Epopéia antiga de um sábio.

Epopéia

O tesouro está onde o coração se alegra.

Havia em certo lugar um homem tido por todos na região como muito sábio; falava-se que em outros tempos quando este ainda era um jovem aventureiro, lançou-se pelo mundo a procura de um tesouro que fosse maior do que todos que já ouvira falar. Um tesouro que fosse formado por muito ouro e todo tipo de pedras preciosos que a natureza pudesse formar, além de algo que conferisse poder, autoridade, sabedoria e alongasse a sua vida por décadas sem fim.

Realmente suas jornadas em terras dominadas por califas, vizires e sultões lhe renderam estórias magníficas e inacreditáveis sobre seus confrontos contra os gênios das areias de desertos em partes inóspitas da terra, embates contra legiões de seres escravos de necromantes no velho continente, batalhas que duravam meses a bordo de naus em mares sombrios, revoltos e tempestuosos próximos à barreira do universo; “O derradeiro limite náutico do planeta”; oceanos repletos de criaturas dantescas onde dormem Leviatã e Kraken; embates nas entranhas da terra, no seio de vulcões contra raças que a humanidade ainda hoje desconhece e uma miríade de tantos outros feitos grandiosos e honrados em lugares utópicos cuja maioria das pessoas que nasceu neste planeta somente viu em seus mais delirantes sonhos; assim como o relatado pelo próprio Alighieri em seus três romances; inferno, purgatório e paraíso.

Quanto mais aventuras este homem vivia mais ele descobria que existia para ser vivido; a ampulheta do tempo derramava seus finos grãos de areia a cada estação e a vida ficava cada dia mais curta dentro do peito deste antigo errante. Ele resolveu que se entregaria até o fim por sua busca particular, ou acharia seu tesouro pessoal ou não valeria mais a pena voltar para sua terra derrotado na busca que se propusera a empreender.

O fato é que um dia ele retornou; vivia modestamente e com recato em uma casa que pertencera a seus pais e aos pais de seus pais antes deles; este sábio possuíra realmente uma grande quantidade de riquezas, embora nunca se valesse delas para se pôr acima dos outros. Adorava contar os relatos de todas as suas experiências e estes contos transcenderam os limites de seu pequeno povoado, logo andarilhos do mundo inteiro vinham até ele para que este lhes revelasse os caminhos por onde havia percorrido e como poderiam alcançar a sabedoria, a riqueza, à vida sem fim e todos os tesouros oníricos.

Pois bem; certa vez um jovem sedento por respostas chegou a casa do sábio atrás das mesmas respostas que tantos outros e antes de encontrá-lo ficou abismado com o local onde morava; os salões eram repletos de quadros, cimitarras, frascos com líquidos coloridos, tapeçarias antigas, cerâmicas milenares e tantas outras coisas.

_ Sábio ancião_ iniciou o jovem aventureiro; concluindo._ Ouvi dizer que o senhor já esteve na fonte da qual brota a sabedoria, e que já viu montanhas e montanhas formadas por lingotes de ouro puro e maciço. Quero ir a estes lugares adquirir sabedoria tal como a sua, enriquecer, achar um coração que bata no mesmo compasso que o meu, me apaixonar pela dona dele e retornar para minha terra vitorioso em minha busca exatamente como o senhor fez.

O velho sábio carregava um livro nas mãos e prestou muita atenção ao que o jovem falava, provavelmente lembrando-se de sua própria vida muitos anos no passado.

_Sim, é verdade_ respondeu_ Vi montanhas de ouro, ouvi o canto das sereias como Ulisses em sua odisséia, estive em palácios ao redor do mundo, falei com deuses e com titãs, engalfinhei-me com bestas-feras, combati as legiões do abismo, caminhei pelos campos Elísios, escalei as mais altas montanhas para libertar povos, lutei próximo dos portões do Tártaro, conheci Changrilá, Alâmut e o Sesamo que é a montanha dos quarenta ladrões e por fim encontrei a mais bela flor no jardim repleto de belas flores que são as mulheres, casei-me com ela e retornei sem encontrar o que procurava. O que você quer que eu te faça?

O jovem não entendia a natureza da pergunta, tampouco podia acreditar que o ancião não tivesse encontrado o Tesouro dos tesouros, pois era evidente que ele possuía muitas riquezas; seu rosto denunciava que já era muitíssimo avançado em dias e sua fama correu o mundo sobre sua sabedoria adquirida após sua jornada.

O jovem falou:

_ Quero ir aonde você foi, ver o que você viu e receber o que você recebeu; almejo sabedoria, riqueza e vida para sempre.

Sorrindo o ancião recomeçou:

_ Na juventude tudo parece maior do que realmente é; quando eu deixei minha cidade natal, meus parentes, meu povo para me lançar na jornada, eu não possuía nada e sai deste lugar apenas com este livro que carrego agora nas mãos, o legado de meu pai para mim e do pai dele para ele.

Mas o jovem pensou estar sendo testado pelo sábio e insistia:

_ Quero a sabedoria, quero riquezas e quero vida sem fim._ Falava decidido.

_Muito bem então_ rebateu o sábio_ tome meu livro e siga o caminho que mais lhe parecer agradável, eu só recomendo que antes de qualquer coisa você leia a primeira frase no topo da primeira página e então decida o que fazer.

O ancião se virou para se retirar enquanto o aventureiro abria o livro para averiguar. O jovem leu e sem saber ao certo o que dizer, perguntou:

_ O que significa isso? Eu já conheço esse livro, ele também existe na minha terra.

O velho falou por sobre os ombros enquanto saia da sala:

_Neste livro está o caminho para a vida eterna que você tanto deseja, a fórmula para adquirir riquezas materiais, espirituais e toda a sabedoria que um homem precisa para viver.

O novato estava confuso e o velho já o deixara, quando de dentro do livro um pequeno pedaço de papel caiu; ele o resgatou do chão e leu as palavras escritas pelo sábio:

“Não importa o quão longe você vá, quanto tempo você viva ou quantas coisas você faça e adquira; pois o fim da jornada é sempre o princípio. Do pó viemos e para o pó iremos voltar. O que possuo; possuo por causa das aventuras que vivi, foi o caminho que escolhi, você é livre para trilhar o mesmo caminho ou procurar o seu; mas faça isso sabendo que o tesouro que procura já está em suas mãos, assim será poupado de muito sofrimento e rapidamente aprenderá sobre a plenitude em todas as coisas da vida. Nas páginas deste livro estão O Caminho, A Verdade e A Vida; Deus o abençoes”.

O jovem aventureiro leu novamente a primeira frase da primeira página do livro desta vez em voz alta; estava escrito assim:

“O primeiro livro de Moisés chamado GÊNESIS”.

Que Deus abençoe a todos que possam ler este conto.

Luiz Cézar da Silva
Enviado por Luiz Cézar da Silva em 23/11/2007
Reeditado em 15/02/2008
Código do texto: T748592