Capítulo 22 – Fogo queimando na chuva
Alexia tinha se despedido de Ander e Lana há 20 minutos, quando ouviu a campainha de sua casa tocando.
- Nossa, Ander! Certeza que você esqueceu alguma coisa, né? Tonto! – Alexia gritou, correndo até a porta aos risos. Tinha se acertado com Lana e se sentia feliz. Ao abrir a porta, deparou-se com Bruno completamente bêbado. Ele vestia jeans e uma camiseta preta. Cheirava a whisky e cigarro. Parecia perturbado e o olhar era vazio.
- Olha só... – Murmurou, com a voz grogue e depois bateu palma, debochado. O coração de Alexia batia desesperadamente. – Então quer dizer que quase encontrei seu primo aqui. Imagino que Lana também. Como está a bela família? Feliz?
- O que faz aqui?
- De todas as perguntas do mundo é isso mesmo que você vai me perguntar? – Bruno diminuiu a distância entre eles. Alexia baixou a cabeça, envergonhada. – É mesmo essa a sua pergunta, Alexia?
Bruno conseguiu sentir a fragrância floral o envolvendo. Olhou a barriga de Alexia, não havia nenhuma mudança visível. Ela levantou o olhar, encarando as íris castanhas dele. Bruno tinha algumas sardas, coisas leve, os lábios dele eram bem desenhados, cheios. Lembrou-se da noite em que estiveram juntos e um tremor percorreu seu corpo.
- Como descobriu meu endereço? – A pergunta era tão desnecessária quanto a anterior, ela sabia, mas não consegui se controlar. Nem sabia se queria falar.
Bruno baixou a cabeça, rindo. Era uma risada seca. Ele a puxou pela cintura, com força.
- Quando é que você pretendia me falar dessa gravidez? – A pergunta saiu entredentes. Ele apertou a cintura feminina com mais força, mas depois afrouxou o toque. Ali tinha um bebê. O bebê deles dois.
- Eu não sei, Bruno.
- Ah, não sabe? Quer dizer que eu, o “pai” – ele fez aspas com os dedos. - dessa criança não mereço saber, mas você merece comemorar com minha ex-noiva e seu primo, que por sinal, é amante dela?
As aspas ofenderam Alexia, mas ela optou por não falar nada, apenas olhou para Bruno, tentando entender em qual momento criara afeto por ele. No bar? Quando pegaram o táxi? Ou quando se sentiu completamente atraída por ele no hotel? Quando?
- Eu confiei em você, Alexia! Confiei em você e agora todos vocês estão rindo de mim pelas costas. – Ela respirou fundo e tentou a vez de falar, mas Bruno não parou. – Para você deve ter sido ainda mais divertido ver tudo isso acontecer, não? Você nunca gostou de mim, sempre achou um absurdo alguém como eu namorando a sua melhor amiga! Muito bem armado por você e seu primo. Parabéns!
Alexia demorou a entender onde Bruno queria chegar, mas ao compreender, arregalou os olhos, horrorizada.
- Você acha que eu tramei tudo isso com o Ander? Qual é a droga do seu problema?
- A DROGA DO MEU PROBLEMA É QUE EU PERDI A MULHER QUE EU AMO PARA O SEU PRIMO! FUI CORNO, ALEXIA, ESSE É O MEU PROBLEMA! SOU CORNO E AINDA SEREI PAI DE UM FILHO SEU! SERÁ QUE VOCÊ PODE COMPREENDER ISSO?
Pouco a pouco a discussão dos dois começava a chamar a atenção dos vizinhos. Alexia puxou Bruno para dentro de sua casa, com raiva, e depois fechou a porta. Não queria chamar a atenção de seus vizinhos, mas não sabia se tinha forças para conversar com alguém tão descontrolado assim.
- Eu não armei nada disso. Nem o Ander. Ninguém armou nada, Bruno. As coisas aconteceram. – Antes que ele pudesse abrir a boca, Alexia continuou. – Me escuta, por favor. Sei que você está magoado e lamento muito. Só tive compreensão do quão grave era toda a situação de Lana e Ander quando me vi conversando contigo naquela noite.
Bruno a observou falar e sabia que tinha verdade em suas palavras, mas não baixou a guarda. Ele não queria explicações, queria gritar, queria brigar. O álcool em seu sangue corria querendo eletricidade e não paz.
