A DESCOBERTA DA VIDA
Chegaram à casa de sítio, muito ansiada. Os dois grandes amigos passaram dois dias viajando para chegarem a essa casa, onde iam passar a semana; o mais velho tinha 61 anos de idade e o mais novo 16 anos. Vinham espairecer a mente num ambiente mais natural e pacato, aproveitar os benefícios divinos, os pássaros, as plantas, o sol, a lua, o dia, a noite, a harmonia, só queriam descobrir o segredo da vida.
Como percebem Josué tinha mais experiência que José; tivera uma vida extraordinária no campo da psicologia, orientando os seus pacientes à cura mental, tendo uma vida exemplar na família e com os amigos. José apenas ia iniciando na vida, quase concluindo o ensino médio, prestes, também, a entrar numa faculdade.
Depois de guardadas as malas de viagem, observaram que ainda estava claro e puseram-se a caminhar pelo campo alastrado de sol, Josué demonstrando a José alguns achados psicológicos e recomendando-lhe cautela nas tomadas de decisão, para não dar uma do asno de Buridan, pois, muitas vezes, na vida, “atravessamos muitos Rubicões”, narrando-lhe algumas passagens platônicas filosóficas sobre a vida. José, por seu lado, ia ouvindo tudo em silêncio, sempre concordando com o outro, por vezes, perguntando. De repente, Josué parou, voltou-se para o amigo, pôs a mão no queixo, como que tentando buscar nos alforjes da memória alguma referência, perguntou-lhe:
- José, em um de seus contos, Machado diz que “cada criatura humana traz duas almas consigo, uma interna e outra exterior”. Para você, qual a sua alma exterior?
O garoto, espantando-se com tal pergunta, embaralhou-se na explicação, mas ousou este argumento interrogatório:
- Josué, como saberei quem sou por fora, se ainda não sei nem quem sou por dentro?