Capítulo 20 – O jantar de casamento – Parte II
 
O restaurante escolhido para o jantar era do segmento Francês e muito bem localizado na Zona Sul de São Paulo. Sem surpresa alguma tendo em vista que Lana ganha muito bem e a família do Bruno é muito rica. Deixei o carro no estacionamento e entrei pelo elegante hall. Com toda uma decoração clássica e refinada, o ambiente era cheio de cores escuras e frias e a iluminação tornava o ambiente bastante íntimo. A música era um jazz suave contrastando bem com as conversas paralelas por todo o restaurante.

Vi Lana e Bruno sentados um ao lado do outro e me escondi atrás de uma pilastra.

“Pensa, Ander. Como é que você vai chegar até ela?”

Naquele momento um garçom passou por mim carregando duas bandejas.

- Ei, você pode me ajudar?

- Claro! Diz aí! – Fiquei ao lado dele e apontei para a mesa de Lana.

- Está vendo aquela mulher de cabelo amarrado num coque? Aquela ao lado do rapaz de óculos?

- Sim.

- Diga a ela que a Lexi a espera no corredor atrás dessa pilastra.

- Certo! Aguarda aí.
 
2 minutos depois Lana apareceu. Saí do corredor e a agarrei por trás, tapando sua boca com as mãos e tirando da vista de qualquer um que pudesse impedir a nossa conversa. Estava estonteantemente linda com um vestido de alcinhas vermelho de veludo. Aumentando o meu inferno pessoal.

Empurrei Lana contra a parede e por algum momento o silêncio dela também foi o meu. Mas não durou muito tempo, já que recebi um soco muito forte no peito.

- AI!

- O que você faz aqui? Veio me dar a notícia de que vai ser pai? – E todas as minhas piores suspeitas vieram à tona. – Dei um passo para trás. - POIS MEUS PARABÉNS, ANDER MUNÕZ! EU ESPERO QUE VOCÊ E A GABRIELA SEJAM MUITO FELIZES!

Ela me deu as costas, como quem voltaria para o jantar, mas não a deixei ir muito longe. Lana se debateu incansavelmente enquanto a prendia contra a parede. Foi uma luta e tanto segurar seus braços.

- SAI, ANDER! – Segurei seu rosto. Ou tentei. – COMO VOCÊ OUSA ESTAR AQUI? CADÊ A ALEXIA? – Deus do céu! Ela só tem 1,67 e quando está brava fica maior que eu. Consegui dominá-la um tempo depois, mas ainda assim tentava me empurrar. Encostei os lábios em sua orelha e ela fincou as unhas nos meus braços.

- Por favor, me escuta.

- EU NÃO QUERO SABER DE NADA! VAI EMBORA!

- Lana, por favor...

- NÃO!

Teve uma hora que ela me olhou, trêmula e chorosa. Eu sustentei seu olhar tão magoado e quis protege-la do que viria a seguir. Mas protege-la de quê, afinal? Estávamos envolvidos nessa história, mas não somos os  protagonistas. Não dessa vez. Ela precisa saber disso.  

- Não é a Gabriela que está grávida, Lana. – Senti um tremor nas pernas. – É a Alexia. - Ela me olhou, confusa. Limpou a lágrima no rosto e nossos olhares se encontraram. Agora vinha a pior parte.

- De quem?

- Grávida do Bruno.

- Que Bruno?

- O Bruno, seu futuro marido.

As íris verdes brilhavam muito. Primeiro veio o cenho franzido, entre a confusão e a pouca fé nas minhas palavras. Depois soltou um riso debochado.

É lógico que isso vai ficar mais difícil do que já é.

- Ah, tá bom. E eu estou grávida do Brad Pitt! – E continuou rindo. – Você é horrível fazendo piada, Ander. – Não consegui abrir a boca. – Sério, cadê a Alexia?

- Lana...

- Deu para se drogar, Ander? – Agora a pergunta era de alguém muito brava. Eu toquei o rosto dela, mas ela se afastou. Não conseguia ter nenhuma reação que minimizasse o impacto daquela notícia.

- Alexia voltou para o Rio de Janeiro há algumas horas. Não tinha condição de falar com você. Você não reparou em nada diferente no Bruno?

- Tipo o que, Ander?

- Quando você falou da Alexia ele reagiu como?

Foi a vez de Lana entrar em silêncio, parecendo lembrar de alguma coisa. A boca abriu, em espanto. Quando a ficha caiu, me olhou, em choque.

- Não...

- Sim, Lana.

