Capítulo 27Não consigo me lembrar de te esquecer – Parte II
 
Lana tentou lembrar de todos os conselhos que ouvira. Primeiro do médico Lucas, depois de Alexia e também os de Eleanor. Todos estavam certos. Aquilo não era sobre ela ou sobre seu relacionamento com Ander,  mas sim sobre a saúde dele. Se ela o amava, tinha que ajudá-lo a passar por essa fase. Mas porque sentia em seu coração que tinha perdido Ander para sempre?

- Amiga. – Alexia sentou-se ao lado dela, na sala de espera. – Como você está?

- Isso parece um pesadelo, Alexia.

- Eu sei... Mas tudo vai passar. Você precisa ser forte, Lana. Nós precisamos de você.

- Como ele está?

- Um pouco agitado e ansioso. Quer ir para casa... No Rio. – Lana a olhou com o cenho franzido. – Ele não lembra de você ou do trabalho dele, logo, acha que ainda mora no Rio de Janeiro. Minha mãe está explicando que a vida dele é aqui em São Paulo, contigo. Aparentemente com a perda de memória veio uma teimosia que nunca vimos antes.

- Eu posso vê-lo?

- Lana...

- Sei que ele não quer me ver, Alexia, mas eu preciso, por favor!

- Tá bom. – Ela se levantou. – Vem.

As duas voltaram para o quarto de Ander e conseguiram ouvir a calorosa conversa de tia e sobrinho.

“Tá de sacanagem comigo, tia? Como você quer que eu more com ela? Nem sei quem ela é!” – Alexia olhou de lado para ao amiga antes de abrir a porta.

- Mãe... – Alexia abriu a porta, interrompendo a conversa. Eleanor se afastou dos resmungos de Ander.

- Dona Eleanor, posso conversar com ele, por favor? Prometo que vou só conversar.

- Tudo bem. Ele está impossível. – Ela segurou a mão de Lana, carinhosamente. – Tenha paciência. – E olhou para Ander. - Vamos dar uma saída, garoto.

- Ah, não... – Ander bufou, com raiva ao ver Lana encostar a porta. Seu cabelo e a barba tinham sido raspadas pelo médico, o que o deixava bem mais jovem. – O que você quer?

- Eu quero olhar para você.

- Você vai me bater de novo?

- Não... – A voz era aveludada, mas com um toque de tristeza. – Eu não vou.

- Então o que quer?

Ander se permitiu olhar para os olhos verdes oliva mais uma vez. Era uma garota muito atraente, teve que admitir, com desgosto. Ele queria entender o motivo de tanta tristeza, mas ao mesmo tempo preferia que a garota não chegasse tão perto. Ela tocou seu rosto, de forma carinhosa e precisa, depois passou o polegar por seus lábios. Ander queria fugir daquele contato, mas sentiu-se preso.

- Garota, olha... – Lana o silenciou com um beijo. Queria provar a si mesma que aquilo era um pesadelo. Ander não podia esquecer dela. Não tinha o menor sentido. Não era o curso natural de um amor como o deles. O beijo foi correspondido, mas não por ele ter lembrado, e sim porque queria acabar com aquilo de uma vez. Não teve magia, coração acelerado, não teve emoção. No final do beijo, Lana sentiu a primeira lágrima descer por sua bochecha. Ele realmente não lembrava dela. Não era uma piada ou encenação. Lana sentia-se arrasada. – Espero que tinha sido o suficiente para entender que não me lembro de você, Laura.

- Meu nome é Lana. – Corrigiu, de costas para ele.

- É, Lana, Laura, tanto faz, termina com A e começa com L. – Retrucou, com raiva. – Eu quero ir embora para minha casa, mas minha tia está dizendo que terei que ficar contigo no seu apartamento. – Ela lutou para manter suas emoções controladas, mas mal ouvia Ander. – Você está me ouvindo?

- Estou sim. – Ela se sentou na poltrona, ao lado da cama. – Você mora em São Paulo, Ander. Embora não lembre, a sua vida é aqui. – Os dois se olharam brevemente, mas Ander, emburrado, cruzou os braços e olhou para a porta.

- Chama minha tia, por favor. – Lana se levantou, seguiu em direção a porta e chamou por Alexia e Eleanor. – Vou falar mais uma vez, vocês querem mesmo que eu more com uma estranha?

- Ander... – Murmurou Alexia, revirando os olhos. – Você precisa confiar na gente.

- Tia, por favor. – Implorou, Ander. Lana escondeu a mão no rosto, fazendo um exercício de respiração. – Por favor...

- Você vai me agradecer pelo o que estamos fazendo, filho.

Derrotado, Ander se afundou na cama do hospital. Dois dias depois, recebeu alta de seu médico e passou a morar no apartamento de Lana.

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 11/02/2021
Reeditado em 15/01/2023
Código do texto: T7182291
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.