Capítulo 35 - Não dá para esquecer você
- Que estranho... Ander não me atende. Será que está tudo bem? – Alexia perguntou, sentando-se na cama lentamente. Bruno surgiu em frente a porta do quarto de Alexia com uma caneca de chá de ervas. Ela olhou para o pai de seu filho e sentiu um agradável tremor passando por sua espinha.
- Bom dia.
- Bom dia, Bruno. – Ele entregou a ela e sentou-se ao seu lado na cama. – Tudo bem?
- Sim e como estamos? – A mão dele passou suavemente por sua barriga.
- Bem... Estou ansiosa para saber o sexo do bebê.
- Eu também. Quero muito ir com você. E sua mãe, quando vem?
- Conversamos ontem. Ela disse que está quase finalizando o acordo que fez com a empresa.
- Estou ansioso para conhece-la. – Alexia sentiu seu coração bater muito rápido. – Posso te perguntar uma coisa?
- Sim.
- Não pense que estou me metendo na sua vida, mas é natural que eu ouça as coisas, uma vez que agora moramos juntos. – Ela não o interrompeu. – Sei que seu primo está se recuperando do acidente e continua sem memória, mas quando é que você vai parar de tratar ele e a Lana como fossem crianças que precisam da sua supervisão para tudo?
- Você não entende, Bruno. – Murmurou, colocando a caneca com chá no criado-mudo. Não queria discutir esse assunto. Não com ele.
A pergunta tinha pegado ela de surpresa. E o que mais incomodou Alexia foi perceber que ele tinha razão.
- O que não entendo?
- É muito delicado. – Bruno segurou a mão de Alexia, entrelaçando os dedos deles. Foi um gesto completamente desprovido de segundas intenções, mas para ela, foi mais do que suficiente para esquecer, por uns minutos de quem eles eram, o que viviam e o que esperavam.
- Posso imaginar, mas você ainda não respondeu a minha pergunta.
- Olha, Bruno...
Alexia segurou o rosto dele, com suavidade. A impulsão fazia seu sangue correr com muita força. Era uma energia que nunca tinha sentido antes. Bruno franziu o cenho, confuso, mas ao mesmo tempo curioso. Nunca tinha lhe acontecido nada igual. Ela o beijou com leveza e medo de não ser correspondida, mas o que recebeu em troca foi uma reciprocidade que a surpreendeu e a atraiu, com um imã. Em alguns momentos do convívio, Bruno notou que Alexia se comportava de modo diferente, muito mais carinhosa e menos arredia, mas atribuiu aquilo tudo a gravidez, não a ele.
- Lexi, nós... – Ele tentou dizer em meio ao beijo. Alexia com sua gravidez de quase 6 meses se sentiu, pela primeira vez, protegida nos braços do pai de seu bebê. – O que nós... – Ela segurou Bruno pelo queixo, totalmente confiante e sensualmente sugou seu lábio inferior. Do mesmo jeito que fizera quando transaram pela primeira vez. Como resposta, Bruno beijou seu pescoço, arrancando um gemido dela.
- Eu me apaixonei por você. – Ela confessou no seu ouvido. A voz tremia tanto que pensou que não fosse conseguir falar. Bruno travou e quando os olhos dele encontram os dela, ela viu choque. – Eu não posso mais esconder isso, desculpe.
Na hora que ele ia responde-la, seu celular tocou. Era Carol, sua namorada. Alexia saiu do colo dele, que ainda a olhava, em silêncio.
- Oi, Carol! Sim, estou em casa e a Alexia está aqui. – Alexia, de costas, revirou os olhos. - Certo, daqui a pouco estou por aí. Beijo.
Alexia foi para a cozinha, sentindo um calor além do normal. Já lera matérias de revistas que a gravidez poderia deixa-la com a libido alta, mas não imaginou que a esse ponto.
- Alexia. – Ela não se virou ao ouvir a voz de Bruno. Ele não sabia o que falar para ela, mas sabia que precisava falar alguma coisa. – Eu estou com a Carol, e...
