Capítulo 34 - Happy Birthday to you!
 
Alexia abraçou uma chorosa Lana por longas horas, tentando, de alguma forma, ajudar sua melhor amiga a suportar aquele novo fim. E dessa vez parecia definitivo. Tanto, que Ander levou todas as suas coisas para o seu apartamento. Não sabia se com sua condição de saúde conseguiria viver sozinho, mas tinha total certeza que não poderia mais dividir um apartamento com Lana.

- Amiga, você tem certeza que foi a melhor decisão dá-lo de bandeja para a Gabriela?

- Foi a decisão necessária, Lexi. E se seu primo nunca mais lembrar de mim? Não consigo suportar uma vida assim.

- Posso ser sincera?

- Sempre, Lexi.

- Não acho que seja o fim, mas a decisão que você tomou foi importante. Tardia, mas importante.

- Sim. Eu vou ajudá-lo no que for preciso, mas do jeito que estávamos não dava mais.

Lana tocou a barriga da amiga. Esse bebê era um renascimento em meio ao caos que acontecia na vida de todos eles.

- E você? – Perguntou. – Quando vai falar com Bruno?

- Ah, amiga... – Lexi mexeu nos cabelos cacheados, desconfortável com a pergunta. Na hora em que ia responder, Bruno abriu a porta da sala. Lana saltou do sofá, assustada.

- Boa tarde! – Bruno, extremamente cordial, passou pela sala ignorando a presença de sua ex-noiva ali.

- Boa tarde, Bruno. – Alexia respondeu, desaprovando com olhar a a atitude do pai de seu bebê.

- Boa tarde. Hã... – Lana olhou para Lexi. – Vou para casa. A gente conversa depois.

- Amiga...

- É melhor. – Bruno encostou na porta da cozinha, e olhou para Lana. Conhecia a ex e sabia que não estava vivendo sua melhor fase. Os dois se olharam por algum tempo, mas ela fraquejou, olhando para o chão, ainda tinha vergonha de tudo que fizera. Lexi, mais uma vez, se encontrava no meio de uma situação que lhe causava calafrios.  

- Pode ficar, Lana. – Bruno disse, com sinceridade. – Sei que precisa da Alexia. E ela é sua amiga, e infelizmente boa demais a ponto de aceitar a pessoa que você é. – Dito isso, foi em direção ao seu quarto. Lana suspirou alto. Alexia, embasbacada, olhou para a direção que ele tomou, sem acreditar no que ouvira.


Mais tarde, Lana foi para o seu apartamento a noite com a mesma sensação de abandono que sentira quando adolescente. Lembrou de como sua relação com a mãe era distante, vazia e lhe causara traumas profundos. Ander entrou na vida dela e preencheu o imenso vazio. Era como um cubo mágico solucionado depois de muito tempo. Cada cor no lado certo. Ela tinha encontrado alguém que poderia compor o seu lar. Agora não o tinha mais. Olhou no calendário e notou, surpresa, que faltavam alguns dias para o seu aniversário. Costumava gostar dessa data, mas agora não tinha o menor interesse em comemorar.

“Comemorar o que?” – Perguntou-se jogando no sofá, desolada. “Deus, se isso tudo for um pesadelo, por favor, preciso acordar!”
 
(...)
 
 
- Amanhã é o aniversário da Lana? – Ander perguntou, numa tarde em que ele e Alexia saíram para comprar coisas para o bebê no Shopping. – Ah... – E deu de ombros, fingindo não se importar. – Que bom para ela.

- Vou levar ela para jantar. Quer ir?

- Você sabe que ela não me quer por perto. E eu vou sair com a Gabriela.

- Eu perguntei se você quer ir, não se ela quer que você vá. – Os dois entraram numa loja de bebês e foram direto para o corredor de fraldas. – Meu Deus, como tudo é tao caro...

- Não quero. – Respondeu, de imediato. – Pra que eu vou? Pra ouvi-la falar quer não ficar comigo? Não, Lexi. Já vivo um inferno por estar apaixonado por alguém que não lembro. Deixa ela pra lá. E o médico?

- O que tem? – Ander olhou para ela e revirou os olhos, o que a fez sorrir. – Sim, Ander. Eles estão saindo. Lana agora colocou na cabeça que não quer me incomodar porque o Bru... – Ela se calou na mesma hora. Ander franziu o cenho. – Hã, bom, o Bruno não gosta dela.

- Sim, da outra vez em que estivemos lá notei o clima. Ela ficou bem mal, inclusive. Sabe, Lexi, as vezes ela é tão sensível que me esqueço da imensa cretina que é comigo.

Alexia se virou de costas para o primo e soltou o ar que prendia por quase ter falado demais. Os dois ficaram por algum tempo na loja e quando saíram, resolveram almoçar na praça de alimentação. Ander foi o primeiro a ver Lana e seu então médico, Lucas, almoçando próximo a um restaurante de comida italiana.

