Capítulo 37 – Nossa pequena garotinha
 

Alexia entrou no apartamento aos prantos com Bruno atrás dela, tentando acalmá-la. Tinha acabado de descobrir o sexo de seu bebê e acreditava que nada podia estragar o momento, até Carol, a namorada de Bruno aparecer na porta da Clínica fazendo um escândalo.

“VOCÊ ESTÁ COM ELA POR PENA, BRUNO! QUANDO FOI QUE VOCÊ VIROU ESSE TIPO DE PESSOA?”

Toda a discussão com Carol martelava a cabeça dela sem a menor piedade.

- Dá para você me ouvir, por favor? – Bruno tentou segurá-la, mas ela se esquivou, furiosa. – Ah, Lexi, meu Deus! Você não pode ficar assim! A bebê pode sentir!

- COMO SE VOCÊ SE IMPORTASSE COM MINHA FILHA, NÃO É? ATÉ A LIGAÇÃO DA SUA MÃE EU RECEBI ME DIZENDO QUE ASSIM COMO LANA NÃO PASSO DE UMA GOLPISTAZINHA QUALQUER! - Na porta do apartamento, Ander e Lana travaram, ouvindo a discussão.

- A minha mãe te ligou?

- É, BRUNO, ME LIGOU! SABE O QUE ELA DISSE? ME AGRADECEU POR TIRAR LANA DA SUA VIDA E DISSE QUE A PRÓXIMA QUE DEVE SAIR SOU EU, JÁ QUE A MULHER CERTA PARA VOCÊ É A CAROL!

- Lexi... – Lana não conseguia encarar Ander. – Você sabe o motivo da Carol ter ido até a clínica?

- Pra me desejar felicidades é que não foi. – Alexia sentou-se no sofá, trêmula e colocou a mão na barriga. A bebê já reclamava por toda a agitação.

- Eu contei para ela que quero ficar contigo.
 
Lana viu quando Ander deu dois passos para trás, confuso com tudo o que ouvira. Sabia que em algum momento passariam por tal situação, mas ainda não tinha se preparado para isso.

- Ander...

- Como assim você e o Bruno? Eu... O que foi tudo isso que ouvimos? – Ele colocou a mão na cabeça, desesperado com a quantidade de informação. – Será que você pode me falar o que está acontecendo, Lana?

- Posso, mas você precisa se acalmar. – E segurou a mão dele. – Vem, vamos comer alguma coisa e te conto essa história.
 
(...)
 
Os dois foram até uma lanchonete no centro. No caminho, Ander ficou em silêncio enquanto Lana dirigia. Entraram, pediram alguns petiscos e bebidas e depois acomodaram numa mesa mais reservada.

- Ei... – Lana segurou a mão dele, que a olhou. – Você está mesmo pronto para esse assunto?

- Você não vai usar a frase daquele médico oportunista, né?

- Não, não vou. – E suspirou, com pesar. – Bruno é meu ex-noivo.

- O que? Mas...

- Só escuta, por favor. Quando você veio morar em São Paulo, eu e o Bruno já namorávamos há uns anos e pretendíamos casar. Achei realmente que nada podia nos atrapalhar, mas quando Alexia me contou sobre sua mudança eu não consegui me conter. Foi muito maior do que eu. Precisava te ver, ainda mais pela forma que “terminamos” no Rio.  

 

“- Eu vou me casar... Você soube?
- Minha prima me falou. Fico feliz por você.”


- Pensei que uma única noite seria mais que suficiente, mas não conseguia mais te deixar. Era um vício... Mas no meu egoísmo, feri você, Bruno, Alexia... – A história, ainda muito viva e recente, magoava Lana profundamente. – Todo mundo. E quanto mais nos mergulhava no que tínhamos, mais me afastava do Bruno. Até que um dia ele e Lexi se viram numa social no Rio de Janeiro e o álcool falou por eles e os dois transaram. O que é curioso, já que os dois se odiavam. Você me contou isso no dia do jantar do meu casamento, me impedindo de cometer a maior besteira da minha vida.


“Diferente de você, Alexia não é egoísta. A primeira coisa que ela pensou foi em você! E você aí achando que é a vítima da história. ACORDA!”


- Então o ódio virou amor? – Ander perguntou, depois de um longo tempo. Lana balançou a cabeça, assentindo. – Nossa...

- Bruno e eu ainda não conseguimos conversar sobre o nosso fim, mas sei que a Lexi o mudou. Sinto muito pela forma que você ouviu essa conversa, sei que pode te perturbar.


