LÁGRIMAS DE CRISTAL
Maria de Fatima Delfina de Moraes
Marina tem dezesseis anos.
Um dia saindo para dar uma caminhada, encontro Marina sentada no portão, em lágrimas.
Pedi licença e indaguei:
- Porque chora uma morena tão linda? A Rainha do Baile funk!
E ela me diz, em lágrimas:
- Ah, tia, meu pai disse que vai me expulsar de casa. Estou grávida de tres meses e o namorado não tem como assumir a criança.
Ainda um pouco cerimoniosa, indaguei:
- E quantos anos tem o pai?
Ela me diz:
- Tem vinte e tres anos, mas os pais dele vieram aqui dizer aos meus que ele tem projetos de estudar e se formar e que filho não está incluído. E ainda sugeriram que eu tirasse a criança.
- Revoltada com a história orientei a ela, que pensasse em um parente que pudesse ajudá-la e que havia uma Fundação que também poderia auxiliá-la, e que por favor, se ela também não quisesse ter a criança, que permitisse a nascer e fizesse um processo para que seja adotada legalmente por uma família.
E que inclusive, no Conselho Tutelar poderia buscar ajuda, porque um pai não pode simplesmente abandonar uma menor à própria sorte, só por estar grávida.
Aquelas lágrimas cristalinas e luminosas, pelo sol que batia em seu rosto, foram cessando aos poucos.
E prometi a ela, que não está sozinha no mundo.
Poderá contar comigo para orientá-la e que a primeira providência era procurar uma Clínica da Família para começar os cuidados pré-natais, que ela sequer sabia direito o que seria.
Ela ficou muito agradecida e disse:
Foi Deus quem trouxe a senhora. Eu estava pensando em acabar com tudo de uma vez.
Disse-lhe:
- Isso jamais, pois se Deus permitiu isso, é porque ele tem um propósito para sua vida.
- Ore, peça orientação ao Altíssimo, e não se desespere.
Dei-lhe um beijo na testa, e retomei meu caminho.
O bebê de Marina nascerá em setembro. Ela já o ama, mais que a si mesma.
E hoje mora com sua madrinha que a apoiou integralmente.
(*) Qualquer semelhança com histórias afins, declaro ser um conto é fictício.