TE QUERO PORQUE TE AMO (2ª parte)

Nossa, eu jamais poderia calcular de que tudo não passasse de um sonho, afinal, parecia tanto surreal, jurava do fundo da Minh’alma de que aquilo era a minha felicidade.

Élder estava deitado na cama como um anjo aprofundado ao sono, enquanto lá do outro cômodo da casa, zumbia aos meus ouvidos os choros de uma das minhas melhores riquezas desta vida, Douglas, sob um tom tão gostosinho que roubava a minha atenção materna desvinculando o meu olhar ao homem que eu tanto amava, tendo minhas atenções somente para Douglas.

Élder percebeu quando eu me levantei da cama para socorrer Douglas daquele choro, como qualquer mãe faria, mas logo caiu no sono novamente. Justo naquele momento em que eu logo teria nos meus braços a minha maior herança, a vida me decepcionou, fazendo-me cair na real. Era um sonho! Sonho maldito, capaz de me lançar psicologicamente ao chão despertando-me impiedosamente para o mundo real. Nem mesmo o homem que eu mais amava na vida estaria ali para me dar um ombro amigo.

Coitada de mim! Dois anos que eu não via Douglas. E Élder, onde estaria? Só Deus sabe. Eu precisava seguir com a minha vida, ainda que fosse difícil, ainda que eu não tivesse mais ninguém, a não ser o Dr. Liberato, um ser que se mostrou ser mais monstro que homem. Para ele eu deveria ser grata a Deus por tê-lo na minha vida. Segundo ele, era ele a minha salvação. Como eu já estava sozinha no mundo, preferi me unir ao pouco amparo que a vida me ofereceu. Se eu não me aliasse a ele, minha última moradia estaria com os dias contados.

Liberato era um doutor muito respeitado na cidade. Eu dependia dele. Me sentia aprisionada a ele. Dependia também da justiça se quisesse alimentar a esperança de morar com o meu filho. Eu precisava fingir que era feliz ao lado daquele homem. Eu nunca o retrucava. Usava e abusava um pouco do amor que o bastardo tinha por mim, fazendo com que ele desempenhasse o máximo ao meu processo judicial, trazendo Douglas para mim.

Além de Douglas, é lógico que eu também queria trazer Élder, mas o desgraçado Liberato tinha um amor doentio por minha pessoa. Eu seria uma isca para que Liberato assassinasse Élder de maneira covarde. Sofro muito com isso.

A única vantagem que até hoje eu vejo em Liberato, é que com ele, eu não pago um tostão do meu bolso devido a perseverança conquisto da parte dele! Nossa, os dias que Liberato chegava a mim, trazendo boas notícias do fórum, justamente neste dia, eu conseguia um pouco melhor fazer de conta que eu era feliz. Pouco me importava se o réu do meu processo estaria sendo injustiçado com a minha situação, afinal, o importante para mim, era ter Douglas do meu lado.

Por ocasião, sem a menor importância, mas por intrometimento de uma vizinha fofoqueira, eu às vezes ficava sabendo um pouco de como os meus réus do processo estariam se saindo dos meus contra-ataques. Ela, a vizinha fofoqueira, nem sabia explicitamente que era eu, uma das partes do réu, e também nunca lhe contei, pois sempre a achei fofoqueira, e por incrível que pareça, suas fofocas eram fundamentais ao meu sucesso.

O dia do julgamento chegou. Eu estava confiante, talvez por ficar ouvindo tanto o Dr. Liberato dizer que a causa estava ganha. Eu já via meu filho nos meus braços. maternal. Em pouco tempo minha tranquilidade foi desfalecendo. Me sentia fatigada e também com nojo por ter me submetido ao Dr. Liberato. Eu o odiava. A única coisa que me fazia ficar ao lado dele era o prestígio que ele possuía, por ser um dos mais requisitados advogados da cidade.

A vitória deveria ser minha. Aguentar o que eu aguentei para receber o que eu estaria recebendo, nem mesmo os meus inimigos mereciam. Maldito Liberato, de doutor ele não tinha nada.

O juiz bateu o martelo, melhor, gravou uma imensa pedra de concreto sobre uma cova me enterrando covardemente viva. Perdi de vez a guarda do meu filho. Um filho que pelo que vi nem me considerava mãe. A minha “adversária” na justiça aparentava ter razão. Eu era apenas sua babá.

Sem chão, mas querendo repudiar o consolo nojento de Liberato, indefesa aos seus ombros fui para a casa, derrotada novamente pelo destino, inconformada por tudo do que já havia e ainda haveria de passar. Aceitei a situação em silêncio, mas apenas da boca pra fora. Na primeira semana após a tragédia elaborei a morte de Liberato e arrumei um jeito de organizar as heranças.

Demorou mais uns dois meses para eu colocar tudo em ordem. Há um mês, pelo menos algo de bom aconteceu comigo, fiquei viúva, mas sem que justiça ou medicina soubessem, duma morte que me trouxe benefício. Trouxe-me um pouco de paz, pois era a única herdeira dos seus bens. Para dizer a verdade, além da sua ausência que não me deixou saudade, me trouxe sorte, pois tornei-me dona de uma bruta herança e longe daquela cidade resolvi abrir a casa de espetáculos.

Não me prostituo, só comando uma casa de belas mulheres. Minhas heranças se multiplicam e muito bem. Essa multiplicação me trouxe a esperança de se aproximar do meu filho. Quem sabe se com o visual de uma “bela senhora” ele não me aceita? Enquanto isso não acontece não brinco mais de ser feliz, mas luto com as poucas garras restada, dando o melhor de mim, para que quando este dia chegar, algo de bom entre nós aconteça.