Capítulo 20 - O jantar de casamento – Parte I
Alguns dias depois
No dia de seu jantar de casamento recebi a visita matutina de Lana Hassenback. Como sempre, para ver Dinorá. As duas brincavam no chão da cozinha. Resolvi deixa-las sozinhas, afinal, o momento tinha um quê de despedida.
- Ander? – Lana parou na porta do meu quarto. Ela usava um vestido azul de cetim na altura do joelho, o que a deixava sofisticada e ainda mais atraente. Lembrei da nossa última vez juntos e suspirei, desolado.
- Oi, Lana!
Parecia que nunca ia chegar esse maldito jantar de casamento, mas chegou.
– Gostei do corte do seu cabelo. Sempre achei que combinava com você o corte mais curtinho.
- Valeu! – Agradeci, a olhando rapidamente.
- Tem alguma coisa acontecendo com a Lexi? – Eu senti todos os músculos do meu corpo endurecerem com a pergunta. – Ela não atende minhas ligações. Hoje pela manhã me mandou mensagem dizendo que estava a caminho de São Paulo.
- Não... – Respondi, suavemente. Lana me encarou, pensativa. – Está tudo normal.
- Mesmo?
- Sim. – Respondi, tentando esconder o quanto me sentia acuado com a situação.
Lana sentou-se ao meu lado e eu fechei os olhos, tentando não demonstrar o meu desespero, mas ela parecia sentir aquilo. Como sempre.
- Preciso dela lá. – Murmurou, respirando fundo. Eu balancei a cabeça, concordando. Lana deitou a cabeça no meu ombro, e depois passou o nariz pelo meu pescoço, até virar meu rosto. Qualquer coisa que ela me pedisse naquele momento, eu faria sem nem pensar. – Ander... Eu acho que isso é uma despedida.
- Você acha? – Ela selou nossos lábios, carinhosamente e aos poucos se aninhava em meus braços. Segurei sua cintura, ajudando-a no equilíbrio.
- Não, mas eu preciso muito acreditar nisso.
E o beijo aconteceu outra vez, agora com maior pretensão de algo. Deitamos na minha cama, aos beijos. Era mais uma daquelas situações que eu não tinha escapatória. O beijo tornou-se sexual e frenético. Arranhei suas coxas, fazendo-a gemer no meu ouvido. Depois a joguei para o lado, sem ar e a dominei novamente. A mão dela foi para o zíper do meu short e a minha para a sua calcinha. A mão dela foi perdendo forças conforme meus dois dedos entravam e saíam dela. Todos os dias torcia para que o meu desejo por Lana acabasse, mas era impossível. Aquilo nunca teria fim. Ela mordeu o lábio, tremendo de tanto prazer.
Encostei os lábios em sua orelha, depois mordi de leve o lóbulo. Ela arranhou meu braço e murmurou algo que não consegui compreender. Tirei os dedos do meio de suas pernas e coloquei na boca. Lana mordeu os lábios e fechou os olhos ao ver a cena. Depois, tentou travar as pernas, mas a impedi.
- Ander... P-por favor... – Deixei um beijo em seu pescoço, tomando caminho pelo colo, causando um frenesi possível de ser visto em sua pele arrepiada. Quando abocanhei um dos seios, Lana voltou a tentar abrir meu zíper, mas travou ao ouvir a campainha do apartamento tocando.
- Quem é? – Perguntou, baixinho. A resposta veio logo em seguida, com Gabriela me chamando. – Ah, claro. - Ela me empurrou, com raiva e ajeitou o vestido no corpo.
- Lana.
- Não, Ander! – Eu a pressionei contra a parede. – Que inferno! – E me deu um tapa no braço. – Vai atender ela.
“Ander? Está em casa?”
- Já vou!
Tentei beijar seu rosto, mas ela se virou, brava. Segurei sua perna, depois a outra, até consegui-la amarrá-la na minha cintura.
- Você está com ciúme, Lana Hassenback? – Perguntei, com um meio sorriso. Ela revirou os olhos e fez carinho no meu cabelo. Eu realmente não entendo essa mulher.
- Eu te odeio tanto, sabia?
- Sim, consigo sentir esse ódio todo.
Aos beijos, nós seguimos até a sala, parando na porta.
- Só 1 minuto, Gabriela! – Falei, entre os lábios de Lana.
Ela mordeu o meu lábio e me beijou mais uma vez, até se soltar de mim.
- Posso abrir? – Sussurrei, vendo ela ajeitar os cabelos.
- Pode.
