Capítulo 32 – Nada se parte como um coração
Na semana seguinte ao beijo no sofá, Lana se perguntou se aquilo significou algo para Ander da mesma forma que significava para ela. E não demorou muito para saber a resposta.
Ander passou a dormir todo dia na casa de Gabriela, a fim de evitar qualquer tipo de contato. Quando aparecia no apartamento, era exclusivamente para ver Dinorá, totalmente frio e distante com Lana.
- Seu primo vai me enlouquecer, Lexi. – Desabafou Lana, numa tarde no apartamento de Alexia. Bruno estava no trabalho e só chegaria no início da noite. – Sério, ele realmente vai me enlouquecer.
- Eu tentei conversar com ele, mas só recebi resposta evasiva. – Comentou a amiga, com um longo suspiro. – Sabe o que eu acho?
- O que?
- Ander está com medo de se apaixonar.
- Como se apaixonar? Ele nem lembra de mim, Lexi.
- Então! Ander está com medo apaixonar por essa versão que conhece de você. - Lana refletiu sobre as palavras da amiga e balançou a cabeça, concordando. – Amiga, ele sabe que pode nunca mais lembrar de você. Creio que tenha medo disso te fazer sofrer também.
- Já estou sofrendo. Estou sofrendo desde o dia que ele foi atropelado. Ele chega no apartamento, me dá um “oi”, brinca com a gata e vai embora.
- Dê um tempo a ele.
- É, tempo. – Alexia segurou a mão da amiga. – É o que me resta. E como estão as coisas por aqui?
- Ah, bem. Bruno tem sido um companheiro e tanto. – Lana sorriu, sabendo que a informação não era surpresa alguma. – Só que tem um problema, Lana.
- Qual? - Alexia começou a rir, nervosa. Lana franziu o cenho, sem entender. – O que foi?
- Não seria engraçado se eu me apaixonasse pelo Bruno? – E continuou rindo sem vontade alguma, para tentar amenizar a gravidade da informação. Lana arregalou os olhos. – Por favor, não me olha assim.
- Você está falando sério?
- Sim. – Lexi escondeu o rosto entre as mãos.
- Lexi...
- Eu sei, é uma loucura. Tudo aconteceu depois daquela nossa primeira e única noite, e até agora não consigo acreditar que isso aconteceu. Não com ele. Preferia que não tivesse me acontecido.
Lana surpreendeu Alexia com um abraço. E esse abraço tinha um significado para as duas. O apoio era mútuo e verdadeiro.
- Você precisa contar para ele, amiga.
- Eu não consigo. Ele ainda ama você, Lana.
- O Bruno está começando a deixar de me amar. E quando isso acontecer por completo você saberá. Acredite em mim. – Alexia deitou a cabeça no ombro da melhor amiga. – Se ele te amar de volta será o homem mais sortudo do mundo.
As duas conversaram por mais algumas horas e depois Lana foi embora. Não queria correr o perigo de encontrar com Bruno.
Para seu desprazer, encontrou Gabriela a esperando na entrada do prédio em que morava.
- O que está fazendo aqui?
- Preciso falar com você. – Gabriela apertou o rabo de cavalo de grossos cachos escuros.
- Comigo? O assunto está na sua casa, não?
- Sim, mas pensando em você. – Lana deu de ombros com deboche. – E já está mais do que na hora de você deixá-lo seguir.
- Imagino que o “seguir” seja ao seu lado. – Lana a olhou com sarcasmo. Gabriela assentiu, com total naturalidade. - Uau!
- Sei que Ander pensa em você, Lana. Você o perturba e o confunde. A pergunta que não quer calar é: até quando você vai deixar o seu egoísmo acabar com a chance dele ser feliz?
- Meu egoísmo?
- Sim, o SEU egoísmo. Você sempre foi egoísta. E se o Ander ainda está ao seu lado – mesmo nessa situação – é porque o seu egoísmo não o deixa ser feliz. Me surpreende você perguntar isso! Olha tudo o que já aconteceu com vocês dois, garota! Você acha mesmo que ainda serão felizes? Uma história cheia de idas e vindas, brigas, mentiras e egoísmo.
O esgotamento mental de Lana a fez cair facilmente na armadilha de Gabriela.
- Você se acha tão capaz de fazê-lo feliz? – Perguntou Lana, numa última tentativa de se sobressair a outra.
- Olha... Depois do que fiz com ele na cama ontem, tenho certeza que sim. – Satisfeita com seu teatro, viu Lana caçar algo em sua bolsa, nervosa com a resposta que ouvira. – Por esse motivo vim aqui te pedir para deixa-lo em paz.
- Ele é todo seu, Gabriela. Sejam felizes.
- Eu quero que me prometa. – Ela segurou Lana pelos ombros, a impedindo de entrar. – Me prometa que vai deixa-lo em paz.
- Eu prometo.
- Ótimo. – Exclamou, sorrindo vitoriosa. Nem em seus melhores sonhos imaginou que seria fácil convencer a rival. – Finalmente o bom senso bateu na sua porta, Lana. Tchauzinho, querida!
Lana sentiu a primeira lágrima descer por sua bochecha enquanto tomava caminho até o elevador. Só queria chegar em seu apartamento e chorar até adormecer.
“Ela está certa.” – Pensou, abrindo a porta do apartamento. “Não posso impedi-lo de ser feliz. Não mais.”
Não tinha certeza se Gabriela o faria feliz, mas atingida por suas palavras, acabou se perguntando se ela mesma já teria feito o grande amor de sua vida feliz alguma vez.
Se jogou no sofá, totalmente exausta e chorou horas a fio, chamando a atenção de Dinorá. A gata se aproximou e deitou a cabeça no pescoço de sua humana. Parecendo sentir sua dor, deu um miado triste e encostou a patinha no coração de Lana.
- Eu preciso deixa-lo ir, Dinorá.
“This world can hurt you
(Este mundo te machuca)
It cuts you deep and leaves a scar
(Te corta profundamente e deixa uma cicatriz)
Things fall apart
(As coisas desmoronam)
But nothing breaks like a heart
(Mas nada se parte como um coração)
And nothing breaks like a heart
(E nada se parte como um coração)”