- Eu não acredito em você. Olho para você e vejo um monte de mentiras. Você é igual a Lana, uma mentirosa sem escrúpulos. – Ele se aproximou de Alexia, que foi se afastando, na defensiva. Os dois pararam na parede da sala. – E te digo mais. – Olhou para a barriga dela. – Não conte comigo para cuidar dessa criança. Se você tiver um pouco de noção e respeito por si mesma, aborte. Aproveita que ainda há tempo. – A resposta veio quente contra a bochecha esquerda de Bruno, que impulsivamente fechou as mãos contra o pescoço de Alexia. Foi por muito pouco tempo. Ela viu quando a primeira lágrima desceu pela bochecha dele. Bruno estava realmente magoado. Os dedos foram afrouxando, passando pelo colo dela, tomando caminho até a cintura. De repente, não sabiam como, se abraçaram e veio a primeira troca de olhar. O castanho muito escuro contra o castanho mais claro, meio cor de mel. Um lembrou do outro naquela fatídica noite e o beijo veio naturalmente, até que em meio ao beijo, Bruno chorou e Alexia o acolheu em seus braços. Os dois foram o quarto dela e Bruno chorou nos braços dela até adormecer.
Alexia sussurrava no outro lado do quarto. Era Ander no telefone.
- Não, fica tranquilo, ele está dormind. Nprecisa vir para cá.
“Lexi, tem certeza?”
- Tenho, Ander. Eu não sei como vai ser a conversa quando ele acordar, mas posso resolver isso sozinha.
“Qualquer coisa, me liga.”
- Ligo. E a Lana?
“Está na cozinha.”
- Quero saber de vocês dois, idiota.
“Ah, não sei. Não tivemos tempo de conversar sobre isso. Estamos bem... Eu acho. O assunto do momento é você e o Bruno.”
- Eu me resolvo com ele... Acho. Se cuidem aí, tá? Amo vocês.
“Também amamos você. Tchau!”
Bruno começava a acordar lentamente. Ele abriu um olho, depois outro, até que encontrou Alexia parada na porta, o observando. Para seu desgosto, parecia realmente preocupada com sua situação.
- Que horas são?
- 15h30.
Ele arregalou os olhos e pegou seus óculos no criado-mudo.
– Eu dormi esse tempo todo?
- Sim, dormiu. Eu não quis acordá-lo porque você parecia realmente cansado. Quer comer alguma coisa?
- Não. – O estômago dele roncou alto, o desmentindo.
- Olha, Bruno... – Ela respirou fundo. - Eu não consigo imaginar o que você está sentindo, mas quando digo que sinto muito por tudo isso, é a verdade. Sei que não nos damos bem e que nunca me esforcei para gostar de você, mas agora tudo é diferente. Eu não deveria ter sido tão conivente ao que Lana e Ander fizeram, mas... – Alexia sentou-se na cama, ao lado dele. – Fui. E não há como mudar isso. Não sei se você vai me desculpar um dia, tão pouco sei se mereço ser desculpada, mas...
- Você vai abortar? – A pergunta foi feita sem qualquer sensibilidade. Ela percebeu então que Bruno não tinha o menor interesse em desculpá-la.
Se dissesse que nunca pensou em abortar, era mentira, mas depois da conversa com a sua mãe, mudara de ideia.
- Não, Bruno. Não vou abortar.
- Eu não posso ser pai, Alexia.
- Não pedi para você ser o pai dessa criança, Bruno! - Alexia começava a se irritar com o rumo que a conversa tomava. – Eu sequer mencionei qualquer coisa sobre o bebê.
- E como é que você vai criar esse bebê? Você sabe a confusão que será a vida dessa criança? Será que em algum momento você pode parar de fingir que não tem escolha e ser mulher de verdade?
- Mulher de verdade? – Ela repetiu, agora de pé. – Você quer que eu seja mulher ou quer o aborto para você continuar agindo como uma vítima, um pobre coitado que perdeu a mulher para o homem que ela SEMPRE amou?
Bruno também se levantou, furioso.
- E eu não sou a vítima dessa história? Quem é a vítima então? Você? Você, a pessoa que traiu a melhor amiga com um cara que sempre disse em alto e bom som que não passava de um playboy arrogante? Você é patética, Alexia! Vai ser uma mãe patética. Eu tenho pena dessa criança!
- Vai embora daqui. – A voz dela era cortante. Precisava que Bruno sumisse da sua frente antes que chorasse.
- Vou e com muito prazer! – Ele se levantou. – Boa sorte, Alexia. Você vai precisar.
Ela esperou a porta ser batida para então se deitar na cama, aos prantos. Bruno a magoara. Ela não sabia em que momento qualquer coisa dita por ele tinha tanto valor a ponto de magoá-la, mas aconteceu. Lembrou-se da noite deles na cama. Tinha sido o melhor sexo de toda a sua vida. O melhor sexo. E justamente com a pessoa mais desprezível que já conhecera na vida.
Seu mundo estava de cabeça para baixo, mas ela não desistiria. Passou a mão pela barriga, carinhosamente.
- Eu não preciso dele. Nós não precisamos dele.