amanhã cedo, certo?
- Mais ou menos. E a Cris? – ela perguntou, indo para a porta.
- Acho que no quarto dela... Mãe!
Gilda parou e esperou.
- Eu não ia contar porque estava morrendo de medo de você me dar uma bronca, mas... acho que você vai descobrir, mais cedo ou mais tarde...
- O quê? Não me diga que você e a Laís...
- Não, mãe! Pelo amor de Deus! – ele falou, rindo. – Você não vai ser avó de filho de filho solteiro tão cedo, não! Calma! É a Cris.
- A Cris? Aquele sem-vergonha do Ted, eu...
- Ei, dona Gilda, baixa a bola aí, por favor. Também não é isso. Bom, pelo menos eu já sei o que te deixa estressada a nosso respeito. Nada de transar sem camisinha, certo?
- Bruno! – Gilda bronqueou.
Ele riu e se sentou na cama.
- Não tem nada a ver com namoro nem meu nem dela. Ela está esquisita, mas não está grávida. Pelo menos eu acho que não.
- Esquisita? Por quê?
- Ela foi ao casarão... sozinha.
- Ah, céus! Mas eu falei pra ela não ir e, se fosse, que fosse com alguém. O que foi que houve? Caiu de algum degrau daquela escada podre?
- Não, mas caiu nas graças de um tal cara que estava, mas não estava lá.
- O quê?
- Olha, é melhor você perguntar pra ela mesma. A maninha está pirando. Acho que a paixão pelo Ted era mais forte do que a gente pensava.
Gilda foi até o quarto da filha e a encontrou deitada na cama, de bruços, lendo um livro.
- Posso entrar, Crica? – Gilda perguntou, batendo na porta entreaberta.
Cristina virou na cama e sorriu.
- Oi, mãe. Entra.
A professora aproximou-se e beijou seu rosto, sentando-se junto dela, na beira da cama.
- Tudo bem, amor?
- Acho que sim. Como foi a aula?
- Bem e você? Como foi seu dia?
- Bem também... ela respondeu, não muito convicta.
Gilda afastou os cabelos dela da testa e disse:
- O seu irmão já me disse que você foi até o casarão do Samuel, sozinha. Teimou, não foi?
- Ele contou, é? Ah, mãe, a Leila não pode ir comigo e eu estava doida pra conhecer a casa por dentro. Perdoa!
- Tudo bem, mas ele disse que você voltou esquisita de lá. O que foi que houve?
Cristina suspirou e ficou olhando para a mão da mãe na sua.
- Tinha um homem lá...
- Um homem?! Cris, você se arriscou muito...
- Não, não se preocupe, não era perigoso. Era... bem... ele disse que era um dos filhos do velho Samuel...
Gilda ficou olhando para ela e uma ruga surgiu em sua testa.
- Filho do velho Samuel?
- É... um tal de... Leo.
O rosto de Gilda embranqueceu quando ouviu aquele nome. Levantou-se e foi apoiar-se na estante.
- Você o conheceu, não é, mamãe?
Gilda olhou para a filha e disse, categórica:
- Cris, eu não quero mais que você vá até aquela casa, ouviu bem?
- Por quê? Quem é ele?
- Leo Torres não podia nunca ter estado no casarão, Cristina. Você vai tratar de esquecer isso e nunca mais pisar lá, a não ser com o Bruno ou comigo. O homem que você viu deve ser um aproveitador que quis fazer uma gracinha com você ou... comigo. Promete que nunca mais volta lá sozinha?
- Prometer? Não, não vou prometer. A menos que você conte pra mim quem foi ou é Leo Torres.
- Cristina! A única coisa que você tem que fazer agora é me obedecer e não ficar me questionando nada.
Cristina não gostava de discutir com a mãe e acabou cedendo.
- Está certo, eu prometo que não vou mais até lá sozinha. Mas com a Leila e com o Bruno eu posso, não posso?
- Pode... mas você não tem nada que fazer lá. É só uma casa velha, filha.
- E você vai alugar mesmo?
- Não sei, ainda vou pensar. Mas a única coisa que eu “não” vou fazer é morar lá. Você devia ficar feliz com isso. Não era você que estava abominando o fato de eu ter herdado aquela... velharia? Não pense mais nisso. Eu vou fazer o jantar. Dá pra dar uma ajudazinha?
- Claro...
Cristina não tocou mais no assunto. Embora o rapaz não saísse de sua cabeça, ela sabia que o assunto aborrecia a mãe e procurou evitar brigas desnecessárias.
LEO – CAPÍTULO 4
“MISTÉRIO”
Continua...
Bom dia!