Modernismos multifacetados: acerto de brasileiros contra o erro de português (2022): 100 anos da Semana de Arte Moderna.

Diante das comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, destacamos os Modernismos multifacetados. Essa expressão não é minha. Vem da FAPEST jan. 2022, ano 23, Nº 311, já na capa da Revista da Pesquisa FAPEST. O artigo aparece nas páginas 32-41.

Os temas "Modernismos multifacetados", "Centralidade contestada" e "o Papel feminino" propõem a panorâmica crítica e a revisão da arte moderna e da literatura à luz da história da arte, da pintura e corpus literário e da cultura brasileira.

Houve avanços das discursos poéticas e novas tendências instigantes e provocantes que ousavam contra o passadismo. Nas contextualizações das poéticas modernistas, os poemas e outros textos em prosa como contos, crônicas e romances eivaram o campo da formalidade lusitana com novas postulações esteticamente afrontosas das conceituações gramáticas normativas clássicas à luz das oralidades ou dos linguajares ou regionalismos ou vertentes ou variações linguísticas do idioma da Língua nacional Portuguesa na boca dos afrodescendentes, imigrantes e campesinos ou minorias urbanas.

São idiossincrasias que vieram à baila em textos modernistas e pós-modernistas em três gerações diferenciadas com rupturas e outras como retomada crítica ou debruçar sobre a tradição de morfossintaxe e fonética e prosódica nacional e lusitana. Isso é claro em:

"Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio

Para melhor dizem mió

Para pior pió

Para telha dizem teia

Para telhado dizem teiado

E vão fazendo telhados."

"Pronominais

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro."

Poemas acima de Oswald de Andrade

Minha continuação: J B Pereira:

Sabemos que a língua portuguesa de Portugal foi imposta desde a origem e fixação dos portugueses em solo brasileiro e maioria indígena e depois de população fortemente negra africana. No século XIX, houve proibição terrível, a língua portuguesa tornou-se obrigatória e eram punidos (cortava-se a língua de quem não a falasse). Geralmente, os mais vitimados foram negros e indígenas tupi-guarani, associação linguística do grupo Gê.

No começo da evangelização dos jesuítas o Padre José de Anchieta elaborou a primeira gramática tupi-guarani na América do Sul. A primeira geração iconoclástica ou de ruptura com o parnasianismo e modelos passadistas insurgiram contra a elite e os barões do café, cujo modelo linguístico e comportamental era basicamente firmado no eurocentrismo, especialmente o francês, britânico e alemão. Sobre a crítica ao eurocentrismo, citamos o poema: "

"Erro de português

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português."

Oswald de Andrade

Erro de português

Quando o português chegou

Debaixo de uma bruta chuva

Vestiu o índio

Que pena!

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português.

Poema de Oswald de Andrade

Continuidade de J B Pereira:

Nesse contexto, os atores se auto afirmaram na luta ou vanguardismo, cujo suporte vinha dos anos 1960: com a luta de direitos de estudantes em Paris; dos direitos civis, nos Estados Unidos em 1968 etc. Antecedentes do feminismo e da arquitetura nova, moda nova, guerra fria, as vanguardas europeias (cubismo, surrealismo, concretismo, etc.) influenciaram os nossos intelectuais jovens burguesas. O Macunaíma, de Mário de Andrade, é a obra destaque nesse contexto literário. Villa Lobos com introdução de instrumentos da musicalidade brasileira na estrutura orquestral clássica como atabaque, triângulo, berimbau etc. Mario de Andrade e Oswald de Andrade com poemas e cartas (de amigos se tornam avessos e distantes, sem contudo nunca denegrirem um ao outro), Pedro Nava de Minas Gerais com textos maravilhosos.

Tarsila do Amaral e Anita Malfatti demonstraram criatividade e surpreenderam a muitos com o estranhamento estético e pinturas genuínas do modo de vida brasileiro e do sertão. Na contramão e agressivo artigo, escreve Monteiro Lobato.

Por sua vez, Candido Portinari realça a infância de Brodoski e a vida de migrantes e retirantes nordestino em seus quadros e nas paredes de suas casas.

O período modernista foi marcado por problemas do contexto políticos do Estado Novo de Getúlio Vargas. Configurar e recompor esses passos e processos de altos e baixos do modernismo brasileiro e suas repercussões entre nós e ainda seus possíveis efeitos na emancipação de nossa brasilidade e democracia nos firma na capacidade de lutar por um Brasil ético e menos desigual e de acesso a todos por educação e condições de vida digna.

Afinal, a arte modernista nos encanta, canta, recanta, focaliza as demandas dos Brasis desiguais e que ainda merecem atenção e cuidados, melhores políticas e coragem de sermos novos, tecendo amanhãs e retomando as tradições, reinventando o nosso presente, com os atores da nossa vida cotidiana, sejam mulheres, crianças, idosos, intelectuais, profissionais e os artistas, esses agentes de formação de opinião e mudanças de perspectivas e esperanças de viver e amar o que fomos, somos e seremos.

Parabenizamos os pesquisadores e escritores da Revista: Pesquisa Fapesp de janeiro de 2022.

Fonte de minhas considerações em

https://revistapesquisa.fapesp.br/folheie-a-edicao-de-janeiro-de-2022/

J B Pereira e https://brasilescola.uol.com.br/literatura/poemas-primeira-geracao-modernista.htm e https://revistapesquisa.fapesp.br/folheie-a-edicao-de-janeiro-de-2022/
Enviado por J B Pereira em 27/01/2022
Reeditado em 27/01/2022
Código do texto: T7438650
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