- Como ela pôde? – Foi a minha vez de franzir o cenho, confuso com suas palavras. – Como ela pôde? – Repetiu. – Eu vou me casar com o Bruno e..

- Como ela pôde o que, Lana?

- Me trair dessa forma! – Ali, soube que o choque a cegava. Não era  Lana Hassenback falando ali. – Ela é a minha melhor amiga!

- Eles não são amantes, Lana. Aconteceu!

- Claro! Sexo simplesmente acontece!

Deus do céu, ela está completamente louca.

- Aconteceu, Lana! – Repeti, entredentes. - Da mesma forma que você o traiu comigo durante todo esse tempo e nenhum de nós tivemos coragem de acabar com isso! Diferente de você, Alexia não é egoísta. A primeira coisa que ela pensou foi em você! E você aí achando que é a vítima da história. – Descontrolado, a segurei pelos ombros. O olhar dela era de horror. – ACORDA! - Minha reação surtiu efeito. Os olhos verdes piscaram várias vezes, tentando segurar as lágrimas. – Alexia só pensou na decepção que vai te causar, mas Lana, você está levando isso por um lado completamente irracional. Sei que é um choque, mas se eu não te contasse você jamais me perdoaria. Enfim, é a sua decisão continuar com esse relacionamento ou não.

Ela piscou algumas vezes, enquanto as lágrimas desciam por suas bochechas coradas. Ainda se encontrava em certo estado de choque, o que me fez questionar se não fui muito duro com ela.

- Eu já volto.

Alguns minutos depois, Lana Hassenback negava o pedido de casamento em frente a toda família de Bruno. Eu não sabia o que sentir com toda aquela situação, mas se pudesse chegar perto de definir, era alívio e talvez, um pouco de tristeza.

Quando reapareceu, segurou a minha mão, e pela primeira vez, parecia certa de sua decisão.

- Ander, me leva para longe daqui.
 
(...)
 
Lana só voltou a falar quando chegamos no Severino & Chiquinha. Acabei escolhendo esse local porque era acolhedor e íntimo. Vivemos um bom momento ali. Pedi duas cervejas e sentamos num sofá em uma área mais reservada.

- Ei... – Ela se acomodou, olhando para o teto. – Fala alguma coisa, Lana. – Ao me olhar, uma lágrima escorreu por seu rosto cansado de tantas emoções para uma única noite. Limpei a lágrima, suavemente e acariciei seu cabelo de penteado recém desfeito.

- Como ela está? – Perguntou, jogando o cabelo escuro para o lado. Eu sabia de quem ela falava.

- Assustada e envergonhada. - Lana balançou a cabeça, concordando e depois voltou a olhar para o teto. As lágrimas continuavam a descer por suas bochechas. De repente me senti absurdamente mal por ter gritado com ela, mesmo sabendo que fora necessário. – Eu não devia ter gritado contigo, desculpa.

- Na verdade você ter gritado aquilo tudo me ajudou muito. – Ela segurou a minha mão, unindo nossos dedos. Era bom sentir o calor da pele dela na minha. – Obrigada. - Segurei seu rosto e selei nossos lábios, com amor. – Tudo o que você fez foi necessário.

- Não precisa agradecer. – Lana deitou a cabeça em meu ombro. – Alexia precisa de nós, Lana. Eu entenderei se você não quiser participar disso agora, mas..

- Eu quero. – Deixei um beijo na sua testa. – Bruno não sabe da gravidez?

- Ainda não.

- Faz sentido. Quando chegamos no restaurante e eu disse que precisava falar com a Alexia ele me olhou muito estranho, totalmente desconfortável. – Ela respirou fundo. – Nós precisamos ir para o Rio, Ander.

- Eu também acho, mas você precisa conversar com o Bruno antes.

Ela me mostrou o celular que vibrava de notificações na tela. 45 mensagens. 15 ligações. Todas do Bruno.

Na última, consegui ler uma parte de todo o texto. Era muito triste.

“Eu não entendo o que aconteceu, Lana. Deus do céu, será que você pode me explicar alguma coisa? Assim que eu voltar do Rio nós vamos conversar, tá bom? Eu te amo tanto, Lana. Não desista da gente.”

- É... Precisamos mesmo ir para o Rio de Janeiro. – Eu dei dois tapinhas na mão dela. – Vamos ligar para os nossos chefes. Precisamos embarcar bem cedo.
 
No dia seguinte, embarcamos para o Rio de Janeiro.
 

 

Tamiris Vitória
Enviado por Tamiris Vitória em 31/01/2021
Reeditado em 19/08/2023
Código do texto: T7173240
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