“E daí?” – Se perguntou. “E daí se você está com a Carol se também sente algo pela Alexia.”
- Tudo bem.
- Olha para mim.
Ela obedeceu e Bruno se aproximou, sem falar absolutamente nada. Os dois se beijaram mais uma vez. Quando se afastou, ela ainda estava de olhos fechados, com um sorriso apaixonado no rosto. Não sabia se com a revelação sua relação com Bruno mudaria, mas sentia-se feliz por ter contado a verdade.
Ander acordou com uma dor de cabeça que fez seu cérebro latejar. Ele viu uma sombra abrindo a janela do seu quarto e cobriu seu rosto com lençol. A sombra tomou forma, e uma belíssima forma com longos cabelos negros, e um corpo atraente e sensual que anunciavam ser Lana Hassenback.
- O que faz aqui?
- Seu síndico me ligou. Disse que você chegou de madrugada, com um homem que ele não sabe quem é e tão bêbado que não lembrava o número do seu apartamento. Bom dia para você também.
- Cadê a Dinorá?
- Comendo. Vou leva-la ao veterinário.
- Obrigado e desculpe o incômodo.
- Não me incomodou.
- Deve ter incomodado, uma vez que deixou seu namorado para vir até aqui. – Lana deu um longo suspiro, tirando a roupa suja de Ander do chão. – Não precisa fazer nada disso, sei me virar.
- Você está com raiva de mim?
- Não, já estou me acostumando com suas fugas.
- O que teria acontecido se eu tivesse ficado ontem?
- Não sei, Lana. Não tenho bola de cristal. – Ela tacou o travesseiro que tinha caído na cama bem na cabeça dele. – Ai!
- Você sabe muito bem que teríamos acordado juntos aqui.
- Uh, que coisa terrível! – Ela viu Ander seguir até o banheiro e resolveu ignorá-lo. Quando voltou, deitou-se na cama novamente.
- Levanta, Ander!
- Não quero!
- Você vai ficar aí o dia todo?
- Pretendo. E acho melhor você ir embora antes que acabe deitada aqui comigo.
- Você é um porre, sabia?
- Sim, sei!
- Você NÃO vai ficar deitado, Ander Munhõz. – E puxou o lençol dele, mas Ander, mais forte, puxou de volta e trouxe Lana junto. – Não! Mas que... Para! Ander... – A essa altura a boca dele já beijava seu pescoço. – Le-levanta... – Ander a jogou de lado e sua mão desceu pelo meio de sua perna, erguendo sua saia longa. As mãos dela tentaram empurrá-lo, mas Ander as amarrou na madeira da cama com sua camiseta que estava no chão, ao lado da dama. Primeiro ele abriu a blusa de botão dela, depois, escutou um barulho estranho saindo de sua boca.
- Miau!
Ander piscou algumas vezes, bateu a mão na cama e depois deu um soco no travesseiro. Tinha sonhado com Lana. Dinorá, na ponta da cama, olhava seu dono com preocupação.
- Que inferno! Nem em sonho ela me dá paz!
Seu celular tocou e viu que era Alexia ligando. Ao atender, sua voz zangada aguçou a curiosidade da prima.
- Você está me perguntando como foi aquela tentativa imbecil de me aproximar dela? Sério?
“Ih, deixa pra lá. Já vi que foi uma péssima tentativa.”
- Péssima é pouco. Ela me deixou que nem um babaca na pista de dança e foi embora com o médico. Fiquei tão puto que tomei 3 garrafas de champagne e o garçom que me levou até em casa. Não me lembro de nada que aconteceu depois que abri a primeira garrafa.
“Eu realmente sinto muito. Você sabe.”
- Ela disse que me ama, Lexi. – Ander respirou fundo. – Disse que vai me amar para sempre. Eu senti uma coisa estranha quando ouvi aquilo.
“Estranho de que forma?”
- Não sei explicar. Eu precisava ouvir aquilo.
“Você sempre quis que ela assumisse os sentimentos dela. Talvez isso tenha te feito lembrar de alguma coisa.”
- Deve ser. Ela vai na sua casa hoje?
“Disse que passa mais tarde.”