“Eu estou cansado de me sentir um babaca usado por você! Na verdade, acho que tudo isso para você é um grande jogo no qual eu e o Bruno somos seus subordinados. Quando se cansar de nós vai fazer o quê? Nos substituir?”


- O Bruno ainda ama você?

- Ele está deixando de me amar. – Respondeu Lana, com naturalidade.

- E você?

- O que tem eu?

- Não sente mais nada por ele?

- Desde que você voltou, não. – Ander tocou o rosto de Lana, que respondeu ao toque, dando um beijo nos dedos dele. – Sempre foi você, Ander e continuará sendo você até o último dia da minha vida. Tenho poucas certezas na vida, mas essa é uma delas.
 

 
“Como assim vocês vieram até o apartamento, mas não entraram?” – Lana ajeitou o celular no ombro, enquanto corria até sua mesa. Era um dia agitado no trabalho. “Ahh, você está no escritório, né? Que saudades!”

- Sim, estou. Amiga, seu primo ficou em choque quando ouviu você gritando que minha ex-sogra agradeceu por você ter livrado o filho dela de mim. Imagine como foi explicar aquilo a ele?

“Eu imagino. E como ele está?”

- Bem. Acho que nós estamos namorando. Quer dizer... Não acho, nós realmente estamos.

“E como funciona isso?”

- Amiga, estou tentando não pensar muito, só sentir e viver ao lado dele. Se eu pensar no que realmente está acontecendo, fujo novamente. E dessa vez, prometi para ele que não ia fugir.

“Fico feliz em ouvir isso. Agora estou preocupada...”

- Com o que, Lexi?

“Não sei como falar com o Ander sobre esse assunto. É tudo muito complexo e delicado.”

- Ah, é... E muito. Ele foi compreensivo, amiga. Me surpreendeu bastante. E como foi com o Bruno?

“Discutimos muito. Eu falei coisas horríveis e o fiz chorar. Não foi intencional, juro. Ele chora fácil assim mesmo, Lana?”

- Demais. Bruno é muito sensível.

“Nossa. Depois me senti mal por tê-lo feito chorar e pedi desculpas. Estava tudo muito estranho entre nós, mas ai...”

- Ai...?

“Nos beijamos numa manhã quando ele saiu para trabalhar. Ainda é confuso para mim, mas gosto dele, Lana.”

- Eu a entendo, amiga. As coisas são como são. Bom, então estão namorando também?

“Não exatamente, mas ele parou de sair com a arquiteta burguesa.”

Lana notou um silêncio desconfortável vindo de Lexi.

- Não confia nele?

“Pouco.”

- Bem, parece que a história se repete.

As duas conversaram por mais algum tempo, até que Ander a buscou no trabalho e os dois saíram para almoçar em um restaurante francês. Durante a refeição, ele contou a Lana que foi convidado para fazer parte do quadro de funcionários de uma famosa marca de alimentos, para a área de Marketing. A vida estava recomeçando para Ander, mas não para a sua memória afetiva. Não para ele e Lana.

- Ei... – Ander a chamou quando os dois entraram no carro dela. – O que foi? Você ficou quieta de repente. Fiz algo?

- Não, você foi um perfeito cavalheiro. Estou só um pouco cansada mesmo. – Respondeu, sincera. Ander segurou sua mão e beijou seus dedos, a olhando apaixonado. Os dois seguiram para o estacionamento.

- Olha só... – Ao ouvir a voz de Gabriela, Lana sentiu uma instantânea vontade de partir pra cima dela. – Como são fofos. E aí, Ander? Como vai a vida de desempregado?

Ela vinha na direção oposta e a julgar por suas roupas, estava prestes a se encontrar com alguém.

- Ótima, Gabriela. Nunca estive melhor por não precisar me encontrar contigo todo dia. – Lana o olhou de soslaio com total aprovação. – E você? Conseguiu seduzir de vez o chefe?

Gabriela revirou os olhos o ignorando e deu um sorrisinho, mas dessa vez, direcionado a Lana.

- Está feliz, Lana?

- O que estou ou deixo de estar não é da sua conta. Vamos Ander, meu tempo é precioso demais para perder com alguém como essa aí.

Os dois entraram no carro e Lana fez questão de ir embora mandando um beijo no ar para a ex-colega de Ander. O rapaz sorriu, mas não conseguiu ignorar o horrível tremor no meio da espinha com aquele encontro. Sem entender o motivo, sentiu que algo de muito ruim poderia acontecer com ele e Lana. Isso o deixou desconfortável, mas resolveu ignorar a incômoda sensação. 

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 07/03/2021
Reeditado em 10/02/2024
Código do texto: T7200749
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