- Ah, puta que pariu! – Exclamou Ander, com raiva. – Sério isso? – E olhou para Alexia, que o puxou para uma mesa distante. – Qual é o problema dela, Alexia? Por que ela faz isso?

- Vamos embora?

- Eu queria ir lá e acabar com essa cena ridícula, isso sim!

- Não, você não vai. Ela está no direito dela.

- Ah, qual é, Alexia? Até 10 minutos atrás você queria que eu fosse ao aniversário dela!

- Eu quero que você lembre dela de uma vez, mas não vou apoiar suas cenas de ciúmes. Já basta aquela vez da ligação fake, ok?

- Ciúme? Não estou com ciúme. Estou com raiva dela, é diferente.

- Tá, tá, sei! Vamos embora. Estou com fome e agora com fome por duas pessoas!

Os dois saíram com um furioso e enciumado Ander esbravejando as escolhas de Lana. 


Alexia pensou em absolutamente tudo. Organizou o horário, o restaurante e escolheu a roupa da melhor amiga. Mesmo que Lana tivesse só ela como amiga, faria do momento o mais especial na vida dela.

Quando Lana entrou no restaurante, parecia que todas os holofotes eram dela. Usava um clássico, mas sempre elegante tubinho preto, um all star branco, mostrando toda a sua jovialidade e os cabelos soltos e para a surpresa de Alexia, pintados de preto. Os olhos de Lana eram ainda mais encantadores, mas também tristes.

- Eu não acredito que você teve coragem! – Alexia exclamou, levantando-se com certo esforço para abraçar a amiga. Lana passou as mãos pelos cabelos, fingindo se exibir. – Feliz aniversário, Lana!

- Ah, obrigada! – As duas se abraçaram. – Você sabe que não precisava... – Alexia entregou uma caixinha azul para ela. – E sobre o cabelo, bom, tive uma crise em casa e pensei “Chega! Preciso mudar!”.

- Eu amei, amiga! Seus olhos ficaram ainda mais verdes!

- É que estou pálida, Alexia. – As duas riram alto enquanto sentavam-se a mesa. – Sério, você é incrível! Meu restaurante preferido com a minha pessoa preferida!

- Lana, aquele dia lá em casa...

- Amiga, não precisa me falar nada, sério.

- Ele foi ridículo, Lana. Nós brigamos e feio por isso
.

- Lexi... – Lana começou a olhar o cardápio. – Ele tem o direito de agir assim.

- Não tem não. Ele ficar incomodado, ok, é aceitável, agora ele te tratar daquela forma foi demais. Falei para ele que se a intenção de me chamar para morarmos juntos era essa exibição imatura de mágoa com a ex eu preferia ficar no Rio de Janeiro.

- Não quero que briguem por mim.

- Tarde demais. – Lexi mexeu nos cabelos presos em um elegante coque. – Demorou um pouco, mas ele admitiu que passou da conta. Lana, você é a minha melhor amiga, será madrinha do meu bebê, não permitirei que isso aconteça mais. Vocês precisam sentar e falar sobre isso, mas na hora certa. Bruno ainda não está pronto.

Lexi chamou o garçom, um senhor esguio e de barbas brancas, que fez o pedido das duas e saiu em seguida.

- Acho que ele nunca estará pronto, e eu entendo.

- Lana, independente da hi
stória de vocês ou do que eu sinta pelo Bruno, o que nós temos é para sempre. Nós somos amigas e você sabe que pode contar comigo para tudo. E claro, o que seria de você e do insuportável do meu primo sem mim?


Lana sorriu, fazia um tempo que evitava falar em Ander, mesmo que toda noite fosse atormentada por sonhos intensos.

- É, realmente não seriamos nada. Você sempre esteve conosco, né?

- Sempre. Nós te vimos no shopping com o Lucas. – Lana franziu o cenho. – Ele me acompanhou numa ida até uma loja para bebês e fomos almoçar, mas acabamos indo embora assim que os vimos.

- Por que? – Lexi a olhou, sugestiva. – Ah.

- É, mas fica tranquila, ele não vai fazer aquela pataquada da ligação, sério.

- Que pataq... – Lana então se lembrou do episódio em que Ander surgiu no restaurante. – Lexi!

- Amiga, você conhece o Ander, sabe como ele é persuasivo.

- Sei sim, infelizmente. Não está planejando nada para hoje, né?

- Planejando, planejaaando, não. Eu o convidei, afinal, é seu aniversário, mas creio que ele não vai aparecer.

- Lexi, como é que seguiremos em frente assim?

- Vocês nunca vão seguir em frente, Lana. Vocês se amam. O amor fez vocês dois se perderem um do outro e é o amor que unirá vocês de novo. – O garçom se aproximou e trouxe as bebidas. – Nossa, que coisa brega esse meu blablabla. Os hormônios da gravidez estão me matando.