- Ah.
“Por que?”
- Queria passar aí, mas não quero encontrar ela.
“Hum...” - Ander revirou os olhos com o tom malicioso na voz da prima. “Sonhou com ela?”
- Infelizmente sim e acordei com Dinorá miando na ponta da cama.
“Se ela tiver aqui seja cordial e distante.”
- Vou tentar, mas queria pegar aquele rostinho perfeito e... Deixa pra lá.
Alexia riu alto das palavras do primo. Os dois conversaram por mais algum tempo, até que Ander precisou desligar. Tinha uma importante reunião com seus gerentes e Gabriela, com quem não andava muito bem, participaria. Algo dizia que aquilo não terminaria de forma amigável, mas precisava estar lá.
Quando Lana chegou no apartamento de Alexia, encontrou a amiga com um sorriso largo no rosto.
- Amiga!!
- Estou brava contigo por ter feito seu primo ir até o restaurante, mas vendo esse sorrisão no rosto, deixarei pra lá, ok!
- Ele iria de qualquer forma, até parece que você não o conhece. – As duas sentaram no sofá. Lana admirou o tamanho da barriga da amiga. – Logo saberemos o sexo do bebê. Estou tão feliz.
- E você quer uma menina ou menino?
- Quero que venha com saúde, mas queria ser mãe de uma menina. O Bruno prefere uma menina também. – Lana sentiu uma emoção a mais na voz de Alexia.
- Você contou para ele, né?
- Contei. - As duas soltaram um gritinho extasiado de alegria. – Amiga, estávamos falando de um assunto e de repente comecei a notar os lábios dele se movendo de um jeito tão sensual. Segurei seu rosto, totalmente movida por uma impulsão que raramente tenho e o beijei. Foi incrível! O jeito que ele me segurou, com proteção, com...
- Com...?
- Amor. Eu ando me sentindo tão feia, Lana. Mas ele me olhou do mesmo jeito que olhou quando transamos. Me senti atraente e bonita.
- E o que ele disse?
- Ele tentou dizer que está com a tal Carol que decorou o apartamento, mas me beijou novamente logo depois.
- Você está linda, Alexia. E acredite em mim, o Bruno não vai mais resistir a você – Lana segurou a mão dela. – Estou muito feliz por vocês.
- Obrigada, Lana.
- Amiga, quando você conhecer a mãe dele, me promete que vai por aquela velha em seu devido lugar?
- Prometo!
A conversa se estendeu até a chegada de um irritado Ander no apartamento. O cabelo continuava cortado bem curto, barba por fazer e usava óculos escuros, um jeans escuro e uma camiseta branca. Lana suspirou alto demais ao vê-lo, o que fez Alexia dar um risinho enquanto abraçava o primo.
- E aí, tudo bem com vocês? – Ele perguntou a Alexia, com a voz totalmente amorosa e terna e como sempre se referindo com muito carinho ao bebê que ela esperava. Lana adorava a cumplicidade afetuosa que existia na relação dos dois.
- Estamos bem sim e você?
- É... – Respondeu, sentando-se ao lado de Lana no sofá. E sem sutileza alguma, a olhou propositalmente. – Poderia estar melhor.
- Oi, Ander.
- E aí, Lana!
- Vou fazer um café para vocês. – E Alexia saiu, deixando os dois sozinhos na sala. – Sem brigas, hein!
- Está com raiva de mim? – Perguntou Lana, cruzando as pernas e os braços, numa pose defensiva.
- E isso faz diferença?
- Já respondeu a minha pergunta.
- Aquilo que você fez foi ridículo.
- Foi, mas o ridículo também se faz necessário, ainda mais quando você vai num jantar de aniversário e tenta me convencer de coisas inaceitáveis.
- Coisas inaceitáveis?
- É loucura ficarmos juntos nessa situação!
- É loucura... – Ele tentou controlar o tom de sua voz, para não gritar. – É loucura ficarmos juntos?
- É! Desse jeito é! E você não está com a Gabriela?
