Havia na fazenda uma lagoa encantada.
Era a fazenda de Corina Flor de Lis Bomtempo
Ali também se vivia, além do mundo real, fantassias colossais, como se a vida fosse um poço, de onde se retira todo dia muito encanto e beleza.
Por causa dessas coisas, a fazenda Campo Grande ficou guardada nos anéis da memória.
Mas, nem tudo que viu, viveu e aprendeu, veio das cercanias da fazenda, ou dos almanaques que lia.
Corina aprendera muito com o marido.
Ele tinha uma cultura regional gigantesca, muita sabedoria popular, e um baú de estórias com matiz e cores do Brasil.
A lenda da carimbamba, por exemplo, Corina achava que era invenção do marido. Ele contava que ninguém do sertão ou do mar, jamais viu a carimbamba. Só à noite se ouvia seu lamento triste, semelhante ao clangor da acauã, canglorando, canglorando, agourando morte na aldeia.
Dizem que a carimbamba que há três mil anos canta, tem cabeça de gente e asas que não voam. E que ela é igual em malvadeza ao Cabeça de Cuia, que, “Sete Marias precisava tragar. Sete virgens comer pro encanto acabar...”
É verdade.
O fazendeiro Generoso contava que já era escuro, quando Maryula ouviu cantar a carimbamba:
“Amanhã eu vou... amanhã eu vou...amanhã eu vou... amanhã eu vou.”
Curiosa, a pequena Maryula adentrou a mata, e ao pisar a vegetação rasteira, o paredão instransponível da mata se abriu e a lagoa encantada apareceu.
Maryula não voltou para casa.
E até hoje, corre o boato, que uma velha encurvada, grasna, em noites de lua cheia, na lagoa que não é mais encantada.
A neta do fazendeiro quis saber se a menina transformou-se mesmo numa velhinha.
E a avó Corina respondeu:
Nas lendas e histórias infantis, as personagens não crescem, não envelhecem e não morrem. Até saem dos livros de ficção, e vão morar no mundo real. É provável que já tenhas visto por aí, nalguma festinha infantil, o porquinho Rabicó, um pato falante ou até mesmo uma boneca que se comporta como gente. Não é mesmo?
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Fonte:
Adalberto Lima, trecho de "Estrada sem fim..."
Amanhã eu vou"
Luiz Gonzaga - AMANHÃ EU VOU - Beduíno e Luiz Gonzaga - Gravação de 1951.
https://www.youtube.com/watch?v=osyO4eA03hU