Capítulo 31 - Emoções
- Eu não estou dizendo que não gostei do apartamento, só achei exagerado. É um apartamento lindo, mas exagerado. – Bruno e Alexia sentaram-se um ao lado do outro no sofá. O rapaz a olhou de lado, enquanto ajeitava os óculos.
- Quando recebi as fotos imaginei que se sentiria assim. – Ele comentou, com honestidade. – Tenho uma amiga Designer e pedi para que cuidasse de tudo pra mim. Podemos mudar tudo agora que vou ficar mais tempo em São Paulo, o que acha?
- Acho uma boa ideia. E como foi de viagem?
- Estou exausto, mas foi tudo bem. – Aos olhos de Alexia, Bruno era outro homem. “Talvez tudo o que passou tenha trazido alguma maturidade a ele.” – Vou me instalar naquele quarto de hóspedes, tudo bem?
- Claro. – Quando Bruno ia se levantar, Alexia o puxou pela camisa azul marinho. – Bruno, preciso conversar contigo.
- O que foi? É algo com o bebê?
- Não. Está tudo bem com o bebê. – Ele a olhou atento e preocupado. – Lembra que eu te contei sobre o acidente do meu primo?
- Sim, me lembro. Como ele está?
- Está bem. Lana e ele estão morando juntos. – Bruno se esforçou para não deixar a informação lhe causar qualquer reação, mas não conseguiu. – Meu primo não lembra de nada que está relacionado a ela, logo, não lembra de como acabamos nos envolvendo. Preciso que você finja que temos um relacionamento na frente dele.
- A perda de memória dele é irreversível?
- É temporária. Ele pressionou a Lana, que acabou dizendo que estamos juntos.
- Ah, eu posso imaginar. – Bruno sorriu com sarcasmo. – É mais fácil para ela.
- Não, Bruno. Meu primo não pode receber um monte de informação assim do nada. Afeta o emocional dele, o que pode resultar numa perda de memória para toda a vida.
- Tudo bem, na frente dele nós fingimos ser um casal.
- Obrigada. Ele quer te conhecer. – Ele franziu o cenho, surpreso. – Vai ser tranquilo, prometo.
- Não quero ver a Lana.
- Ele virá sozinho. – Prometeu Alexia, sabendo que Lana compreenderia a situação.
- Certo. Vou tomar um banho.
- Beleza! Pedirei algo para comermos.
Alexia não imaginou que seria fácil morar com Bruno, mas a experiência acabou sendo um tanto quanto enriquecedora. Ele passou a trabalhar em casa com frequência, os aproximando ainda mais. Mudaram a decoração da casa, tornando-a mais simples e confortável e também mais parecida com eles.
- Bruno! – Alexia o chamou do quarto do bebê. Era uma agradável tarde de Domingo. – Vem aqui!
Ele correu até o quarto, quase tropeçando no tapete.
- O que foi? – Perguntou, ajeitando os óculos, assustado. Alexia se aproximou dele, guiando suas mãos até sua barriga.
- Shiu... – Ela direcionou as mãos dele, até sentirem um chute. Bruno deu um sorriso iluminado. – Sentiu?
- Sim!
- É a primeira vez que sinto o chute. Incrível!
- Obrigado por compartilhar comigo.
Os dois se olharam por algum tempo, com certa cumplicidade. Bruno precisou sair para atender uma ligação. Estavam se tornando bons amigos, mas a cada dia que passava ao lado dele, os sentimentos de Alexia tornavam-se mais fortes.
“Ele ainda ama a Lana. Talvez a ame para o resto da vida. Como posso nutrir sentimento por alguém sabendo disso?”
Saiu do quarto em passos silenciosos e conseguiu ouvir o restante da conversa do pai de seu bebê.
“Sim, também estou com saudades de você, Carol. Nós gostamos da decoração da casa, mas você deu uma exagerada... Agora ficou mais parecido comigo e com ela. Te verei depois que comer alguma coisa, chego aí mais tarde... Um beijo.”
Alexia sentiu um gosto azedo subir e descer por sua garganta. Voltou para o quarto, ainda em silêncio. Sabia exatamente o que era aquilo, mas nunca admitiria a Bruno.
(...)
Como prometido, Alexia organizou um jantar para apresentar o pai de seu filho ao primo. Seu estômago girava toda vez que Bruno se aproximava dela, a fim de mostrarem para Ander que eram um casal. Nunca sentiu tanto ódio de Lana por tê-la feito passar por tal situação e ao mesmo tempo, também teve raiva de si mesma por gostar de como ele se comportou durante todo o jantar. Chegou a pensar em como seria se isso fosse realidade e não uma encenação.
Teve um momento em que Alexia ficou de espectadora assistindo Ander e Bruno conversarem sobre jogos e filmes de heróis e sorriu, com carinho. Foi acordada de sua doce ilusão com o chamado do interfone. Era Lana.
- Pode deixa-la subir, por favor. – Bruno surgiu ao lado dela, de repente. – Obrigada. – Agradeceu e colocou o telefone no gancho. – Bruno...