- Lá vem você com esse repertório de frases prontas! “Ah, mas você e a Gabriela”, “você perdeu a memória”, “o que já passamos” e blá, blá, blá! Vamos encerrar essa conversa por aqui, já tive um dia de cão, Lana!
- O que aconteceu?
- Nada. – Lana suspirou, tensa. Apoiou o braço no sofá e olhou para Ander.
- Fala vai!
- Eu acho que a Gabriela está armando minha demissão.
- Por que?
Um imaturo pensamento de “É claro que ela está, sempre esteve armando coisas” passou pela cabeça de Lana, mas resolveu ficar quieta.
- Parei de sair com ela. – Ander tirou os óculos e pendurou gola da camiseta. Os dois se olharam por algum tempo. – Numa noite estávamos juntos na cama e eu chamei...
- Chamou quem?
- Você. Eu a chamei de Lana.
- Ah...
- Ela ficou louca, gritou e até partiu para cima de mim. Na reunião reparei a forma que ela me olhou. É uma vingança.
- Eu sinto muito, Ander.
- Eu não. – Ele deu de ombros. – Perder o emprego é o que menos me incomoda agora.
- E o que te incomoda?
- Não me lembrar de você. Queria tacar a cabeça na parede até me lembrar. – Lana deu uma gargalhada. – É sério.
- Não seja bobo e nem faça isso, sério.
- Não vou, mas tenho vontade. – Lana deitou a cabeça no ombro dele. Ander deixou um beijo na cabeça dela.
Alexia voltou com três canecas brancas com café e entregou uma a Ander e outra a Lana.
- Tão fofos, mas tão, tão, tãããão temperamentais.
- Eu sou um amor. – Defendeu-se Lana, mostrando a língua pra Ander que a olhava com deboche. – Bom, preciso ir para casa.
- Você podia me dar uma carona, né? – Perguntou Ander, impedindo Lana de levantar.
- Hã... – Alexia deu um gole no café, assistindo a conversa dos dois atentamente. – Eu...
- Ah, vai encontrar o médico. – Ela ficou num silêncio desconfortável e se despediu de Alexia com um abraço. Na hora de se despedir de Ander, tentou um amigável aperto de mãos, mas ele a puxou para seus braços.
- Mas que menino chato! Para, Ander! – Ele tentou roubar um beijo de Lana, que virou o rosto e deu um tapa no ombro dele. Os primos riram vendo Lana ir embora esbravejando.
- Eu teria filhos lindos com ela, Lexi. Todos com esses olhos lindos que ela tem, sério!
- Vocês terão sim.
- As vezes acho que ela desistiu de verdade e não consegue me dizer isso.
- Não desistiu. Ela só quer que você se lembre de tudo.
- Eu vou me lembrar. Prometo que vou me lembrar e casarei com ela.
(...)
Quando Lana saiu do elevador, Bruno entrou na mesma hora. O encontro físico fez os dois se assustarem, mas a garota sorriu, tentando amenizar a tensão que o encontro sempre causava.
- Oi, Bruno! – Ele deixou o elevador subir.
- Oi, Lana. Alexia está bem?
- Sim, o primo dela está aí. – Lana sentiu-se reconfortada ao ver que o nome de Ander não afetava mais seu ex-noivo.
- E você indo embora?
- É... Preciso resolver umas coisas.
- Me parece que você está sempre fugindo dele. – Como ela não o respondeu, continuou. - Você o ama, não?
- Bruno eu...
- Só responde.
- Sim, eu o amo.
- Então não vai embora da vida dele. Sim, é verdade, ele perdeu a memória, mas vai se lembrar, Lana. Não dá para esquecer você.
Não tinha nada de sentimental nas palavras de Bruno, parecia mais um resmungo, mas um resmungo verdadeiro. O elevador parou e ele entrou, sem muita pressa. Os dois trocaram um sorriso. Sentia que a conversa esclarecedora entre os dois estava bem próxima de acontecer e torcia por isso. Assim como torcia por Alexia e Bruno. Queria que todos fossem felizes, mas ao mesmo tempo se perguntava se ela mesma merecia ser feliz.
Não sabia mais.