- Então, bom te ver, Hassenback! – A expressão de Gabriela fechou na hora que viu Lana. – Dinorá aguardará suas visitas.
- Oi! – Lana cumprimentou, com falsa simpatia.
- Oi. – Gabriela respondeu, seca.
- Tchau, Ander... Gabriela.
Gabriela e eu passamos a tarde juntos como bons amigos. Ela não escondeu o desgosto em ver Lana, mas também não estendeu o assunto. Parecia compreender o quanto era difícil terminar essa história. Pouco antes de anoitecer, minha colega de trabalho foi embora. Alexia chegou minutos depois. Trazia apenas uma mala de viagem. O que me ter certeza que seu tempo em São Paulo seria muito curto.
- Ei! – Eu a abracei, protetor. Ela começou a chorar na mesma hora. – Ah, Lexi...
- Eu passei todo o voo chorando. Não sei como vou conseguir olhar para a cara da Lana.
- Lexi, ela vai entender. – Falei, mas sem muita confiança. – Bom, não de imediato, mas vou dar um jeito, prometo. - Sentamos no sofá. - Que horas é o jantar?
- Começa às 21:00.
- Beleza! Depois me manda o endereço pelo celular. – Ela assentiu, limpando uma lágrima que caiu por seu rosto pálido. – Comprou o teste?
- Não. Ainda não.
- Quer que eu compre?
- Sim. Se eu entrar numa farmácia agora vou ter outra crise de choro.
- Certo, eu já volto.
(...)
Quando voltei, Lexi brincava com Dinorá no chão. Ao me olhar, respirou fundo, muito nervosa. Eu entreguei a caixinha com o teste de gravidez.
Ela segurou o teste como quem segurava uma bomba relógio, depois se levantou e seguiu até o banheiro.
- Lexi. – Chamei. – Estamos juntos nessa.
- Eu sei. Obrigada.
Assim que Lexi entrou no banheiro me sentei no sofá. Dinorá brincava com uma bolinha de papel, muito entretida em sua vida gatuna. Duvido que Dinorá precise lidar com o amor de sua vida casando com outro homem. Confesso, sinto inveja da vida dela. É um universo muito simples de ser vivido.
Minha prima demorou 20 minutos no banheiro. Quando saiu, seu rosto era pálido e o olhar profundo e vazio.
Eu já sabia o que aquilo significava e por isso, a abracei na mesma hora.
- Ander...
- Eu sei.
- Estou grávida.
- Sim.
- Grávida do Bruno. – A respiração saiu descompassada. – Do Bruno. Meu Deus.
E Alexia desmaiou nos meus braços.
(...)
Só consegui acalmar Lexi quando, à pedido dela, saí para buscar chocolate. No meio do caminho tive uma sensação esquisita, mas não deixei que aquilo me abalasse ou tomasse muito do meu tempo. Passei no mercado e comprei várias coisas que devem ajudar num momento como esse e na volta, liguei para o celular da minha prima. Deu caixa postal. Tentei novamente e nada. Temeroso, cortei caminho pra facilitar a minha chegada até em casa. Entrei pela portaria, afoito e encontrei seu Diniz lendo jornal.
- Boa noite, Ander!
- Boa noite! O senhor viu a minha prima?
- A sua prima é morena a dos cabelos cacheados?
- Sim, a que chegou com uma mala!
- Foi embora uns 15 minutos depois que você saiu. – Corri para o elevador, mas seu Diniz continuou. – E ah, aquela outra mocinha, a que invadiu o elevador outro dia também apareceu aqui e foi embora chorando muito.
Lana.
Meu Deus. Entrei no elevador, apertei o botão com o número do meu andar e tirei o celular do bolso.
- Não, Lexi. Não. Você não podia ter ido embora. – Ela me atendeu no segundo toque. – Alexia, pelo o amor de Deus, cadê você?
“Estou indo para o Rio de Janeiro. Eu não consigo, Ander.”
- Lexi...
“Por favor, não me pede para enfrentar isso agora.”
- Eu vou no jantar. Assim que possível, falo com você.
Encerrei a ligação e saí do elevador. Segui em direção a porta da minha casa, abri, deixei as sacolas do mercado na mesa de centro da sala e fui para o banheiro. Para o meu total desespero, o teste de gravidez ainda se encontrava em cima da pia, junto com um par de brincos de flores negras.
- Lana veio buscar seus brincos, viu o teste de gravidez e saiu chorando. – Escondi o rosto entre as mãos, tenso. – Preciso impedir esse jantar o quanto antes.