O lobisomem
Agora vós contareis uma pequena historieta que minha saudosa vovó, contou-me quando ainda era eu um menino, assegurou-me ela, que está narrativa fora um fato verídico acontecido nos anos de sua meninice.
No Taubateano bairro do Paiol, próximo a São Luiz do Paraitinga, quando as pessoas ainda preocupavam-se com as refregas que assolavam a capital paulista, e presenciavam uma esquisita peregrinação de um tal de Prestes, o povo deste bairro, sofreu terríveis transtornos perpetrados por um bestial lobisomem.
Os moradores estavam enfurnados cada qual em sua casa, devido a várias catástrofes feitas pelo bicho, a vida da vila mudou drasticamente, embora ainda não haviam ocorridos mortes, ninguém se arriscavam aventurar-se as ruelas, e claro, ninguém queriam entrar nos noticiários de óbitos, ou tornar-se uma anônima vítima do híbrido monstro. E como ninguém se arriscava a sair para o trabalho, não demoraria muito para ocorrer a inanição aos paiolenses.
Assim, os anciões do bairro, os mais sábios e experientes, reuniram e confabularam-se em como resolveriam tão infausto problema, e decidiram depois de muitas discussões, que Chico prego, Zé do vale e Mendonça, aventurariam-se nas matas e colinas para dar cabo do lobisomem, os três foram cuidadosamente escolhidos devido a embriaguez em que encontravam-se, chegaram em tal estado de "valentia" depois de extorquirem o pobre Tonho do bar, que já bastante espavorido pelo bicho, não se opôs as suas exigências. Então, na madrugada, quando todos protegeram-se no armazém do seu Mario, os bravos heróis saíram à caça do temível lobisomem.
Os intrépidos caçadores caminharam por algumas horas calados, Chico prego sequia a frente iluminando as trilhas com uma lamparina presa ao cano de seu trabuco; andaram por muito tempo, porém nada descobriram, vasculharam os locais onde as reais e conjeturas visões do bicho ocorreram, e sombrosos lugares: numa árvore espessa ou uma casa abandonada, locais aonde o monstro pudesse ocultar-se, não obstante, nem possíveis vestígios encontraram, estes que poderiam revelar se ali o bicho, um tempo permanecesse. Já aproximava o horário em que normalmente alumiavam os primeiros raios do sol, e o trio com o estado de ébrio abandonando-os, decidiram deixar a busca, injuriados, comentavam entre eles, as reclamações que vociferariam aos anciões por convencê-los a enveredar em tão absurda caça, encontravam-se a entrada do bairro, Quando ouviram estranho ruido surgido inesperadamente por detrás, e sentiram quente e malcheiroso hálito passando-se-lhes nas nucas, e escutaram tenebrosos rilhares de dentes no instante seguinte, amedrontaram-se engolindo em seco, forçadamente olharam-se, procurando esperançosamente defesa de um para com os outros, suas mãos sustentando os trabucos, tremulinavam frenéticamente, porém sem trepidarem à derrubar os arsenais, que agora era as suas mais que esperançosas salvaguardas, o rugido continuava e pesados passos, agora começavam progressivamente em direção aos três amigos, estes notando o movimento do bicho, volveram-se não por valentia, mas sim, por impulso, e ao fazê-lo presenciaram nas sombras entres fechadas folhagens, um gigantesco vulto, já com os braços escancarados, avançando ameaçadoramente a suas direções, gritos de pavores prenderam-se nas gargantas em cada um dos caçadores, que olhavam-o com os olhos esbugalhados em intenso medo, e parecia que não saberiam o que fazer, quando o imenso monstro ameaçou saltar sobre eles, que agora já estavam inteiramente sóbrios por causa do pavor; então, estes meio que espontaneamente miraram-no com suas armas e dispararam rajadas de projeteis de fabricação caseira, e um ensurdecedor urro propagou-se, porém, não de um monstro horripilante, como esperavam, mas esquisitamente, mais próximo da de um menino, deixando os caçadores atônitos:" Puxa! Isso não vale." Gritou o jovem espectro. " Eu estava só brincando não precisavam machucar-me desta maneira". Finalizou o bicho correndo como um raio, disparadamente para longe. O trio estacados sem nada compreender, verificaram depois de uns instantes, que a forma do lobisomem era uma espécie de fantasia, trajada por aquele menino, porém o que causou mais perplexo aos heróis, era que aquele garoto negro com um estranho capuz à cabeça e com, como os pareceu, um cachimbo à boca, e corria velozmente mesmo tendo apenas uma perna.