- Hormônios da gravidez ou o amor pelo Bruno?

- Cala a boca!

O jantar foi leve e divertido. As duas lembraram de como se conheceram, das aventuras, dramas e aprendizados da época do curso. Mais novas elas falavam de estudos, praias do Rio de Janeiro e garotos bobos. Agora falavam de reforma de apartamento, contas a serem pagas, amores que não se resolviam e preocupações de gravidez. O tempo tinha passado por elas, mas elas caminharam juntas com o tempo. Era isso que fazia a amizade de Lana e Alexia ser especial e sólida.
 
No final do jantar, quando Lana fora ao banheiro retocar a maquiagem, Lexi e Ander, que recém chegara, trocaram de lugar.

- Cuida bem dela, tá? – Pediu Lexi, dando um beijo no rosto do primo. – Depois me conta como foi?

- Conto, garota. Agora vai embora antes que ela volte.

Depois que Alexia saiu, Ander se levantou e foi para o Bar. Confusa com a mesa vazia, Lana sentou, mas procurou Alexia com o olhar. Quando deparou com Ander, seu coração disparou. Jamais se acostumaria com as reações causadas pela presença dele. Ele se aproximou com um sorriso nos lábios e estendeu a mão, mas Lana não aceitou.

- Por um momento achei que você tivesse entendido o que te pedi.

- Dança comigo, por favor? – A mão ainda estava no ar. Quando viu que a postura de Lana era irredutível, sentou-se à mesa, mas não desistiu. - Ficou mais velha, mais bonita e mais ranzinza.

- O que você faz aqui?

- Gostei do cabelo novo.

- Que bom! – Ela lutou consigo mesma para se manter firme. - O que faz aqui?

- Você sabe o que vim fazer aqui, Lana Hassenback. – Ao ouvi-lo pronunciar seu sobrenome com tanta entonação, teve um arrepio que passou suavemente por sua coluna. Em momentos onde nada mais fazia sentido, Lana chegou a perguntar várias vezes se Ander não fingia ter perdido a memória. Preferia que sim. - Não adianta você agir assim, não vou embora.

- Mas deveria.

- Seu namorado está chegando?

- Que nam... – Ela então entendeu a pergunta. – Não seja ridículo! Não estou namorando o Lucas, mas estamos saindo.

- O cara é meu médico, Lana!

- E daí?

- E você está feliz?

- Não sei o que é isso há muito tempo. – A resposta pegou Ander de surpresa. – Sério, Ander, vai embora!

- Eu vou assim que você dançar comigo.

Ele estendeu a mão e dessa vez, Lana aceitou, contra sua vontade. Os dois seguiram para a pista de dança vazia e a música trocou para algo mais romântico. A garota olhou para Ander com a sobrancelha arqueada.

- O que?

- Você armou isso com a sua prima, né?

- Não seja paranoica. – Ander apertou a cintura de Lana, que deitou a cabeça em seu ombro. – Nem tudo é armação, sabia?

- E o que é então?

- Nesse caso, é saudade. Pensei que desse pra notar. – Dessa vez, ele segurou o rosto de Lana, para que ele a olhasse. Houve certa resistência, uma necessidade quase absurda de fugir daquele contato, mas logo teve uma entrega que foi mais do que precisa e os dois se beijaram. Toda a história deles passou pela cabeça de Lana. Desde o primeiro contato virtual, até o dia que Ander perdeu a memória. As brigas, reconciliações, as risadas, a chegada de Dinorá na vida deles. E por fim, o amor tão grande, tão intenso, tão profundo que também foi o responsável pelo que viviam agora. Ander a apertou com mais força em seus braços, até que aos beijos, encostaram-se a parede. A mão dela ainda pendurada no pescoço dele. A respiração dos dois totalmente descompassada.

- Eu te amo tanto. – Lana murmurou, sem conseguir se conter mais. Os olhos dela marejados, que brilhavam com a cor de seu cabelo agora preto.  – Eu vou te amar para sempre, Ander. O que nós temos é para sempre. Queria tanto que você lembrasse de mim e do que vivemos. Brigamos por meses por causa disso e agora que consigo falar, você não lembra de mim. Isso é tão injusto. – Ele beijou os dedos dela e sorriu. Tinha gostado de ouvir aquilo tudo. – Preciso fazer uma ligação.

- Tá bom.

Ele observou Lana se afastar, mas sentiu algo de errado. “Ela não vai voltar”. Até que alguns minutos depois, viu Lana tirando suas coisas da mesa. Olhou em direção a porta e viu Lucas parado, procurando por ela. Os dois foram embora em seguida, e de mãos dadas.

Ander bebeu tanto naquela noite que precisou ir para a casa com a ajuda do garçom do restaurante, que por fim virou seu amigo.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 22/02/2021
Reeditado em 20/01/2024
Código do texto: T7190761
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