Capítulo 30 – Um do outro
Ander chegou no apartamento de Lana e teve uma estranha e adorável sensação de conforto. Ali era um lugar onde ele podia simplesmente estar sem pressa de ir embora. O único problema era que morando ali precisava lidar diariamente com seus sentimentos conflituosos pela charmosa e sensual mulher de olhos verdes.
Como encontrou a sala vazia, seguiu até a cozinha e avistou Lana lavando a louça distraída. Ele se aproximou, sorrateiro.
- Olá. – Lana deu um pulo, assustada. Ander a segurou pela cintura, mas ela o empurrou, brava.
- Você é um idiota, sabia?
- Sabia. Como você está? – Ela secou as mãos no pano de prato. – E cadê a Dinorá?
- Estou ótima. – Respondeu, seca. – Ela estava debaixo da minha cama brincando com uma bolinha de papel.
- Vou lá vê-la.
Ander encontrou Dinorá em cima do guarda-roupa. Ao ver seu dono, ela miou e saltou elegantemente no colo dele. Lana revirou os olhos, mas deu um sorriso terno com a cena. Sabia o quanto a felina sentia saudades dele. E não era a única.
- E aí, bola de pelo! A chata está te dando atenção? – Os três foram para a sala.
- Sempre. Dinorá parece um bebezão, se você não para um tempo para lhe dar atenção, ela começa a te perseguir pela casa miando. – Os dois sentaram no sofá e a gata ficou no meio deles. – E você conseguiu ajudar a Alexia?
- Ajudei, foi tranquilo. – Os dois se olharam brevemente. - O apartamento dela é lindo.
- Sim, é lindo. – Lana se perguntou quem ajudara Bruno com a decoração, uma vez que tudo o que viu era sem dúvida, trabalho de um exímio profissional.
- Ei... Eu quero me desculpar por ter trazido a Gabriela aqui. Sei que a magoei.
- É, você me magoou sim. – Ander segurou a mão de Lana carinhosamente. – O que está tramando, hein?
- Quero que sejamos amigos. Eu a tratei como fosse minha inimiga, mas sei que quer o meu bem.
- Alexia pediu para você fazer isso?
- Ela me abriu os olhos. – Lana viu verdade nas palavras dele. – Estou sendo sincero.
- Eu acredito em você. Também quero ser sua amiga. – Ander sorriu para ela, que correspondeu. Os corações batiam em perfeita sintonia, como o canto de dois anjos. – Mas ainda te acho um idiota. - Dinorá miou, como se concordasse com Lana. – Está vendo? Até ela concorda.
- Ela é puxa-saco. – Ander puxou a perna de Lana e a deixou por cima da dele. Dinorá sentou no braço do sofá, assistindo à reconciliação que nascia na sala.
- O que está fazendo?
- A melhor massagem da sua vida.
- Eu não quero.
- Acredite em mim, você vai gostar.
Ander segurou o pé de Lana suavemente. Era um pé delicado, típico de uma ex-bailarina. As unhas foram pintadas de um vermelho sangue. De início, o toque causou estranheza, mas depois veio a entrega. Ela fechou os olhos, aproveitando o momento.
- Horrível, não? – Perguntou, debochado.
- Sim... – Respondeu, se afundando no sofá. Ander respirou pesado e se perguntou até quando resistiria ao seu desejo por Lana. – Muito.
- Agora o outro pé. – Ela obedeceu, prontamente.
Lana esticou os braços, ainda de olhos fechados. Não queria falar. Tinha medo de estragar o que acontecia. Naquele momento viu a tatuagem de escorpião na sensual cintura feminina. Franziu o cenho, mas resolveu esquecer a sensação curiosa que aquilo lhe causou. Dinorá saltou do sofá, deixando os dois à sós.
Com uma mão livre, subiu os dedos pela perna de Lana. Depois, de modo muito suave, apertou sua coxa, arrancando um suspiro que foi mais do que suficiente para que a puxasse ao seu encontro. Ele a abraçou pela cintura, depois escondeu seu rosto nos cheirosos cabelos cor de chocolate. O cheiro de Lana acendeu nele um desejo tão profundo que o fez perder o ar por alguns instantes. Então teve a certeza de estar no lugar certo e com a pessoa certa. Isso o enlouquecia.
Os beijos começaram no pescoço, tomando caminho até os seios. Ela arfou quando sentiu os dedos dele no meio de suas coxas.
- Ander... – E segurou o seu rosto. A respiração dos dois era muito rápida nesse momento. – Olha para mim. – Ele a agarrou pelos cabelos, mas não tinha força alguma, apenas uma dominação que fez todo o corpo dela tremer. – Sério, olha para mim. Nós vamos ser amigos, não vamos?
- Vamos, Lana, nós vamos... – Confirmou, tentando beijá-la.
- Você está com a Gabriela! – Exclamou, sem disfarçar o tom repreensivo. E dessa vez conseguiu ter a atenção dele. – E nós vamos ser amigos... – A voz agora era mais suave.
Ela se afastou de Ander lentamente. Os dois precisaram de alguns minutos para se recomporem. Dinorá retornou à sala, e desta vez para brincar com a cortina.
O celular do rapaz tocou e não era surpresa alguma ser Gabriela.
- Oi, Gabi. – Ele se levantou e foi para a cozinha atender. Lana ajeitou as roupas no corpo. Sabia que se Ander tivesse tentado um pouco mais, teriam ido até o fim.
“Não, Gabriela. A Lana não está tentando me seduzir ou algo do tipo, só vim visitar a minha gata. A gata que eu falo é a felina, pelo o amor de Deus! Não estou dizendo que a Lana é gata... Tá! Ok! Não, como eu te disse, não vou levar a Dinorá para a sua casa. Mais tarde nos vemos, tchau.”
Lana não conseguiu evitar um sorrisinho presunçoso com a conversa que ouvira.
- Problemas no reino encantado? – Perguntou, fazendo carinho com o pé nas costas de Dinorá. Ander sentou-se ao lado dela.
- Engraçadinha. Gabriela acha que você está tentando me seduzir.
- Mal sabe ela que sou eu a vítima do seu charme.
- Então você me acha charmoso... – Lana revirou os olhos, mas deu um meio sorriso. – Olha só.
- Sua namorada não está te esperando?
- Está, mas eu não quero ir embora. É confortável estar aqui. – A resposta espontânea fez um sorriso convencido nascer nos lábios dela. – Eu estou vendo esse sorriso, viu.
- Estou sorrindo para a Dinorá.
- Sei.
Ander repentinamente deixou a cabeça nas pernas de Lana, e recebeu um carinho no rosto, mas não houve alarde ou comentários sobre o que acontecia ali. Aos poucos, se tornavam novamente lar um do outro.