*** UM MENINO QUE NÃO SABIA VOAR ***
UM MENINO QUE NÃO SABIA VOAR
Paulo Carvalhal 1
Na área rural do município de Simões Filho, estada da Bahia em um pequeno pedaço de terra, que insistia chamar de sítio morava uma família que vivia quase que isolada do resto
da cidade, que ficava aproximadamente a 200Km.
Esta era formada pelo casal, Jacó e Zefinha e seu filho Antônio (Toinho), todos sofriam de
algo que trato por “doença” que é o analfabetismo e pra piorar o menino era deficiente visual. No tal sítio o casal construiu um casebre de pau a pique (supapo, taipa) coberto com palhas de palmeira, a cozinha e o banheiro ficavam fora do barraco.
Com muito sacrifício cultivavam alguns vegetais e tinham uns poucos animais de criação,
Apesar da ignorância e das dificuldades protegiam como podiam aquele pobre garoto cego,
que levavam junto com eles na lida diária na terra,mas o menino passava todo o tempo só
pois não tinha amigos nem irmãos, passando o tempo buscando apurar sua audição e o olfa
to já que para ele o exterior era um breu só.
Contudo, o destino que até então lhe fornecera o isolamento, também lhe proporcionaria
luz; não demorou muito e outra família mais numerosa e abastada em busca de sossego e se gurança comprou uma área vizinha e logo as coisas mudariam. Pra início, eles tinham também uma filha portadora de deficiência visual e mais dois garotos” normais”, precisando adaptar-se à nova realidade; e crianças sabe – se como são.
Em poucos dias fazendo as explorações do novo local e visando dotar a irmã da autonomia
que tinha no grande centro acabaram ficando com sede e bateram no sítio do Jacó, com uma
audição privilegiada Toinho logo começou a chamar os pais avisando que tinha pessoas cha
mando na porteira; indo verificar do que se tratava Jacó deu de cara com as três crianças que
o cumprimentaram educadamente, ele respondeu e perguntou o que eles queriam; um dos me
ninos pediu um copo com água.
Convidou-os a entrarem e ele foi até o casebre e voltou com uma moringa cheia d’água e
serviu ao moleque que repassou o copo para que sua irmã bebesse primeiro que ele e o irmão
logo a seguir veio a Zefinha arrastando o Toinho com seu cajado de madeira e querendo saber 2
quem era aquelas crianças; o marido explicou que eram novos moradores, ou seja vizinhos, o mais velho dos menino imcumbiu-se de se apresentarem dizendo eu me chamo Márcio, este
é meu irmão Fabrício e esta é nossa irmã Júlia , ela também é cega; surpresa Zefinha respondeu dizendo seu nome o do marido e filho.
Não demora muito e o pai preocupado chega ao sítio após uma boa caminhada, é então re
cebido pelos anfitriões, se apresenta e informa o que as crianças já havia dito, porém consta
ta que o garotinho também era cego e que tinha a mesma idade de Júlia e salienta que ela e
ra o xodó da família. De fato ela era linda, parecia uma bonequinha aloirada, de franja e ra
bo de cavalo, além de muito meiga e logo se intera com Toinho convidando-o para ir a sua casa.
No dia seguinte um dos irmãos a leva ao sitio, afim de que possa fazer o reconhecimento
da nova região e possa aí também ter sua autonomia, pega o novo companheiro e ela já vai
lhe dando as informações necessárias para que ele aprenda a deslocar-se de um sítio ao outro
sozinho; o dia passou agradável e foi muito rico em aprendizado principalmente para o ami
guinho novo.
Como dispunha de melhores condições financeiras na cidade onde morava teve acesso a in
formações, conhecimentos e equipamentos, a exemplo de um computador tradutor e sem de
mora já foi logo mostrando ao menino que certamente devia está até atordoado com o volu
me de novas informações mas, que certamente também muito contente. E como se costuma
dizer em alguns lugares desse país “quando Deus fecha uma porta; no mínimo abre uma jane
la”; e o moleque já foi dando provas de que era muito inteligente assimilando rapidamente as
orientações , tanto que na hora de retornar a sua casa disse que o faria sozinho, contudo , a
a mãe da Júlia ficou temerosa, porém esta interveio na defesa do amigo e ao mesmo tempo
propôs um desafio para estimulá-lo, deixou que ele levasse um celular e ligasse pra ela assim
que chegasse em casa e se conseguisse no dia seguinte seria a vez dela ir à casa dele.
2
E assim se deu, porém sem que ele soubesse mandou que o filho mais velho seguisse o me
nino sem que ele percebesse, entretanto, como já dito o moleque era muito inteligente e fez
uso correto das orientações recebidas da companheira e chegou em casa sem problemas no
entanto Zefinha é que estava preocupada, mas relaxou ao vê-lo chegar e tencionou-se ao sa
ber de sua proeza voltando sozinho.
À noite demorou um pouco pra adormecer processando novamente aquele mundo novo, es
tava eufórico, mil coisas agora se passava naquela cabecinha onde antes talvez houvesse uma
dezena . Logo cedinho o Toinho já estava de pé ansioso pela chegada da amiguinha Júlia pra
viver novos desafios, tinha ele muita fome de conhecimentos e muita esperança que com ela
ia aprender bastante pois já nutria por mesma grande admiração e a recíproca era verdadeira
E assim que Júlia chegou dentro do peito seu coraçãozinho saltitava de alegria e contenta-
mento, contudo ela veio com os pais que trouxeram também novidades; ela perguntou a ele
se gostaria de aprender a ler e escrever; imagina qual seria a resposta?
Os pais de menina também fizeram algumas mudanças, a primeira foi a compra do sítio do
Jacó e além disso seriam contratados como funcionários do que seria a Fazenda Santa Luz e
também eles seriam alfabetizados, o casal não tinha nem palavras pra agradecer tudo o que fa
riam na vida deles. Teriam a casa melhorada, pois ali seria a vila dos funcionários da Santa
Luz assim como abrigaria a escola do fundamental 1 e 2; mas enquanto isso a menina já ensi
nava o Toinho que aprendia rápido e antes mesmo que a escola ficasse pronta o moleque já o
sabia e então assim aprendeu a voar; sim porque a leitura nos liberta e propicia voos altíssi-
mos.
3 25/12/21