- Está tudo bem. Eu o vi mexendo no celular e imaginei que seria uma possível mensagem para a Lana. – A voz dele era realmente tranquila. – É melhor tudo parecer normal, pelo menos na frente dele.
Bruno segurou Alexia pelo pulso, sentindo seus batimentos controlados, até entrelaçar seus dedos aos dela. A maciez da pele dela se unindo a firmeza da mão dele, resultando numa estranha conexão. Os dois surgiram na sala de mãos dadas no momento em que Lana entrou.
O silêncio durou algum tempo, mas logo foi interrompido por Alexia, que abraçou Lana apertado.
- Me perdoa, seu primo me enviou um monte de mensagens enchendo a paciência. – Sussurrou no ouvido de Alexia.
- Está tudo bem, só finja.
Na hora de cumprimentar Bruno, os dois trocaram um solene aperto de mãos. Ander notou a tensão nos olhos verdes de Lana e se perguntou o motivo daquilo.
- Lexi, quero levar um pedaço do seu bolo de chocolate. – Murmurou, chamando a atenção da prima. – Vamos até a cozinha.
- Vamos, claro.
- Eu sinto muito. – Lana disse, depois que os primos saíram da sala. – Ander ficou insistindo para eu vir busc...
- Não fiz isso por você, fiz pela Alexia. – A voz dele era fria como um cubo de gelo. – E claro, pelo nosso bebê. Sei que você será uma presença constante na minha vida, aliás, vocês dois, mas só permiti que isso acontecesse porque Alexia me pediu.
Bruno saiu da sala, deixando em Lana com uma gigantesca sensação de culpa. Ele jamais a perdoaria.
- Ei, chata! – Ander voltou para a sala com uma sacola na mão. – Vamos embora? Estou cansado. Cadê o Bruno?
- Ele foi ao banheiro. – Respondeu Lana, de costas para Ander.
- Lexi, manda um abração pra ele e diga que em breve apareço para uma maratona de jogos.
- Pode deixar, em breve apareço no apartamento de vocês também. – Ela ficou ao lado de Lana e deu um beijo em sua têmpora. – Boa volta!
- Tchau! – Ander puxou Lana pela mão e os dois saíram do apartamento no mais completo, curioso e questionável silêncio.
- O que foi, hein? – Perguntou Ander, quando já estavam no carro. – Você está esquisita. Aliás, sei que vocês pensam que sou tonto, mas para mim, todo mundo ficou estranho quando você chegou. – Lana não conseguiu olhar para Ander. – Até o Bruno... Ele não gosta de você?
Lana sabia que se ele continuasse fazendo perguntas ela não conseguiria resistir a vontade de chorar. Por esse motivo, tentou cortar qualquer interação, pelo menos até chegarem em casa.
- Não sei, por que você não pergunta para ele?
- Nossa! – Exclamou, surpreso com a resposta. – Se ele não gostar dá até pra compreender, tendo em vista que você quando quer ser chata, é muuuuito chata.
- Uhum. – Ela engoliu seco, concentrando-se no trânsito. Repetiu mentalmente e por várias vezes que não ia chorar na frente dele. – Você está certo. Se preciso dizer isso para você ficar um pouco quieto, está aí... Você está certo.
- Não quero estar certo, quero que me fale o motivo de estar assim, tão calada.
- Não tenho nada, Ander.
- Você está mentindo. – Ela revirou os olhos, impaciente. – Não revira os olhos para mim, Lana.
- O que você quer?
- Quero que fale comigo.
- É exatamente isso que você falou, o Bruno não gosta de mim. - Ander se ajeitou no banco do carro, observando as feições de Lana se fecharem. Para ele, a resposta não tinha muita consistência, mas resolveu não insistir no assunto.
Quando chegaram no apartamento, Ander parou Lana na porta de entrada e segurou sua mão.
- Não fica chateada com isso, você é um pouco chata, mas também é muito legal. Talvez ele não tenha conhecido esse seu lado ainda.
Lana não teve mais forças para segurar a vontade de chorar depois que ouviu as palavras cheias de apoio de Ander. Ela o olhou por alguns minutos e se jogou em seus braços, desesperada.
- Ei... – Ele a acolheu, como sempre fazia, e juntos foram para o sofá. – Está tudo bem, Lana. De verdade.
- Não, não está... Eu sou uma pessoa ruim. – Ander a apertou com mais força em seus braços para tentar acalmá-la. – Eu fiz coisas ruins.
- Shiu... – Ander selou seus lábios aos dela suavemente. O gosto das lágrimas se misturou ao doce sabor dos lábios dela. Seus dedos entraram nos cabelos escuros, puxando-a de leve ao seu encontro. Não tinham muita urgência no que poderia acontecer, apenas no que acontecia. Ainda aos beijos com Lana, os dois se deitaram no sofá. – Que tal ficarmos aqui quietinhos até você se acalmar? – Ela concordou, entrelaçando seus dedos aos dele.
Naquele momento Ander teve duas certezas: tinha se apaixonado por Lana e segundo, tinha que ficar longe dela e dessa vez, de verdade.